̶ O que você está fazendo aqui? – perguntei, me aproximando da entrada da casa – não tínhamos combinado de não te entregar pra polícia se você nos deixasse em paz?

̶ Sim, sim. Mas, veja bem, surgiram pequenos problemas nos meus testes. Precisamos de duas pessoas, um homem e uma mulher. Pensei comigo mesmo: pra que espalhar mais ainda meu pequeno segredo, se eu posso simplesmente utilizar de vocês, que já sabem de tudo?

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̶ ‘’Utilizar de vocês’’? Tá achando o que? Que a gente vai com você só porque pediu? – estranhou Alice, e, se virando pra mim, falou em alto e bom som:

̶ Esse cara é louco de pedra, vê se pode, o filho duma égua acha que a gente vai de boa!

̶ Mais respeito com a pessoa que manda aqui – reclamou Phill.

̶ Você não manda em nada aqui, a casa é nossa – rebati.

̶ Cansei de ficar jogando meu tempo fora – murmurou Phill - AGORA! – gritou ele, e aquela assistente chata saiu de trás de uma moita, jogando mais daquele pó amarelo que tinha sido solto pelas saídas de ar quando ele me prendeu. Alice foi atingida primeira e despencou. Logo depois eu também perdi a consciência.

[...]

̶ Ah, ótimo, aquela sala de novo – resmunguei, olhando para os lados. Constatei que estava preso por uma corda, esta amarrando meus pulsos e me mantendo preso à parede do lugar. Em uma condição igual à minha, Alice estava a alguns metros de mim. Senti uma raiva crescer e percorrer minhas veias. E minha raiva só aumentou quando a voz de Phill soou pelo espaço:

̶ Vamos ver como o DNA humano reage com uma injeção de DNA felino!

Xinguei a mãe dele mentalmente e encarei um dos alto-falantes, imaginando que ali estava Phill, não uma saída de som.

̶ E como pretende faze-lo? Vaporizou o DNA e vai espalhar ele pelo cômodo? ̶ perguntei, rindo mentalmente.

̶ Não, isso seria fácil demais. Pode rir á vontade... A injeção está sendo aplicada nesse exato momento pelos fios que estão presos as suas mãos... Disfarcei-os de corda exatamente pra isso.

Droga, droga, droga! Pensei espere... DNA felino? Então... Eu vou voltar à minha forma original? E Alice? Ela também vai virar... UMA GATA?

Sinto um sono batendo fortemente, mas sei que se fechar meus olhos agora provavelmente só acordarei daqui três dias, como da outra vez... O que me preocupa é Alice, que até agora não demonstrou ter acordado. Pelo menos está respirando, o que sempre é um bom sinal.

Fecho os punhos com mais força, tentando retirar a agulha que provavelmente está liberando o soro com o DNA felino em mim. Sem querer, fecho os olhos pra tentar me acalmar. Péssimo erro...

[...]

Abri meus olhos preguiçosamente. Final de tarde, uma faixa de sol, tudo quentinho ao meu redor... ESPERE! NÃO ERA PRA SER ASSIM A SENSAÇÃO.... ERA? Por um segundo, o único pensamento que me vinha a mente era ‘’foi tudo um sonho! Tudo um sonho!’’ desesperado, busquei provas de que tudo o que se passara não foi criação da minha mente.

Encarando a situação de que tinha voltado à minha ‘’forma felina’’, andei pela casa, vendo tudo de baixo novamente. Olhei para o calendário: 7/11/2015. Então lembranças um pouco enevoadas vieram em minha mente, trazendo as memórias da voz de Phill, dele dizendo coisas do tipo ‘’injeção de DNA felino’’... Se Ali também recebeu a injeção, então é pra ela estar em algum lugar da casa... Me pego imaginando como Alice ficaria na forma felina... Em um primeiro momento, surge a imagem de uma gata azul em minha mente. Depois essa gata fica de uma cor mais normal, um pouco amarela e branca ao mesmo tempo. Então me deparo com ela. Ver Ali na forma de gata só não é mais estranho do que ser mais alto que ela na forma humana.

̶ Miah? MIAH! ̶ mia ela, se aproximando e me encarando com olhos que até caem bem nela, olhos de felino. Felizmente, continuam da cor original: castanho claro. A palavra que descreveria como estou me sentindo é: desespero. Como raios voltaremos à forma humana? Mais importante: COMO VAMOS NOS ALIMENTAR?!

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Mio pra ela, e sigo em direção à cozinha. Aponto pra geladeira com a cabeça e faço cara de ‘’o que vamos fazer?’’. Por um segundo ela fica com uma expressão confusa. Mas, após entender, começa a chacoalhar a cabeça como se estivesse rindo. Bem, parece que ela tem um plano, porque dá as costas pra mim e vai andando pro quartinho onde ficam as minhas coisas. A porta, entreaberta, serve de passagem pra nós. Olho pro mini cômodo que era pra ser o segundo banheiro, à procura de um motivo pra estarmos ali, e o encontro quando vejo minha antiga tigela e uma nova que eu não conhecia cheias de comida e outras duas iguais, só que estas cheias de água. Bebo e como um pouco, e Ali faz o mesmo.

Respiro fundo. Vamos ter que tentar sobreviver sem qualquer humano por perto. Alice estava pensando o mesmo, porque correu em direção à bolsa dela (que, surpreendentemente, Phill não tinha mexido) e começa a procurar algo. Retira a cabeça de dentro da bolsa com algo na boca... Um celular? Ainda com o aparelho na boca, ela coloca-o em cima do sofá. Fico esperando ao seu lado enquanto ela desbloqueia o celular com as patinhas. Nossa, pra quem acabou de virar felina ela está se virando muito bem...

Indicando com a patinha, mostrou-me uma conversa pelo aplicativo do celular:

Gabi: vc vai vir aqui em casa mais tarde? Se não eu mesma vou buscar vc! Kkkk

Kkkkk vou aí sim :v

O tom vai poder ir tbm né?

Gabi: Ss

Ok... AH, isso seria depois que

chegarmos em casa, né?

Gabi: óbvio :v .

Depois de ler tudo, me toquei de que isso foi há três dias, provavelmente enquanto eu dormia antes de chegarmos em casa e nos depararmos com Phill. Ou seja, acho que daqui algum tempo a Gabi aparece aqui em casa. No primeiro segundo, ficamos felizes: alguém vai vir aqui! E depois nos desesperamos: ALGUÉM VAI VIR AQUI! Isso significa que nos verá assim, uma gata, nenhuma Alice por perto e a volta do gato sumido da Alice. Meio confuso, mas o que importa é: como vamos explicar algo do tipo?

Tudo isso me dá sono... Alice também parece sonolenta. Ela vai demorar à acostumar com esse sono que abate os gatos durante à tarde. Se deitando e descansando a cabeça no sofá, dorme e me parece uma bola de pelos amarelados. Imitando-a, deito-me também e adormeço.