A Flor da Carnificina

Capítulo 11 - Odiado.


– Olha vejam só! - Falou Aline, ao ver Fábio ali.
– Vamos, Aline - Isaac puxou a irmã pelo braço, mas foi impedido por Fábio que se pôs a sua frente.
– Eu estava precisando te encontrar - Falou Fábio.
– Se você permanecer mais um minuto ao meu lado eu acabo com a sua cara. Você é o tipo de pessoa que eu não quero ver nem em pintura.
– Eu sei que você está magoado comigo, mas quero que me desculpe. Eu vou te ajudar a se esconder do Patrick.
– É Patrick o nome do traficante pra quem você trabalha? - Fábio fez ''shiii' para Isaac, olhou pra trás e apontou com a cabeça para a delegacia.
– Não me importa! Não temos mais nada, eu não sou um rato ou qualquer bicho que você mata assim quando quer. - Isaac saiu andando e Aline o seguiu. Fábio permaneceu parado e viu o rapaz seguir em direção à um Shopping center. Ele não queria que aquilo estivesse acontecendo. Mas não colocou a culpa em si, e sim no destino. Ele sentia vontade de Isaac, de tomá-lo em seus braços, mas não seria tão fácil depois do que aconteceu. Ele ''trabalhava'' para alguém que não pensaria duas vezes em matar Isaac, e esse alguém era seu amigo. Ao ver que o rapaz e a irmã sumiram no além, Fábio continuou andando em direção ao local onde sabia que iria encontrar Patrick, mas não desistiu em ter Isaac de volta.

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Aline e Isaac sentaram-se no banco que tinha no shopping. A garota sentia fome, porque os dois estavam próximo à praça de alimentação. Isaac estava quieto, sua irmã tentava puxar assunto, mas ele permanecia calado, não queria se comunicar. Ter se encontrado com Fábio foi o pior jeito de estragar seu dia que tinha a promessa de começar bom. Ele não sabia se o rapaz iria segui-lo com seus ''parceiros''. Era horrível saber que alguém que você já amou te traíu dessa forma, te deixando com medo, ansioso, entre outros sentimentos ruins.
– Hein? Você podia, não podia? - Perguntou Aline.
– Hã? Do que você está falando? - Perguntou Isaac, acordando de um devaneio.
– Estou falando que você podia denunciar o Fábio e os comparsas dele para a delegada que a gente conheceu hoje.
– Não é assim, Aline. Eles podem fazer represálias com a gente aqui fora. Eu coloquei na minha cabeça que vou acabar com os que te fizeram mal, principalmente o Fábio que nos enganou.
– Você acha que tem alguma chance de conseguir esse emprego de segurança?
– Acho. O moleque na hora só faltou bater uma pra mim de tanta alegria. O pai dele nos prometeu sálario e moradia.
– Eu achei aquela delegada esnobe. Ela é meio metida, não achou? O pai dele também era assim?
– Não sei... lembra que a Madame Ursula disse que é anti-ético falar de clientes - Os dois riram rapidamente. Era um assunto doloroso, mas não significava que nunca poderia ser uma gozação.
– Será que ele vai te obrigar a transar com ele quando a gente estiver morando com eles?
– Espero que não. Vou tentar me impor, não é assim.
– Espero que eu não tenha que fazer nada também. Não me agrada saber que estou saindo da rua pra ir pra uma casa ter que fazer sexo sem consentimento.
– Ele não vai encostar em você, porque não vou deixar - Isaac puxou a irmã pra perto dele e beijou o topo da cabeça dela. - Eu te amo, Aline. Obrigada por estar comigo nessa.
– De nada. - Um guarda ao observar que os dois estavam mal vestidos, e não consumiam nada ali, aproximou-se deles e os colocou para fora do Shopping falando coisas ruins para os irmãos, que de maneira bem humilhante, aos olhares de tantos ali, saíram.


Marli sentia-se tão transtornada que não mediu as palavras perto de Carolina, que estava confusa e perguntava incessantemente para a avó quem era esse pai que foi lá pegar o dinheiro. A garotinha tentava não revelar que tinha sido seu irmão quem havia pegado a caixa, mas não dava, ela queria que a avó falasse alguma coisa, então revelou.
– Foi o Fábio, mãe. - Falou Carolina, se escondendo atrás do batente da porta com medo da ''mãe'' bater nela.
Marli respirou fundo e abriu a porta da cozinha, e batendo-a em seguida, deixando Carolina sozinha em casa outra vez. A menina, assustada começou a chorar.
Ela caminhava em direção à delegacia, iria denúnciar o filho que a roubou. A mulher sentia um enjoo forte, não sabia onde tinha errado com o rapaz para que ele traçasse esse caminho. Deu tudo do bom e do melhor, mas o filho sempre fez coisas que a desagradaram. Não era a primeira vez que Marli era sacaneada pelo rapaz, mas ela sentia-se tão desgastada com as faltas do filho, que resolveu por um ponto final nas coisas que ele fazia. Só iria dormir sossegada quando o visse na cadeia.


– Sentem-se, Inácio vai chegar logo - Falou Denise, fechando a porta de sua sala na delegacia e sentando em sua poltrona.
Cinco minutos depois da mulher recepcionar os irmãos, o rapaz jovem, de cabelos claros apareceu na porta da sala da mãe, esbaforido, e suado.
– Filho! Entre! - A mulher caminhou até o garoto e beijou sua tesda suada. Isaac sentiu inveja da cena, ele queria estar no lugar do rapaz, queria que sua mãe pudesse beijar sua testa e dizer que tudo iria ficar bem. - Bem, é esse rapaz quem te ajudou, não é? - Inácio balançou a cabeça afirmando, e apertou a mão di Isaac, que ficou sem jeito com o contato feito pelo garoto.
– Você vai começar a trabalhar a partir de hoje? - Perguntou Inácio a Isaac, mas foi interrompido por Denise.
– Calma! - A mulher deu uma risadinha e continuou - Vamos resolver problemas. Na verdade, vamos conhecer o rapaz. Como você se chama mesmo?
– Isaac. Isaac Mendes.
– E ela é?
– Aline Mendes - Respondeu a própria.
– Hm... Vocês são irmãos?
– Sim - Afirmou Isaac.
– Meu filho faz muita questão de que seja você quem o proteja. Eu fiquei sabendo da tentativa de assalto que ele sofreu, e por ele ser filho de uma delegada, temo o pior. Então, meu marido encontrou com você? - Isaac queria ir. Se ela soubesse como isso aconteceu...
– Sim. - Afirmou mais uma vez, Isaac.
– Mãe, sem mais delongas, contrate ele. - Inácio, inquieto.
– Você mora mesmo na rua? Por acaso é usuário de drogas?
– Sim, eu moro na rua, e não, não uso drogas - Isaac usava drogas, mas não o tempo inteiro. Para falar a verdade, ele só usava quando morava na casa de Madame Ursula, se drogava para poder se manter vivo.
– Bem... é complicado decidir isso tão rápido, mas é necessário. Meu filho está muito impaciente.- Ela olhou para o filho que mostrava uma feição entediada. -Está bem, você está contratado. - O rosto do rapaz encheu-se em um sorriso comprido que ele deu. Não sabia se iria para a casa deles, mas só de saber que já ia conseguir dinheiro de uma forma melhor, sem precisar vender seu corpo era ótimo.
– Ele começa a partir de hoje, não é? - Perguntou Inácio, mas uma vez.
– Tá, pode ser. Você pode levá-lo para nossa casa e ele vai ficar no quarto dos fundos, no quintal. Já que quer tanto ele trabalhando pra gente, filho. Em casa, quando eu chegar nós resolvemos a situação do dinheiro. - Falou Denise.
– Vem, gente. - Inácio chamou os dois irmãos, que pra ele são desconhecidos, mas ele já conseguia ter uma intimidade incomum.
Assim que os três iam sair da sala, a assistente de Denise apareceu.
– Delegada, tem uma mulher querendo falar com a senhora.
– Mande-a entrar - Falou Denise, bufando em seguida.
Isaac, Aline e Inácio sairam da sala, e Marli entrou. Ele não conhecia a senhora, e nem ela o conhecia, mas eles tinham uma coisa em comum : o ódio por Fábio.

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Jonhy e Ermina fumavam maconha, enquanto assistiam um filme qualquer que passava na televisão àquela hora. De repente, Patrick adentrou ao cafofo onde vivia Juk e entrou no quarto, encontrando os dois amantes nus e chapados.
– Patrick? - Falou Juk, assustado. Ele não gostou de ter sido encontrado por Patrick naquela situação. A garota se enrolou em um lençol e jogou o cigarro de maconha pela janela.
– Eu trouxe um amiguinho pra você. - Fábio entrou no quarto e ficou lado a lado com Patrick. Pra ele aquela também era uma situação embaraçosa. - Esse é o Fábio, e a partir de hoje vocês dois vão trabalhar juntos pra mim, está bem? Essa é a tal Mina que você tanto fala, Juk? - Patrick aproximou-se da garota e beijou a parte de cima da mão de Ermina. - Encantado, senhorita. - Mina sorriu e retirou rapidamente suas mãos da de Patrick.
– Eu vou ter que fazer ponto hoje? - Perguntou Juk, dando uma tragada em seu cigarro.
– Vai... Estou planejando uma melhoria para todos nós, e vou precisar do trabalho de vocês. Parece que alguém me passou a perna um dia desses - Patrick olhou rápidamente para Fábio, que franziu os lábios e manteve-se sério, sem nenhuma reação.
– Eu posso vender também, se você quiser - Ofereceu-se Ermina.
– Ótimo! - Patrick colocou suas sacolas com drogas sobre a cama e Juk e separou uma parte para cada um. - A garota pode vender as cocas hoje.
– Todas? - Perguntou ela.
– Sim. Por que não?
– Não sei se daria muito lucro. Está frio.
– Está bem... Mulher é um bicho complicado. - Patrick riu e pegou metade da cocaína e deu pra Ermina segurar.
– O resto vai ficar com você, Juk. E a maconha é sua, Fábio. Minha coca não vai mais pra suas mãos. - O traficante entregou as drogas pra Juk e Fábio. - Vou pagar 30% do lucro pra cada um. Então, caprichem. - E e saiu, sendo acompanhado por Fábio.
– Então... Eu gostaria que você me pagasse aqueles 200 reais que você que iria me pagar. - Falou Fábio, quando ele e Patrick saíram da casa de Juk.
– É urgente? - Perguntou Patrick, andando na frente do outro.
– Sim. Preciso comer.
– Talvez se não gastasse tanto dinheiro com cigarros não iria estar precisando agora.
– Escuta, eu tô precisando mesmo desse dinheiro, cara.
– Você vai trabalhar hoje a noite, o que você faturar irá te pagar.
– Mas eu preciso pra agora esse dinheiro. - Patrick parou de andar e ficou frente a frente com o outro rapaz.
– Você é meu negociador agora. Faz o que eu quero quando eu quero. Você acha mesmo que eu esqueci do filho da puta? Não gosto que me apressem com nada. - E saiu caminhando mais rápido que Fábio, o deixando por lá.
O rapaz alvo teve alguns minutos de reflexão. Pensou que não tinha necessidade nenhuma de terminar naquela situação. Ele tinha mãe, filha, e uma casa pra viver. Ele teve Isaac um dia, mas o perdeu por seus impétuos.


Inácio abriu a porta do quarto dos fundos para Isaac e Aline. Os dois sentiam muita fome, mas não se manifestaram com o dono da casa, o protegido de Isaac.
– Bem... esse vai ser o quarto de vocês. Espero que não se importem dele ser aqui fora da casa.
– Pra quem dormia na rua, isso é um palácio - Falou Aline, se jogando na casa.
– Estão com fome? Tem lanche na geladeira. Eu sei que meus pais vão te tratar de maneira formal, mas nada impede que sejamos amigos, não é? - Falou o dono da casa.
– É, nada impede mesmo. Podemos ir comer? - Falou Isaac.
– Claro, vamos para a cozinha.
Aquele seria um novo momento da vida de Inácio, Isaac e Aline, que os fazia sentir-se como se estivessem no paraíso de boas novas.
Pelo menos, depois de tanto imprevistos, Isaac e Aline iriam dormir em uma cama sem procupação com o dia seguinte.