Passar

✗ Outros fins de tardes viriam.


E por alguns instantes, no assistir do fim de tarde, ela sentia o vento passar. Em raros momentos como aquele ela sentia que a vida, de alguma forma inexplicável, valia a pena. Porque ao sentir o vento passar ela sentia uma paz aconchegante. E havia muito tempo desde que ela sentira o vento passar pela última vez. E ela sente, sozinha e cansada, que ela merece calma. Talvez a tristeza tenha a tornado mais sensível. E talvez ela apenas queira a leve e terna sensação de sentir o vento passar. Ela sente o suave e sutil carinho do tempo, como se o vento fosse as mãos que a acariciavam o rosto e depois os longos cabelos castanhos. Como se todo o resto já não mais precisasse fazer qualquer sentido, como se o resto já não significasse tanto assim. E sentada naquela varanda, naquele fim de tarde de um fim de dezembro, ela observava e sentia o tempo, apenas de sentir o vento passar. O vento que talvez tenha sido capaz de levar os pensamentos dela para longe, para um lugar que talvez ela não conheça mais. Ao menos naquele breve momento ela sentiu a leveza de desprender-se, sentiu com suavidade e simbolismo, a liberdade encontrando o corpo. E o gato continuava ali, observando não o vento, mas o tempo passar. A noite ia chegando mansa e calma, apenas para garantir o curso do tempo e a sequência natural da vida. Outros fins de tardes viriam. Outras noites chegariam. E, claro, outros ventos passariam.

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Mariana Neves

16-12-2014

19h00min

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