Menino

Capítulo único - Zézim


Certo dia um menino qualquer em uma grande metrópole acordou e como todos os dias ele se levantou, estava de férias e poderia brincar o dia todo com seus irmãos mais velhos que estavam na casa no interior com seu pai – ele morava sozinho com a mãe na cidade grande – que o aguardava ansiosamente junto com os demais, naquele dia depois de tomar o banho, nem se lembrou de pentear os cabelos, e já estava pronto no carro esperando sua mãe para irem ao seu tão esperado passeio.

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Eles foram pela grande avenida, por lá sem trânsito não demoraria para eles chegarem até o seu destino, e em poucas horas já estariam lá. Quando chegaram foi uma alegria, ele nunca sorriu tanto, mas como ele sentira saudade de toda a sua família reunida em uma grande festa em que durou vários minutos e lhes renderam vários abraços. Como ele sonhou com aquele dia o ano todo, sua mãe até suportou ignorar o fato de estar profundamente brigada com o seu ex-marido e desceu para cumprimentar seus filhos, e sorrindo e quase em lágrimas – que foram barradas pelo orgulho – se despede de todos.

Todos correram para o campo onde brincaram o dia todo, mas o menino não conseguia correr muito, ele estava tão cansado, tão frágil. Já havia chorado tanto por não entender o motivo dos seus pais brigarem tanto e não morarem mais juntos. Ele sentia muita falta dos irmãos, e além de tudo ele sonhava todos os dias em que tudo voltasse ao normal.

Correram e brincaram como verdadeiras crianças, coisa que não se vê mais tão comumente pelas ruas. Decidiram brincar de jogar pedras, quem atirasse a mais alta ganhava e poderia pegar uma prenda nos outros, um verdadeiro mico. O menino foi buscar as suas pedras e sem ver furou o pé ao pisar em um caquinho de vidro que estava junto do monte de britas. Mas não se importou muito com isso e simplesmente continuou a se divertir como estava realmente preocupado em fazer.

Depois do almoço eles foram buscar mangas para o pai, ele e seus outros dois irmãos de 16 e 19 anos foram imediatamente. Mas ele continuava cansado, e já não subia a mangueira como antes fazia, com tamanha alegria e garra. Ele ficou cada vez mais ofegante, e, preocupados, seus irmãos o desceram e sem querer ele ralou a mão em uma farpa que estava exposta na árvore. Mesmo assim o Sol não colaborou. O menino desmaiou. O pai ligou para a mãe aos prantos e sem a bombinha do garoto ele não respirava direito, tinha asma forte, mas sua alegria era tanta que a doença demorou a esvair em seus brônquios defeituosos.

A mãe ficou preocupada, mas não podia fazer nada, estava de plantão na sua empresa e tinha prazos a cumprir. Ele só tinha seu pai e seus irmãos naquele momento, e ele não estava triste. Em sua pouca consciência naquele momento ele estava muito feliz, havia tido o melhor dia que poderia ter tido depois de seus 10 anos e meio de vida. Ele não era estúpido ou inocente demais para não ligar se estava morrendo ou não. Ele apenas se sentia livre, amado, e que tudo iria ficar bem. Ele não ficou descalço naquele dia como seus irmãos, mas ele mesmo assim furou seu pé. Ele não subiu tão alto naquela árvore como seus irmãos, mas mesmo assim ralou a mão.

A vida não te priva de danos por causa da sua precaução, e ele sabia disso. Apenas obedecia a sua mãe. Ele nunca respirara um ar tão puro em sua vida, era tudo tão novo, era tudo tão bom. Ele apenas derramou uma lágrima e para seu pai e irmãos que o levavam dentro do carro até qualquer hospital mais próximo enquanto ele ficava roxo de não conseguir respirar, gastou seu último ar para dizer:

– Só saibam que... – ofegava – Eu não poderia ter tido um dia melhor... – e deu um último gemido enquanto pressionava seu peito.

Seu pai parou o carro no meio da estrada, ele apenas parou, sem piscar, não havia qualquer expressão em seu rosto. Seus irmãos estavam com seu corpo sobre o colo e ambos incrédulos do que lhes ocorrera naquele momento se entreolhavam em lágrimas sem uma palavra proferir. Apenas conseguiram continuar minutos depois, quando seu pai prosseguiu a caminho de onde a mãe dele estava, foi quando ligaram para ela novamente.

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Alguns dias depois foi seu enterro. Ele estava tão radiante como nunca, com seus cabelos penteados e uma boca inerte que mais expressava um sorriso sórdido. Ninguém esperava aquilo, ninguém estava pronto para aquela mudança tão súbita. Mas a alegria daquele menino não foi refletida pelo Sol, que estava cinza naquele dia, em luto pelo seu próprio assassinato. Ninguém foi à praia, ninguém teve coragem de entrar no mar de esgoto que banhou o corpo de um menino tão doce que carregava apenas um pente fino, que penteou para longe tudo aquilo que ele tinha como maior obstáculo... Seus sonhos. Um pequeno menino chamado Zézim.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.