Atropelada Pelo Casamento

Abandonando Tyler Roman


Achava que minha atração por Tyler estava estampada em minha testa desde o momento em que ele e sua família se mudaram para o bairro, pois desde esse momento meus pais me proibiram de trocar qualquer palavra com ele. Não que eu ligasse muito. Tinha outras coisas para focar, como meu estudo e minha futura faculdade, já que estava no último ano. E, aos poucos, percebi que meus pais não precisavam ter me dado aquele alerta.

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Tyler Roman gritava perigo por onde passava.

— É estranho voltar aqui — Eu disse olhando para o antigo condomínio que eu morava, cheia de casas praticamente idênticas, diferenciadas apenas pelas cores. — Eu fui embora assim que terminei o terceiro ano, praticamente corri para uma nova cidade. — Dei um sorriso triste.

Zeke me deu um olhar de esgueira.

— Por que você foi embora? — Indagou com curiosidade.

Encarei minha antiga casa pintada perfeitamente de amarelo e dei de ombros.

— Aqui não era o meu lugar. Olhe para mim. — Virei-me para o anjo e abri os meus braços. Zeke seguiu a minha ordem. — Pareço uma garota de cidade pequena? Que mora em um condomínio com casas perfeitamente iguais em que as pessoas se cumprimentam por mais que não se gostem? — Vi Zeke abrindo a boca para responder e ergui minha mão, o impedindo. — Não responda, é retórica. — Cruzei os braços, defensiva. — Tive que ir embora.

Senti a mão de Zeke em meu ombro.

— Olhe você — Disse apontando para a porta da minha casa.

Dei um pequeno sorriso ao me ver dez anos mais nova. Tinha o cabelo ondulado e longo, que estava preso em um rabo de cavalo. Meus passos eram urgentes e minhas mãos tremiam enquanto limpava as lágrimas de meu rosto vermelho. Eu caminhava em direção a casa da frente – um lugar que tinha sido terminantemente proibida de ir – e bati na porta com força.

Distraí-me com o som do meu tênis contra o chão de madeira da varanda, esperando para que alguém me atendesse. Meu peito se aliviou quando escutei o trinco da porta se abrindo e Tyler apareceu me olhando com espanto. Engoli a seco, com toda a bravura sendo momentaneamente jogada no chão. Seus olhos castanhos esverdeados me encaravam inquisitivos e a luz do entardecer destacava tanto a sua pele bronzeada quanto o seu cabelo loiro. Pisquei com força, saindo de seu feitiço.

— Preciso de sua ajuda! — Passei as mãos por meus cabelos com a exasperação voltando. — Estava brincando com o carro da minha mãe na garagem e acho que afoguei o motor.

Ele erguer uma sobrancelha.

— E depois de quase um ano que moro aqui, você veio falar comigo para me fazer de escravo? — Ele indagou e bufou. — Boa tarde, Júpiter. — Começou a fechar a porta.

Coloquei o pé no vão, o impedindo.

— Tyler, não seja cruel. Eu pago o que for. — Ele hesitou e vi isso como um bom sinal. — Sei que você quer terminar de construir a sua moto e posso te ajudar com isso. Se não for com dinheiro, ajudo com mão de obra. Só. Salve. A. Minha. Vida. — Falei pausadamente.

Ele ficou em silêncio me encarando por segundos amargos. Por fim suspirou e esticou-se para pegar sua camisa quadriculada pendurada ao lado da porta. Tentei ignorar o modo como o meu coração estava batendo forte e como o meu rosto estava vermelho com a ideia boba de que ele poderia escutá-lo. Estava parecendo uma adolescente de quinze anos e não uma mulher que em breve iria para a faculdade.

— Está me devendo, JJ. — Ele disse.

Tentei reprimir o sorriso que começou a crescer em meus lábios por conta do apelido que ele tinha me dado. Nós atravessamos em completo silêncio e abri a porta da garagem para que Tyler entrasse. Coloquei minhas mãos que suavam dentro dos bolsos de minha calça jeans. Tinha medo que meus pais chegassem da casa de seus amigos mais cedo e vissem a merda que eu tinha feito.

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E eu não estava falando do carro.

Tyler abriu o capô do carro e olhou por alguns minutos. Ele franziu o cenho, fazendo um bico que achei fofo. Por fim suspirou e olhou para mim com um pequeno sorriso.

— Ele tem salvação. — Informou-me. Botei a mão em meu peito, aliviada. — Onde tem uma caixa de ferramenta?

Apontei para o canto da garagem e puxei uma cadeira para vê-lo trabalhando. Tyler tirou a camisa quadriculada e a camiseta branca em seguida, me deixando a mercê de seu abdômen típico de seus dezenove anos. Minha hiperventilação recomeçou. Ele mexeu por alguns minutos, concentrado e eu apenas pensava no jeito que ele tinha me chamado.

— Acabei — Anunciou com animação fazendo-me dar um salto da cadeira. Ele fechou o capô e olhou na minha direção, satisfeito. — Novinho em folha.

Quase chorei de alívio e me aproximei pegando em sua mão e apertando por entre as minhas. Um calor começou a tomar conta de minha pele a partir daquele ponto e foi quase automático que ergui meus olhos na direção dos seus. Ele estava sério e vi seu pomo de adão se mexendo enquanto ele engolia a seco. Parecia que eu não era a única com o corpo tendo reações descontroladas.

— Eu pagarei. — Disse com a voz fraca e sussurrante.

Ele passou a mão livre por minha bochecha.

— Pode ser agora, JJ. — Ele segurou o meu queixo com cuidado e meus olhos se fecharam, deixando que seus lábios tocassem os meus com suavidade e maciez.

— Retiro o que eu disse anteriormente — Zeke disse olhando a cena.

Tive que piscar com força para sair dos meus pensamentos que se mesclavam com aquela cena. Era como se todos os sentimentos daquela época retornassem com o dobro de força. E senti tanta saudade que doeu.

— Sobre o quê? — Perguntei pondo os braços ao meu redor, como se sentisse frio.

— Você está diferente aí — Apontou para a eu adolescente que sorria na direção de Tyler. — Agora é mais uma questão de arrumar alguém. Mas nessa época você só queria ser feliz, mesmo que por alguns dias.

Encarei a cena por mais alguns segundos, não sabendo se me sentia ofendida ou satisfeita com o comentário de Zeke. Pela primeira vez desde que começamos essa louca viagem, fiquei em silêncio diante de uma provocação. O problema era toda aquela nostalgia que me tomava. Nas lembranças de Seth, Carter e Riley – não, com Christopher, não – eu ficava animada e ansiosa para saber o que mais Zeke tinha para me mostrar. Agora eu só queria pedir para que ele pausasse e mostrasse novamente esses minutos. Respirei fundo e arrastei os olhos até o anjo que me encarava sério.

— Vamos continuar?

Ele concordou, pondo uma mão na minha e deixando que o vento batesse em meu rosto com mais força e por mais tempo do que antes. Quando parou, estávamos exatamente no mesmo lugar. Não me espantei, sabendo que dia era aquele. Meu peito se apertou e dei um passo inconscientemente para trás. Meus olhos começaram a encher de água enquanto segurava a parte da frente da camisa de Zeke e o sacudia.

— Tire-me daqui — Pedi com o maxilar cerrado. — Éramos para estar em um dos momentos felizes e não aqui. — Minha respiração começou a ficar mais rasa e engoli saliva, sentindo minha garganta secando. Desde que começamos, não tinha me sentindo tão... humana. — Zeke, não faça isso, por favor.

Vi a dor nos olhos de Zeke e parecendo saber o que estava refletindo, virou o rosto. Soltei-o, cruzando os braços enquanto dava poucos passos para trás encarando o chão. Recusava-me a ver o que iria acontecer em seguida. Por mais que tenham se passado dez anos, ainda doía. Sem conseguir mais me conter, ergui os olhos e revive um dos dias mais difíceis.

Saí da casa com passos decididos e a expressão rígida, segurando o mar de emoções que estava prestes a transbordar. Parei por um segundo, olhando a carta que estava na minha mão e pensando em tudo o que ela significava. Antes a respostas contidas ali era a solução dos meus problemas, a motivação do meu futuro. Porém agora era apenas uma decisão que eu deveria tomar. Infelizmente uma decisão que de qualquer jeito seria carregada de consequências.

Balancei a cabeça, sabendo qual era a coisa certa a se fazer e continuei o meu caminho com a atenção totalmente voltada para a casa na minha frente. Por esse motivo que não escutei os passos apressados em minha direção, só percebendo que estava na rota de colisão quando já estava no chão com o corpo de Tyler em cima do meu.

— Você deveria olhar por onde anda — Eu disse. Tyler tirou um dos fones, pondo uma das mãos no chão e tomando impulso para se levantar. — Caso não tenha escutado, eu disse que você deveria olhar...

— Eu escutei, JJ. — Ele sorriu, estendendo a mão para mim. Percebendo que estávamos no meio da rua, olhou para os lados e verificando se nenhum vizinho estava a vista e acariciou minha bochecha com a ponta do dedo. — Estou com saudades.

Por mais que aquele tormento fizesse todo o ar dos meus pulmões serem expulsos, era simplesmente impossível resistir ao toque de Tyler. Ele tinha um poder sobre as minhas reações que era assustador para mim. Meu coração nem deveria estar batendo com tanta força. Fechei os olhos, querendo que isso me ajudasse a manter o meu equilíbrio e até que ajudou, pois pude ver com clareza no escuro.

— Precisamos conversa, Ty. — Sussurrei sentindo sua mão se afastando de minha pele. Abri os meus olhos, vendo o suor descendo por seu rosto até a gola de sua camisa de corrida. — Podemos ir para a sua casa ou...?

Sua expressão ficou séria.

— Venha.

Ele andou na frente, sem me tocar nem nada do tipo. Talvez já sabendo as palavras que sairiam de minha boca. Eu ansiava que fosse isso. Não sabia se seria capaz de falar tudo o que deveria dizer. Parei apenas para me abaixar e pegar o envelope que estava no chão, colocando-o em meu bolso e arrastei os meus tênis pela rua.

Por mais que soubesse que áqüea situação era um pouco crítica, meus olhos não se contiveram e analisavam o corpo de Tyler com a roupa de sua corrida. Ele era perfeito e meus pais não conseguiam notar aquilo. Por um segundo imaginei se não era apenas ciúmes de sua única filha nunca ter tido um namorado. Sinceramente esperava que fosse. Não fomos para a sua casa e sim para a garagem, onde geralmente era o local onde ficávamos mais sossegados.

Ele se recostou na parede e cruzou os braços, o corpo totalmente rígido.

— Seus pais descobriram sobre nós? — Ele questionou. Seus olhos castanhos estavam frios e me encaravam como se eu fosse uma desconhecida. Aquela era a sua armadura. — Eles querem que nos afastemos?

Pisquei com força algumas vezes já que meu cérebro não estava pronto para receber informações novas. Dei um passo em sua direção com a boca aberta, sem saber o que dizer. Eu deveria confortá-lo para depois pisar em seu coração novamente? Aquilo estava fazendo minha cabeça latejar.

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— Meus pais não têm nada a ver com isso, Tyler. — Acalmei-o, vendo o seu corpo relaxando. — É sobre nós dois e...

Fui bruscamente interrompida por seus lábios nos meus e suas mãos segurando-me pela cintura e trazendo o meu corpo para junto do seu. Quando dei por mim estava sendo pressionada na parede, recebendo um dos beijos mais intensos. Tinha tanta coisa ali. Medo, paixão. Não consegui me controlar e coloquei as mãos em seus cabelos, mantendo-o por perto. Estávamos desesperados um pelo outro e por mais que Tyler não soubesse o real motivo de nossa conversa, ele sentia a minha urgência em meus beijos.

— Por favor — Pedi novamente com a voz embargada, pondo a mão em meu peito onde meu coração estava se desintegrando. — Pare com isso, Zeke.

— Desculpe, Júpiter. — Ele murmurou.

Limpei algumas lágrimas e decidi que tinha que tomar coragem e assistir. Quase consegui sentir a mudança brusca que ocorreu em mim, indicando a transição do que eu era com Tyler e o que me tornei depois de ir embora.

Coloquei as mãos em seus ombros e o afastei. Nossos peitos subiam e desciam com força em uma tentativa de acalmar as nossas respirações. Ele me olhou com um meio sorriso trêmulo nos lábios, demonstrando a falta de firmeza em seus atos. Sem controle sobre mim, desabei em lágrimas, sentindo-o me envolver em seus braços e me puxar para si com delicadeza. Dizer adeus não deveria doer tanto.

— Eu vou embora, Tyler. — Reuni coragem para murmurar contra o pano de sua camisa, sentindo a tensão de seu corpo. — Semana que vem. Recebi minha carta de admissão da faculdade hoje de manhã. — Tirei meu rosto de seu peito e passei uma mão por meu rosto, querendo limpar as lágrimas. — Eu sinto muito. Esses dois meses foram maravilhosos, mas tenho que cair na real. E a realidade está me mandando ser adulta.

Vi a raiva chegando aos olhos de Tyler e me recostei novamente na parede, dando-lhe espaço. Ele passou as mãos por seus cabelos loiros e caminhou de um lado para o outro, sem realmente se afastar de mim.

— Em nenhum instante você pensou em refazer esses planos? — Ele indagou. Preferi ficar quieta, pois sabia que se desse a resposta que ele queria, não iria embora. Tyler bufou. — Claro que não. Isso era apenas diversão, mas adivinhe, Júpiter. Você me fez te amar. — Olhou-me da cabeça aos pés e pressionou os lábios juntos, balançando a cabeça. — Agora só consigo ter vontade de ficar longe de você. Maldito dia em que abri a porta e te ajudei. Saia da minha casa e, principalmente, saia da minha vida.

Soluçando e sentindo dores em lugares que certamente não deveriam doer, pus as mãos em meu rosto e corri para longe de Tyler. Uma pequena esperança no canto menos racional do meu cérebro quis que ele me seguisse, porém ele não o fez. Sequer apareceu para se despedir quando o caminhão de mudança chegou para pegar as minhas coisas. Não iria cobrá-lo já que tinha feito a minha escolha. Agora teria que arcar com as consequências.

Zeke estendeu a mão para mim, solidário. Só nesse momento que percebi o quanto minhas pernas tinham se tornado falhas e me levado ao chão junto com as lembranças. Levantei ainda tremendo, mas estufei o peito e convenci o meu cérebro que já tinha superado tudo aquilo. Eram dores do passado que não iria mais me ferir. Encarei Zeke com o rosto neutro.

— Para onde vamos agora? — Perguntei. — Porque depois disso, aquela história de voltar para a realidade não parece uma boa opção.

Ele apenas tocou em meu rosto e sorriu, triste.

— Vou te ajudar a tomar uma decisão.

O vento tocou o meu rosto com mais força do que da outras vezes e senti que não somente o meu cabelo, mas meu corpo todo estava sendo jogado para trás. Deveria estar dando um salto de muitos anos para ter esse efeito. Não sentia mais a mão de Zeke em mim e isso me apavorou, até que o vento subitamente cessou e me vi deitada em uma cama.

Por um segundo pensei que tinha voltado a realidade, mas não reconhecia aquele quarto. Tudo estava parcialmente escuro, iluminado apenas pela luz do sol que atravessava a cortina até o meu rosto. O quarto era um pouco pequeno, mostrando a humildade daquele lugar, mas era bonito incluindo as paredes pintadas de azul escuro, combinando com a roupa da cama. Virei o rosto, vendo que não estava sozinha ali. Porém não era Zeke que estava comigo.

Encarei a garota de cabelos pretos e olhos claros que mantinha a atenção focada em meu rosto. Tinham sardas em sua bochecha e aparentava estar em seus cinco anos. Pensei que ela estava olhando para um lugar aleatório já que eu deveria estar invisível. Só quando sua mão se esticou e tocou a minha, percebi que estava errada.

— Tudo bem, mãe?