A Missão

Diário


Chegou o dia de voltar para a base. Tudo pronto para essa nova fase do plano, acho que ninguém suspeita de nada. Eu tirei apenas férias e agora estou voltando para o quartel.

Voltei como o acompanhante da garota e tive alguns deslizes durante o dia. Tentei me manter o mais firme e autoritário possível, escondendo qualquer tipo de emoção. A maior parte do tempo eu consegui fazer isso com mérito, inclusive quando tive que mandá-la parar de chorar e se recompor. Aquilo foi duro, foi horrível, foi coisa de alguém sem coração e doeu profundamente em mim, principalmente porque ela nem estava assim tão sentimental, mas estava sofrendo e isso era perceptível de longe e eu, com minhas palavras, só aumentei o sofrimento dela, falando que deveria crescer e esconder seus sentimentos para ser um bom soldado. De certa forma isso já seria um treino. Um treino em esconder o que sentimos, fazemos ou achamos, e se tudo continuar como está e ela for a pessoa, deverá aprender isso muito bem.

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Passei todo o vôo concentrado, mantendo-me durão e aproveitando para pensar sobre tudo, tirando a vontade louca que eu tinha de puxar conversa com ela de dentro de mim. Mas depois que chegamos e ela me perguntou sobre minhas bagagens, tive a primeira falha do dia: permiti que minha expressão mudasse e que eu me alegrasse descobrindo que ela era observadora. Era de uma pessoa assim que precisávamos, alguém que repara em cada detalhe.

Durante todo o reconhecimento do quartel, enquanto eu mostrava e explicava cada coisa, percebia que ela prestava atenção, mas não muita, viajando em pensamentos. Isso não era bom. Precisávamos que ela entendesse e aprendesse tudo com facilidade e tivesse interesse por cada detalhe. Me vi preocupado com o porquê dessa falta de atenção e tentei descobrir. Quando ela me contou que estava se achando tão estranha e diferente dos demais, quase abaixei minha guarda totalmente. Permiti que ela conversasse com o meu melhor lado, o meu verdadeiro, aquele que se importa com as pessoas. Mas respirei fundo e com muita dificuldade deixei meu lado racional e frio vir novamente à tona e voltei tratá-la indiferentemente.

Preciso tomar mais cuidado com esse meu lado sentimental. Alguma coisa nela desperta isso em mim, mas tenho que me controlar. E se não posso conseguir ser indiferente quando estou com ela, talvez possa amenizar isso tratando-a pior ainda. Sendo rude e exigente.