Caro leitor, sinto que não estou escrevendo neste caderno corretamente, o que parece um tanto estranho. Não deixo de pensar que agora, quando estou experimentando a vida como ela realmente é, e tendo uma "amostra" de todas as emoções, não tenho aceitado a realidade muito bem. Não sei se neste caso há certo ou errado, mas de qualquer modo, me sinto completamente errada. Eu sou uma falha, um "bug" que nunca deveria existir.

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Acredito agora que estou vendo as coisas como são de verdade, a vida simplesmente perdeu o encanto. Os dias agora estão sempre acompanhados da tensão e da dúvida, como se eu estivesse prestes a ruir, mas eu realmente estava. Por que as pessoas - bem poucas - continuam persistindo em algo como eu? Eu não compreendia.

Nunca foi minha intenção tornar este caderno um lugar para expor meus pensamentos depressivos e crises, mas eles se tornaram a única coisa que eu sinto agora, não me orgulho em admitir isso. Estou experimentando de tudo um pouco nesse momento, e sou fraca demais para suportar.

Vamos ser honestos, eu tentei por um momento criar a ilusão de que alguém se importa, mas na verdade ninguém liga. "Ah, lá vai a Peregrina com sua crise existencial." Não, espere eu terminar. Realmente, ninguém liga, mas hoje estou decidida de que não vou mais passar por esse tipo de coisa, eu me matava por dentro, me destruía por nada. E eu estava cansada disso, mas sabia que não mudaria de um dia para o outro. Tudo era simplesmente uma droga, eu não queria mais ser magoada por alguém que um dia já considerei muito.

Entenda, eu não quero atenção, não quero dó, nem alguém para afagar meus cabelos e dizer: "Pobre Peregrina, não é normal, e fica doida quando deixada sozinha por alguns segundos. Oh, ela é tão fraquinha!". Eu não quero fingimento, não, eu não quero.

Não, eu não consigo explicar de onde vem todos esses sentimentos e toda essa revolta, e não, não sei o que me leva a fazer certas coisas, só preciso de alguns minutos sozinha com meu ódio e meu caderno, que agora você possui. Vou-me consumindo lentamente, como uma singela vela, logo não sobrará nada nem ninguém para lamentar. Tenho conhecimento de que não sou a vítima, porque sei que causo minha própria destruição, me martirizando a todo momento. Muitos me diriam para seguir em frente, me encorajariam à esquecer, mas para mim, não era possível, todos os dias eu tinha que conter as lágrimas, que insistiam em aparecer nos momentos mais inoportunos, na frente das pessoas que eu não queria preocupar ou magoar.

Eis a minha maldição: Eu não esquecia de absolutamente nada.