Diário de um Felino

Abro na linha


Hoje, enquanto minha humana ainda não chegava do curso, eu fui ao quintal novamente, tentar abrir a caixa.

Notei algo que não havia percebido antes: a caixa, por mais fechada que parecesse, tinha uma pequena linha de abertura ao redor, como se fosse fechada por pressão. Sendo assim, se eu passasse a unha nele e forçasse um pouco, conseguiria facilmente abri-la.

Guardei essa nova informação mentalmente e levantei as orelhas percebendo a movimentação de Alice ao estacionar a máquina esguia e barulhenta em frente a casa.

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Sacudo a cabeça e empurro a caixa, correndo para perto da parede e passando pelo buraco nela.

De lá, pulo pra cama e finjo estar dormindo.

— Ei, Tom — Alice chama, fazendo carinho na minha cabeça enquanto desamarra o cadarço do tênis — Hoje o meu professor disse que minhas notas estão aumentando! — ela diz com tamanha empolgação que faz eu me levantar, esticando as patas — Ele também disse que, se minhas notas continuassem assim, o diretor aumentaria minha bolsa para 60%! — Exclamou. Ela ri enquanto eu a rodeio, esfregando minha cabeça em seu braço.

[...]

— Vou tomar banho, Tom. Depois a gente faz maratona de Sherlock, pode ser? — Mio baixinho e vou pro sofá, onde me enrolo em cima de uma das almofadas e adormeço.

[...]

Ela sai do banheiro já vestida, vai até a cozinha e pega um pacote pequeno que coloca na máquina branca e retangular em cima da bancada. Aperta alguns botões e a luz amarela liga, enquanto a máquina produz um barulho estranho.

Depois de alguns minutos e de um barulho irritante, ela abre a portinha novamente e tira de lá um pacote branco e estufado, transferindo seu conteúdo para um pote grande e roxo.

Ela vem até mim e senta-se no sofá, enrolando-se em uma coberta azul-marinho e ligando a caixa mágica.

O episódio começa, e eu me pergunto a graça de ver uma imagem seguida da outra descendo lentamente pela tela, algumas com letras e outras não, as vozes em uma língua totalmente desconhecida por mim.

Depois de algumas horas eu olho para ela, que simplesmente dormiu enquanto assistia a caixa mágica. Aproveito a chance para ir lá fora, onde já escureceu há tempos.

[...]

Passo a unha pela linha, forçando-a e logo ouvindo um estampido satisfatório: ela abrira. Ronrono baixinho e, quando finalmente vou ver o seu conteúdo, percebo uma movimentação dentro da casa.

Alice chama meu nome, fazendo com que eu largue a caixa e volte correndo pra dentro. Ela olha pra mim, prestes a me dar uma bronca. Faço minha melhor expressão fofa, comovendo-a. Ela me pega no colo e me abraça, beijando meu focinho. Ela sabe me fazer ficar tranquilo como eu sei escapar de uma bronca, e acho que estamos quites nisso.

Alice me coloca no sofá e desliga a caixa mágica, pegando um dos tais 'Mangás' na estante. Até hoje eu ainda acho que é uma manga disfarçada... De qualquer modo, eu não me importava, desde que eu pudesse voltar a dormir tranquilamente em cima da almofada da mulher-maravilha.