A Filha do Mar

Prólogo


Era uma vez uma linda mulher que morava as margens de um sutil riacho nos arredores de New York. Ela se chamava Marion. A bela mulher não gostava de se misturar com a civilização, já havia várias vezes sido taxada como louca, embora não fosse, pois se o mundo soubesse a verdade, ela seria considerada especial. O fato era que ela via além da névoa, sim a nevoa, uma simples coisinha que separa o mundo humano do mundo mágico, das lendas e mitos que nos contam, deixando os humanos normais cegos para ele, pelo menos a maioria dos humanos. Quando pequena, com apenas sete anos, Marion perdeu os pais em uma viagem, ela nunca voltou a ser a mesma e dali em diante se virou sozinha, foi adotada aos nove anos por uma mulher muito rica, mas no seu aniversário de dezoito anos, sua mãe adotiva foi assassinada, mais uma vez estava sozinha e prometeu a si mesma que assim continuaria, ninguém mais seria tirado dela, então um dia pegou sua herança e partiu para o desconhecido.

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Dois anos depois Marion conheceu um homem alto, de cabelos bronze e olhos verdes intensos. Sua aparência era impecável e por isso a moça solitária nem se incomodou quando chegou em casa depois de um dia de compras e o encontrou as margens do riacho em seu quintal.

O homem era gentil e caloroso, eles conversaram por horas no primeiro dia, e o mesmo aconteceu todos os dias nas duas semanas seguintes. Mesmo assim Marion ainda não sabia nada sobre o homem que se tornará seu amigo embora ele soubesse tudo de sua história. Certo dia em meio a uma de suas conversas ele a beijou, Marion com vinte anos de idade jamais havia beijado ou sido beijada por alguém além de seus pais biológicos ou sua mãe adotiva e com certeza jamais havia sido beijada daquela forma. No início ela se assustou e se afastou, mas quando viu o olhar intenso que ele lhe lançou avançou para ele com fúria e necessidade e ali naquele dia, se tornaram um só.

Depois daquele dia o homem misterioso começou a aparecer com menos frequência, até que um dia disse que não poderia mais voltar, assim, sem o menor tato, deixando Marion sem chão, de coração partido... e grávida.

Marion tentou argumentar, saber o que havia feito, mas ele não explicou, só disse que era necessário e que teria que partir, para sempre. Ele saiu pela porta dos fundos, por um segundo ela ficou imóvel com a mão na barriga, mas então lembrou que devia contar a ele e correu para o quintal somente tendo tempo de vê-lo diluir na água do riacho.

Naquele momento ela se lembrou de todas as histórias malucas sobre mitos que ele contava para anima-la na semana em que ficou doente. As histórias sobre o oceano, não podiam ser verdade, a única coisa que não havia contado a ele para não afastá-lo e esse tempo todo era a única coisa que ele havia falado para ela que seria verdade sobre ele.

Marion caiu chorando em meio as rosas de seu jardim. Observando o rio correr, levando mais uma pessoa que amará.

NOVE MESES DEPOIS...

Marion continuou sozinha durante toda gestação, estudou tudo que podia sobre mitologia, seu coração amargurado a levou a ter os mais terríveis pensamentos, e algumas vezes quase a fez interromper a gravidez. As histórias sobre semideuses a assustava, nenhuma delas terminava bem e feliz, só a fazia imaginar que jamais ia querer tal destino para seu bebê, não ajudou muito quando uma harpia cruzou seu caminho, parecia uma menina ave vermelha, mais nova que ela, mas nunca poderia saber com certeza, naquele dia ela teve medo de morrer com seu bebê mas a harpia era uma amiga embora não falasse nada com nada, certo dia declamou um versinho, no início não entendeu porém as palavras fizeram sentido com o tempo, e fizeram mais sentido ainda no dia do nascimento da criança, quando ela estava sentada a beira do riacho em um dia quente com os pés tocando a água, sua bolsa estourou e do meio do rio uma mulher da cor da água brotou e a ajudou a ter o bebê.

— Seu bebê jamais será seguro neste mundo, venho lhe observando a semanas... Tive de contar ao meu senhor e ele me ordenou que mantivesse o segredo e leve a criança em segurança para o acampamento meio sangue.

— Então é verdade?

— O que é verdade?

— Sobre a profecia, sobre uma das crianças dos três grandes? Ele estava proibido de ter filhos...

— Sim... Essa criança é um acidente, mas meu senhor jamais permitiria que sua criança fosse morta. Ele não a assumirá, ela crescerá no acampamento como os outros de sua espécie mas crescerá como uma incerta.

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— E o que será de mim?

— Seguirá sua vida, não contará a ninguém sobre a existência dela, e se ela atingir os dezessete anos, poderá revê-la...

— E se eu morrer até lá?

A nereida olhou para água tristonha...

— Terá de levar uma vida normal, seguir como uma mera humana e aguardar que ambas cheguem vivas a idade certa para se reencontrarem... – mas antes que terminasse Marion a interrompeu.

— E se eu me tornar imortal?

— Não poderia.

— Posso, se me tornar uma caçadora de Ártemis... Afinal elas são reais, não são?

— Sim, seria possível... Mas Ártemis teria de aceita-la e as caçadoras de Ártemis são castas...

— Não pretendo amar mais ninguém mesmo... Está decidido!

— Eu devo levar a criança, como pretende chama-la?

— Marina... Ela será Marina Aaminah, aquela que veio do mar, rainha das águas e o último elo de esperança e união.

A nereida sorriu com gentileza...

— Minha filha não será a destruição do mundo, será a salvação!

— Deve se despedir agora...

— Não, me diga onde é, deixe-me leva-la eu mesma!

— Não saberia...

— Eu consigo ver através da nevoa, deixarei ela no lugar certo...

— Pois bem, mas ande perto da água para que eu possa acompanha-la se precisar de mim, deve partir pela manhã.

O espírito do mar voltou para água enquanto Marion olhava pela primeira vez de verdade para sua filha. Um bebê lindo de pele clara, alguns fios ralos de cabelo loiro, um tom médio entre seu loiro claro e o bronze de seu pai, e seus olhos, os olhos mais lindos do mundo, tão verdes quanto os do pai, era como olhar para lindas esmeraldas verdes e brilhantes.

Saber que teria que abandoná-la partia o coração da pobre mulher, mas ela sabia que a veria novamente. Naquela noite elas dormiram juntas, Marion a abraçava como se a qualquer momento a menina fosse quebrar quando na verdade quem estava se quebrando era ela.