Praça

Praça e Corpo


Numa cidade, interligavam-se quatro ruas em frente às lojas, formando um trapézio irregular e quatro cruzamentos individuais. Não era como se fossem próximas uma da outra, pois haviam de formar a área da figura.

No centro desse quadrilátero, havia um corpo maior do que o normal. Ele ficava esticado no chão, repousando em ambages, como se morto eternamente fosse jazer. Servia para ocupar espaço, impedir que os carros saíssem das ruas e também para que as pessoas pudessem pisar nele. Sem dor, sem amor. Restava-lhe o destino de ser um pedaço de chão. Feliz ou triste nem estava, incapaz de sentir se capacitava.

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Aquele corpo ficou ali por anos, sendo pisoteado, sobrevoado por passarinhos tão belos e com chicletes entalados nos esôfagos de desespero, que clamavam pelo partir da terra. Guardava estrumes e enxúndia, trazia a difteria vulgar para quem herdava da diátese. Guarnecia o guenzo do que fazia-se banal e permanecia inquieto, apodrecendo. Sua pele ficara deformada e arranhada, não obstante era este fato destinado; apatia. Outrem nunca se importou.

Depois dalguns anos, os magníficos asnos enojaram-se de pisar em tão decomposto ser, portador da feiura e anorexia. Logo com o dinheiro do povo, iniciaram a tortura – por mais que não fosse aparente, o corpo permanecia com vida; alma intacta –, envolveram por latão o trapézio irregular, sangraram os blocos com madeira, e ficaram por mais de um mês arrancando a pele do corpo e fazendo-lhe transplantes de aparência. No ultimato, arrancaram quatro dos membros, deixando de sobra apenas a cabeça, com a esperança de ainda conseguir grudar o espírito no físico. A modernidade estragou.

De resultado, as pessoas pisam num corpo morto, todavia, bonito.

Não faz tanta diferença, não é mesmo?

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.