Trapaça

Oscilações


– O que está fazendo aqui? – perguntei de uma forma não tão educada – Desculpe, quero dizer... – suspirei, não havia outra forma de perguntar, afinal, eu estava bastante surpresa – O que Senhor está fazendo aqui? Algum problema?

– Problema nenhum, Senhorita Smoak. – respondeu-me ele com um sorriso estranhamente simpático – Podemos conversar dentro do seu apartamento? Ou você está acompanhada?

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Quase soltei uma gargalhada.

– Acompanhada? Acha que estou vestida para ter uma noite de romance?

Me arrependi amargamente de ter comentado sobre minha vestimenta no mesmo instante em que o fiz. Ele olhou-me de cima à baixo com uma expressão maliciosa, e a lembrança do que Sara havia me dito sobre ele dormir com suas assistentes me atingiu em cheio.

Não que eu estivesse usando algo incrivelmente sexy, muito pelo contrário. Usava uma calça de moletom preta e uma blusinha sem mangas azul (que eu estava começando a considerar ser levemente decotada), bastante normal, mas seu olhar fazia parecer que eu estava usando o conjunto de lingerie mais sexy da Victoria's Secret.

– Talvez não romance. – respondeu ele, subindo com os olhos em meu corpo até alcançar meu olhar. – Posso? – insistiu ele mais uma vez.

Abri passagem para que ele entrasse no apartamento e fechei a porta.

– Então... – incitei.

– Estou aqui para me desculpar, Senhorita Smoak. – começou ele enquanto sentava-se em meu sofá, permaneci em pé e de braços cruzados sob o peito – Acho que posso ter sido desnecessariamente rude com você hoje.

O silêncio perpetuou e então eu me dei conta de que ele só iria dizer aquilo.

– Bem, tudo bem Senhor Queen. – respondi, ainda duvidando da situação.

– Por favor, me chame de Oliver.

– Tudo bem Senho... Oliver. Vamos deixar isso para trás.

Ele levantou-se e concordou.

– Certo.

– Certo. – repeti.

Era isso? Ele veio até aqui para pedir desculpas? Oliver Queen estava me pedindo desculpas?

Isso tem que ser um sinal do Apocalipse.

– Muito bem então, nos vemos amanhã. – disse ele enquanto se aproximava mais de mim, eu recuei. – O que foi? – ele perguntou, lançando um sorriso ao notar minha reação.

– N-na-nada – respondi já meio nervosa com sua invasão do meu espaço pessoal.

– Está se sentindo intimidada, Senhorita Smoak?

– Fe-felicity. Meu nome é Felicity – gaguejei enquanto recuava mais alguns centímetros – E não estou intimidada.

Que péssima mentirosa eu sou.

– Você é uma péssima mentirosa, Felicity... – ele aproximou-se ainda mais, ergueu uma mão e acariciou minha bochecha.

Mas o que diabos estava acontecendo ali? Por que eu não reagia?

– A-a-acho que você deve se afastar... – murmurei – digo, se afastar mesmo, tipo, ir embora, Se-se-nhor Queen.

– Você quer que eu me afaste? Olhe em meus olhos e diga.

Puta merda. Olhar nos olhos dele?

Foi então que eu encontrei a parede atrás de mim. Oliver aproveitou minha surpresa e colocou um braço em cada lado de minha cabeça, apoiando-se na parede e aproximando seu rosto do meu.

– Olhe para mim, Felicity.

Santo Deus, me ajude.

Meu coração já estava machucando minhas costelas de tanto que pulava; alguma coisa em mim implorava para que eu não olhasse nos olhos dele, mas mesmo assim eu o fiz.

Foi quando tudo se perdeu.

Quando dei por mim, minha boca estava na dele e meu corpo agarrava-se ao dele como se quisesse uni-lo em um só.

Oliver me levantou contra a parede enquanto minhas pernas o prendiam na altura do quadril. Sua barba por fazer roçava em meu pescoço, provocando arrepios em minha coluna, seus lábios faziam uma trilha de beijos do caminho logo abaixo de minha orelha até meu decote e depois subia para minha boca. Suas mãos apertavam minhas coxas enquanto ele me segurava firmemente. Eu o sentia em todos os lugares, era sufocante e ao mesmo tempo eu queria mais.

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– Oliver... – suspirei entre seus beijos.

– A previsão é de sol para hoje. – ele respondeu.

Parei de beijá-lo e o encarei, confusa.

– O quê?

– A máxima será de 27 graus... – continuou ele.

– ...Será uma bela quinta-feira.

A voz de Oliver é substituída pela do locutor da rádio em meu despertador, anunciando que já são 6:30 da manhã.

A realidade me atinge de um jeito estranho. Demoro vários minutos para perceber que estou em meu quarto, acordada e sozinha.

Era tudo um sonho!

– Eu sabia que estava sonhando! Meu Deus Felicity, você precisa parar de fazer isso. – repreendi-me.

Eu tinha sérios problemas com minha imaginação incontrolável, mas desta vez havia passado dos limites. Eu havia sonhado coisas indecentes com meu chefe!
Oliver Queen jamais se daria o trabalho de vir até minha casa pedir desculpas. Que dirá dar em cima de mim.

Mas qual é o meu problema? O cara nem faz o meu tipo... Faz?

Não, não faz. Não pode fazer.

Isso foi por causa do cansaço de ontem e das histórias que Sara me contou sobre ele e as outras assistentes. Isso não vai acontecer comigo, tenho certeza, ele nem sequer me acha atraente, nunca me lançou uma cantada ou algo do tipo... Por Deus, ele nem sequer consegue trabalhar comigo! Mal aparece no escritório.

Um sentimento de desconforto começa a se formar em meu peito. Algo parecido com um orgulho ferido. Mas afasto isso junto com meus lençóis enquanto levanto-me da cama e desligo o rádio-relógio.

Meu pijama está ensopado de suor, que droga. Tomo um banho gelado, quase perco a hora porque fico devaneando debaixo do chuveiro, as cenas do sonho repassando em minha mente sem que eu queira.

Quando percebo já são 7:40 da manhã e eu ainda estou me arrumando. Que belo jeito de começar o dia...

Pego o único metrô que pára mais próximo da empresa, já que perdi meu horário habitual. Desço à duas quadras das Indústrias Queen e sigo o restante do caminho a pé.

São exatamente 8:10 quando chego ao 22º andar. Mas não me preocupo tanto, afinal, sei que não vou ver meu chefe pelos próximos...

– Está atrasada, Senhorita Smoak. É este o seu horário de sempre?

Paro ao menor som da voz já conhecida de Oliver. Não sei o que fazer, nem o que falar ou pensar, e minha mente aproveita-se para me bombardear com todas as imagens de meu sonho outra vez.

– Você está bem? – pergunta ele – Parece que viu um fantasma.

– O que está fazendo aqui? – solto sem pensar.

Ele me lançou um olhar no melhor estilo "você está louca?".

– Desculpe. – tento me redimir. – Não, estou bem. E não, eu nunca havia me atrasado antes, Senhor Queen, desculpe, não irá se repetir.

– Bom... – ele não parece totalmente convencido.

Começo a me dirigir à minha mesa, desvio dele mesmo estando à uns dois metros de distância, o que o faz franzir o cenho. Noto de relance que mais uma vez ele não está no seu habitual traje de playboy-inconsequente, e sim no melhor estilo jovem-empresário-bem-sucedido. Me pergunto qual seria o motivo da mudança drástica.

– Preciso que você me forneça um relatório completo da situação da empresa nos últimos 6 meses. Tudo o que você puder reunir, o mais rápido possível. Acha que consegue?

Se eu consigo? Ele estava tentando insultar o meu QI?

– Claro, sem problemas.

– Ótimo. Peça a ajuda de Sara se precisar, e entregue-me tudo ao final do dia. Qualquer dúvida estarei em minha sala.

E então ele se foi. Por incrível que pareça, não embora, mas sim para sua sala, como havia dito.

Uau. Eu estava sonhando outra vez ou o meu chefe acabou de soar como um chefe de verdade? Ele foi tão sério, direto e profissional. Nem sabia que ele era capaz disso.

Estava começando a me perguntar quem era esse homem afinal.

***

O dia correu como a água de um rio, rápido e sem pausas.

Claro que tive de pedir a ajuda de Sara para conseguir terminar o relatório. Eu só estava trabalhando ali há pouco mais de um mês. Mas ao final do dia, minha tarefa estava cumprida.

Bati levemente na porta para anunciar minha presença.

– Senhor Queen? – entreabri a porta.

– Entre.

Ele estava sentado lendo alguns papéis, a expressão concentrada de quem não quer perder nada.

– O relatório que o Senhor me pediu.

Ele lançou-me um olhar claro de surpresa.

– Você realmente o terminou?

Estranhei sua pergunta.

– E não deveria?

Ele riu.

– Gosto de sua sinceridade, Felicity. Posso chamá-la de Felicity, certo?

– Claro. – respondi, podia sentir que meu tom de voz estava calmo, mas por dentro meu corpo reagia de um modo estranhamente nervoso. Me chamar de Felicity parecia nos dar uma intimidade que não tínhamos, e que eu esperava não ter.

– Para ser sincero, não achei que você conseguiria. – confessou ele.

Ouch. Mais um ferimento em meu QI.

Bem, para ser sincera, eu mal acredito que você passou o dia aqui, trabalhando.

– Sara me ajudou em grande parte. – respondi, dessa vez pensando antes de falar o que eu realmente queria lhe dizer e que provavelmente me faria ser demitida.

Ele pegou a pasta com o relatório e começou a folheá-los.

– Isso é tudo? – perguntei.

– Sim. Por hoje é, obrigado.

Acenei com a cabeça e me dirigi à saída. Já estava na porta quando ele voltou a falar.

– Só mais uma coisa...

Revirei os olhos enquanto ainda estava de costas, dei meia volta e me aproximei novamente.

– Sim?

Por favor não me peça para buscar café...

– Desculpe.

Espere... O que ele disse?

– Pelo quê? – perguntei, totalmente confusa.

– Pela forma como eu a tratei ontem e por duvidar de sua capacidade profissional hoje.

Ok, eu devo estar sonhando de novo... Não é possível que ele realmente esteja dizendo isso.

Mesmo assim, decido fingir que estou acordada.

– Tudo bem, Senhor Queen.

– Por favor, me chame de Oliver.– ele me dirigiu um olhar sincero acompanhado de um sorriso amigável.

A sensação de dèja vu é quase palpável. Sinto mais um arrepio percorrer meu corpo, já estava virando moda isso acontecer com ele por perto.

Foi então que me dei conta de que não estava sonhando. Não dessa vez. Minha mente não conseguiria criar a ilusão daqueles olhos azuis tão claros como cristais me encarando com sinceridade. Minha imaginação era boa, mas não tão boa assim.

– Certo. – pigarreei – Mais alguma coisa?

Ele sorriu.

– Não, não mais. Está dispensada por hoje, Felicity.

– Obrigada Sen...Oliver – corrigi-me quando ele me lançou um olhar levemente ameaçador.

Quase sorri em resposta, mas me contive e me retirei da sala antes que algo mais estranho pudesse acontecer.