Prisoner

Devorar


As palavras de Alice não saíram da mente de Khalil durante a viagem. A mulher queria um filho.
Preferiu não respondê-la, sorriu reconfortante, o que pareceu um gesto esperançoso para sua amada, que lhe amou com ainda mais afinco naquela noite.
Ele não compartilhava daquele desejo, o instinto de procriação estava completamente atrofiado haviam anos, sentia pavor de ter um filho que pudesse herdar sua obsessão, seu descontrole, sua raiva assassina, como ele mesmo herdou de seu pai. “E se for possível? E se eu puder ser diferente?”

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Horas depois, ao chegar em seu destino, ligou para Valentina, a garota que ele havia tirado das ruas e que agora era grande amiga e terapeuta.
— Isto se classifica como conflito de interesses, Tina?
— Não tenha dúvidas que sim.
— Tudo bem, nunca me importei. Você se tornou minha amiga, confidente. Além de Samir e Salim, confio apenas em você.
— Sou muito grata por tê-lo em minha vida… O que posso te ajudar desta vez? - Valentina… Alice quer filhos.
— E você não quer também?
— Ora, você sabe… - A voz demonstrou desapontamento.
— Khalil, como sua amiga, chega de medos e chega de segredos. Nenhum casamento pode se sustentar assim. Conte para ela.

***

Após despedir-se do marido no aeroporto, Alice seguiu para Amalfi dirigindo sozinha.
Trabalhou normalmente no escritório com o pai. Sentiu-se muito bem, estava disposta e não foi acometida pelos enjoos. Adiou ao máximo a compra de um teste farmacêutico de gravidez, decidiu fazê-lo quando voltasse para casa, assim não precisaria encarar alguém conhecido após o resultado.

No início da tarde, os pais receberam uma visita que interessou a jovem demasiadamente.
— Lollo! - Abraçou-o os pais da moça. - Pensavo che non ci amasse! - A senhora Canelutti fez muxoxo.
— Como puderam pensar que não os amo mais? Esta possibilidade não existe. Impossibile.
— Acho que meus pais sentem mais saudades suas do que minhas. - Surgiu Alice por trás do casal de idosos.
Não houveram mais trabalhos durante o restante do dia. Lorenzo era alguém que fazia o tempo parar na casa daquela família.
Conversaram sobre como andavam os negócios e Alice descobriu que seu marido e a prima do rapaz tinham contato relativamente frequente, o que lhe despertou curiosidade em saber do que tanto tratavam e como não soube antes nem por Khalil, nem pelos outros.

Já se aproximavam as cinco da tarde quando o rapaz decidiu ir embora, sentindo-se vitorioso por conseguir olhar sua paixão de infância nos olhos e conversar futilidades com ela.
Minutos após anunciar sua partida, descobriu que era um tremendo fracasso em ignorar a presença daquela mulher. Ambos deixaram a casa juntos e seguiram para o pier, o carro de Alice estava estacionado haviam duas quadras da casa dos pais e aquela era boa desculpa para seguirem alguns passos juntos.

— Como tem passado, realmente, Lollo? - Perguntou com genuíno interesse.
- Ocupado. Muito ocupado. Millene vem conseguindo oportunidades para nossos produtos em outros mercados e nós três estamos trabalhando muito.
- Isso é ótimo! Ela é empenhada.
- Sim, ela é. Tão empenhada que nem se importa em ser amiga do meu rival. - Sorriu ao olhar o espanto de Alice.
- Rival?
- Seu marido.
- Por que ele é seu rival?
- Te perdi para ele. É suficiente.
- Você não me perdeu. - Lágrimas brotaram nos olhos dela. Avançou sobre o rapaz para roubar-lhe um beijo, sendo suavemente contida por ele.
- Então me prove. Termine com ele.
- Não é tão simples assim, temos muito o que resolver.
- Eu não quero saber. Eu juro que não me importo. Se você quer, então decida. Apenas resolva. Por enquanto, eu não vou ser sua sombra e não serei seu amante.
- Você me esperaria?
- Quem sabe o que a vida nos reserva? Não posso te fazer promessas.
- Se não pode me prometer, então deveríamos viver o hoje e fazer o que temos vontade agora. -Disse a mulher, irresistivelmente.

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“Lá vamos nós de novo.”, Pensou Lorenzo.

Ele não conseguia escapar de Alice, tudo o que dizia a ela que não faria, certamente iria ceder alguma hora. Não resistia. Não sabia como ela conseguia arriá-lo joelhos abaixo.


Conversaram, fizeram amor e planos, no hotel Grillo Verde, que ficava em Torre Annunziata, em uma das saídas da E45.
Nenhum dos dois foi para casa naquela noite, dormiram juntos no quarto daquele hotel.

O mundo poderia acabar, eles estavam felizes.
E acabaria, mas só o deles.

Pela manhã, após despedirem-se, Alice comprou um teste de gravidez Clearblue. O choque não foi o resultado positivo, mas sim saber que a gestação já contava com sete semanas. Ela sentiu o mundo parar de girar e a sensação de pavor a abocanhou, apesar dela já ter planejado em sua mente o que deveria fazer.

O bebê não era de Khalil.