Trapaça

Invasão


Meus ouvidos estavam zunindo, um barulho incessante que tirava minha mente do foco.

Tudo no que eu conseguia pensar era que a verdade estava ali, bem debaixo do meu nariz e eu não vi. Estava tão claro agora, depois desse vídeo, que eu estava me sentindo a pessoa mais idiota e ingênua do mundo.

– Oliver... – ouvi Felicity sussurrar ao meu lado, tocando em meu braço.

Olhei para ela, vi a preocupação em sua expressão e tentei amenizar a minha.

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– Está tudo bem – menti – Eu só... preciso de um tempo para processar isso. – indiquei para o tablet dela, ainda em minha mãos.

Sim, eu precisava assimilar tudo o que meu pai tinha acabado de revelar em vídeo. Mas eu nem sabia por onde começar.

Malcolm.

Era ele quem havia recebido o dinheiro desviado das Indústrias Queen. E isso nem era o pior. Meu pai é quem havia feito o arrombo nos caixas da empresa. Ele sabia, ele sempre soube e por anos não se importou.

Ao que parecia, o dinheiro era um "investimento" bilionário de um grupo empreendedor, liderado por Malcolm, com o intuito de "Salvar Starling City da ruína", como meu pai citou no vídeo.

Mas as coisas saíram do controle, alguns membros do empreendimento começaram a se questionar, e logo em seguida, misteriosamente começaram a desaparecer sem sequer deixar uma mínima pista para trás. Abandonaram suas famílias, suas contas bancárias e nunca mais foram vistos. Outros apenas morreram brutalmente.

O vídeo não explicava ao certo o que era esse empreendimento, apenas dizia que todos os nomes no livro eram de membros diretos e indiretos do projeto.

Eu ainda estava em choque, mas aos poucos alguns sentimentos confusos se sobressaíam entre outros.

Entreguei o tablet para Felicity, fechando meus punhos e tentando suprimir mentalmente a raiva que começava a se apoderar de cada batida do meu coração.

– Ligue para o Diggle. – falei, meus olhos ainda sem foco.

– Já estou fazendo isso. – respondeu ela.

Olhei para Felicity, que já estava com o celular pressionado em sua orelha, sorri levemente, ela sempre sabia a hora certa de agir.

Percebi que só de olhar para seus pacíficos olhos azuis, meu corpo já se sentia mais calmo. Me permiti pensar na noite que tivemos enquanto olhava-a falar ao telefone concentradamente.

Eu ainda não conseguia acreditar que realmente tinha acordado ao lado de Felicity. Ela era simplesmente perfeita, em absolutamente tudo, eu tinha total certeza agora.

A forma como seu corpo completou o meu durante toda a noite, como se fôssemos duas peças de um quebra-cabeça único...

– Ele está a caminho. – Felicity respondeu, tirando minha mente do passado e me colocando de volta ao presente.

– Ótimo. – disse.

Ficamos em silêncio por um tempo.

– Você está bem? – perguntou ela, se aproximando, peguei sua mão na minha.

– Agora estou.

Ela sorriu e lentamente se aproximou mais, abraçando-me ternamente. Eu precisava disso, realmente precisava tê-la o mais perto possível. Fechei meus olhos e pousei meu queixo sob sua cabeça. Ela suspirou, senti seu corpo tremer com um riso.

Um pigarrear alto nos interrompeu.

– Diggle! Oi. – falei falou assim que nos separamos, suas bochechas adquirindo um adorável tom de rosa.

Diggle observava-nos com um olhar divertido. Eu não pude deixar de sorrir também. Vi o olhar dele pousar em nossas mãos, que ainda estavam entrelaçadas. Felicity olhou para mim, uma pequena interrogação em seu olhar, perguntando-me se eu realmente estava querendo deixar claro que estávamos mais íntimos. Levantei minha sobrancelha para ela, numa expressão de divertimento. Ela por fim sorriu e apertou minha mão mais forte, depois a soltou.

– O que houve? – Diggle perguntou, aproximando-se ainda com um sorriso animado no rosto.

Pude ver de relance o olhar preocupado que Felicity me lançou. Suspirei e peguei o tablet que estava pousado em cima da mesa.

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– Isso aconteceu. – falei, entregando o dispositivo para Diggle.

Observamos a expressão séria que tomou o rosto de John enquanto ele ouvia atentamente o que meu pai dizia no vídeo. Internamente eu tentava ignorar o fato de que estava ouvindo a voz de meu pai novamente, e na pior das hipóteses, pois estava descobrindo um lado negro que eu nunca imaginei existir.

– O que vamos fazer agora? – perguntou ele.

– Bem, é um avanço e tanto. – falei, dando de ombros enquanto os dois me encaravam – Pelo menos agora não estamos mais no escuro. Sabemos quem está por trás disso.

– Oliver, acho que devemos contatar as autoridades. – Diggle falou – Já conseguimos reunir o suficiente para incriminar toda essa gente, e agora com esse vídeo do seu pai...

– As autoridades já estão cientes.

Todos nos viramos para ver de quem era a voz.

– Lyla? – Diggle pareceu surpreso ao ver sua esposa ali. Todos estávamos.
– Desculpe Johnny.

Não houve tempo para que algum de nós conseguisse processar o motivo pelo qual Lyla estava pedindo desculpas.

Pareceu uma cena de filme. Uma leva de agentes devidamente preparados para enfrentar uma guerra, equipados com armas de longo alcance, capacetes, coletes à prova de balas. Parecia que a equipe da S.W.A.T. tinha surgido do nada e caído no porão da Verdant.

Só o que nos restou foi erguer as mãos em sinal de rendição.

Ninguém falou nada por um instante. Lyla tentava encontrar o olhar de Diggle, mas ele parecia incrédulo e furioso.

– Para quê tudo isso, Waller? – John perguntou, a voz mais alta.

Eu não sabia para quem exatamente ele estava falando aquilo, mas assim que uma mulher morena e alta apareceu entre a fileira de agentes que nos cercava, soube que era ela o alvo da pergunta.

– Desculpe pelo alarde. – disse ela, um sorriso irônico nos lábios – É um prazer revê-lo novamente Senhor Diggle.

John a encarava com raiva, mas não falou nada.

– E é claro, é muito bom finalmente conhecê-lo Senhor Queen, Senhorita Smoak. Eu sou a Agente Amanda Waller.

– O que você quer? – perguntei, a voz controlada.

– Estou ciente da investigação que vocês três estão fazendo há alguns meses. – falou ela – E achei que estava na hora de nos conhecermos.

– Me desculpe mas... para quem você trabalha? – Felicity perguntou.

– Para uma agência secreta do Governo chamada A.R.G.U.S. – explicou ela calmamente – Assim como a Senhora Diggle. – ela apontou levemente para Lyla.
John suspirou.

– Não estou aqui para prender nenhum de vocês, se é o que pensam. – Waller esclareceu – Mas meus superiores concordaram que era chagado o momento de assumirmos a sua investigação a partir daqui.

– De jeito nenhum! – falei, quase que interrompendo-a – Eu não vou deixar.

Era ridículo achar que eu conseguiria impedir uma agência do governo de fazer o que bem quisesse conosco e com tudo o que havíamos descoberto ao longo de todo esse tempo.

Para minha surpresa, Waller pareceu gostar de minha afronta.

– Muito bem. Era isso o que eu queria ouvir. Abaixem as armas.

Em um movimento quase sincronizado, todos desfizeram suas posições de ataque.

– Eu sabia que o senhor iria tomar a decisão certa, Senhor Queen, assim como o seu pai tomou.

Franzi minha expressão.

– O que quer dizer? – perguntei.

– O seu pai estava trabalhando conosco, dando-nos informações sobre o Empreendimento.

– E agora você quer que eu te dê informações também. – afirmei.

Waller sorriu, mas não pareceu que ela estava realmente "feliz".

– Não, Senhor Queen. A sua contribuição será muito mais ativa do que nos passar simples informações.

Vi de relance a expressão confusa no rosto de Felicity.

– O que quer dizer? – perguntou ela.

– Simples. – disse ela, olhando de Felicity para mim – O senhor vai confrontar Malcolm Merlyn pessoalmente.