Estou totalmente nervosa e minhas mãos tremem como vara verde. É o dia da apresentação do primeiro – grande – trabalho na Universidade, e tenho motivos de sobra para estar preocupada.

― Mariana, Evangeline e Natalie, por gentileza, vocês são as próximas – Henry diz ao microfone, dentro de uma das salas teatrais do local. Vou para a cabine de som, de onde colocarei as faixas musicais para o desfile. O script está em minhas mãos. Ops, estava.

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― Mariana, onde está o script? – pergunto ao voltar correndo para uma das coxias do teatro.

― Estava com você até agora, Natalie – ela argumenta nervosa.

― Não sei onde deixei – admito, dando de ombros. Meu coração acelera e começo a pensar na última hora que me lembro de ter o papel em mãos.

― Parabéns, Natalie – ela ironiza. – Não é pra menos que não deixamos nada sobre a sua responsabilidade.

― Um minuto para o início do desfile – quem comenta agora é Julieta, uma das nossas professoras de música que está na banca de avaliação.

― Vá para a cabine e dê seu jeito – Mariana praticamente cospe tais palavras em mim.

Não há muitas saídas, me dirijo para a cabine de som e rezo para fazer as trocas de músicas no momento certo, adequando os temas com as faixas corretas. Só há um problema: de fato, eu não conheço nada sobre o trabalho. Elas não permitiram que eu visse nada até a hora de me entregarem o script.

O desfile começa e, por lógica, inicio com a faixa número um. A primeira modelo aparece no palco e desfila glamurosamente. Antes dela sair, Eva entra desfilando, e imediatamente troco de música. Vejo que ela balança os braços em minha direção e entendo que não é essa a música, volto para a anterior, porém, a faixa também não se adéqua perfeitamente. Estou perdida! Mariana fotografa como se não estivesse acontecendo. A próxima modelo entra e percebo que sua roupa combina com a faixa dois, mas, só executo a troca quando ela está no meio do trajeto, irritando a modelo. O desfile continua e alguns protestos são realizados vez ou outra. Realizo diversas trocas falhas e, na maioria das vezes, a música não estava de acordo com as roupas das modelos.

O resultado do trabalho saía na sequência, após Mariana entregar o cartão de memória com as imagens e os professores realizarem uma avaliação rápida. Estamos as três acima do palco, embaixo do foco de luz.

― Apesar dos incidentes, que foram notórios – diz o especialista em fotografia –, você conseguiu captar os melhores momentos de cada uma das modelos. Até parece que não houve falha nenhuma. Sempre há o que aprender e aprimorar, certo? Mariana, sua nota é 9,0.

Ela agradece graciosamente e permanece no local para acompanhar as demais notas.

― Eva, como é bom vê-la desfilando – sua professora diz, contente com o resultado. Vejo que Henry acena com a cabeça. – A seleção das modelos também foi feita por você?

― Foi sim – ela responde sorridente.

― Ótima seleção! Ótimas roupas. Eu amei! Sua nota é 9,5.

― Obrigada professora! – Eva comenta. – É uma honra aprender a cada dia com a senhora.

― Natalie – Henry começa a falar. – Não pude deixar de perceber que alguns erros aconteceram. Na realidade, aconteceram a todo o momento. Não sei o que houve. Não sei se você não tinha conhecimento do trabalho ou se estava nervosa, mas, seu desempenho atrapalhou o conjunto, num todo.

― Desculpe – falo em tom baixo. – Eu perdi o script.

― Quem conhece o trabalho por inteiro, sabe lidar com qualquer tipo de improviso, Natalie – Julieta comenta.

― Exatamente – Henry assente com a cabeça. – Penso que não há desculpas. Infelizmente, você não obteve um resultado positivo. Conversaremos sobre isso em outro momento.

― Certo – digo cabisbaixa. – Obrigada.

Saio do palco rapidamente, totalmente humilhada. Enxugo as lágrimas que insistem em percorrer por meu rosto.

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― Isso é pra você aprender a não mexer mais cm a gente – diz Eva, assim que descemos as escadas para sair do teatro. – Tome aqui o seu script.

― Foi realmente comovente ver você se ferrando – Mariana completa entre risos. – Beijos querida, foi ótimo trabalhar com você.

― ― ―

Annastácia – chama a chefe e coordenadora do estágio –, você pode pegar o prontuário do paciente 09?

― Claro, só um momento – me dirijo à sala dos prontuários, onde encontro Nik aos fundos do local, sentado em uma cadeira com a cabeça baixa. – O que houve? – questiono.

― Às vezes não sei por que estou nessa – ele sussurra. – Ela é uma garota legal.

― Todas elas sempre são – lembro. – Essa não é a primeira vez que escuto você reclamar sobre isso.

― É, eu sei disso – ele levanta a cabeça pela primeira vez. – Almoçamos juntos hoje?

― Como sempre – sorrio, enquanto pego o prontuário solicitado. – Preciso ir.

― Beleza – ele acena brevemente.

Conheci Nik quando entramos na Universidade, no primeiro semestre de Medicina. Ele sempre foi um cara mais fechado e quieto, e isso sempre atraiu minha atenção. Acredito que ele saiba que nutro por ele algo um pouco além da amizade, mas, no momento ele não pode retribuir nada. É o tipo de coisa que fazemos por quem gostamos: sacrifícios. Estou fazendo o meu, diariamente, por Nik.

O período de estágio passa rapidamente e logo chega o horário do almoço. Nik está escorado próximo à saída do hospital, a mochila pendurada em apenas um ombro. Ele sorri quando percebe minha aproximação.

― Ir para a Universidade para ter somente uma aula me desanima um pouco – ele comenta, enquanto saímos do hospital.

Diferente dos demais dias, hoje só tem uma aula de uma hora, sobre atividades práticas de pediatria, que eu, em particular, adoro.

― Sério? – questiono incrédula. – O que me desanima é passar o dia inteiro na Universidade. Daqui a pouco já estarei em casa, isso muito me alegra.

― Pensando por esse lado... – entramos no carro de Nik e nos dirigimos para a Universidade.

― Quer falar sobre o encontro com ela? – pergunto. Nik resolveu entrar para tomar um café. Estou esparramada em um sofá da sala e ele, em outro.

― O que você quer saber? – ele pergunta rapidamente.

― Sei lá, rolou alguma coisa? – fico levemente avermelhada e sinto meu rosto esquentar.

― Um beijo – ele se limita a dizer.

― E quando você vai vê-la novamente? – isso está parecendo um questionário.

― Depois de amanhã – ele responde, com um sorriso em seus lábios. – Quanta curiosidade.

― Estou só puxando papo – retruco.

― Eu sei que não – Nik levanta-se e vem em minha direção. Ele segura meus dois braços com apenas uma das suas mãos e os põe além da minha cabeça. Posteriormente, passa um joelho sobre minha barriga, sentando sobre meu colo, sem exercer muito peso. Seu rosto se aproxima do meu e aquele sorriso volta ao seu rosto; um sorriso que me faz ter arrepios. Sua boca se aproxima do meu pescoço, investindo pequenas mordidas que tornam minha respiração irregular.

― Nik – sussurro, uma súplica para que pare.

― Shhhhh – ele se limita a dizer e sinto a palma da mão livre entrando por baixo da minha blusa.

― ― ―

― Olá meninas – encontro Mari e Eva pelos corredores da Universidade, sorrindo de orelha a orelha.

― Oi Rose, como você está? – Mari questiona.

― Um pouco cansada – admito. – Parece que vocês viram o passarinho verde.

― Acabamos de sair da apresentação do nosso trabalho em grupo – Eva explica. – Deu tudo certo, ainda bem!

― Ah, que bom – sorrio. – Ricky está me esperando, preciso ir. Até mais.

Elas acenam brevemente e me dirijo ao estacionamento, onde meu irmão espera. Procuro pelo seu carro, mas não consigo avistar. Geralmente ele me espera no espaço para embarque e desembarque, porém, não está lá.

― Procurando alguém? – questiona uma garota de óculos, com uma linda echarpe amarela.

― Meu irmão – respondo. Não a conheço, logo, ela não precisa saber da minha vida. – Você estuda aqui?

Madison Montgomery, prazer – ela abre um sorriso impecável. – Sou veterana de jornalismo.

― Rose – estendo a mão para cumprimentá-la. – Faço astronomia.

Uma rajada de vento nos atinge, fazendo sua echarpe voar e nós duas correr atrás do acessório, entre gargalhadas. O vento carrega sua echarpe e não conseguimos recuperá-la e, no mesmo instante, avisto Ricky encostado em seu carro, digitando em seu celular, provavelmente à minha procura.

― Encontrei meu irmão – digo. – Até mais.

― Tchau! – ela acena delicadamente com uma das mãos.

― Onde você estava? – Ricky me questiona.

― Procurando você – respondo.

― Entendo, sou pequeno o suficiente para você não ver – ele retruca, entrando no carro. – E utilizar o celular não precisa – ele conclui assim que sendo ao seu lado.

― Ainda tá resmungando? – questiono, arrancando uma risada dele.

― Vou à Viola – Ricky avisa, abrindo a porta do meu quarto parcialmente.

― Okaaaay – respondo.

― Se comporte – ele brinca, colocando a cabeça para dentro do quarto.

― Vai logo, garoto – implico.

Assim que Ricky sai, volto a estudar o conteúdo para a prova no dia seguinte. Algum tempo depois, meu celular vibra, me fazendo parar para ver a notificação. Recebi outra mensagem do blog, como aquela que avisava sobre as fotos da Miah. Abro o site e o título me faz rir: Demonstração Homo afetiva em Público; abaixo, uma foto minha e da garota que conheci no estacionamento, ambas esbanjando felicidade.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.