Evolution: Parte 3

A Ilha no Pé do Vulcão


Capítulo 17 – A Ilha no Pé do Vulcão

– E então, logo no começo do segundo dia eu consegui ver o vulcão. É enorme mãe! – contou Dave, animado, enquanto Martha e Jonathan sorriam pela tela do telefone – Mesmo estando aqui desde a manhã, eu ainda não consigo acreditar. Já vi montanhas mais altas, mas ele é muito largo! E a abertura lá em cima parece gigantesca! Tenho que sobrevoar com o meu Pidgeot para ver.

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Martha estremeceu ao imaginar o filho nas costas de um pássaro gigante sobrevoando a boca de um vulcão, mas Jonathan pareceu feliz de ver o filho e se disse surpreendido com o fato de Dave ainda não o ter feito. Fazia dias que Dave não ligava para casa. A última vez fora uma rápida conversa antes de partir para Sunny Town e agora, com mais calma, a ligação parecia alegrar profundamente seus pais.

Ele contou tudo sobre sua viagem e suas experiências até a cidade da pedra e sobre a sua viagem de volta. Martha riu quando ele contou que quase haviam perdido o barco e haviam conseguido embarcar apenas por questões de minutos. De acordo com Dave, o Dr. Kato fora o herói da história, tendo se tele transportado com seu Alakazam assim que percebeu que o grupo se atrasaria e convencendo o capitão seu amigo a esperar por mais alguns minutos.

Martha e Jonathan pareciam compartilhar da mesma desconfiança de Eevee em relação à Kato, mas Dave havia lhes explicado a situação delicada entre ele e Mindy e contado todo o apoio e ajuda que ele vinha dando ao grupo, inclusive o treinamento que fez no barco durante a viagem até a ilha. Tendo em vista o tempo que eles passaram juntos sem que nada de ruim tivesse acontecido e todo o apoio que ele estava oferecendo ao grupo, até os Hairo pareciam concordar que em primeiro momento o homem estava se provando um verdadeiro amigo de todos.

– Filho, eu fico muito feliz que tudo esteja bem. Ligue novamente antes de sair de Cinnabar, tudo bem? – disse Martha, segurando as lágrimas como sempre fazia quando estava prestes a terminar a ligação.

– E vamos torcer para que os problemas maiores tenham acabado e você tenha finalmente saído do rastro daqueles criminosos – disse Jonathan, com uma expressão confiante para seu filho.

– Sim! Tomara mesmo, pai!

– Então devemos ir. Boa sorte no ginásio!

– Nós amamos você! – terminou Martha, deixando a primeira lágrima escorrer.

– Eu também – disse Dave, finalmente desligando a ligação.

O menino saiu da sala de ligações do centro Pokémon mais feliz do que antes. Sempre se sentia assim quando falava com sua casa, mas também sentia um aperto de saudade toda vez que tinha que desligar a ligação. Tinha uma imensa vontade de voltar para casa nas costas de seu Pidgeot para uma rápida visita, mas sabia que o calendário o estava alcançando e ele ainda tinha três insígnias a vencer antes de ter o número necessário para entrar na liga Pokémon.

Ainda assim, não pretendia desafiar o ginásio ainda aquele dia. Os últimos dias haviam sido muito cansativos e eles apenas desembarcaram antes do almoço, e Dave ainda teve que caminhar até o centro da movimentada cidade e conseguir quartos no movimentado centro Pokémon antes de poder se preocupar com a refeição. Kato dizia que o movimento turístico da ilha havia crescido como nunca nos últimos anos, e que isso vinha até mesmo prejudicando a vida Pokémon. A cidade na ilha sempre fora um polo de pesquisa e desenvolvimento na área de trato com Pokemons, mas seu clima quente, suas bonitas praias e as atrações do vulcão e suas fontes quentes acabavam atraindo mais turistas do que os treinadores e pesquisadores gostariam.

Kato dizia que os turistas acabavam por atrapalhar o ambiente natural dos Pokemons, o que por sua vez atrapalhava as pesquisas desenvolvidas no lugar. Além disso, a cidade crescia desordenadamente, ocupando espaços indevidos que podiam conter fósseis escondidos ou que então eram destinados a preservação ambiental ou até mesmo para criação cientifica de Pokemons. E o grande movimento de turistas afastava os treinadores, que preferiam continuar no continente principal e evitar a longa viagem de barco até ali para encontrar uma cidade superlotada e desconfortável, onde teriam dificuldades para treinar.

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Kato se mostrava preocupado com o futuro da ilha, mas Dave parecia contente de estar ali. Pretendia enfrentar o ginásio no próximo dia, mas tinha mais uma coisa em mente. Kato lhe disse que se procurassem com cuidado, talvez fosse possível encontrar pedras de fogo nas redondezas do vulcão. Ele dizia que talvez a busca não rendesse resultados, uma vez que as pedras eram objetos que tinham um considerável valor econômico, mas que por causa da escarces de reservas a exploração comercial nunca foi viável ali, custando muito mais do que qualquer empresa ganharia vendendo as rochas radioativas.

Ainda assim, ele acreditava que os próprios moradores da cidade e os turistas pudessem efetuar buscas e acabar por encontrar a maioria das pedras disponíveis, para proveito próprio, muito como Dave pretendia fazer. Ainda assim, ele disse que a tentativa era algo que valia a pena fazer, e Dave tinha confiança de que, com a ajuda de Sandslash, a busca renderia os resultados esperados.

O que desanimou Dave, porém, foi quando percebeu que a largura desproporcional do vulcão fazia com que a área de buscas fosse imensamente maior do que ele poderia imaginar. A base do vulcão se estendia por boa parte da ilha, e a cidade crescia a sua volta, no que de cima pareceria apenas a borda de toda a área. Isso significava que Dave tinha quilômetros e quilômetros para buscar, isso se ele considerasse apenas a superfície. A área aumentava exponencialmente quando ele considerava a busca pelo subsolo, onde era mais provável encontrar as rochas. Quando Dave percebeu o tamanho da tarefa que tinha nas mãos, percebeu que talvez fosse impossível terminar a busca antes do começo da Liga, e que até lá ele ainda tinha que viajar até encontrar e vencer mais dois ginásios. Seu animo, subitamente, se afundou.

Mas Kato, por algum motivo, ainda parecia acreditar que eles tinham alguma chance e reanimou Dave quando explicou que tinha uma ideia que poderia render bons frutos.

– Não posso prometer nada – disse o especialista, depois de Dave ter lhe contado sobre suas preocupações – mas eu conheço uma pessoa aqui que talvez saiba nos indicar onde procurar.

E não disse mais nada sobre o assunto, apesar dos protestos do treinador. Dave perdera a paciência e resolveu descobrir depois o que quer que Kato não queria lhe dizer. Ele lhe prometera que procurariam o seu amigo misterioso durante a tarde, mas que primeiro ele queria descansar da viagem e do ritmo dos últimos dias. Dave não podia se opor àquilo, uma vez que ele mesmo sentia a necessidade de relaxar por um tempo. Mesmo sem ser perseguido e atacado constantemente desde os arredores de Fuschia, aquela jornada estava se provando muito mais desafiadora, cansativa e estressante do que ele imaginara.

Dave então tomou o caminho da praia, onde sabia que Mindy havia ido para passar mais tempo com seu Dratini. Em si, a ilha e a cidade eram muito bonitas e Dave sentiu-se feliz ali, apesar da grande movimentação turística. Ter montanhas e praias no mesmo ambiente era algo raro no mundo e aquela cidade era privilegiada. As casas eram simples, com exceção de uma única mansão abandonada pela qual ele passara no caminho, e os movimentados mercados eram animados e aconchegantes. Por algum motivo o povo parecia estar sempre de bom humor e aquilo o afetou de maneira positiva. A atmosfera de lá era diferente de tudo o que Dave tinha encontrado antes. O vulcão podia estar adormecido há séculos, mas a cidade continuava viva e vibrante.

O tempo quente e claro fazia com que a praia estivesse surpreendentemente cheia, e Dave teve dificuldades de encontrar sua amiga. Imaginava que mesmo na multidão, não deveria ser difícil encontrar um Pokémon raro como Dratini, mas se o seu próprio Eevee já vinha atraindo muita atenção das pessoas à volta, Dave nem podia imaginar a confusão que causaria se Mindy liberasse seu Pokémon.

Ele caminhou devagar pela areia, despreocupado, apenas tendo que sorrir e parar por alguns momentos quando um turista mais interessado, normalmente mulheres, paravam para olhar e acariciar Eevee. Ele podia perceber que logo seu amigo se cansaria de tudo aquilo, mas estava gostando do passeio. Sentiu-se muito sozinho e percebeu que gostou daquele sentimento. Havia muito que não tinha ninguém ao seu lado e ele respirou o puro ar da liberdade. Eevee parecia aproveitar tanto quanto o menino, e os dois continuaram andando, sozinhos e livres.

*-*-*-*-*-*-*-*-*

Já haviam passado das quatro da tarde quando o telefone do quarto de Dave e Jake tocou. O Dr. Kato tinha supostamente dormido por horas após o almoço, mas agora parecia finalmente estar pronto para apresentar Dave ao seu misterioso amigo na cidade. O homem era a única esperança, além de sorte extrema, de Dave conseguir encontrar uma pedra do fogo na ilha e o menino estava começando a ficar ansioso. Ele não entendeu, porém porque o especialista havia convidado Jake para acompanhar. O menino mais novo parecia estar feliz em passar o resto do dia concentrado em suas leituras, deitado confortavelmente em sua cama, mas Kato lhe prometeu que não ele não se arrependeria.

Os três saíram do centro Pokémon caminhando sem pressa, no ritmo ditado pelo homem mais velho, que parecia saber exatamente onde estava indo. Dave não pode deixar de notar a familiaridade de Kato com o lugar e constatou que o professor já deveria ter visitado aquele lugar inúmeras vezes antes. Ou então ele passou a tarde toda estudando os mapas...

Eles passearam por algumas ruas bastante movimentadas, mas Dave e Eevee começaram a se preocupar quando viram o movimento diminuir consideravelmente à medida que eles mergulhavam ainda mais na malha urbana da cidade. Dave voltou a lembrar do pouco que conhecia de Kato e percebeu que talvez estivesse correndo um risco maior do que imaginara e, caso aquilo fosse uma armadilha, sua única esperança seria Mindy, que ainda não havia voltado de seu passeio com Dratini quando os três saíram do centro Pokémon.

– Estamos quase lá – disse Kato, com um sorriso de que Dave não gostou.

Cerca de vinte minutos depois, ainda mais fundo dentro da cidade, Dave se viu de frente para uma grande estrutura. O prédio não tinha mais que cinco andares, mas era largo e parecia ocupar um enorme terreno nos fundos. Um letreiro no alto apenas indicava a sigla “LP”, e Dave não tinha a menor ideia do que aquilo significava. A única coisa que percebeu foi que de uma maneira estranha, as duas letras estavam desenhadas para que algo como um tubo de ensaio se formasse entre elas. Sua preocupação crescia mais e mais, enquanto Jake encarava o prédio com uma expressão surpresa e, Dave pensou, um pouco maravilhada.

– Bem vindos ao laboratório Pokémon de Cinnabar – disse Kato, como se orgulhoso.

Dave respirou um pouco mais aliviado, mesmo sabendo que aquilo ainda poderia ser uma armadilha. O menino se criticou por continuar a ter tantas duvidas sobre o possível pai de Mindy e lembrou-se de quantas vezes ele se provara de grande ajuda. Afinal, ele mesmo fora responsável pela viagem de Dave até a cidade das pedras, que lhe rendera uma pedra da planta e um novo amigo em Mikey, e fora ele quem os guiara até ali, um lugar do qual Dave havia gostado muito até então.

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Assim que entraram pela porta Dave reviu aquele estranho desenho de “LP” formando um tubo de ensaio entre si, dessa vez todo de ouro pendurado em cima de um grande balcão com vários atendentes. Algumas pessoas em jaleco branco passavam pela recepção e um par de seguranças particulares estava postado em cada um dos lados da porta principal, do lado interno.

Kato se encaminhou tranquilamente até a recepção e anunciou sua presença para a atendente enquanto Dave e Jake ficavam alguns passos atrás, admirando todas as paredes brancas e o aspecto moderno do prédio em seu interior. Dave imediatamente se arrependeu de não ter acompanhado Kato, uma vez que não conseguiu ouvir o nome da pessoa com quem ele pretendia se encontrar. Mas mesmo que você tivesse ouvido, não conhece ninguém aqui. Lembrou-se novamente.

Eles esperaram por cerca de cinco minutos a mais, sentados em confortáveis cadeiras acolchoadas na recepção do laboratório, até que uma das atendentes, loira e de pele bronzeada, recebeu uma ligação e, em seguida, se levantou. Ela se direcionou para eles e pediu que a seguissem. Dave e os outros se levantaram e a seguiram por uma sucessão de corredores que parecia interminável. Eles passaram por diversas salas onde viram Pokemons em experimentos, pessoas reunidas discutindo alguma teoria e varias outras atividades cientificas que nenhum deles, a não ser provavelmente Kato, sabia identificar o que era.

Depois de muito andar, chegaram a um elevador onde subiram até o terceiro andar. Mais no alto, as salas estavam mais normalmente fechadas e carregavam uma placa com o nome do dono do espaço pendurado na porta, assim como o titulo. Passaram pela sala de diversos especialistas Pokemons e os olhos de Jake brilhavam enquanto ele imaginava viver e trabalhar ali um dia. Agora os dois sabiam por que Kato havia insistido para que o menino os acompanhasse.

Finalmente, na ultima porta de um dos corredores, a mulher parou e bateu. Na placa se lia “Dr. Blaine – chefe de pesquisas genéticas”. Uma voz seca e um pouco mais aguda do que Dave esperava respondeu, pedindo que os visitantes entrassem, e então eles abriram a porta e deram um passo para dentro da sala.

O escritório do Dr. Blaine era espaçoso, bastante largo e coberto de estantes e livros. Dave percebeu que o homem tinha uma pequena biblioteca ali. Poucos outros objetos podiam ser vistos. Um trio de cadeiras estofadas estava a direita, com uma mesa de café no centro. Alguns diplomas estavam pendurados na parede, ao lado de um quadro bem pintado de um Arcanine, e, por fim, a mesa central, larga, inteiramente de vidro, estava a frente de uma cadeira claramente confortável, negra, onde o especialista Pokémon estava sentado.

O homem era consideravelmente mais velho do que o Dr. Kato. Tinha a frente e o topo da cabeça calvos enquanto as laterais e as costas da cabeça estavam completamente cobertas por cabelos brancos. Sua pele era clara, e ele, estranhamente, usava óculos escuros. Sua pele era bem tratada e seu físico ainda não estava tão deteriorado pela idade, e Dave percebeu que ele provavelmente era mais velho do que aparentava ser.

O que mais surpreendeu, porém, foi a recepção que o homem fez a Kato. Ele se levantou e o abraçou como um velho amigo, sorrindo e perguntando sobre como ele e sua família estavam. Dave não sabia de que família Blaine falava, mas o homem se mantivera em tons genéricos, e Kato, como sempre, manteve o tom e não revelou muito, fato que Blaine pareceu aceitar sem maiores problemas.

– O que o traz hoje aqui meu amigo? – perguntou o homem mais velho, lançando um olhar de duvida para Dave e Jake.

– Estou acompanhando esses dois jovens por uma parte de sua viagem, e aconselhei que viessem a Cinnabar.

– Entendo – disse Blaine, examinando bem os dois meninos e o Eevee de Dave – Treinadores Pokémon, então?

– Eu sou. Dave Hairo, muito prazer - Dave estendeu a mão e apertou a mão do pesquisador.

– Eu sou Jake, e quero ser um pesquisador como você um dia – O menino mais novo ainda estava perdido em admiração pela pessoa de Blaine e por seu escritório.

– O prazer é todo meu – disse ele, muito educado – Fico feliz de ver jovens como você já interessados em estudar os Pokemons, e posso até entender porque Kato o trouxe aqui. Agora sobre você, Dave, não sei o que dizer.

Dave fez uma expressão de dúvida enquanto Kato e Blaine davam um pequeno sorriso escondido.

– Não sei se poderia chamar de amigo um homem que lhe trouxesse aqui, para lutar comigo.

Dave se sobressaltou e Eevee se colocou de pé, se postando em posição de batalha. Lutar com ele? Então isso era uma armadilha?! O menino de Grené ainda estava absorvendo todas as informações quando Kato e Blaine deixaram os sorrisos transparecer e se transformar em uma larga risada.

– Calma, rapaz! Não aqui e agora. No ginásio, é claro...

– Ginásio? – perguntaram Dave e Jake, juntos.

– Eu não contei para eles, Blaine – disse Kato, ainda tentando controlar a risada.

– Então, que os dois fiquem sabendo desde já que eu sou o líder do ginásio de Cinnabar! – disse ele, sorrindo e voltando a se sentar em sua cadeira.

Dave e Jake ficaram tão pasmos e surpresos que se viram obrigados a sentar e, não muito depois, beber um copo de água. Depois de mais alguns minutos onde Kato e Blaine riram e conversaram um pouco sobre os últimos acontecimentos na ilha comportando-se como velhos amigos, o homem mais novo lhe revelou o verdadeiro motivo de sua visita.

– Na verdade nós viemos aqui em busca de informações. Conselhos, se você preferir.

– Continue – disse Blaine, parecendo interessado.

– Veja bem, o Dave tem um Eevee e uma série de Pokemons que evoluem com ajuda das pedras da evolução – começou Kato, e Blaine parecia já saber onde aquela conversa iria terminar – Ele já possui uma pedra da água, uma da planta e uma do trovão.

– Falta exatamente a pedra do fogo... – completou o especialista local – e vocês querem saber se eu tenho uma, ou se sei onde encontrar, correto?

Dave e Kato sorriram, confirmando a suspeita do homem. Ele olhou para Dave e Eevee e então para Kato, como se os estudando, e Dave sentiu o especialista mais novo se encolhendo em sua cadeira.

– Sinto informá-los, mas não sei como ajudar. – todas as esperanças de Dave se esvaíram de uma só vez - É verdade que algumas pessoas já encontraram pedras do fogo em torno do vulcão, mas isso não acontece há muito tempo, e eu não saberia nem por onde começar a procurar.

O silencio reinou na sala por um minuto enquanto Dave suspirava, afundando na cadeira e Kato deu um sorriso amarelo para seu amigo.

– Acredite, se eu pudesse até lhe daria uma, mas doei as minhas ultimas há muito tempo em um leilão para caridade. Você não vai encontrar nenhuma pedra nessa ilha Dave, sinto muito. Aqui elas só existem dentro do vulcão.

– Dentro do vulcão?! – surpreenderam-se Jake e Dave ao mesmo tempo.

– Sim. Dentro do vulcão, pelo que sei, deve ser possível encontrar as pedras, mas é muito perigoso e nenhuma empresa quer arriscar nem a segurança dos seus empregados, nem a possibilidade de acordar novamente a montanha.

– Isso é possível? – perguntou Kato, aparentemente surpreso também.

– Ora, claro! Se mexerem demais lá dentro não me surpreenderia se ele voltasse a entrar em erupção. E isso seria o fim da cidade...

– Mas uma pessoa pode ir até lá e procurar? – disse Dave, subitamente esperançoso novamente.

Kato e Blaine, porém, riram da pretensão do menino.

– Não se iluda, Dave, e nem pense e tentar algo com isso. Acho que você prefere juntar dinheiro e completar a sua coleção do que derreter na lava apenas com três pedras nos bolsos... - terminou Blaine.

Dave voltou a se afundar em sua cadeira.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Mindy não se perdoou naquela noite por ter perdido a visita ao laboratório, principalmente quando Jake revelou que Blaine e Kato eram antigos amigos. A menina prezava cada chance que tinha de descobrir alguma nova informação sobre Kato e seu passado e não acreditava que havia perdido aquela. Kato foi evasivo como de costume quando a menina lhe perguntou como conhecia Blaine no jantar, e ele disse apenas que os dois trabalharam juntos por muito tempo, que Blaine havia sido responsável por lhe conseguir o maior trabalho de sua carreira, e que ele havia feito algumas visitas a Cinnabar nos últimos anos.

Dave e Mindy conversaram sozinhos até mais tarde, e ela lhe contou sobre seu dia. A menina havia previsto a grande confusão que teria de enfrentar caso os turistas vissem Dratini então nadou até uma distancia segura da praia, liberou o Pokémon Dragão e se encaminhou para uma das pequenas ilhotas que se estendiam pela costa da ilha principal. Os pequenos pedaços de terra e pedra não eram grandes o suficiente para atrair turistas ou qualquer população, mas Mindy foi capaz de aproveitar para treinar seu Pokémon e para aprofundar seus laços com ele.

No fundo, Dave sabia que a menina nunca se arrependeria de passar uma tarde com o Dratini, mesmo que tivesse significado perder a visita ao laboratório, mas ainda assim se sentiu culpado por não ter insistido mais em obter informações sobre Kato. O provável pai de Mindy era muito fechado e misterioso, mas Blaine talvez pudesse lhes ser útil para resolver o mistério que cercava aquele homem. Depois de repassar inúmeras vezes a conversa que os dois especialistas tiveram no centro, Dave e Mindy desistiram de tentar conseguir interpretar mais do que foi dito e passaram a pensar no que podiam fazer daquele momento em diante. Dave ainda pensava que abordar o assunto diretamente com Kato seria a ideia mais útil, mas Mindy ainda não parecia pronta para isso.

– Porque você não tenta falar com o Blaine sozinho Dave, quando você for desafiá-lo?

– O Kato com certeza vai querer estar lá quando eu for lutar...

– Não se eu pedir para ele me ajudar a me preparar para o meu desafio – sorriu Mindy, e Dave entendeu.

– Sim, ai seria possível. Seria bom que você levasse o Jake também. Ele pode acabar falando de mais e atrapalhando tudo.

– Sim, verdade – concordou Mindy, e de repente um sorriso apareceu em seu rosto.

– Amanhã então?

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– Amanhã – concordou Dave, retribuindo o sorriso.

E então os dois se despediram com um beijo rápido e se encaminharam para seus quartos.

*-*-*-*-*-*-*-*-*

No dia seguinte tudo ocorreu como o planejado. Dave acordou cedo e tomou café do refeitório do Centro Pokémon, com todos os seus amigos. Anunciou que pretendia visitar o ginásio ainda naquele dia e Kato lhe informou, por sua vez, que só poderia fazê-lo pela manhã, uma vez que a tarde ele sabia que Blaine trabalhava no laboratório. Ainda assim, insistiu para que ele fizesse uma rápida seção de treinamento, que consistiu apenas em aquecer seus Pokemons com alguns exercícios físicos e um rápido, porém eficiente treino de pontaria e precisão.

O especialista explicou que tais tipos de exercícios não iriam causar fatiga ou desgaste demasiado no Pokémon, mas apenas colocá-lo na sua melhor forma para que entrasse na luta no melhor estado possível.

Como Dave esperava, o homem se ofereceu para acompanhar o menino até o ginásio, mas Mindy fez um bom trabalho em persuadi-lo do contrario. Ele hesitou por um momento, estranhando que a menina não quisesse acompanhar Dave, se não para torcer por ele ao menos para observar Blaine e se informar do que teria de enfrentar. A menina disse que toda a informação que precisava Dave podia lhe fornecer depois, e que ela ainda queria aproveitar todo o tempo que tinha na ilha para treinar Dratini.

Convencido depois de algum esforço, ele permitiu que Alakazam utilizasse sua técnica de se tele transportar para levar Mindy, ele e Jake para a pequena ilha que a menina visitara no dia anterior, mas não antes de desejar boa sorte à Dave e lhe explicar o caminho mais rápido até o ginásio. Mindy piscou-lhe o olho discretamente e sorriu antes de desaparecer.

Dave seguiu o caminho indicado por Kato sem muita certeza do que faria quando chegasse ao ginásio. Até ali a ideia de Mindy lhe parecia muito boa, mas agora que caberia somente a ele descobrir as informações sobre Kato o garoto teve que adimitir não sabia nem por onde começar. Estava indo ao ginásio com o pretexto de desafiar Blaine, algo que ele de fato planejava fazer, e não tinha a menor ideia de como poderia fazer as perguntas que precisava fazer. O que a gente não faz por uma menina?

Foi pensando nisso que ele passou pela porta do ginásio sem perceber que havia chegado. Ele andou por cerca de mais duzentos metros até perceber que já deveria ter chegado, e então voltou, procurando. Novamente passou na frente sem perceber, mesmo que dessa vez estivesse procurando o lugar mais atentamente. Somente na terceira vez ele o encontrou, surpreso.

Aquele era o ginásio mais simples que ele havia encontrado até então, incluindo-se ai a academia de Tyler em Russet. Ocupava um terreno não muito largo, cercado por uma simples barreira de madeira, com uma entrada com largura o suficiente para três pessoas. Podia ser facilmente confundido com uma casa relativamente grande, e mesmo assim era menor que a mansão abandonada que vira no dia anterior ou mesmo que a mansão da família Suru, na cidade das pedras.

As paredes eram de pedra polida, cinza, revestida com cimento e madeira nas junções entre as peças. Não deveria ter mais de dois andares, com um teto triangular coberto de telhas pretas. Dave ficou imaginando como Blaine poderia batalhar ali. Se a batalha for lá dentro, não posso nem considerar utilizar o Pidgeot. Concluiu Dave, ligeiramente preocupado. Ficava imaginando como um treinador com um time de Pokemons grandes enfrentaria o ginásio.

Entrou no edifício por uma porta larga, que ele abriu sozinho depois de bater três vezes e não obter resposta, e então se viu em uma pequena antecâmara completamente vazia, sem nem mesmo uma porta e com o mesmo chão de terra do espaço do lado de fora. O cômodo tinha pouco mais de cinco metros quadrados, e apenas os dizeres “Bem vindo ao ginásio de Cinnabar” estavam escritos em alto relevo na parede a sua frente. Eevee se agitou nos ombros de Dave e pulou para o chão, enquanto os dois tentavam entender o que deveriam fazer.

Assim que tocou no chão o Pokémon estendeu as orelhas, como se tentando ouvir alguma coisa, mas Dave não ouvia nada. Ele chegou mais perto e Eevee deu um passo à frente, ainda com os ouvidos em riste. O menino passou então a examinar as paredes, lembrando-se bem do ginásio de Zaffre e de todas as artimanhas que um lugar daquele podia conter escondido. Examinou primeiramente aquela a sua direita, empurrando e passando a mão sobre a sua superfície lisa, sem encontrar nada. Moveu-se então para a próxima, e fez o mesmo ritual. Quando passou a mão por baixo dos dizeres de boas vindas, sentiu algo diferente.

Aproximou o seu rosto do lugar em que sentira o pequeno relevo e, com muito esforço, conseguiu distinguir quatro linhas de palavras, escritas com a mesma cor da parede, que praticamente o obrigou a ler com os dedos, como um cego:

“Feche o seus olhos

E sinta caminho no ar

Ele cantará bem alto

Se com força você caminhar”

Respirou fundo, sem acreditar. O que isso quer dizer? Uma charada?! Pensou o menino, perdido.

– Da pra acreditar nisso Eevee?! Uma charada! – disse Dave, claramente irritado. Achava que lutar contra Blaine seria difícil o suficiente, mas para isso precisava resolver uma charada primeiro.

Eevee deu-lhe um sorriso e pulou para seu ombro, exclamando e fazendo um sinal com a cabeça na direção da parede onde seu treinador encontrara as palavras misteriosas. O menino demorou alguns minutos para entender que seu Pokémon queria que ele lesse a charada em voz alta, para que a pequena raposa pudesse ajuda-lo. Ele rapidamente obedeceu e ficou olhando, enquanto Eevee pareceu considerar algo por um minuto. Ele então pulou para o chão, aguçou os ouvidos, e deu um sorriso para seu amigo.

– O que foi?! – perguntou Dave, ansioso.

Eevee apontou para Dave com uma de suas patas dianteiras e fechou os olhos. Em seguida, começou a andar em volta do pequeno cômodo levantando exageradamente as pernas e as batendo no chão com força, como se dando passos pesados de propósito. Dave parecia descrente.

– Então tudo o que eu tenho de fazer é andar em volta de olhos fechados?! – perguntou

Eevee disse que sim, e então balançou os ouvidos, como se querendo dizer mais alguma coisa. Dave repassou as palavras na sua cabeça e então tudo começou a fazer sentido. Eu só tenho que andar com passos pesados e prestar atenção no som. Sem hesitar, ele fechou os olhos, tentou se concentrar em ouvir tudo a sua volta e começou a andar com uma das mãos apoiadas na parede. Deu passos fortes e com dois já havia cruzado a pequena sala, mas já fora o suficiente para conseguir captar um leve som, como se de batidas.

Deu novamente mais dois passos e ouviu novamente o mesmo som oco, surdo, a cada vez que seu pé batia no chão. Deu meia volta e voltou a andar, dessa vez com passos mais curtos e mais fortes. E então não teve mais dúvidas, estava ouvindo o eco de seus próprios passos. Agora que prestava atenção, ele percebeu que o som era tão alto que parecia gritar, e ele pensou em como não tinha ouvido aquilo antes. Abriu os olhos e viu Eevee sorrindo. Ele já havia entendido que o chão ali era oco, e logo deveria ter alguma abertura escondida no chão.

Seu Pokémon, porém, inteligente como sempre, encontrou próximo à parede onde estava a charada uma pequena argola de metal, pintada da cor da terra, muito bem escondida no chão. E então, animado por ter sido capaz de descobrir o caminho, o menino puxou a argola e descobriu uma longa escada iluminada por uma pequena tocha, que descia até mais longe do que Dave poderia enxergar.

Ele desceu os primeiros degraus e puxou a pequena tocha da parede, percebendo que seria o único jeito de conseguir ver alguns metros além de seus pés. Ele pretendia deixar a entrada do alçapão aberta, para que também servisse de fonte de luz, mas assim que puxou a tocha do seu apoio na parede, ouviu um forte barulho e a porta do alçapão se fechou atrás dele com velocidade. O vento gerado pela porta apagou o fogo da tocha. Ótimo! Pensou ele, decepcionado. E então ouviu a voz de Blaine ecoando de algum lugar ao seu redor.

– Se encontrou uma porta fechada, o mais correto é que a feche novamente depois de passar. Siga o caminho no escuro como punição.

– Isso só pode ser uma brincadeira de mau gosto... – bufou Dave, de mau humor.

Tateou o seu cinto de Pokebolas e então encontrou a de Growlithe, pedindo que o pequeno cachorro de fogo reacendesse a chama da tocha. Depois, novamente iluminando as escadas, Dave respirou fundo e decidiu deixar que Growlithe lhe ajudasse no caminho assim como Eevee. Os dois já haviam provado mais de uma vez que tinham o talento de encontrar os problemas antes de qualquer um, e ele tinha medo de que Blaine tivesse mais algum desafio espreitando pelo restante da passagem secreta.

Ele desceu pelo que pareceu uma eternidade, e começou a sentir uma leve variação na pressão a sua volta enquanto mergulhava mais e mais fundo nas profundezas da terra. A temperatura aumentava gradualmente, e logo ele começou a suar. A escada finalmente terminou em um corredor largo, que seguia em frente, e Dave não tinha outra opção que não seguir por ele. A única fonte de luz continuava a ser a sua tocha, que iluminava muito pouco por si só, e ele teve de seguir por muito tempo sem saber onde estava indo. Será que esse é mesmo o caminho certo? Perguntava-se ele, quando avistou a sua frente o que parecia ser uma pesada porta dupla de metal.

Aproximou-se com cautela e usou a tocha para examinar a porta fechada, arriscando um pouco mais de luz quando pediu que Growlithe usasse o lança chamas. Só assim percebeu que a porta não tinha maçanetas e tinha uma grande chama desenhada no seu centro, em alto relevo. Sem mais opções, o menino empurrou com força com uma mão em cada lado da porta e, depois de muito esforço, ela se abriu lentamente. Suas dobradiças pareciam gritar de dor enquanto o menino se esforçava e, assim que ele abriu espaço suficiente para poder passar, parou, exaurido. O calor era intenso, mas Dave logo o deixou de lado quando percebeu que se deparava com uma enorme arena, com mais de cinquenta metros de altura, em baixo da terra.

– Bem vindo – disse Blaine, parado do outro lado da arena.

Dave podia ver atrás do senhor mais velho o caminho que o levara até ali. Era um corredor largo que em muito se parecia com o que ele havia acabado de cruzar e ele ficou pensando se Blaine também tivera que andar tanto até chegar ali. Não parecia pratico, principalmente para uma pessoa com mais idade, por mais energético que ele fosse. Percebeu então que estava fazendo deduções inúteis. Não sabia nem ao menos onde o corredor atrás de Blaine iria terminar.

– Obrigado, eu acho – disse Dave, secando com as costas da mão direita as gotas de suor que escorriam pela testa.

– Imagino que você tenha vindo me desafiar, como prometeu – disse Blaine, fitando o menino nos olhos com uma confiança inabalável. Estava muito diferente daquele senhor animado que conhecera no dia anterior – fico com pena de ter vindo sozinho.

– Kato esta treinando com a minha companheira de viagem.

Um sorriso de compreensão passou pelo rosto de Blaine e Dave não soube explicar porque. Aquele novo Blaine estava instintivamente o preocupando. Dave imaginou que aquilo fazia parte do desafio do ginásio, como tantos outros desafios se colocavam muito além da batalha, e se forçou a continuar centrado, focado no que tinha que fazer.

– Falando nele, eu queria aproveitar para perguntar como vocês se conhecem. Ele pode ser meio fechado, entende? – disse Dave, casualmente tentando mudar o rumo da conversa.

Blaine sorriu e estudou Dave por um minuto em silencio, sem nem ao menos se dignar a olhar Eevee e Growlithe ao lado do menino. Parecia que tentava entender alguma coisa, antes de decidir o que responder.

– Achei que você tinha vindo aqui para batalhar rapaz...

– Sim! Claro! – respondeu Dave, lamentando a deflexão do líder – Só pensei que pudéssemos conversar um pouco também.

Dessa vez Blaine deixou escapar uma suave e tranquila risada, enquanto fechava o olho e balançava a cabeça.

– Primeiro lutamos Dave, depois, quem sabe? Talvez possamos conversar.

Dave assentiu com a cabeça, percebendo que não conseguiria muito mais de Blaine naquele momento além de uma frágil promessa. Decidiu que iria cobrá-la com veemência depois da luta. Apesar de tudo, ele também estava ansioso pelo desafio e mal podia esperar para começar a lutar. Já havia passado por nenhuma dificuldade maior do que aquelas que ele experimentara até ali no ginásio de Cinnabar e não tinha indícios de que Blaine seria um adversário mais difícil do que os outros líderes que conhecera, mas seu instinto indicava que o homem mais velho era muito mais apto preparado do que ele imaginava.

– A luta será de dois contra dois. Sem limites de tempo – declarou Blaine, e Dave entendeu que não haveria juiz, o que ele achou muito estranho. Não se opôs, porém, confiando que o líder era uma pessoa experiente e um renomado pesquisador, que provavelmente não recorreria a truques e trapaças para vencer.

– Vou começar com Ninetales! – disse o líder, lançando sua Pokebola no ar e liberando seu primeiro Pokémon.

Dave se surpreendeu com a escolha do oponente. Seu adversário era maior do que ele imaginaria, e se postou sobre as quatro patas de maneira imponente e desafiadora, mas sem perder a graça que sua espécie lhe garantia. Seu pelo brilhava e parecia ser extremamente macio e bem cuidado, mas seus olhos traiam que ali estava um Pokémon não apenas poderoso, mas também altamente motivado e destemido. Como Dave imaginara, aquele seria um belo desafio.

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Repassou mentalmente tudo o que sabia sobre Ninetales, muito do que Jake e Kato haviam falado enquanto especulando sobre uma possível evolução do Vulpíx que tinham no grupo. Costumavam ser Pokemons reservados e suaves, mas que se mostravam oponentes implacáveis quando submetidos a um desafio particularmente difícil. Outro complicador é que alguns espécimes já haviam demonstrado se desenvolver, ainda que preliminarmente, no campo psíquico, capazes de utilizar um numero limitado de ataques daquele tipo.

Considerando a arena e o adversário, Dave tinha uma série de opções disponíveis. Gloom estava fora de cogitação e ele não queria começar a luta com Eevee. Caso fosse necessário pouparia o Pokémon da exposição, mas sabia que podia contar com ele se quisesse. Ainda por cima, se começasse com ele sabia que seu Pokémon poderia vencer as duas lutas seguidas, mas que se fosse derrotado, Dave perderia completamente a confiança, sabendo que era pouco provável que outro Pokémon de seu time fosse capaz de lidar com um adversário forte o suficiente para vencer Eevee.

Growlithe, por sua vez, não sofreria tanto com os ataques de fogo, mas teria desvantagem em relação ao tamanho – o Ninetales de Blaine era cerca de um metro maior – e teria problemas se o adversário fosse hábil no campo psíquico. A arena era grande o suficiente para comportar Pidgeot, mas limitaria seus movimentos, e ele também poderia sofrer com os ataques psíquicos. Sandslash e Poliwhrill eram as opções mais claras, já que ambos teriam vantagem de tipo. O primeiro por estar habituado com o ambiente subterrâneo e proporcionar uma vantagem de tipo e Poliwhril por possuir ele mesmo certas habilidades no campo psíquico. Não era imune a elas, mas pelo menos poderia oferecer as mesmas ameaças que Ninetales oferecia. Talvez Poliwhril se prejudicasse com o calor, enquanto Sandslash seria mais vulnerável aos ataques psíquicos. Era uma escolha difícil.

– Eu escolho Poliwhril! – disse ele, liberando seu Pokémon aquático depois de menos de um minuto de considerações.

Blaine não esboçou reação com a escolha de Dave e continuou a estuda-lo friamente, o que o menino tentou não dar atenção. Precisava se focar inteiramente na batalha. O instante que passou deu a chance de Blaine iniciar a luta, mas ele não o fez, então Dave resolveu testar a mobilidade do grande Pokémon.

–Comece com uma rajada de bolhas! – ordenou.

O Pokémon de Dave estendeu as mãos, que brilharam com um tom azul e de repente uma forte rajada de bolhas começou a sair de cada uma de suas mãos. Aquela fora uma agradável surpresa que tivera com a evolução. A maneira com que ele lançava as bolhas facilitava o direcionamento do ataque, que podia ser lançado em duas direções diferentes, dificultando a esquiva do adversário. Como treinado, as duas rajadas foram direcionadas para o alvo, mais cada uma seguiu levemente para um dos lados do oponente, tentando interceptar um movimento de fuga.

Ninetales saltou graciosamente para o ar com seus nove grandes rabos abertos em leque. Poliwhrill seguiu seus movimentos com as mãos, mas o adversário, com um movimento rápido se enrolou em si mesmo, juntou seus rabos em uma grande massa una e mergulhou para o chão, surpreendendo Dave e seu Pokémon. Caiu e rolou, voltando a ficar de pé, e balançou a cabeça como se prestes a soltar um grande rugido para o alto, mas em vez de som, de sua garganta saíram enormes labaredas, que se chocaram com as bolhas de Poliwhil e as sobrepuseram, tamanho o poder. Poliwhril foi obrigado a interromper o ataque para mergulhar para o lado e escapar da ofensiva de seu oponente, enquanto Blaine continuava sereno, como se nem tivesse começado a lutar ainda. Ele não pronunciara uma única palavra até então, mas seu Pokémon parecia furioso.

– Esse é um espécime consideravelmente difícil de encontrar de um Ninetales macho Dave. As fêmeas se mostram sensíveis e se irritam bastante facilmente, se provando altamente vingativas, mas um macho pode se mostrar mais propenso a ataques poderosos e a retaliação rápida em vez de guardar rancores. Eu não o provocaria novamente com um movimento desses se fosse você.

Dave mordeu o lábio inferior. Blaine sabia que aquele tinha sido um movimento de teste, mas o que o surpreendeu é que Ninetales se mostrou independentemente muito perceptivo. E, ainda mais, poderoso. Dave percebeu que mesmo com a vantagem, seu Pokémon teria dificuldades em vencer Ninetales em um combate de força bruta. Dave teria que pensar em uma maneira de ser mais esperto do que Blaine e o próprio Ninetales ao mesmo tempo.

– Ninetales, porque não apresentamos nosso convidado ao fogo fátuo? – disse Blaine, em um tom mais apropriado para uma conversa informal do que uma batalha Pokémon.

Dave estremeceu. Não conhecia aquele ataque, nem nunca ouvira falar dele. Tudo o que sabia sobre fogo fátuo era que era um tipo de fenômeno que fazia com que chamas claras aparecesse sobre o túmulo dos mortos. O fenômeno natural já dera muitos sustos nos desavisados e era fonte de muitas lendas de cemitérios, mas nunca soube que ele batizava também um ataque Pokémon. E, ainda assim, teria adivinhado que era mais propicio a um ataque fantasma do que um que o Ninetales saberia usar. Ele não sabia como reagir.

– Poliwhril, prepare para evadir – disse o menino, tarde de mais.

O grande Pokémon de Blaine voltou a abrir suas caudas como um pavão, de maneira intimidadora, e dobrou suas patas dianteiras, de modo que ficou com o pelo claro do peito quase a tocar no chão de terra. Seu olha estava fixo em seu alvo, mas Dave percebeu que eles pareciam ir além de Poliwhril, como se tentasse ver através dele. Abriu então a boca e uma rajada de fogo branco com um brilho azulado saiu com tamanha intensidade que Dave teve que cerrar os olhos.

A enorme raposa branca se movia com graciosidade e conseguiu cercar Poliwhril por todos os lados com suas chamas de fogo fátuo, impedindo qualquer possível movimento de fuga. Dave podia ver que o ataque tinha surtido efeito. Sabia que Poliwhril tinha vantagem de tipo, mas também sabia que sua pele era sensível. Assim que a rajada de fogo cessou, as chamas desapareceram, como se nunca tivessem estado ali, mas o menino viu que seu Pokémon havia sofrido com o ataque, e mais, tinha algumas manchas negras na pele, em cima do braço direito e nas costas da perna esquerda.

Isso não pode ser bom concluiu o garoto.

– Poliwhril, tire ele de equilíbrio com pulsos de água!

O Pokémon de Dave se concentrou e juntou suas mãos em frente ao corpo. Uma bola azul de água se formou entre seus braços e sua barriga e, quando ele abriu as mãos em um movimento de força, ela foi lançada a frente, molhando a arena a sua volta. Ninetales rapidamente saltou para segurança, mas Poliwhril seguiu seus movimentos com um ataque seguinte, e um terceiro, forçando o adversário a escapar no limite do tempo.

– Muito bem agora tente pega-lo com a hipnose!

Dave esperava desestabilizar o oponente para o ataque psíquico de Poliwhril, mas nunca contara com o contra ataque de Blaine.

– Ninetales, acalme sua mente!

O Pokémon raposa parou repentinamente na posição em que estava e fechou os olhos enquanto Poliwhril lançava sobre ele suas ondas hipnóticas. Em um primeiro momento Dave pensou ter conseguido atingi-lo, mas depois de quase um minuto em paralisia total, a grande raposa voltou a abrir os olhos. Os tons vermelhos dos olhos do Pokémon já eram relativamente assustadores por si mesmos, mas agora Dave deu um passo atrás instintivamente. As orbitas dos olhos de Ninetales brilhavam com a cor de sangue de uma maneira que fazia com que o adversário mais se assemelhasse a uma assustadora criatura saída das páginas de uma história de terror. E, mais impressionante, ele parecia resistir às ondas hipnóticas.

– Responda com a mesma moeda! – disse Blaine, e imediatamente seu Pokémon lançou uma poderosa rajada de fogo.

Poliwhril pulou de lado, mas novamente Ninetales assumiu a ofensiva obrigando ele a se movimentar ainda mais rápido. Dave percebeu que as queimaduras nos braços e pernas estavam tirando a concentração de seu Pokémon e atrapalhando o seu deslocamento, mas não conseguia ver alternativa que não continuar na defensiva, por enquanto. Já vira que mesmo os ataques aquáticos de seu Pokémon não podiam competir com a força bruta de Ninetales e suas chamas.

Exatamente depois da terceira rajada de fogo, porém, Ninetales parou e atingiu Poliwhril com um ataque de confusão, deixando Dave perplexo. Só agora entendera o comando de Blaine para “responder com a mesma moeda”. As rajadas de fogo eram para desestabilizar o oponente, deixando-o mais vulnerável ao ataque psíquico. Como eu sou estupido! Acabei de tentar isso! Irritou-se ele consigo mesmo. Agora Poliwhril estava à mercê de Blaine.

– Ninetales, o mantenha parado e use novamente o fogo fátuo.

Dave estava prestes a recolher seu Pokémon, sem esperanças de recuperação, mas Ninetales fora mais rápido e lançara seu ataque sem titubear, dessa vez em uma única rajada concentrada, em vez de em circulo para prender o oponente. Dave se viu mais uma vez cego pelo branco azulado das chamas, e mais uma vez se viu perdido no ambiente fracamente iluminado quando elas cessaram, mas ainda assim conseguiu distinguir a forma de seu Poliwhril caído, estático e inconsciente. Ficou com raiva de Blaine. Poliwhril não precisava passar por aquele último tormento.

Dave olhou instintivamente para Eevee a seu lado, que parecia preocupado. Poliwhril fora atingido diretamente apenas duas vezes, além do ataque de confusão, mas ainda assim não estava apenas fora de combate, mas sim inconsciente. A força bruta de Ninetales era, de fato, impressionante. Dave reclamou consigo mesmo mais uma vez por cair no truque de Blaine e se conformou em ter que usar Eevee. Não queria arriscar a insígnia escolhendo qualquer outro Pokémon do seu time que teria de vencer duas batalhas contra um treinador que se mostrava um forte oponente.

Eevee entendeu de imediato e parecia aceitar de bom grado o desafio que se apresentava a sua frente e Dave sentiu, novamente, uma pontada de confiança e esperança, enquanto agradecia mentalmente a sorte de ter encontrado aquele Pokémon. Growlithe parecia animado para entrar, mas não protestou quando viu que não fora escolhido.

Blaine, ao contrário do que a maioria costumava fazer, não demonstrou a menor surpresa quando Eevee entrou na arena sem nem mesmo esperar pelas ordens de Dave. Ele se postou frente a frente com seu adversário, e Dave percebeu a enorme diferença de tamanho entre os dois Pokemons raposa. Eevee era mais de cinco vezes menor do que o adversário, e sobre as quatro patas mal chegava ao fim de uma das patas de Ninetales. Dave, entretanto, sabia que aquilo queria dizer muito pouca coisa em se tratando de seu Eevee.

Os olhos de Ninetales continuavam a brilhar com o tom vermelho cor de sangue, o que ainda incomodava Dave, mas ele decidiu não se deixar intimidar e, em vez de esperar, começar novamente na ofensiva. Tinha que terminar essa batalha rápido para que Eevee tivesse plenas condições de enfrentar a próxima sem maiores dificuldades.

– Eevee, não se deixe vulnerável aos ataques psíquicos! Vai pra cima dele!

O pequeno Pokémon marrom lançou-se em uma corrida aparentemente desesperada na direção de Ninetales, o que, pela primeira vez, pareceu surpreender Blaine. Ele corria em linha reta, frente a frente com um oponente capaz de cuspir fogo e muito maior e mais pesado do que ele mesmo. Aquilo era, no mínimo, imprudente, mas Blaine parecia mais intrigado do que confiante. Ordenou que Ninetales interrompesse a ofensiva com fogo, mas Dave sabia que aquilo não seria suficiente.

Eevee estava a apenas um metro quando pulou no ar e foi encoberto pela rajada vermelha das chamas, mas Dave conseguiu ver seu Pokémon liberar o campo de energia de sua técnica de proteção pouco antes de perdê-lo de vista. Em seguida, ele viu a boca de Ninetales fechar com um grande estalo, interrompendo o ataque. O grande Pokémon cor de creme foi atingido no maxilar, por baixo, e voou para o alto caindo deitado com um grande estrondo. Dave pensou tê-lo visto engasgar com as chamas.

Eevee havia interrompido a sua proteção a meros centímetros de Ninetales, utilizando-se de sua cauda de ferro para o golpe físico que projetou um oponente mais de cinco vezes maior alguns metros para trás. Por si só, já era um fato impressionante, mas Dave já havia se acostumado.

Ninetales se recuperou do golpe e se colocou de pé, observando por uns segundos sua pele, antes branca, mas agora suja de terra do lado sob que caíra. Um dos traços mais fortes daquele Pokémon, sendo macho ou fêmea, era sua vaidade, e Dave sabia que tinha atingido muito mais do que um golpe, mas sim o orgulho da fera. Sentiu ele mesmo o olhar de Ninetales pousar pesadamente sobre Eevee enquanto suas caudas e os pelos das costas se eriçavam. Seus olhos não pareciam brilhar com a mesma intensidade. Dave percebeu que podia utilizar aquilo.

– Acalme-se... – disse Blaine, pela primeira vez com um tom mais sério, enquanto seu Pokémon parecia rosnar levemente.

– Eevee, não o deixe parado e mantenha a pressão com sua bola das sombras! E não se deixe distanciar! Fique perto dele!

Eevee lançou-se mais uma vez na direção do oponente, que dessa vez o esperava mais preparado. Produziu uma bola das sombras enquanto corria e a lançou, obrigando Ninetales a escolher um lado para pular. Ele escolheu o direito e Eevee rapidamente deu um passo para a esquerda e pulou na direção do oponente.

Ninetales pulava mais alto do que uma criatura de sua estatura e peso deveria pular, mas Eevee era muito mais leve e tinha uma força que lhe dava muita potencia. Voou mais alto que seu adversário, que tentou atingi-lo com um lança-chamas enquanto no ar, mas errou. Eevee atacou com a cabeça a lateral do corpo de Ninetales, que emitiu um breve ganido de dor enquanto os dois caiam emaranhados.

Bateram no chão levantando uma grande quantidade de poeira e Dave viu seu oponente rodando na terra, concluindo que ele estaria ainda mais furioso quando levantasse, mas ficou preocupado quando não viu Eevee. Os dois caíram muito juntos, e o tamanho de Ninetales o escondia.

Dave e Blaine observavam confusos e interessados enquanto a grande raposa cor de creme se debatia na terra. Blaine tentava acalma-lo, mas subitamente seu Pokémon não respondia, o que Dave também não conseguia entender. E então ele se levantou e Dave pode ver Eevee de pé nas costas do oponente, com uma de suas caudas na boca. O menino não conteve um breve sorriso.

Um Ninetales descontrolado começou a pular e se debater, balançando suas nove caudas e tentando de todas as maneiras repelir Eevee, que parecia morder com o maxilar travado. Ele tentou bater com a cauda no chão e voltou a se deitar com todo peso em cima de Eevee, o que preocupou gravemente Dave, mas ainda assim o pequeno Pokémon parecia grudado ao adversário.

Dave não queria ver Eevee sofrendo muito mais danos. Percebeu que aquela estratégia poderia levar a vitória, sim, mas ele ainda tinha uma segunda luta, possivelmente ainda mais dura a travar e só podia contar com seu Eevee. Não duvidava que ele fosse capaz de aguentar o que quer que Ninetales tentasse, mas estar ali era altamente perigoso para ele.

– Sai dai! Já basta! Use sua bola das sombras novamente! – ordenou Dave.

Eevee não parecia muito contente em largar seu oponente, mas, após uma leve hesitação, obedeceu fielmente seu treinador e se deixou largar quando Ninetales fazia um movimento com a cauda para trás. Ele usou o impulso para se distanciar enquanto atingia o oponente com uma poderosa bola das sombras, que novamente derrubou o oponente.

Ele se levantou, porém, mais furioso do que nunca e mesmo as palavras e ordens de Blaine não pareciam surtir efeito. Ele cuspiu uma forte rajada de labaredas para o ar e investiu na direção de Eevee e Dave não conteve um sorriso. A raposa maior cuspia fogo enquanto corria, mas não era páreo para a agilidade da raposa menor, que parecia ter dificuldade em se manter fora do alcance. Em um movimento rápido, Eevee pulou para direita, atraindo a atenção de seu oponente, depois fintou um movimento para a esquerda e pulou para baixo do grande corpo de Ninetales.

Ele parou e começou a procurar seu pequeno adversário por entre suas patas, mas já era tarde de mais. Eevee lançara mais uma bola das sombras, fazendo Ninetales pular e em seguida o atingiu nas duas patas dianteiras com sua cauda de ferro, pulando imediatamente para longe de seu corpo. Ninetales, enfurecido caiu sobre as patas atingidas e tentou se levantar, mas já sem forças, finalmente dobrou as pernas de trás e caiu com um baque surdo no chão. Parecia lutar para se manter na briga, cego de raiva, mas tinha grandes dificuldades para se levantar.

Blaine estendeu sua Pokebola e o recolheu, admitindo derrota enquanto Eevee caminhava calmamente para seu lado do campo e se postava de frente para o líder, concentrado e pronto para a próxima luta.

– Você e seu Pokémon foram inteligentes – disse, pensativo – Nunca tinha visto meu Ninetales descontrolado daquela maneira, mas também nunca tinham pensado, ou ao menos conseguido pegar um de seus rabos. Parabéns.

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Dave não soube como responder ao súbito elogio e apenas acenou com a cabeça, demonstrando que reconhecia o gesto. Apesar disso ainda tinha uma pontada de raiva pelo que fizera com Poliwhril, mas tentava não se prender a isso enquanto ainda tinha uma batalha a travar. Estava decidido a não deixar que nada atrapalhasse seu julgamento. Growlithe parecia animado ao seu lado.

Blaine sacou sua segunda Pokebola em silêncio e a lançou ao ar sem cerimonias, e então no seu lado da arena surgiu um Pokémon de fogo ainda pouco maior do que Ninetales. Postava-se sobre quatro patas e deveria ter cerca de dois metros de altura quando de pé. Sua pele era de tiras de pelo laranja escuro e preto, mas seu peito e todo seu crânio eram cobertos também por uma espessa pelugem cor de creme, com excessão apenas da área dos olhos e focinho. Também era cobertos os seus tornozelos e sua cauda. Carregava uma expressão feroz e seus caninos superiores podiam ser brevemente vistos mesmo quando a boca estava completamente fechada.

Growlithe pareceu paralisar ao seu lado e Dave tentava adivinhar se ele gostaria de lutar aquela batalha ou se estava apenas admirando o que poderia ser seu futuro. O que quer que se amigo estivesse sentindo, porém, não mudava nada. Eevee tinha que batalhar e vencer um grande Arcanine se Dave quisesse voltar para o Centro Pokémon com uma insígnia do vulcão.

Dave pensou por um segundo no que fazer antes de a luta se iniciar. O fato de não ter um juiz complicava definir exatamente quando era esse momento, mas isso não importava naquela hora. O que importava era saber que Arcanine era um Pokémon conhecido por sua velocidade extrema, o que era muito diferente de agilidade, algo que Eevee tinha de sobra. Não sabia se Eevee poderia competir com o Pokémon de Blaine em relação à velocidade, mesmo nunca tendo encontrado outro Pokémon tão rápido quanto ele. Hesitou em tomar a iniciativa, e o líder não perdoou.

– Arcanine, investida flamejante em velocidade extrema!

Dave reconheceu uma combinação poderosa e não tinha esperanças de evadir o ataque. Ao contrário, ordenou que Eevee se protegesse. Arcanine pegou fogo e em menos de um segundo estava à frente de Eevee, de modo que Dave se preocupou se seu Pokémon teria ao menos tempo de erguer a barreira protetora, mas tudo pareceu funcionar. O impacto de Arcanine contra a barreira de energia que protegia Eevee, porém, o surpreendeu.

Não foi apenas pelo estrondo que fez com que o chão tremesse levemente, o que em si já era perigoso àquela profundidade, mas porque pela primeira vez Dave viu Eevee tremer e recuar alguns passos depois do impacto contra sua barreira protetora. Nem mesmo os dois hiper-raios da Equipe Rocket haviam gerado tamanho impacto nas defesas de seu Pokémon e aquilo era altamente alarmante. Apesar de tudo, ele parecia bem, e Arcanine ainda estava perplexo pelo que acontecera.

Dave aproveitou a oportunidade pra tomar a dianteira da luta e Eevee contra-atacou com uma bola das sombras. Arcanine apenas teve tempo de pular para trás quando outra o atingiu diretamente no peito enquanto Eevee corria e pulava em sua direção, acertando-o na lateral do rosto com a cauda de ferro. Arcanine virou a cara e dera dois passos atrás, e Dave esperou para ver o impacto que os golpes tinham causado no Pokémon.

Incrivelmente sereno, Blaine observou com um sorriso enquanto Arcanine sacudia o rosto com se tivesse acabado de lavá-lo e rosnou para Eevee. Não parecia ter sentido tanto o impacto dos golpes do oponente.

O Pokémon de Dave percebeu que levaria mais do que seus ataques usuais, ou uma combinação deles para derrotar aquele adversário e se mostrou claramente preocupado enquanto encarava o grande cachorro gigante a sua frente. Arcanine soltou uma rajada de fogo sem comandos e obrigou Eevee a se afastar, e Dave percebeu que aquele fora justamente seu objetivo.

– Não o mande para longe, acabe com ele! Presas de fogo – ordenou Blaine.

Dave, entretanto, sabia que seu Eevee nunca se deixaria capturar por uma mordida, por maior que fosse a boca e a arcada dentaria. Arcanine tentou, mas a pequena raposa era ágil de mais para que ele a prendesse entre suas mandíbulas flamejantes. Dave se preocupou quando ele começou a combinar lança-chamas com suas presas de fogo, tentando direcionar Eevee para um ponto especifico antes de tentar abocanhá-lo, mas Eevee continuava a superá-lo.

– Eevee, confunda-o com o time duplo! – depois de ver os apuros em que esteve contra equipe rocket, Dave fez questão de aprender aquele ataque, o que poderia se provar muito útil naquele momento especifico da luta. É arriscado, mas eu tenho uma ideia.

Ele observou enquanto seu Eevee se multiplicava em dez cópias em torno de Arcanine e o Pokémon cachorro ficava em duvida sobre o que fazer em seguida. Blaine sabia que sua única saída seria destruir todas as imitações, e até Dave sabia que o jeito mais fácil seria com um simples circulo de fogo. O menino de Grené não queria dar essa chance para Blaine.

– Agora se esconda em baixo da terra!

Subitamente todas as aparições começaram a cavar, mas apenas uma começou a sumir por debaixo da terra. Eevee fizera bem em se postar atrás de seu oponente, pois assim que Blaine o identificou e avisou seu Pokémon, o cachorro demorou um segundo para se virar e encontra-lo. Justamente o segundo que ele precisava para se por de baixo da terra. Instintivamente Dave lembrou-se de como Mindy lidara com aquele truque contra os irmãos Suru e berrou uma ordem súbita.

– Faça vários túneis e saídas! Rápido!

O que se seguiu foi um frenesi de perseguições loucas enquanto Eevee surgia e mergulhava na terra, interconectando os tuneis cavados e gerando diversas saídas, caso Arcanine resolvesse tacar chamas também no subterrâneo. Blaine parecia surpreso e perplexo, mas Dave não sabia dizer exatamente o porquê. Logo o campo estava rodeado por saídas do subterrâneo e Eevee permaneceu escondido por baixo da terra.

Arcanine esperava vê-lo sair em qualquer lugar e tentava manter todos os buracos sob vigilância, girando o corpo e a cabeça repetidamente, mas Blaine tinha uma ideia diferente.

– Se concentre em tudo a sua volta e descanse. Esmague-o quando ele surgir. – disse ele.

Dave sabia que aquilo não era bom. Um comando expresso para descansar significava que Arcanine estava se utilizando uma técnica para recuperas as energias. Ele nunca soube que aquele tipo de Pokémon poderia usar aquela técnica, mas não duvidava mais de Blaine. Ele não podia permitir que aquilo durasse. Entretanto, a ordem trazia um conhecimento reconfortante. Apesar da atitude superior, os golpes que Eevee desferira tinham sido o suficiente para que ele precisasse se recuperar. O Pokémon não era, afinal, invencível.

– Eevee, vamos trazer ele pra baixo! – disse, sabendo que seu Pokémon entenderia.

O tempo extra que Eevee levou para voltar a superfície apenas confirmou que Dave tinha sido suficientemente claro. Foram mais de quatro minutos até que ele surgisse, de repente, a cerca de dois metros na frente de seu oponente.

Arcanine fora mais rápido do que Dave previra e se lançou para cima de Eevee, caindo exatamente onde a pequena raposa estava. Mas Eevee já tinha voltado para o subterrâneo. Subitamente, porém, o chão sob os pés do grande cachorro tremeu e se abriu, engolindo o Pokémon em uma mistura de pedra, terra e fumaça. Uma cratera de mais de dois metros de diâmetro tinha sido escavada por baixo, deixada com suporte mínimo para que assim que mais peso fosse colocado sobre ela, o chão cedesse. Eevee era leve, mas Arcanine tinha outras medidas.

Ainda assim Dave se preocupou com seu Pokémon que poderia ter sido atingido ou ficado muito afetado pelo desmoronamento. Blaine, por sua vez, estava atônito, assim como seu Pokémon, principalmente quando Eevee surgiu por uma das saídas escavadas a não mais de um metro da cratera aberta por Arcanine. Dave sabia que não tinha tempo a perder.

– Rápido, Poder Oculto! – ordenou.

Eevee rapidamente foi envolto por uma áurea branca e brilhante enquanto dois círculos de energia azul se formavam a sua volta. Arcanine estava com dificuldades para voltar a ficar de pé, o que deu a Eevee o tempo e calma necessárias para prepara seu ataque com cuidado, concentrando uma enorme quantidade de energia. Os círculos azuis foram lançados em conjunto e se fundiram no ar de maneira a forma uma esfera, que atingiu Arcanine na lateral do corpo, ainda caído. Dave sabia que o impacto tinha sido forte apenas pelo olhar de preocupação e susto de Blaine.

Quando a poeira baixou, porém, Arcanine ainda lutava para se levantar na cratera. Estava visivelmente debilitado, suas pernas tremiam, mas o Pokémon não se entregava. Dave esperou um segundo para que Blaine o chamasse de volta, mas o líder não deu sinais de que o faria e Dave viu que teria de prosseguir.

– Eevee, acabe logo com isso!

O Eevee de Dave se lançou com uma enorme velocidade contra o oponente, que mesmo de pé parecia com dificuldades para seguir lutando. Dave viu o olhar de pena de Growlithe quando Eevee bateu cabeça com cabeça contra Arcanine com um grande estrondo. Dave não tinha a cabeçada em mente quando mandou que seu Eevee terminasse a luta, mas confiava em seu amigo que se mostrou certo mais uma vez. Dave sabia que ele tinha sofrido um grande impacto também, mas Arcanine levara a pior e desmaiara instantaneamente, batendo inconsciente no chão. Era melhor apaga-lo de uma vez do que ataca-lo de maneira a causar mais dor e deixa-lo acordado.

Blaine ainda parecia em choque quando seu Pokémon caiu e levou cerca de um minuto para recolhê-lo, enquanto Dave acariciava, comemorava e parabenizava seu Eevee pela vitória bem conquistada. Growlithe também parecia feliz e surpreso, e pulava ao lado dos dois comemorando junto. Mas Blaine não conseguia tirar os olhos daquele Eevee que vencera seus dois poderosos Pokemons e ainda estava em condições de participar da comemoração.

*-*-*-*-*-*-*-*

Dave se sentiu honrado quando Blaine lhe chamou para sua casa pessoal depois da luta. O homem pareceu lutar com a ideia por algum tempo, visivelmente perturbado com a derrota, mas acabou cumprimentando Eevee pela sua incrível batalha e tornou-se mais gentil gradativamente, voltando aos poucos a ser a pessoa que Dave conhecera no laboratório, em vez de o líder de um ginásio mais centrado, arrogante e difícil de ler.

Dave se surpreendera com a residência do especialista Pokémon. Ficava na encosta de uma montanha adjacente ao vulcão da ilha e seu terreno chegava inclusive, às bordas da montanha. Era grande o suficiente para ser uma pequena pousada e decorada com artefatos dos mais diversos locais do mundo. Ele dirigiu o menino e Eevee para uma pequena sala de chá, onde ofereceu uns biscoitos e tomou um chá após a recusa de Dave.

Disse que uma vez que Dave pretendia conversar, e tinha se sagrado vencedor na luta, o menino havia merecido o seu tempo.

– Na verdade, eu queria lhe perguntar um pouco sobre o Dr. Kato – começou Dave antes de ser interrompido pelo líder.

– Ora rapaz, é uma pena, mas sou amigo do Kato de longa data, e não me sinto na posição de lhe contar nada que ele tenha julgado melhor não contar. Sinto que terá de perguntar para ele, caso queria saber alguma coisa. Na verdade, trouxe aqui para lhe falar de outra coisa.

Dave foi pego de surpresa pela resposta do homem. Se ele não pretendia conversar com Kato, porque disse que Dave merecia aquela conversa depois de ganhar a insígnia? O menino já dava como cumprida sua missão de juntar informações sobre o homem e agora se via perdido. O que eu vou falar para Mindy?

– Na verdade, eu lhe trouxe aqui para ensinar como entrar e andar dentro do vulcão com segurança. Kato, talvez, poderia lhe ajudar, mas nem de perto tanto quanto eu.

Dave arregalou os olhos, sem acreditar ou entender.

– Mas... Por quê? Para que?

– Ora, porque lá dentro você pode encontrar uma pedra do fogo, e até onde eu sei, você está atrás de uma.

O coração de Dave parou por um segundo.