Mundo medonho

Abandono.


Estamos em um lugar frio, muito frio. O ar artificial vindo da máquina no teto quase congela a pequena cela, deixando tudo com um aspecto mais branco, inclusive, a pessoa que está presa nela. Um homem está sentado de frente pra uma mesa simples, onde uma máquina de escrever repousa após seu trabalho. Ele tinha direito a escrever até dez folhas, já que esse era o limite da tinta e ela só era reabastecida uma vez por dia.

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O uniforme branco que o homem usava era semelhante a um pijama. Parecia que tudo nele era do mesmo tom. Seus cabelos, sua pele, até mesmo seus olhos. Tudo era cinzento, num tom mórbido. Talvez estivesse quase morto por causa do frio, e isso refletisse em sua aparência.

A porta da cela se abriu, e uma pessoa usando um traje especial entrou, deixando um prato de comida na lateral da mesa. A pessoa se retirou com pressa, com agonia de estar ali.

— Obrigado. — a voz gélida mal soou por causa do barulho forte que a porta fez ao se fechar.

Ele levantou o braço de um jeito fraco, e pegou a comida com a mão. Calmamente mordeu o pedaço de carne, antes que ele esfriasse. Ao terminar a refeição, ele lambeu o prato para ter certeza que havia deixado nada pra trás, já que seria a única refeição que ele iria comer naquele dia.

— Eles são muito cruéis com você. — uma voz debochada falou com o homem, por trás.

— Isso é culpa sua. — ele não se importou em virar-se, já que a conhecia.

— Ah, é mesmo. Desculpa, hehe.

Algo se movia pelas paredes, tentando chamar a atenção do homem. Por mais que a tentação fosse grande, ele se recusou a olhar, e continuou a apenas encarar a máquina de escrever, sem ideias.

— Olhe para mim, Adler. Está com medo de quê?

A voz gargalhou. Adler fechou o punho, com ódio. A criatura começou a lembrá-lo do passado.

Sua derrota o fez estar aqui, né?

— Eu deveria ter morrido, e não me tornado um escravo do medo.

— Não, não, você não seria maluco de fazer isso comigo, Adler. — ele falava como se Adler fosse um amigo com o qual contava pra uma tarefa importante. — O Superior odeia quando os humanos morrem...

Adler olhou com assombro para o Medo, lhe perguntando de quem estava falando. O Medo riu amarelo e colocou a mão com três garras na boca, como se tivesse falado alguma coisa errada. Para quebrar o clima estranho que tinha feito, a criatura se joga na parede que estava à frente de Adler, se esparramando por ela como uma ameba, e faz a sua superfície se mover. Mãos começam a aparecer e tentam atravessar o "pano" que havia se tornado. Era uma visão assustadora, ainda mais para Adler, que era um Medroso. O rosto do homem se torna puro pavor, e então ele desesperadamente vai até a porta e começou a bater nela, gritando.

— Qual era o seu medo mesmo, Adler? — a voz continuava lá. — Ah, sim... Medo de Ser Abandonado. Engraçado, esse é o meu nome!

A risada do Medo invadiu a sala, e aumentou o pânico de Adler. Em um ato desesperado, ele começou a bater a cabeça na porta, com a esperança de desmaiar e escapar de tudo aquilo. O Medo largou a parede e se materializou em frente à Adler, que estava começando a apagar.

— Você pode fugir para seu mundo dos sonhos, mas eu irei persegui-lo até os confins da sua mente! Hehe.

Tudo começou a ficar escuro para Adler, e ele fechou os olhos, procurando lugar que o salvasse.

...

— Esse lugar é incrível! — Ronald não conseguia deixar de olhar para todos os lados. Parecia até que seus olhos não viam o suficiente.

Um pouco atrás dele, estava Agatha. A timidez a impedia de esboçar alguma reação mais sublime que a curiosidade. Ronald escolhera levar Agatha para a cantina de propósito, já que lá era onde se concentrava mais gente. Meireles os esperava em uma mesa quadrada de cor laranja desbotado.

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— Você parece que tem um dom de conhecer pessoas, garoto. — ele sorriu. — Quando perguntei pra uma pessoa se já tinha te visto, vários me disseram que já eram seus amigos. Como consegue?

— Nem sei, acredita? — Ronald se sentou em uma cadeira, se sentindo o máximo pelo elogio.

— Agora fica claro que você e a srta. Agatha não são irmãos. Ninguém nem sabia quem era ela.

— Não sou sociável. — Agatha se sentou na cadeira do lado de Ronald, séria.

— Percebemos. — disse Ronald sorrindo, e Meireles riu também.

— Rude. — ela quase cuspiu a palavra.

— Aliás, tem uma coisa que eu não perguntei. — Ronald interrompeu. — Qual vai ser o nosso trabalho?

— Estava ansioso para vocês me perguntarem isso. — Meireles colocou os pés na mesa — Dr. Sylvannia não tem costume de dar as ordens diretamente, então sempre diz as coisas pra mim. Pelos testes posso deduzir que srta. Agatha é ser alguém com inteligência e habilidades relacionadas a tecnologia. Ela seria útil no Departamento de Computação. Você, sr. Ronald, tem carisma e é habilidoso em conversas. Seria útil no Departamento de Informações, e poderia até mesmo extrair informações dos Medrosos que mantemos nesta organização.

— A gente vai ser direcionado a um trabalho específico lá? — perguntou Agatha.

— Sim. Vocês começam hoje. — Meireles sorriu. — O local de trabalho vocês encontram sozinhos, perguntando para as pessoas. Detalhes vocês descobrirão quando chegarem lá. Tudo bem?

— Sim senhor. — responderam os dois.

Ronald se levantou e Agatha começou a segui-lo. Ela se perguntou como Meireles tinha deduzido suas habilidades com tecnologia, mas deixou a questão pra depois. Ele passou por várias pessoas perguntando sobre os locais onde cada um trabalharia. Rapidamente conseguiu informações e direções suficientes. Ronald chegou em sua sala e apontou para sala onde Agatha iria trabalhar, já que não era muito longe. Eles se separaram e entraram cada um em sua sala. Dali pra frente, eles não sabiam que o mundo iria lhes mostrar através daquela organização algo muito mais profundo do que apenas uma guerra.