Ensina-me

Convite


Alice chegou em casa, arrastava os sapatos pelo chão, sem a mínima vontade de dá mais um passo sequer, atravessou a pequena sala.

– Mãe? - Perguntou indo para o quarto, a casa estava silenciosa e escura, provavelmente não tinha ninguém naquele momento, arrastou-se mais um pouco e ao adentrar ao pequeno e arrumado cômodo sentiu que finalmente estava livre, mas não sabia exatamente do que, jogou-se na cama derrubando a pequena pasta que tinha nas mãos no chão e apenas continuou ali olhando para o teto pintado de azul, como se a qualquer momento alguma ajuda fosse cair por isso tinha que manter os olhos fixados ali para não perder nada. - Eu sou uma idiota. - Soltou quase junto a um suspiro - Um grande idiota.

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– Todos sabemos disso, não me diga que percebeu isso agora? - Uma voz masculina soou da porta do quarto aberta.

– Rafael. - Surpreendeu-se a garota - Pensei que não tinha ninguém em casa. Por que quando falei você não me respondeu?

– Por que eu não sou sua mãe. - Respondeu o rapaz, os braços cruzados sobre os braços.

– Ou talvez... - Começou a irmã sorrindo, o irmão subiu os óculos de armação grossa que lhe desciam sobre o nariz - Você estivesse vendo coisas indecentes no seu quarto? Um garoto de 19 anos em casa sozinho não estaria fazendo algo de bom, não é? - O rapaz deu uma pequena gargalhada.

– Olha não gaste os seus poucos neurônios pensando sobre isso, tudo bem? - Ela sorriu e tornou-se a deitar-se novamente.

Apesar dos dois viverem se alfinetando se davam bem, a diferença entre idades entre os dois era apenas de um ano, todos falavam que se pareciam como se fosse gêmeos, os cabelos castanhos, os olhos e até mesmo o formato de suas bocas que eram carnudas pareciam, todavia havia três coisas que os tornavam diferentes a primeira era a incrível diferença entre suas alturas, a outra era que o irmão usava óculos, fazendo a terceira aparecer a inteligência do irmão da garota, não que Alice fosse burra só que... Ele era muito mais inteligente que ela, ou talvez a garota simplesmente quisesse se convencer disso, mas ele fazia faculdade, falava inglês fluentemente e trabalhava em um ótima empresa, apenas com um ano de diferencia.

– Então - Começou Rafael entrando no quarto e sentando-se no pequeno puff preto em frente a cama da irmã - Levou os documentos, não é? Quando você começa no trabalho? - A garota ficou em silêncio e novamente sentiu um aperto no peito, o teto não lhe trazia qualquer conforto, qualquer coisa que fosse capaz de diminuir as coisas que novamente voltou a incomodá-la. - Alice?

– Eu não levei. - O irmão seguiu seu olhar que estava no chão, viu a pequena pasta e tudo que soltou foi um pequeno suspiro.

– Por quê?

– Por que eu sou uma idiota, Rafa. Você já não sabe?

– Eu sei, mas o que aconteceu?

– Eu cheguei cedo para a entrega dos documentos, então resolvi descansar um pouco próximo a uma pequena praça e havia uma criança chorando, ela era estrangeira. - Ela sorriu para o teto.

– Você não foi para ficar com ela?

– Sim.

– Você conseguiu achar ao menos a pessoa que a acompanhava?

– Sim, foi o irmão dele que o perdeu, a criança era muito fofa. Não me arrependo de tê-la ajudado. - O rapaz a sua frente arqueou a sobrancelha.

– Então qual é o problema?

– O problema foi seu irmão, ele era um idiota preconceituoso e mal-educado. Não teve sequer um pouco de gratidão me chamou de garota suja e eu me senti a pessoa mais horrível do mundo.

– Acha que todo mundo é grato por você ser gentil, Alice? Na realidade acho que é mais fácil encontrar pessoas mal-agradecidas ao invés de quem lhe será realmente grato de fato.

– Aí eu perdi meu emprego. – Ela soltou parecendo não ouvir o irmão - E não sei como irei contar para nossa mãe, ela estava tão feliz.

– Eu acho que irá entender. – Informou Rafa, a garota parou de olhar o teto e olhou-o, tinha um pequeno sorriso no rosto - Quero dizer, aposto que ela faria a mesma coisa. Vocês duas não conseguem ignorar alguém que precise. Então Alice, não se arrependa, você fez algo certo, graças a você uma criança está com sua família agora. Você é idiota sim, mas não por esse motivo. - Ela sorriu, pegou o travesseiro e jogou no rosto do irmão que se esquivou.

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– Obrigada, eu acho.

Um pouco mais tarde a mãe chegou, Alice lhe explicou e assim como o Rafael havia dito, a mãe entendeu.

– Você estava certa, emprego você pode encontrar outro, mesmo que demore um pouco e eu estou orgulhosa por tudo que fez, se esse não deu certo, era por que não era para ser seu.

Mas Alice duvidou um pouco mais disso, não que a mãe estivesse completamente errada, entretanto ele poderia ser dela sim, apenas... Se pensasse em si primeiro, se fosse um pouco mais inteligente e quem sabe egoísta, as coisas dariam certo para ela, porém a garota sabia que egoísmo jamais faria parte dela, as vezes desejava isso, mas também não tinha vontade de mudar.

***

Quando Alice tomou coragem novamente para voltar a procura um emprego já havia passado uma semana, naquele dia fazia um pouco de frio, não chovia porém, o vento era muito gelado, naquele dia saiu cedo e decidiu que só voltaria quando estivesse satisfeita mesmo que passasse o dia todo colocando o currículo por ai.

– Posso deixar meu currículo para me ligarem? Estou interessada no emprego. – Uma senhora de idade sorriu para ela, era uma pequena lojinha de cosméticos muito afastado do centro da cidade, mas mesmo assim era melhor que nada.

– Claro que sim. Assim que possível ligaremos. – Informou a velha senhora.

Ela saiu da loja, a barriga roncava e em sua mão não havia mais nenhum currículo decidiu que estava na hora de ir embora, tinha se esforçado bastante naquele dia, pegou o celular e era quase duas horas, andou o que pareceu ser trinta minutos subia lentamente a rua, as pessoas do outro lado continuavam tão apressadas como sempre, por algum motivo aquele lado da rua lhe lembrou Naoki e perguntou-se se o garoto estava bem até que alguém puxou de leve seu cabelo que estava preso em um rabo de cavalo, ela olhou para trás e encontrou o amigo de muito tempo.

– Miguel. – Ela sorriu fazia um bom tempo que não o via desde que saíram da escola.

– E aí, tudo bem? – Os olhos azuis o encaram, um pequeno sorriso dominava os lábios do loiro a sua frente.

– Sim. O que faz aqui? Faz tempo que não te vejo.

– Acabei de sair do trabalho. – Informou o amigo – Você que sumiu. O que anda fazendo? – Alice ficou feliz em encontrar o amigo, mas sempre odiava aquele momento onde começavam a falar de suas vidas e a dela não parecia ser interessante o suficiente, era chata e sempre estava na mesma.

– Nada, vim para cá tentar procurar um emprego.

– Espero que consiga achar. – A garota confirmou com a cabeça. – Está indo para casa?

– Sim.

– Podemos ir junto. – Eles começaram a andar, Miguel falava sobre sua vida quando de repente algo lhe chamou a atenção uma criança que gritava. – Olha são estrangeiros. – O rapaz a cutucou com o cotovelo e Alice pensou que já estava cheia de estrangeiros, não queria saber mais dele, mas mesmo assim acabou olhando.

– Irmão, estou com fome. (Nii-chan, onaka ga akimashita) – Alice viu dois irmãos conversarem um mais alto e outro mais baixo, o pequeno reclamava alto o suficiente para chamar a atenção de algumas pessoas em torno de si, eles saiam de pequena praça que há uma semana Naoki chorava.

– Eu também estou. – Informou o outro – Mas se não fosse por sua culpa, não estaríamos aqui, procurando uma garota que jamais iremos encontrar... – O garoto se calou encarando a garota de rabo de cavalo a alguns passos deles, Naoki seguiu seu olhar, sorriu e saiu correndo.

– Ally. – A abraçou pela cintura e a garota o olhou meio desconfiada.

Hiro deveria estar feliz por encontrá-la entretanto o que surgiu foi o sentimento contrário aquele e mesmo que ela não merecesse ele ficou com raiva dela, desde a última vez que se encontraram a mãe vinha lhe obrigando a voltar ao mesmo lugar dias após dia, saindo com sol ou chuva para encontrá-la mesmo que as chances daquilo acontecer fosse mínimas, ela não se importava, mas aquele dia estava sendo muito pior pois sairá carregando o seu pequeno e fofo irmão que ultimamente vinha tendo vontade de matar, há algum tempo sua vontade de esganar o pequeno Naoki vinha aumentado cada vem mais.

– O que faz aqui, Naoki?

– Estávamos te procurando. – O garoto sorriu ainda agarrado a ela. O rapaz ao lado de Alice parecia meio confuso.

– Me procurando?

– Sim. – Hiro se aproximou aos poucos, as mãos dentro do bolso e a cara fechada ainda tinha o jeito mal-humorado de sempre, a menina o olhou seu corpo se enrijeceu como se naquele momento fosse capaz de aguentar qualquer palavra vinda dele.

– Veio para brigar e me chamar insultar novamente?

– Não. – O garoto falou, revirou os olhos e Alice percebeu que qualquer coisa que fosse dizer seria algo que não gostaria. – Queria saber se – Fez outra pausa – Se você quer janta em minha casa como sinal de agradecimento, por ter me ajudado a encontrar o Naoki.

Pela segunda vez Alice estava confusa desde que o encontrou, mas naquele momento por algum motivo sem querer começou a cair na risada.