Como Tudo Deve Ser - Perina

Pequenos momentos de felicidade


Pedro desperta, mas não se mexe. Sente o braço de Karina em sua cintura e o peso da perna dela sobre a sua. Não quer acordá-la, sabe como a gravidez a tem deixado exausta e com dificuldades para dormir. Fora isso, a tripla jornada de mãe, esposa e professora de luta não tem ajudado também. Fita o rosto da mulher, dormindo tão serena, desejando que estivesse acordada para que pudesse mergulhar naquele oceano que são os olhos dela. Se pergunta em que momento da vida fez algo tão bom para merecer aquilo. A rotina com dois filhos e um terceiro a caminho não tem sido fácil, mas ele não consegue pensar em como poderia ficar melhor que isso. Ouve uma movimentação vinda do quarto no final do corredor e, tentando ser o mais silencioso e gentil possível, se desfaz do abraço de sua esquentadinha. Olha para a mulher novamente e sorri, ao ver que ela, inconscientemente, abraçou a barriga. Ao abrir a porta do quarto, se depara com a filha estendendo os braços em sua direção. A pega no colo e beija sua cabeça.

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– Papai, ‘tô com fome, a mamãe já fez meu leitinho? - Pergunta a menina, coçando os olhinhos.

– A mamãe ainda está dormindo, princesa. Ela precisa descansar bastante. Lembra que conversamos sobre isso? - Pedro responde, fitando aqueles olhos lindos, idênticos aos da mãe, tão intensos que o prendem enquanto ele espera uma resposta.

– Por causa do bebê? Achei que vocês tivessem dito que isso ia acabar quando a Laurinha nascesse. Ela já nasceu faz tempo, então porque isso agora? - Pergunta Rodrigo, saindo de seu quarto e se aproximando do pai e da irmã.

– E você está certíssimo, campeão. - Pedro responde o filho - mas é que agora a mamãe tem um outro bebê na barriga...

– E como ele foi parar lá, papai? - pergunta a menina, segurando o rosto do pai entre as mãozinhas.

– Co.. Como ele foi parar lá? É.. Ahn.. JÁ SEI! Tive uma ÓTIMA ideia! Que tal a gente preparar um super café da manhã pra mamãe? E trazer para ela aqui na cama? - Diz Pedro, tentando distrair as crianças da pergunta que ele não desejava responder por pelo menos mais quinze anos.

– Ótima ideia pai, e se a gente fizer um montão de X-Gael?

– Filho, é café da manhã...

– Pai, é a mamãe... E com um bebê na barriga ainda!

– Tem razão, mãos à obra.

...

– Já sabem pestinhas, vamos com calma. - Pedro alerta os filhos enquanto entra no quarto com a bandeja nas mãos - Vocês sabem como a mamãe pode ser esquentadinha pela manhã.

– E a tarde. - Diz Rodrigo.

– E de noite, hihi - completa a caçula, rindo por detrás da chupeta.

– Ei, eu posso ouvir vocês - Karina diz, enquanto se senta na cama, assustando o trio.

– Mamãe, você estragou a surpresa!

– Desculpa filha, isso é culpa do desafinado do seu pai, que mesmo depois de todo esse tempo ainda não aprendeu a controlar o tom de voz e fala alto demais. E da sua irmã, que também não para, parece que decidiu lutar o Warriors dentro da minha barriga.

– Epa! Warriors de novo não. Essa daí está é tentando fazer um solo de guitarra. Por isso a agitação toda. - Diz Pedro, dando uma piscadinha pra mulher.

– Pai, quando você vai entender que os genes de luta dominam essa família?

– Será que vou ser voto vencido de novo? - Pedro pergunta, fazendo bico.

– Te avisei que não carrego filho frouxo e medroso, guitarrista. - Responde Karina, achando graça do marido.

– Tudo bem, quem sabe tenho mais sorte no quarto. Ou no quinto...

– Pedro, já te falei que não vamos montar uma banda. Depois desse, a fábrica está fechada.

– Isso é o que você pensa, esquentadinha. Mas não vou discutir isso agora. Está pronta para o café da manhã surpresa? Acho que você vai amar o menu.

– Será que é o que eu estou pensando? - Karina pergunta, olhando para os filhos, os olhos já brilhando.

– É exatamente o que você está pensando, mamãe. - Responde Laura, subindo na cama e se ajoelhando em frente à mãe, que lhe dá um beijo no nariz e deixa a menina se aconchegar em seu colo.

– X-Gael mãe, a melhor pedida pra um café da manhã. - Rodrigo diz, sentando ao lado de Karina.

– Eu gosto no almoço! - Laura responde o irmão.

– E não esqueça do jantar, pirralha.. - Rodrigo provoca a caçula.

– Às vezes eu me pergunto se você fez essas crianças sozinha.. - Pedro diz à mulher, enquanto também senta na cama.

– Para de besteira, moleque. Mas vem cá, quem preparou esse café da manhã? Arrasou com os X-Gael mas não trouxe nada para beber? Temos que melhorar isso.

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– Ih, já vi que é comigo. Deixa que eu vou pegar. - Pedro levanta e dá um selinho na mulher, se preparando para sair do quarto.

– Papai, se eu for com você, você me leva de cavalinho? - Laura pede ao pai, já saindo do colo da mãe.

– É pra já princesa. - Responde Pedro, se curvando para que a menina suba em suas costas.

– Mãe, quando a gente vai poder treinar juntos? - Rodrigo pergunta olhando pra porta, se assegurando que o pai e a irmã já saíram de vista.

– Filho, a mamãe já te explicou, é difícil com esse barrigão.

– Eu sei mãe, mas já faz o maior tempão. E se a gente lutasse aqui agora? Na cama mesmo. Não é nada como o ringue do vovô, mas dá pra enganar. Eu prometo pegar leve com você mãe, deixo até você ganhar dessa vez - diz o menino, arrancando uma gargalhada da mãe. - Por favor, mãezinha.

Karina fita o filho, encarando aqueles olhos castanhos, que, assim como os do pai, se fecham quase completamente quando o menino abre aquele sorriso. Ele a têm nas mãos, e sabe disso. Exatamente como a versão original. Ela não quer e nem conseguiria dizer não à ele.

– Tá bom meu amor - fala, já se levantando na cama, - mas muito rápido antes que seu pai volte e dê uma super bronca em nós dois.

– Como se o papai conseguisse ficar bravo com você né mãe. - Diz o menino, também se levantando e se colocando em posição.

Apesar do incômodo em tentar realizar os golpes com uma barriga de quase sete meses, Karina não conseguia evitar sorrir ao ver a felicidade estampada no rosto do filho mais velho. Nunca pensara em ter uma família grande, nunca quisera ser mãe. No entanto, agora, tinha dificuldades em lembrar como era a vida antes dos filhos. Impossível não se emocionar ao lembrar a primeira vez que segurou Rodrigo nos braços, a primeira vez em que olhou para o filho. Apesar do enorme medo, a sensação de plenitude foi instantânea. Logo ela, que pensava que nunca conseguiria se sentir mais completa do que no dia que ouviu seu guitarrista maluco lhe dizer "sim" durante uma cerimônia que ela não queria que acontecesse, mas da qual aproveitou cada segundo. Quando engravidou de Laura, o medo a dominou mais uma vez. Como conseguiria amar outra criança da forma como amava o filho? Como dariam conta de dois? Mas novamente, bastou olhar para a menina e ela soube que tudo ficaria bem, contanto que estivessem juntos. E agora ela carregava mais uma criança dentro de si. Pela terceira vez, o amor dela e de seu moleque se fazia renascer em um dos maiores presentes que Deus poderia enviá-los. Mal podia esperar para olhar para a carinha da filha, para sentir aquele cheirinho que impregna na alma.

– Pô mãe, eu falei que ia te dar uma colher de chá, mas nem tá precisando, você não tá se esforçando nem um pouco para fingir que não está me deixando ganhar. - Rodrigo reclamou, cruzando os braços e desviando a mãe de seus pensamentos.

– Me perdoa meu amor, acabei me distraindo com umas coisas. Mas ei, quem disse que eu deixo você ganhar? Quando você ganha é por mérito próprio.

– Qual é mãe, sou criança mas sou mais esperto que isso. Você não treina sério comigo, o vô Gael mesmo já te sacou.

– Ah é? Então vamos recomeçar isso.

– O que é que vocês dois pensam que estão fazendo? - Antes mesmo de se posicionarem, a voz de Pedro os sobressalta, e ambos direcionam a ele um olhar culpado.

– Nada demais, moleque. Só uns golpes de Muay Thai. Nosso filho lutador estava com saudades de treinar comigo. - Karina responde sorrindo de lado, não perdendo a oportunidade de alfinetar o marido.

– A senhora sabe muito bem que não está mais em condições de treinar. Pelo amor de Deus, Karina, tenho que lembrar o que aconteceu quando você quis fazer isso grávida da Laura? – Pedro pergunta, enquanto deposita a bandeja com os copos em cima da cama e se senta de frente para a mulher. Laura aproveita a deixa para subir no colo do pai.

– Você não precisa me lembrar de nada, minha memória é muito boa, obrigada! – Diz Karina, se sentando novamente na cama e se dirigindo ao primogênito – Desculpa filho, eu avisei que o chato do seu pai ia implicar... E se a gente fosse almoçar na casa do Vô Gael e da Dandara? E depois do almoço podemos ir para a academia, tenho certeza que o vovô não vai se recusar a treinar com você. Assim como tenho certeza que os folgados dos seus tios vão estar almoçando lá também, então a Laurinha pode brincar com a Lívia.

– Pode crer, o João e a Bianca não recusam nunca a comida de domingo da Tia Dandara. Quem recusaria? – Pedro concorda com a mulher, já esquecendo a pequena discussão anterior.

– Tá, pode ser. Mas você promete que pelo menos fica me assistindo, mãe? E me dando umas dicas? O vô sempre vem com aquelas frases que eu nunca entendo o que quer dizer... – O menino pergunta confuso, arrancando risos dos pais.

De repente, Pedro faz uma cara de mau e se levanta da cama, encurvando os braços e estufando o peito para frente.

– Ah Rodrigo, quer me enganar me dá jujuba. – Fala em uma voz grossa. Logo depois, rindo da própria piada, olha para o trio sentado na cama. Surpreende-se ao receber de volta três olhares confusos...

– Papai, você comprou jujuba? – Laurinha pergunta, arrancando a chupeta da boca e mostrando um sorriso cheio de dentes, os olhos azuis já brilhando em expectativa.

– Caramba gente, não deu pra perceber que eu era o mestre Cruel? – Pedro pergunta, derrotado, voltando a se sentar na cama.

– Como você é tonto, guitarrista. Acho que está precisando voltar para as aulas de teatro da Ribalta. Não ficou muito convincente... Bom, voltando à sua pergunta, filho... Claro que vou te assistir. Você sabe o quanto eu adoro ver você lutar. Mas agora podemos comer? Estamos cheias de fome, eu e essa pequena aqui dentro. – Karina responde, já se servindo de um sanduíche e entregando um para cada criança. De repente, se pega agradecendo internamente pela vida que leva. Agradece inclusive por todas as dificuldades e loucuras que ela e Pedro passaram até chegar onde estão hoje. O início do relacionamento, a descoberta do acordo dele com Bianca, o drama familiar envolvendo sua paternidade. Apesar de todo sofrimento vivido naquela época, sabe que se tivesse sido diferente, talvez hoje ela não estivesse ali, rodeada por esse amor sem limites. Pertencia à Pedro, assim como sabia que ele a pertencia. Sentia isso a cada dia, a cada olhar, a cada toque. E talvez se Bianca não tivesse aceitado aquela ideia idiota, eles nunca tivessem descoberto que foram feitos um para o outro.

É desviada de seus pensamentos por um grito de Rodrigo, que reclama quando a irmã mais nova pula sobre ele e o beija, o deixando todo melecado de requeijão. Olha para Pedro e sorri, recebendo seu sorriso preferido de volta. Ele abre os braços, em um convite mudo. Ela engatinha na cama em sua direção, encostando suas costas contra o peito dele, enquanto sente seus braços envolverem sua cintura e acariciarem sua barriga. Ele beija sua cabeça, aspirando o cheiro de seus cabelos. E ela se deixa envolver nessa sensação, que só consegue descrever como “a melhor do mundo.”

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