Chiaroscuro

Para Laura


No primeiro encontro, você esbarrou em mim. Estávamos numa lanchonete e você derramou Coca-Cola no meu collant novo e na minha meia calça, mas antes mesmo que eu pudesse pensar em dizer qualquer coisa, você sorriu, se desculpou e me chamou de flor, mesmo que meu nome fosse Clara.

A segunda vez em que nos encontramos foi no mesmo dia, quando você decidiu pagar outra Coca para mim, se sentou na minha mesa e me explicou que havia me chamado de flor porque as ondas da minha saia pareciam pétalas. Você usava um par de all stars pretos, e me contou que gostava de rock.

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O nosso terceiro encontro foi num teatro. Você sorriu e me entregou uma flor, que disse parecer com as pétalas que eram minha saia, e então disse que eu havia feito uma boa apresentação. Eu me lembrei de você e fiz uma mesura educada, e você falou, pela primeira vez, que eu era bonita. Você também disse que havia ido até ali apenas para me ver e eu acreditei, afinal apresentações de ballet não pareciam ser seu estilo.

No nosso quinquagésimo — ou talvez centésimo — encontro, você me pediu em namoro. Foi me buscar no treino e ali mesmo, no meio do salão, ajoelhou-se, e, com sua jaqueta de couro e os all stars pretos, estendeu para mim um colar — afinal, anéis eram muito clichê. Eu te fiz se levantar e te beijei, mesmo que algumas das minhas colegas tenham me odiado depois disso.

Hoje pode ser o nosso milésimo, ou talvez o milionésimo encontro. Eu não saberia dizer, pois parei de contar faz tempo. Agora, se tem algo que eu sei dizer, é o nervosismo que toma o cerne de cada osso do meu corpo, mil vezes pior do que em qualquer apresentação. Hoje, sem sapatilhas de ponta e com um buquê de flores azuis nos braços, eu vou atravessar esse corredor para finalmente dizer que sim, eu aceito você como minha legítima esposa.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.