Ancorado

Sabia que os cactos retêm água?


As oportunidades te levam a desertos, já dizia minha falecida tia-avó. E cada porta nova te deixa com um vazio árido de areias que nunca serão compreendidas. Por quê? Já viu quantos grãos são? É uma imensidade que só é pisada, outra imensidade que só é puxada obrigatoriamente pelo vento, e outra imensidade (a maior de todas, ironicamente) que nem existe, ou melhor, que não se tem conhecimento. As oportunidades são perversas. Foi então que para não morrer de sede, aprendi a portar-me como cacto.

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Os cactos não choram. Eles retêm água. Se chorar, você morre. Se morrer, não há mais mágoa. Mas ainda não era a minha hora; a estrada ainda era muito longa para pensar em morrer, nem o mais alto dos prédios podiam descrever a distância que eu podia me satisfazer nisso tudo. A areia tinha gosto de escorpião e doía como eles mesmos, mas algo naquele deserto não tinha mais efeito. Ar rarefeito, disso os cactos não se protegem. Não há ninguém por perto.


Se ontem eu estava seco
Hoje eu quero estar mais árido
Ressecar teu jeito preso
Quem sabe evoluir para ácido?

Se ontem eu te dava margaridas
Hoje eu quero que você morra
Não espere lágrimas sofridas
Muito menos que eu te perdoa

Vá!
Sobreviva
Retenha água
Sem fraqueza
Foda-se
Sobreviva
Passe pelo que eu passei
Retenha água
Sobreviva...

Não nascem margaridas no deserto.