Filhos de Militar

Filhos De Mlitar


Sou filha de militar.

Quando falo que sou filha de militar, a pessoa logo pensa: ''Tadinha, nem deve ter amigos'' ou ''Meu Deus, o pai dela não deve deixar nem ela sair de casa''. E até já chegaram a me perguntar se eu tinha amigos! Alguns acham que o meu pai ganha dez mil, outros acham que eu nunca vou ter uma vida feliz ou até mesmo que não sei mais quem eu sou depois de tantas mudanças.

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Ser filho de militar é saber se acostumar, se misturar em qualquer ambiente. Nascemos sabendo como montar e desmontar uma casa em dois dias. Quantas pessoas podem dizer que já viajaram cada cantinho desse país? Que têm amigos espalhados por todo lugar, e que conheceram o melhor e pior de muitas cidades?

Temos uma habilidade de se adaptar diante do diferente. Frio, calor, água, seca, pobreza, elegância e qualquer outra condição climática, física, financeira, geográfica...

Sim, já culpei muito o meu pai por ter escolhido ser militar, já chorei a note toda pedindo a Deus que me estabelecesse naquele lugar. Já chorei rios me despedindo dos meus amigos, prometendo que logo estaríamos juntos novamente. Já fiz pirraça dizendo que iria fugir de casa pra viver com uma amiga que nunca iria se mudar de cidade.

Aprendi a ver os dois lados da história, aprendi a lidar com tudo isso. Aprendi, principalmente, a olhar pelo lado do meu pai. Ver seus filhos sofrendo e chorando por deixar os amigos, namorados, toda uma vida para trás e não poder fazer mais nada para mudar essa situação. Vejo que tudo isso contribuiu para me mostrar que a vida nem sempre é como a gente quer que ela seja, que temos que superar todos os desafios que ela impõe e se cair, aprender a levantar e tentar outra vez.

Ser filho de militar é conviver com saudades, é descobrir novos costumes, conhecer novas cidades é ficar com raiva de ter que ir embora, é se adaptar, é aprender a gostar do novo.Ser filho de militar é ter várias gírias, sotaques e experiências. É ter história para contar. É namorar a distancia. É gastar absurdos na conta do telefone. É conhecer gente em todo canto do país. É perder amigos, refazer amigos, reencontrar amigos. É descobrir o sentido de verdadeira amizade. É não ter muita frescura, é ter a mente aberta, é abrir os horizontes. É ter fé, é conviver com mudanças. É se confundir com o bando de siglas que falam quando seu pai conversa com amigos. É conviver pouco com avós, tios e primos. É sentir saudade de alguém constantemente. É pagar diária barata em hotéis de transito por todo Brasil.

Ser filho de militar é perder muito tempo de convívio com seu pai porque ele teve que ficar mais tempo no quartel. E mais que tudo, é ter orgulho do seu pai ao ver quantas pessoas o admiram de verdade.

Uma vez, enquanto eu estava por aí, um rapaz de aparentes 20 anos veio falar comigo, a minha primeira reação foi tentar sair da conversa antes mesmo dela começar. Esse rapaz, me disse assim: '' Você que é a filha do Sub né? Diz pra ele, que eu consegui, e que sempre vou ser grato por ele ter insistido nisso''. Fiquei sem entender direito, mas quando vi meu pai logo tratei de passar o recado, e tentar entender o que se passou, percebi que quando falei aquilo, os olhos do meu pai brilharam. '' Esse jovem veio de uma família bem humilde, já estava até desacreditado, mas uma coisa que eu disse a ele era de nunca abrir mão do estudo. Você sabe como dou importância pro estudo. O sonho dele era passar na faculdade de medicina, mas já estava desacreditado dizendo que nunca iria conseguir e que iria passar vergonha na faculdade por ser pobre. Insisti, insisti pra valer, até ele não querer mais me ouvir, dizendo que ele tinha que fazer, acho que ele fez mais para me mostrar que não conseguiria do que para passar de verdade.''

Ouvi aquilo com tanta admiração no olhar. Meu pai ajudou alguém, não por obrigação e sim porque ele aprendeu em todos esses anos no exercito que se deve ajudar os outros. ''Braço forte, mão amiga'' não é?

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Através desse singelo texto venho apenas lhe dizer uma coisa, não julgue antes de conhecer. Quando encontrar um filho de militar, não fique com pena nem o olhe como se ele fosse uma aberração, apenas sorria e lhe pergunte: '' Qual foi a viagem que você mais gostou?''

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.