Ancorado

Aconteceu em Setembro de 1996


Sei que passou um noticiário na televisão sobre pessoas iguais a mim. Toda a melancolia e estratégia de ângulos me fez engolir as areias da noite passada e eu me sentia arranhado por completo. Era aquela velha rotulação de achar que tratamentos padronizados funcionavam, como se todos os seres fossem peças iguais de um tabuleiro. E eram. Mas não desse modo. Aquela surdez acostumada dos chiados do aparelho velho e todo aquele cheiro de antiguidade me deu vontade de persistir no acerto que me transferia para outros mundos.

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Passou-se muito tempo e ainda assim a sensação que me trazia é que eu tinha dado quase quinze passos para trás. Talvez para consertar meus erros. Anular arrependimentos. Desfigurar o espaço-tempo. Consertar coisas é perda de tempo, elas se quebram depois de qualquer jeito mesmo, e a gente só aceita... Se não quebram por bem, quebram por mal. É tão grande, é tanto peso, carga demais para os músculos se mexerem. Carga demais para emoções.


Faíscas perturbadas rosnaram para mim
Alucinaram minha audição no súbito escândalo
Regularam a sintonia assombrada do processo
Chiaram e silenciaram às alturas
Fazendo mais barulho que entidades tímidas
Rangeram, bateram na porta e se puseram
De forma que as veias do corpo não pulsassem
Traumatismo plantado no meu carpete novo
Impureza arrastada com meio grau de violência
Expurgaram pra sempre as manchas ocultas
Eternizaram à luz de velas em um pentagrama

Tudo que aconteceu naquele dia ainda me assombra.

Mas é pesado...

Demais.