Incarcerous

Não, Não, Não!


"O mundo é uma prisão em que é preferível a cela de isolamento. "

Karl Kraus

2 – Não, Não, Não!

Dezembro, 2000.

Certo.

Então era aquilo.

Aquele podia ser considerado um dos raros momentos em que Ginevra Molly Weasley se declarava vencida.

E, considerando que ela tinha seis irmãos mais velhos, cada um endiabrado à sua própria maneira, aquele era um feito e tanto.

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Com as mãos na cintura, Gina olhou para o ambiente em volta de si com expressão desolada.

Já tinha convivido por tempo demais com pilhas de latas de cerveja, roupa suja e montes de louça espalhadas pela pia – e em alguns outros lugares também, para o seu completo horror.

Tinha chegado no limite da sua paciência.

Gina podia se orgulhar de ter sido justa até aquele momento e dado o seu melhor para se entender com seu atual colega de apartamento.

Colega trouxa. Num apartamento trouxa. Na parte trouxa de Londres.

Se a princípio ela tinha achado que a guinada na sua vida tinha sido uma excelente ideia, aqueles instantes de irritação serviam para minar suas resoluções de forma quase irremediável.

Com o fim da Batalha de Hogwarts, Gina tinha finalmente conseguido se formar em Hogwarts – diferente de Harry e Rony, que preferiram seguir com sua preparação para se tornarem aurores -, embora não com tanto louvor quanto Hermione, que parecia estar construindo uma sólida carreira política no Ministério da Magia.

Entretanto, ao contrário dos outros membros da sua família, Gina tinha repudiado a ideia de seguir qualquer carreira no Ministério. Obviamente, ela não ignorava a situação política instável da sociedade bruxa nos anos que se seguiram à derradeira batalha em Hogwarts; ela mesma ainda carregava as cicatrizes daquele episódio que modificou as estruturas de todas as relações sociais, econômicas e políticas dos bruxos. Por causa disso, ainda era um membro participante da Ordem da Fênix e ajudava seus amigos, família e Harry da melhor maneira que podia, mas não de dentro do Ministério.

Seu pequeno nariz arrebitado se torceu ao pensar em Harry, mas aquele era um assunto que Gina Weasley não queria tocar naquele momento.

Voltou seus pensamentos à razão de ter se afastado da família, saído d'A Toca – e como ela sentia falta da comida da sua mãe e das conversas com seu pai – e ido morar no subúrbio de Londres.

O que ela queria – o que sempre tinha desejado desde que era uma menininha - era ser uma grande jogadora de quadribol.

A melhor jogadora de quadribol do seu tempo!

A imagem de Dulce Griffiths - jogadora de quadribol do time Harpias de Holyhead lembrada por sua espetacular captura do pomo após uma partida de sete dias em 1953 -, cruzou sua mente e ela teve que sorrir, sentindo seu coração se encher de esperança e determinação mais uma vez a despeito da situação desagradável.

Apesar da crença popular, ser um jogador de quadribol demandava muito esforço e dedicação. Gina descobrira aquilo depois de inúmeros testes para diferentes clubes, alguns positivos, outros negativos, mas, que no fim, garantiram resultados inexpressivos, o maior deles sendo alguns meses treinando num time da segunda divisão da liga de quadribol.

Considerando sua série recente de fracassos, ela ainda não tinha tomado coragem para fazer o teste para as Harpias de Holywood, uma vez que uma falha ao ser aceita no seu time de coração seria um grande golpe para suas pretensões.

Ela podia sentir que faltava algo.

A revelação desse algo veio meses antes, quando estava no jardim d'A Toca jogando quadribol com Carlinhos em uma das suas visitas da Romênia.

Gina amava seus irmãos e tinha bastante certeza de que a recíproca era verdadeira. Contudo, quadribol entre os Weasleys nunca pôde ser considerado uma prática amigável, principalmente com aquelee irmão em específico. Carlinhos tinha, literalmente, destruído sua irmã no jogo relembrando seus tempos no time da Grifinória. Cada vez que ela tentava passar por ele para chegar até o gol, ele usava sua força física par desequilibrá-la – não de forma desleal, mas nunca sem firmeza-, tomando a bola dela.

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Gina se valia da sua agilidade para escapar de grande parte das ofensivas, mas, para sua irritação, não obtivera sucesso em todas as vezes que tentava se esquivar do embate corpo a corpo. No último deles, Gina – com a bola embaixo do braço esquerdo – deu um rasante rente ao chão visando tomar velocidade e ultrapassar Carlinhos, mas seu irmão se recusou a cooperar. Como não podia vencer Gina na velocidade, ele simplesmente acelerou a vassoura para parear com ela somente um instante, para então dar um tranco mortífero.

Tranco que fez Gina perder a goles e cair da vassoura, rolando pelo chão numa cena que podia ser classificada como um ótimo exemplo de aterrisagem sem o menor estilo.

Ignorando as dores pelo corpo, Gina se sentou rapidamente e arrancou tufos de grama com os punhos cerrados, efetivamente gritando de tanta frustação.

"AHHHHH!" Ela exclamou fora de si. "QUE ÓDIO!"

Carlinhos tomou seu tempo para pousar graciosamente ao lado de Gina, reparando na expressão da irmã pela primeira vez. Ela estava com o rosto quase da cor dos longos cabelos ruivos, que por sua vez estavam cheios de gravetos e grama. Havia terra no rosto sardento e o olhar furioso e ultrajado nos olhos castanhos fez com que Carlinhos jogasse a cabeça para trás num gesto que era típico dele e gargalhasse com gosto.

Rapidamente, ela fez uma bola com terra e mirou no rosto de Carlinhos, mas ele desviou da arma mortal que encontrou seu fim na grama atrás de si e riu mais ainda.

"Onde está sua honra Grifinória? " Gina apontou o dedo indicador em riste para ele. "Isso foi um golpe muito sujo, até mesmo para você, Carlos."

Carlinhos sempre tinha sido o mais competitivo – talvez com exceção da própria Gina -, mas nunca o fazia com maldade ou crueldade. Racionalmente, ela sabia disso. Mas, no seu momento de fúria ultrajada, ela precisava de qualquer argumento que pudesse usar contra o irmão.

"Minha honra Grifinória continua no mesmo lugar de sempre: abaixo do espírito de competição. " Com muito esforço, Carlinhos se recuperou do ataque de riso e se sentou pesadamente ao lado dela, cruzando as pernas no estilo indiano. "E não foi golpe sujo. É simplesmente jogo duro." Já recomposto, ele falou como se estivesse explicando algo muito sério com a autoridade de quem tinha sido Apanhador e capitão do time de quadribol da Grifinória durante tantos anos. "Se quer entrar nesse mundo, deve se acostumar com isso. "

Com um suspiro cansado, Gina se jogou de costas na grama para observar o céu de forma pensativa. "As vezes eu acho que o Weasley jogador de quadribol deveria ser você. "

"Nah." Carlinhos dispensou a ideia de Gina com um aceno da mão cheia de cicatrizes causadas por queimaduras. "Tenho vinte e oito anos, minha época já passou. Além do mais," Ele piscou um olho para a irmã de forma travessa. "minhas paixões esperam por mim na Romênia."

Gina rolou os olhos diante da forma que Carlinhos se referia aos seus dragões. "Se não tiver uma paixão de verdade te esperando em breve, mamãe vai fazer questão de tornar sua vida um tormento. " Gina sorriu cheia de malícia pela situação do irmão. "Hoje mesmo ela estava perguntando para Fleur se ela tinha alguma amiga que pudesse apresentar para você." Carlinhos deu de ombros como se já tivesse se acostumado com a persistência alcoviteira da mãe e bebeu um grande gole na garrafa de água que ele havia conjurado. Gina aproveitou a chance para continuar com falsa inocência. "Ela até cogitou uma aproximação com Gabrielle. Sabe, a irmã de Fleur?"

Carlinhos cuspiu toda a água que estava na sua boca. "O quê?!" Ele exclamou horrorizado. "A garota é praticamente da sua idade! O que a mamãe tem na cabeça para querer me envolver com uma menina que ainda nem é maior de idade?"

"Ora, o que ela tem na cabeça? " Gina fungou como se a resposta para aquilo fosse muito óbvia. "Casamentos para os filhos que estão na idade, é claro. Você e Gui, no caso. Como a situação de Gui já foi remediada satisfatoriamente..." Ela comentou enquanto continuava a olhar para o céu azul. "E, só para constar, Gabrielle é bem mais nova que eu. Tenho dezenove anos, como você sabe muito bem."

Imitando sua irmã, Carlinhos descruzou as pernas e se deitou na grama morna ao lado dela. "Mamãe nunca vai entender que eu não quero me casar, com ninguém." Ele suspirou resignadamente. "Graças a Merlin Gui já providenciou uma neta para ela – e para papai também, pensando bem."

"Do contrário, você já teria sido sequestrado." Gina completou com o bom humor, desconsiderando que era muito fácil manter o espírito alegre quando não tinha no seu encalço uma Molly Weasley com pretensões casamenteiras. "Procrie ou morra, Carlos." Ela imitou o tom de voz da sua mãe, o que imediatamente fez Carlinhos estremecer.

"Me lembre de dar um grande presente de agradecimento para Victoire daqui uns anos." Carlinhos murmurou deprimido. "Me tirou de uma enrascada e tanto."

Gina riu com vontade. "Tirou a todos nós, eu acho. Pelo menos por uns anos."

Eles caíram num silêncio confortável que só é possível entre irmãos, até que Carlinhos abaixou sua mão calejada para pousá-la sobre a de Gina, dando um aperto reconfortante nela.

"Posso não ser tão perceptivo como Gui ou sagaz como Jorge, mas percebi como você tentou desviar do assunto 'quadribol'."

"Tinha dado certo até agora." Gina respondeu com um sorriso travesso.

"Estou falando sério, Gi." Carlinhos se virou para ela, ficando de lado na grama e apoiando a cabeça na mão. "Eu sei o quanto isso é importante para você."

Gina suspirou tristemente ainda mirando o céu azul. "Eu venho tentando tanto, Carlinhos, mas estou quase desistindo. Há muitos excelentes artilheiros por aí e-"

"Você é uma excelente artilheira." Carlinhos interrompeu.

"Disse bem, artilheira." Gina argumentou com tristeza. "Sou uma garota."

Carlinhos a olhou surpreso e não resistiu a vontade de provocá-la. "A Gina Weasley que eu conheço nunca se deixaria abalar por questões de gênero, muito menos se esconderia atrás disso."

Gina ficou vermelha - como Carlinhos sabia que ficaria. Era realmente muito fácil irritar sua irmã. "Não estou me escondendo atrás de nada! Muito menos atrás do fato de que eu sou mulher!" Gina exclamou ofendida. "Acontece que é muito mais difícil disputar uma posição de artilheira com alguém que me derruba da vassoura com um assopro!"

"Sempre há os times de quadribol formados só por garotas."

"Eu sei disso, Carlinhos." Gina respondeu com menos furor. "O problema é conseguir visibilidade para ter uma chance nesses times. E uma chance é tudo que eu preciso. Se conseguir passar nas seletivas mais baixas, onde as pessoas dependem mais da força do que da habilidade, eu sei que eu chegaria mais longe. "

Carlinhos pensou por um momento antes de voltar a falar. "Ninguém na sociedade bruxa negaria um favor a Harry. Tenho certeza que se você pedisse a ele-."

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"Não vou pedir nada a Harry!" Gina exclamou mais alto do que gostaria. Contudo, não pôde evitar a reação que eventualmente aparecia entre sua família e amigos.

Será que ninguém nunca entende?, Gina pensou cheia de amargura. Eu tenho que andar com minhas próprias pernas e não depender do prestígio de Harry para atingir meus objetivos.

"Ok, ok." Carlinhos tentou apaziguar e mudou sua abordagem. "Sabe, como apanhador, enfrentei muitas dificuldades para me adaptar à posição, sofrendo de um problema inverso ao seu. O Apanhador precisa ser ágil e eu... Bem, olhe para mim e me diga se agilidade combina comigo?"

Gina observou o corpo baixo e troncudo do irmão analiticamente. Carlinhos era forte e musculoso, isso era inegável; entretanto, era notório que velocidade e flexibilidade – pontos vitais para um apanhador - não eram a praia dele.

"Não muito." Ela concedeu timidamente.

"Mas eu era realmente um bom apanhador." Carlinhos disse com seu peito inflando de orgulho. Por um momento terrível, ele se assemelhou a Percy mais do que seria recomendável. Sabiamente, Gina guardou a comparação para si enquanto ouvia Carlinhos falar. "E achei a solução para o meu problema onde menos esperava."

"Onde?" Ela perguntou curiosa.

"Dentro de mim mesmo." Carlinhos apontou solenemente o dedo indicador para o próprio peito.

"Carlinhos!" Gina exclamou cheia de frustração diante de tanto mistério.

"Certo, mas a minha força de vontade teve uma participação grande." Ele sorriu de forma travessa para então ficar mais pensativo, como se estivesse puxando suas memórias lentamente. "Acontece que no time da Grifinória daquela época, havia uma garota-"

Gina rolou os olhos e o interrompeu. "Por que todas as minhas conversas com meus irmãos acabam sempre chegando na frase 'havia uma garota'?"

"Dessa vez não é pelas razões que você está pensando." Carlinhos bufou antes prosseguir. "O nome dela era Margareth Shaw, mas costumavam chamá-la de Maggie Magrela."

"Ow," Gina exclamou e inevitavelmente se solidarizou com a garota. "Isso não era lá muito simpático."

"Crianças são impiedosas. " Carlinhos deu de ombros miseravelmente. "Você, mais do que ninguém, deveria saber disso. Cresceu com Fred e Jorge, afinal." Ele suspirou antes de continuar sua defesa. "Além disso, não falei que eu a chamava assim. Maggie era uma garota muito legal."

Num movimento gracioso, Gina também se virou copiando a posição do irmão, com um brilho absolutamente malicioso nos olhos escuros e erguendo as sobrancelhas de forma sugestiva.

"Veja só se não tínhamos uma paixonite em Hogwarts, hein, hein, hein."

"Estou tentando te ajudar, Ginevra." Carlinhos ficou com as bochechas ligeiramente coradas, mas se manteve neutro sobre o assunto. "Você quer que eu continue ou não?"

"Sim, por favor, Charliiiinhos." Gina suplicou do seu jeito mais meigo – ainda que não totalmente convincente, era sua única arma para lidar com o fato de que Carlinhos tinha usado seu nome de batismo. Nada podia vir de bom quando qualquer um dos seus irmãos fazia aquilo.

Tomando seu tempo para olhar feio para Gina mais uma vez, Carlinhos seguiu explicando. "Enfim, ela era uma ótima artilheira para o time. Era nascida trouxa e com uma cultura do esporte totalmente diferente da nossa. Entre os trouxas, há muitos esportes também, vários deles envolvendo bolas e times."

"Hmm." Pensativa, Gina desenhou padrões invisíveis na grama com as pontas dos dedos, absorvendo o que Carlinhos lhe dissera. Pela primeira vez ocorreu-lhe que nunca tinha parado para pensar nos esportes dos trouxas, ainda que com certeza eles devessem ter atividades similares ao quadribol.

"Nesses esportes, há uma verdadeira preocupação com o preparo físico. " Carlinhos continuou com empolgação. De todos os filhos de Arthur Weasley, ele era aquele que mais se interessava pelos mesmos hobbies que o pai, também levando a sério a ideia de que os bruxos tinham muito a aprender com os trouxas. "Eles tem até escolas para isso, acredita? "

"Como se fosse Hogwarts... Só que para esportes? " Gina estava genuinamente surpresa.

"Exatamente. " Carlinhos concordou solenemente. "Não só para esportes, na verdade. Parece que existe uma escola para cada tipo de vocação. Estranho, não é?"

"Um bocado. " Gina admitiu pensativa. "E como isso te ajudou? "

Carlinhos sorriu sabendo que a irmã chegaria exatamente nesse ponto. "Bom, Maggie pediu ajuda para uns amigos mais velhos que cursavam essas escolas estranhas. Eles nos indicaram livros que os pais de Maggie compraram para nós porque bem-" Ele deu de ombros.

"Porque papai e mamãe não poderiam comprar, afinal." Gina terminou pelo irmão, sorrindo nostalgicamente.

"É, basicamente. " Carlinhos assentiu, também deixando escapar um sorriso tímido. "Nós estudamos esses livros e nos correspondemos com pessoas dessas escolas – eles chamam faculdade ou algo assim. Além disso, Maggie me ajudou a adotar um plano de treinamento físico e dieta que fortalecessem os pontos onde eu tinha deficiência para aprimorar minha agilidade. Tudo baseado no que os trouxas sabem sobre o corpo."

"Deu certo?" Gina perguntou distraidamente, nem se dando conta do que tinha dito. Tudo que ela conseguia pensar é que havia uma esperança.

Carlinhos rolou os olhos azuis para ela de forma brincalhona. "Fui ou não fui o melhor apanhador de Hogwarts dos últimos tempos?"

"Um dos melhores." Gina corrigiu com um travesso piscar de olhos. Sempre havia Harry Potter no meio do caminho, afinal. "Por que a tal Maggie fez tudo isso?" Ela perguntou mesmo que já desconfiasse fortemente da resposta.

Carlinhos pensou um pouco antes de responder. "Um bom apanhador é crucial para um time de quadribol."

Foi a vez de Gina rolar os olhos. Como meus irmãos conseguem ser TÃO estúpidos?

Rony havia demorado quase uma década para entender os sinais óbvios de Hermione. Gui precisou que Fleur o encurralasse na saída do Gringotes enquanto trabalhavam lá para dizer tudo que ela queria dele. Percy tratava Penélope Clearwater como sua contraparte de saias até que ela o jogou na parede e o beijou escandalosamente em uma das rondas dos monitores numa fofoca que, infelizmente, Gina só descobrira meses depois de se formar. Merlin, até Jorge não conseguia levar a sério os olhares de Angelina Johnson!

E agora Carlinhos...

Gina fez uma prece silenciosa para que todo o restante dos homens não fosse tão obtuso quanto seus irmãos.

Ainda que, se parasse para pensar em Harry – seu exemplo mais latente -, seus resultados não eram muito mais animadores.

Quantos anos ele tinha levado para vê-la sob uma ótica diferente mesmo? E ainda nos dias atuais...

Não, não iria pensar em 'dias atuais'. Nem em Harry, nem em seus irmãos, nem em toda a idiotice masculina presente no mundo.

Iria pensar apenas em Quadribol. Como se tornar uma grande jogadora e, talvez entre um treino e outro, ela também poderia refletir sobre a possibilidade de se tornar lésbica.

Por que não?, ela pensou enquanto trançava os dedos na grama. Pouparia uma quantidade absurda de inconvenientes.

"Hey!" Ignorando as pretensões homossexuais da irmã, Carlinhos estalou os dedos na frente do rosto sardento de Gina. "Pode pensar nessa nova alternativa depois."

Gina se assustou com a possibilidade de Carlinhos saber o que se passava na sua cabeça. "O quê!?"

Carlinhos olhou desconfiado para ela. "Estava falando apenas que você podia pensar depois sobre estudar o que há a disposição para condicionamento físico, só para constar. " Ele falou sério e Gina suspirou aliviada. "Tenho certeza que você conseguiria aliar técnica e físico. E, quando achar que está pronta, pode finalmente tentar uma vaga nas Harpias de Holyhead."

Recuperada do susto, Gina agora considerou seriamente tudo que seu irmão havia falado. "Você acha mesmo que eu deveria aprender com os trouxas?"

"Acho que te daria uma vantagem competitiva sobre os outros jogadores, isso é fato. Estamos falando sobre conhecimento sobre nosso próprio corpo, Gi. E conhecimento nunca é demais. "

"Isso significa que eu deveria frequentar as escolas deles? " Ela mordeu o lábio inferior em dúvida.

Carlinhos ponderou as implicações da sua resposta e, daquela vez, se assemelhou muito ao jeito sereno que Gui tinha de conversar. "Não só isso, eu acho. Conviver com trouxas sem revelar nada sobre nós é uma tarefa difícil. Precisaríamos de autorização do Ministério, para começo de conversa. E, a partir daí, você precisaria de uma história, de um passado. "

"De um passado? " Gina mordeu a parte interna da bochecha hesitando diante da ideia. "Tipo, inventar um passado?"

"E um convincente. " Carlinhos confirmou. "Se vai estar entre os trouxas, você não pode ter vindo de lugar nenhum ou aparecer magicamente só para aulas e seminários. O que você quer envolve uma imersão total na cultura deles."

"Isso implica sair d'A Toca." Gina murmurou indecisa.

"Por uns tempos, sim. " Carlinhos concordou.

"Mamãe vai ter um treco."

"Com certeza." Ele assentiu mais uma vez.

Gina deu um tapa no braço musculoso de Carlinhos. "Você deveria estar me animando, não me apavorando. "

Carlinhos suspirou. "Olha, Gi, não precisa se martirizar com isso agora. Se quiser, posso entrar em contato com Maggie, ver se ela pode ajudar. Faz uns bons anos que não falo com ela – desde que fui para a Romênia, na verdade-, mas acho que não haverá problema. Fiquei sabendo que ela trabalha com o Primeiro Ministro da Inglaterra, fazendo a ponte entre os trouxas e os bruxos."

"Ora, ora, se eu não estou sendo usada como desculpa para a retomada de antigos affairs." Gina sorriu e Carlinhos a olhou com uma severidade que não combinava com o rosto mais sardento dos irmãos Weasley. "Certo, certo, não está mais aqui quem falou." Ela passou os dedos sobre os lábios para indicar que eles estavam selados. "Obrigada por me ajudar, Carlinhos. Vai significar o mundo para mim."

Carlinhos balançou a cabeça em concordância. "Vou fazer o possível, Srta. Weasley." Então ele levantou graciosamente da grama e estendeu a mão para a irmã. "Precisamos entrar antes que a mamãe venha nos buscar aqui fora com uma vassoura na mão. Te garanto que ela não a usaria para voar ou melhorar nosso quadribol."

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"Uma pena." Gina sorriu e segurou firme na mão de Carlinhos para ficar de pé. "Se mamãe se propusesse a nos ajudar com quadribol com a mesma intensidade que ela quer nos casar, seríamos todos titulares incontestáveis da seleção da Inglaterra."

Carlinhos sorriu diante da imagem que se formou na sua mente – de Molly Weasley como uma implacável técnica de quadribol - e passou o braço por cima dos ombros da irmã. Sentindo sua esperança na carreira ressurgir com força, Gina se deixou guiar para dentro da casa onde havia nascido e crescido.

Casa da qual ela sentia muita falta naquele momento, três meses depois da conversa com Carlinhos que havia mudado sua vida. Três meses morando naquele pequeno apartamento. Três meses que pareciam anos.

Gina suspirou resignadamente, enquanto tirava uma cueca – cuja higiene ela se negou veementemente a investigar - do abajur com a ponta da varinha.

Bela utilidade você achou para sua varinha, Gina, ela suspirou com mau humor. Tinha a leve impressão de que, se pudesse usar magia livremente, ela teria incendiado metade do apartamento naquele momento.

Então, de certa forma, não ter aquela liberdade era até uma boa coisa: o apartamento era alugado, afinal.

Como sempre fiel à sua palavra, Carlinhos tinha conseguido entrar em contato com Maggie que, por sua vez, tinha sido a gentileza personificada com Gina. Ela havia ajudado a conseguir um apartamento perto da Universidade na qual ela se matriculou - onde os trouxas iam depois de concluir a escola, Gina tinha percebido.

E aí começaram seus problemas de verdade.

Gina não desejava particularmente morar com alguém que não fosse da sua família, ainda mais com alguém que ela não conhecia. Achava que, se fosse para sair de casa, teria que fazer com grande estilo, morar por si só, ser adulta.

Entretanto, havia uma parte desagradável em ser o tal do adulto: pagar contas. Por isso ela tinha arrumado um emprego de meio período na principal lanchonete do campus da Universidade e, ainda assim, continuava precisando de alguém para rachar o aluguel.

O apartamento que Maggie arranjara- provavelmente desconhecendo a saúde financeira da caçula dos Weasley – possuía uma sala grande, cozinha, banheiro e dois quartos. O que ela faria com dois quartos?

Foi então que Maggie entrou mais uma vez em ação - Carlinhos deveria mesmo dar uma chance aquela mulher – e fez a gentileza de conseguir o contato de um potencial colega de quarto - filho de uma prima trouxa da colega de departamento de Maggie - para ajudar com o aluguel (dinheiro, afinal de contas, nunca tinha sido um ponto forte de todo e qualquer Weasley).

A princípio, o trouxa Josh Anderson tinha sido a solução para o problema do apartamento caro para uma menina pobre.

Até não ser mais.

Certo, ele pagava as contas em dia – e Gina não queria nem sonhar em descobrir como ele conseguia dinheiro, sem trabalhar o dia inteiro e nem frequentar a Universidade. Contudo, com Josh vinham uma série de desvantagens – cueca suja no abajur — que estava fazendo com que a convivência fosse insustentável.

Gina não podia recusar o apartamento, primeiro porque tinha se apaixonado pela decoração convidativa e aconchegante. De certa forma fazia com que ela se lembrasse d'A Toca e só Merlin sabia como ela sentia falta da sua casa naqueles dias. Segundo, porque não conhecia absolutamente nada de locação naquela parte de Londres; pelo menos por enquanto aquele lugar teria que bastar até que ela adquirisse um mínimo de conhecimento sobre a parte trouxa da cidade e seus hábitos.

Isso, estava decidido!, Com uma mão fechada, Gina bateu com vigor na outra mão espalmada. Ela ficaria no apartamento e lidaria com problemas financeiros depois. Sempre tinha dado certo para seus pais, afinal de contas.

E, se ela ia ficar, seu colega de quarto teria que sair.

Tchauzinho, Josh, Gina pensou entre aliviada e irritada, foi um grande desprazer te conhecer, mas sinto informar que vou ter que chutar seu traseiro branco para fora do meu apartamento.

Escondendo a varinha atrás de um vaso com uma flor murcha, ela se encaminhou com segurança até uma porta fechada. Respirando fundo, ela deu três batidas firmes na superfície.

Ela semicerrou os olhos quando a reação às batidas foi o barulho de uma série de caixas caindo de prateleiras e móveis sendo arrastados.

"Ouch!" Houve uma exclamação abafada de dor do outro lado da porta, seguido de um apressado "Só um segundo! "

Gina cruzou os braços e começou a bater um pé impaciente no chão de carpete. Depois de um segundo, um rapaz da idade dela, de longos cabelos loiros que Gina desconfiava que não viam um shampoo há alguns dias e olhos vermelhos, abriu a porta repentinamente. De pé, ele estava flexionando o pé para trás para massagear o local onde provavelmente havia batido antes de atender a porta.

Sem muita discrição, Gina espiou para dentro do quarto e antes que pudesse falar qualquer comentário sobre o estado lastimável da organização do lugar (roupas e objetos espalhados de tal forma que era impossível distinguir o que era a cama e o que era o chão), ela foi recebida com um cheiro nauseante e – podia jurar – uma neblina que a cercou depois que ele abrira a porta do quarto.

"Que merd-" Ela se corrigiu pelo hábito de quem tinha convivido com Molly Weasley por quase vinte anos. "Que cheiro é esse!?" Ela farejou o ar para ter certeza de que não estava ficando louca e um cheiro adocicado e muito forte invadiu suas narinas com a gentileza de um Erumpente.

"Esse, Gininha," Josh disse jovialmente para espanto de Gina que imaginou que ele estivera chorando dada a cor dos seus olhos. "É o cheiro da paz e do amor! " Josh deu um passo para fora do quarto e passou um dos seus braços por cima dos ombros de Gina.

"Eu não entendo muito de nenhuma das duas coisas, Josh." Ela disse pensando nos poucos anos que estiveram livres de Voldemort e na sua situação com Harry. "Mas eu acho que nenhuma das duas coisas tem um cheiro tão peculiar, nem fazem fumaça! " Ela saiu de baixo do braço dele, que caiu inerte ao lado do corpo.

Ele abanou o dedo indicador em riste para ela. "Ah, Gininha," Ele disse num Josh absolutamente calmo que a enfureceu mais ainda. "Acho que você está praticando o amor da forma errada, então. Posso dar umas dicas para seu namorado estranho, se quiser." Ele ofereceu e piscou um olho para Gina.

"Harry não é estranho! Erm, não é muito estranho." Gina sentiu suas bochechas arderem de vergonha. "Além do mais, não vim aqui para pedir dicas de nada!"

Já não bastava todo o mundo bruxo dando pitacos no seu relacionamento com Harry, agora até um trouxa se achava no direito de opinar sobre o assunto!

"Então...?" Josh perguntou com um interesse aéreo que por um terrível instante fez com que Gina se lembrasse da sua amiga Luna Lovegood.

Gina se obrigou a respirar fundo mais uma vez. Sempre fora muito decidida sobre aquilo que queria, mas expulsar alguém de casa não era uma tarefa agradável. "Vim aqui pedir para você procurar outro lugar para morar. "

"O quê!?"

"Olha, Josh." Gina começou em tom conciliador. "Eu sei que você é um cara legal e eu não tenho nada contra você – tirando esse hábito de utilizar plantas estranhas para fins mais estranhos ainda."

"Então por que quer que eu saia? " Josh perguntou desanimado.

Porque você é mais porco que Gregório Goyle.

Mais folgado do que Rony em seus piores dias.

Mais intrometido que Rita Skeeter.

"Er, porque eu preciso de mais espaço para mim mesma. " Gina quase gaguejou ao ficar sem coragem de falar todas as coisas que seu futuro ex-colega de quarto precisava ouvir. "E como o contrato está no meu nome..."

Josh arregalou os olhos e deu um passo atrás, como se Gina tivesse dado um tapa em seu rosto. "Você está fazendo isso por que quer mais espaço?!"

"Olha-" Gina tentou dizer algo que não o magoasse mais ainda, mas que não fosse uma mentira. "Acho que nós não nos demos tããão bem como colegas de quarto assim."

"Nós tínhamos um acordo!"

"Que você rompeu quando deixou o apartamento revirado!"

Josh balançou a cabeça decepcionado e entrou no seu quarto como um furacão, tirando uma mochila velha debaixo da cama (como ele sabia que aquela mochila estava ali no meio daquela bagunça, seria um eterno mistério e motivo de admiração para Gina)

"Não posso acreditar que você é tão egoísta assim!" Ele exclamou inconformado enquanto jogava montes de roupa suja dentro da bolsa. Gina chegou a pensar em perguntar se ele estava usando algum feitiço extensível pela quantidade de coisa mal dobrada que cabia ali, mas manteve a questão para si. "Eu achei que nós tínhamos uma vibe juntos, amigos de outras vidas. Estava errado sobre sua energia então! "

"Vibe?" Gina balançou a cabeça e decidiu não se importar com o que exatamente era aquilo naquele momento. "Ei, você não precisa ir nesse exato momento, pode tentar arranjar um lugar novo e tomar seu tempo para arrumar suas coisas. " Arrumar, ahem, como se ele fosse capaz disso. "Não precisa ir hoje. "

"Ahhhh," Josh virou seus olhos avermelhados para ela, colocando a mão sobre o coração. "Agora você quer sair de boazinha, me deixando ficar mais tempo no seu maravilhoso apartamento? " Ele perguntou com sarcasmo exagerado. "Quase a Madre Teresa de Calcutá! "

Gina não se deu ao trabalho de perguntar quem era a tal Madre Tereza porque sentiu suas bochechas e orelhas esquentando, sem contar o seu mau temperamento pedindo para dominar suas ações. Tinha feito o possível para não magoar os sentimentos do idiota e ele reagia daquela forma? Ela colocou uma mão na cintura e empinou o quadril no melhor estilo Molly Weasley. "Escute aqui." Ela disse apontando o outro dedo indicador para ele. "Passei três meses indo ao limite da minha higiene e organização – que sempre foi bem grande, considerando de onde eu vim e seis irmãos -, mas você ultrapassou todos eles sendo um grandíssimo e incontrolável PORCALHÃO!"

Ela pronunciou a última palavra batendo um pé no chão e a boca de Josh formou um verdadeiro 'o' diante da surpresa pelas palavras dela. Seus olhos se encheram de lágrimas e, por um instante, a raiva de Gina murchou visivelmente.

"Você- você-" Ele gaguejou enquanto fechava violentamente a mochila. "É uma BRUXA!"

Pronto, lá estava a raiva de novo. Certamente ela não deveria se ofender por ser chamada de bruxa, mas imaginou que Josh não tinha pensado no termo como um elogio ou sequer como um adjetivo descritivo.

"Você não imagina o quanto!" Ela exclamou enfurecida em resposta e deu às costas para o rapaz em direção ao corredor que dava acesso à pequena sala. "Já conhece a saída, Josh!"

Com isso, ela deu ao ex-colega de quarto a privacidade para arrumar suas coisas, se sentou no sofá e esperou que ele saísse. De canto de olho ela espiou enquanto ele ia até o banheiro pegar suas coisas e tremeu instintivamente quando ele bateu a porta tão forte que as dobradiças rangeram pedindo socorro.

Depois de uns minutos a batida da porta se repetiu, dessa vez na porta da frente numa indicação de que ele tinha partido.

"Já vai tarde!" Ela gritou para as paredes.

Gina se permitiu respirar aliviada com o fim daquele tormento. Ela se levantou e se certificou que ele tinha deixado a cópia da sua chave sobre o balcão que dividia a sala e a cozinha. Teria que mandar trocar aquela fechadura...

Ah, se eu pudesse pelo menos fazer um feiticinho para trancar, ela pensou desanimada. Maldito Ministério e suas regras anti-trouxas.

Por via das dúvidas, girou sua chave na porta principal para garantir que ficaria sozinha mesmo.

Nos minutos seguintes, ela ficou mais à vontade e até se permitiu tirar um pacote de sapos de chocolate de um armário escondido. Nada melhor do que doses cavalares de chocolate para alegrar o espírito.

"Pequenos prazeres da vida." Ela suspirou consigo mesma.

Quando estava prestes a jogar um chocolate que parecia particularmente saboroso na boca, ela ouviu um escandaloso RIIIIIIING que fez o doce mágico pular da sua mão – junto com alguns outros do pacote.

A campainha havia tocado com ardor.

"Por Merlin!" Ela exclamou irritada e colocou a mão sobre o coração para se certificar de que ele ainda estava batendo. Jamais vou me acostumar com esses artefatos dos trouxas.

Ela seguiu até a porta com pernas bambas pelo susto e a abriu cautelosamente, só para ficar frente a frente com a cara emburrada de Josh.

Mais aquela!

"O que foi?" Ela perguntou bruscamente.

"Volto no fim de semana para pegar meus móveis." Ele murmurou de má vontade.

Gina não podia acreditar nos seus ouvidos. "Os móveis já estavam todos aqui quando chegamos! Não tem nada seu!"

"Mas-"

Finalmente, Gina chegou no limite da sua paciência. "FORA!"

Dessa vez quando as dobradiças da porta rangeram melancolicamente depois de uma forte batida, Gina sentiu um prazer quase mórbido.

Respirando fundo para recuperar a calma, ela se encaminhou decidida até a cozinha, pegou seus chocolates do chão – nem pensou no quão limpos eles estavam agora- se jogou no sofá e, de uma vez só, enfiou dois doces na boca de uma só vez.

Ela fechou os olhos sentindo o chocolate entrar em contato com a língua, derreter lentamente na boca, se misturando à sua saliva e-

RIIIIIING

Gina deu um pulo do sofá e sentiu vontade de arrancar mechas de csbelo vermelho.

"AHHH!" Ela exclamou de boca cheia. "Não é possível! "

Ela foi até a porta absolutamente disposta a começar a Primeira Inquisição ao Contrário e a Caça aos Trouxas.

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Vou mostrar para ele o que é ser uma bruxa de verdade, ela pensou quase fora de si, sacando a varinha aninhada no bolso de trás do seu jeans.

Então escancarou a porta mais uma vez, apontando sua varinha – que não deveria ser usada em condições normais enquanto ela estivesse entre os trouxas.

Para o rosto de Harry Potter.

"Olá, Gina," Ele disse dando um passo cauteloso para trás, mas sem desviar o olhar dela.

Então Gina se deu conta de duas coisas: Primeiro, devia estar dando um espetáculo e tanto, com a varinha em punho, cabelo desgrenhado, boca cheia de chocolate e olhar capaz de matar um Inferius pela segunda vez.

Segundo, reparou que Harry – mesmo vestido como um trouxa – estava acompanhado de uma figura maior e mais magra do que ele, com vestes totalmente bruxas e encapuzado.

Curiosa, ela abaixou a varinha e, como aquelas peças que o Universo prega quando menos se espera, uma leve brisa percorreu nos corredores daquele velho prédio de Londres, fazendo deslizar o capuz da figura misteriosa e revelando cabelos quase brancos de tão loiros. Um rosto quase transparente de tão pálido. Olhos quase prata derretida de tão cinzas.

Gina não reteve uma careta.

O que diabos Draco Malfoy está fazendo aqui? E com Harry Potter, de todas as pessoas?, ela se perguntou e teve consciência de que franziu o nariz ao fazê-lo.

"Precisamos conversar, Gina." Harry disse calmamente. "Mas, para começo de conversa, está tudo bem?"

Seus olhos castanhos e vivos passaram de Harry para Malfoy e então para Harry de novo. Ela os encarou com suspeita, o que fez Harry recuar mais um passo discreto e Malfoy se remexer desconfortável, como se quisesse estar em qualquer lugar do mundo, menos ali.

Então Gina – que nunca havia sido modesta ou falsa na hora de se declarar uma pessoa bem esperta – somou dois mais dois.

"Não, não, não!" Foram suas únicas palavras desesperadas.

E Harry jamais soube se ela estava respondendo sua pergunta ou surtando por antecipação com o pedido que ele viera fazer ali.

Com Gina Weasley, nunca era possível prever nada.