Hontou Seishin

Amizade


A sala de detenção parecia mesmo relaxante. Ryozaki se sentou na outra ponta da sala, bem longe de Yagami. Ele apenas olhava com um olhar vazio pela janela. Aquela sala situada apenas um andar abaixo da sala da Diretora tinha um ar interessante. Ali tinha uma boa visão para vizinhança ao redor do colégio. Kyoto é mesmo uma cidade histórica. Ele logo percebe ao longe os prédios da época imperial se erguendo ao lado dos edifícios modernos. O passado junto ao futuro. As horas iam se passando enquanto ele pensava sobre o que a Diretora havia lhe falado. Temperamento? Não é isso. É algo diferente. É algo indireto, inesperado, um reflexo. Quando soou o sinal, Ryozaki pegou suas coisas e foi embora. Ao passar pelo corredor, recebeu uma trombada de Yagami, mas preferiu ignorar, afinal já tinha que aturar muita coisa agora por causa dele.

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[...]

Andando pela estação de metro onde sempre passava para ir para casa, uma silueta conhecida aparece diante dele. Distraído, ele quase não percebe ela chegar.

- Ryo-kun! – ela exclama pulando a sua frente.

- Hikari? O que faz aqui? – ele responde como um reflexo.

- Falando assim até parece que não sou bem vinda.

- Não foi isso que eu quis dizer. Eu...

- Calma, estou brincando com você. Você parece distraído. Aposto que se meteu em confusão hoje de novo! – ela dá um sorriso.

- A culpa foi do idiota do Yagami. Mas porque está nessa estação? Pensei que morasse para o outro lado.

- Bom, eu vou há uma nova livraria que abriram. Acho que é perto da sua casa. Dizem que ela é muito boa.

- Só você mesmo para ir do outro lado da cidade atrás de livros.

- E só você para ter uma ida ao museu como castigo. – dá uma leve risada apontando para ele.

- Como você sabe disso?

- Porque a Diretora me chamou na sala dela no final da aula. Ela disse que queria que eu fosse responsável por um aluno na monitoria de história. E quando eu perguntei quem era... Bem, você já deve saber a resposta. Diga um “olá” para sua nova monitora de história.

- Olá. – ele brincou apesar de estar um pouco sem graça.

Ryozaki se sentiu estranho com aquela situação, mas se conformou. É melhor assim. Mika Hikari era uma das poucas amigas de Ryozaki. Aquela menina de longos cabelos negros tão profundos como seus olhos escondidos atrás dos óculos de uma leitora assídua era uma pessoa encantadora. Com uma voz suave, um corpo atraente e um jeito brincalhão era muito cobiçada por muitos meninos na escola. Era uma leitora compulsiva, que lia de livros escolares até mangás, uma paixão que nunca escondeu de ninguém. As pessoas se perguntavam por que ela é tão amiga de alguém como Ryozaki. Eram pessoas totalmente diferentes, mas se entendiam perfeitamente e se davam muito bem. Diziam as más línguas que essa amizade começou por Hikari achar que ele era como um personagem de um mangá que ela havia lido e adorado, mas não era bem assim. Eles se conheceram no colégio depois de uma transferência de turmas há três anos. Por motivos óbvios, Ryozaki acabou sendo mudado para uma turma diferente. Como representante de turma e ótima aluna que é até hoje, ela foi até ele dar as boas vindas. Por algum motivo, Ryozaki se sentia bem conversando com ela. Hikari sempre ouvia sobre as “façanhas” dele no colégio, mas incrivelmente nunca presenciou nenhuma delas. Quando estava com ela, ele se sentia mais confortável e calmo. Suas conversas o distraíam.

[...]

Quando o trem parou na estação final, os dois saltaram. Eles foram andando enquanto Hikari conversava sobre a monitoria que ele iria receber, enquanto Ryozaki apenas ouvia e brincava com ela. O tempo pareceu se encurtar incrivelmente durante aquela caminhada. O tempo passa rápido quando estamos com os amigos. Os dois pararam em frente à livraria que Hikari queria ver. Mesmo morando por ali, Ryozaki nunca havia reparado naquele enorme livraria de dois andares, adornada com estatuetas de dragões e tigres na entrada. Parece mais um palácio imperial do que uma livraria. Hikari insistiu para que entrasse com ela, mas ele preferiu ir para casa. Teria um longo dia amanhã.

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- A propósito, você vai amanhã ao museu não é? – disse a menina enquanto abria a porta.

- Infelizmente sim.

- Não diga isso. O Museu Imperial de Kyoto é muito bom. Tem vários artefatos da época imperial, incluindo a espada de...

- Por favor, deixe isso para sua monitoria, ok? – interrompe com um sorriso no rosto.

- Tudo bem, tudo bem. Bom se te consola, eles têm uma lanchonete que faz Takoyaki delicioso. No intervalo nós podemos ir lá comer, que tal?

- Pelo menos algo para me motivar né. Meu prato favorito! – ele brinca.

- Eu sei! – mostra a língua. – Nos vemos amanhã. Bye!

E assim ela entrou pela porta da livraria. Hoje não parecia um dia ruim para Ryozaki apesar de tudo. E talvez, só talvez amanhã também não seja.