Melodia
Vinte e Oito
AGORA É A HORA que eu fico nervosa e talvez desesperada. Odeio adiar conversas. Odeio mesmo, gosto de tudo falado na hora. A Magali pediu para aguardar até o dia seguinte (no caso o mesmo dia) depois do ensaio para conversarmos.
O.k., eu pareço uma maluca atordoada guardando os instrumentos. Não ajudou nada, minutos antes, o Cascão me chamar e perguntar o que houve comigo. Dei uma desculpa qualquer, mas não passei despercebida, ainda mais quando ele perguntou o que houve com a Magali e eu disse que realmente não sabia. Ela me olhou atordoada e eu atônita.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!"O que eu fiz agora?"
Nos despedimos até sobrar somente a Maga e eu na sala. O Cebola a perguntou se tudo bem e ela afirmou.
"Ciúmes, Mônica? Da sua melhor amiga?"
Eu estava pirada. Definitivamente.
Nos sentamos frente a frente.
— Antes de você começar a falar o que for que seja. Eu quero que você saiba que eu quase não consegui dormir pensando no que iria me falar. E que a nossa amizade, para mim, pelo menos, vale muito mais do que qualquer outra briga ou burrada que eu fiz e não sei. E que o...
— Mônica. - Magali me cortou.
— Oi. - Respondo suspirando nervosamente.
— Acalme-se. Não é nada para terminar nossa amizade. - Falou lentamente.
— Não?!
— Não. Quer dizer... Quero falar de algo sobre ontem. Mas que... que já existe em mim há tempos, eu acho, e só ontem que eu me dei conta. Quer dizer... Eu não sei muito bem...
— Apenas fale, Magá.
— Eu...posso estar, assim, né... Hum..er...
Vi que suas mão suavam e ela tentava secar no jeans.
— Sem enrolações. Vamos, fale.
— Er... Primeiro, uma pergunta: Sobre o que você e o Cascão estavam conversando ontem. - Meus olhos arregalaram e eu comecei a ficar vermelha. - Mônica, nem pense em mentir para mim, eu sei quando você tá mentindo.
— S-Sobre o q-que você e o C-Cebola estavam conversando ontem. - Mudei a entonação mesmo gaguejando.
— Isso...bem...
Suspirei.
— É sobre você e ele? - Perguntei mais calma. - Bem, eu e todo mundo vimos vocês ontem.
— Não, Mônica. Céus, às vezes você é tão fantasiosa, Mônica. Mas não existe um "nós".
— Digo o mesmo. Eu e o Cascão estávamos apenas conversando.
— Sobre o que, então?
— Ei, eu que deveria dizer isso!
— Bem, me desculpa, Mônica, mas... Não posso falar. Eu prometi a ele que não contaria a ninguém.
— É, eu também prometi ao Cascão que não diria a ninguém sobre o que falávamos. Mas pode acreditar que é algo legal e nada demais.
— Tá, nada demais... - Ela repetiu.
— Mas enfim, você disse que queria me contar algo. E começou até, na verdade. É sobre o que?
— Bem...- Sua pele ganhou um tom avermelhado. - Eugoscascão.
— Quê?
— Eugostdocas.
— Ahn?
Ela prendeu a respiração, fechou os olhos e soltou de uma vez:
— Eu gosto do Cascão. - Abriu os olhos e só então respirou.
Minha boca abriu e fechou. Eu pisquei voltando a realidade. Sorri. Juntá-los vai ser mais fácil do que eu pensei. Só preciso saber como fazer isso.
— Você está corando, Magá?- Provoquei.
— Mônica, vai se ferrar! - Ela me tacou um caxixi*.
— Ai! Isso dói!
— Bem feito. - Ela me mostra a língua.
— Ai, Magá... - Massageio o local atingido - cadê a sua menina bela, recatada e do lar?!...- Murmurei.
— Humpf. Não ligo.
— Mas tá... Quando você pensa em contar para ele?
Ela me olha com desespero.
— C-Contar para ele?
— É, Magá. Contar para ele. Confessar seu amor, bela donzela! - Brinco e rimos. - Falar nisso... Desde quando está sabendo dessa paixão avassaladora? É repentina? Ou antiga?
— É complicado, Mônica.
— Complicado? Como assim? - Me ajeito no pude que estávamos sentadas. O meu era de uma cor turquesa, o dela na cor roxa. Estávamos frente a frente e eu encurtei nosso espaço.
— Ahn... Bem... Eu não...- Ela tentou começar. Havia grande hesitação.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!— Mas que saco! - Exclamo. - Todo mundo não fala nada com nada referente a alguma passado daqui. Não sei de nada! Ninguém me conta nada!
— Mônica...
— Magali, é sério. O que aconteceu? - Tento. - Eu sei que tem alguma coisa grande nisso. E ninguém me conta. Isso me dá nos nervos. As pessoas escondem algo de mim. Mas... O que? Por que tanto mistério? É tão grave assim? Por que não podem me contar?
— Mônica... Eu já disse, é... - Ela limpa a garganta. - complicado demais. E eu não posso contar. Você não tem que saber por mim.
— Por que não?! Puxa, é tão...
— Mônica, é sério. Não. Não tente. Vamos mudar de assunto. Não quero pensar nisso agora.
Desabo no pufe de novo. Suspiro.
— Tudo bem. Desculpa por desabafar com você. Só que é tão injusto. Ninguém confia em mim, é isso?
— Não, Mônica. Você sabe que não é questão de confiança. E tudo bem desabafar comigo.
Eu viro o rosto. Estou vermelha de raiva. Assim como vestidos vermelhos que eu vestia na infância... Em? Vestidos vermelhos? Só vestidos vermelhos? Eu devo estar pirada.
— Está pensando no que, Moniquinha?
— De onde eu tiro tanta besteira para pensar e co... Pera? Magali! Moniquinha?!
— Não pude resistir! Foi mal!
— Tá.
— Ah, e por falar nisso. Eu já confessei que gosto do... vocêsabequem! Agora é a sua vez.
— Minha vez?
— É, Mônica. De confessar que gosta do Cebola.
Eu devolvo o golpe com o caxixi nela.
— Eu não gosto dele, Magali.
— Ai, Mônica! Você é mais forte do que eu. Isso não vale!- Ela massageia o braço direito. - Mas é sério... Não esquece de dizer o que sente, tá? É bom. Ainda mais quando se é recíproco...
— Podemos mudar de assunto?
— Tá, Mônica. Tá bom...
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