Zeenon dirigiu-se à sala de estar e, jogou-se no Divã roxo, curioso para saber o que Andy tinha a dizer. Depois tinha que perguntar a Loki como conseguira tirar novas informações de Andy. Talvez já soubesse. Loki e seus métodos de manipulação: aqueles olhos dourados e a língua afiado do feiticeiro não deixavam ninguém escapa. Era sua especialidade. Tinha sorte em possuir a companhia daquele homem tão habilidoso, realmente, era um servo completo.

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O rei sentiu a aura do seu servo novamente, logo ele apareceu na sala de estar, acompanhado por Andy, este estava limpo, já não mais vestia roupas reais. Parecia bem, mas a expressão do seu rosto denunciavam certa tristeza.

Andy se aproximou, vindo logo atrás de Loki. A cabeça baixa, o corpo curvado, como se carregasse um peso nas costas.

O feiticeiro parou e olhou-o, como se desse permissão para que ele falasse.

Encolhido, murmurou,

– Boa tarde, Senhor Zeenon. Espero que o que eu tenho a dizer sirva para algo.

– Vamos... Estou esperando. – o rei cruzou os braços, encarou os olhos negros do rapaz.

– Primeiramente, peço-lhe desculpas por tudo que fiz. Saiba que eu não mataria o garoto, apenas ia leva-lo ao castelo. – Ele parou por um instante e ergueu a cabeça, tentando se recuperar.

Arfou, decidido a dizer a última informação que ainda guardava sobre Simun.

– Eu sei onde fica... A “Toca” do Simun.

Aquela noticia soou como melodia aos ouvidos do rei. A toca de um feiticeiro humano era o lugar onde, geralmente, ele guardava todos os seus projetos, feitiços e faziam seus rituais. Muitos humanos eram feiticeiros e escondiam suas atividades da sociedade, lugares isolados e distantes eram perfeitos para "tocas". Era a morada de todo o poder que tinha.

– Onde? Diga!

– Certa vez eu levei até lá algumas poções... Fica na West Forest, em uma caverna. – abaixou a cabeça novamente e suspirou, sentia-se aliviado. – Ele até mesmo me ameaçou se eu revelasse a alguém... Mas, agora não tenho mais nada a perder mesmo.

– Obrigado, Andy.

Primeiramente, Loki franziu o cenho, estranhando as últimas palavras do seu mestre, porém, logo depois sorriu, impressionado com o gesto do rei... “É.... Ele mudou mesmo.” pensou.

– O que fez você vir me pedir desculpas e colaborar assim? – indagou o guardião, curioso.

Andy apertou os olhos, como se estivesse lembrando-se de algo doloroso. Baixou a cabeça, prestes a chorar.

– O Loki me falou algo sobre o Simun que... – olhou o feiticeiro, sem conseguir continuar.

Vendo o desespero do rapaz, Loki deu continuidade a fala dele,

– Eu contei sobre a desapropriação que vi no reino. Simun reformou os orfanatos, mas não foi para ajuda-los... Andy pensou que foi por causa do pedido que fez, porém... Era apenas para abrigar os soldados dos outros reinos. Depois vou investigar o que eles fizeram com as crianças, talvez Heimdall já saiba.

– Durante esses últimos dias, não tive como visitá-los. Eu tinha muita fé em Simun. Era minha casa... Minha família... – segurava-se para não chorar, sentia uma desolação por dentro.

– Não entendo... A cidade tem tanto espaço. – disse Zeenon, intrigado.

– Simun tem alianças, como o senhor deve saber. Os outros reinos ajudam indiretamente. Chegaram muitos soldados... Temos espaço, sim... Mas, os orfanatos são do reino, ele pode fazer o que quiser. – completou o rapaz, esforçando-se para falar;

Zeenon olhou o rapaz, sentindo-se piedoso por ele. Era vítima, assim como todos os cidadãos que acreditavam em Simun como um homem íntegro.

– Como você se tornou o “cão” dele? – indagou o rei.

– Assim que completei dezoito anos, pude sair e me alistar no exército. Sempre me destaquei por lá, e Simun me escolheu para ser o guardião fiel dele. – murmurou.

– Bom... Agora você sabe a raça a qual ele pertence. Sinto que agora poderia soltar-lhe .... Mas...

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O guardião coçou a testa cogitando deixar Andy livre, porém sabia que o rapaz poderia morrer ao saberem da sua traição e tê-lo ali do seu lado poderia ser uma boa opção.

– O que o Senhor fará comigo? – perguntou, ansioso.

Seu destino estava nas mãos do homem que tanto temia antes.

– Se você voltar pode acabar morto pelo Simun... Caso queira sobreviver, terá de se esconder.

– Eu poderia continuar ajudando. Posso ser útil em mais alguma coisa. – Andy encolheu os ombros, esperançoso para receber a proteção do rei.

– Tem certeza? – perguntou o ruivo

– Claro. Posso levá-lo até a toca. Poupará esforços a você, Loki.

Depois de ponderar por alguns instantes a proposta de Andy, Zeenon se levantou já decidido.

– Você poderá ajudar o Loki. Se por acaso nos trair, saiba que o Vale dos dragões te receberá muito bem. – sorriu para seu servo, que respondeu da mesma forma.

– Vale dos Dragões? Que Lugar é esse...? ­ – os olhos do rapaz brilharam, de susto.

Imaginou como deveria ser aquele lugar e tremeu somente em pensar. Loki aproximou-se do homem, e apertou os seus ombros, aplicando força.

– É um lugar adorável. Temos os mais belos dragões por lá. – ironizou.

– Dragões? Como aquele que apareceu no castelo há alguns meses?

Lembrou-se da criatura enorme que sobrevoou o castelo no começo do outono. Viu apenas umas das asas do bicho, porém um arrepio subiu dos pés à cabeça. Aquilo poderia fazer muito estrago na cidade.

– Isso!

Zeenon gargalhou, também recordando-se do episódio.

– Ele quase fez alguns soldados desistirem de lutar, mas Simun assegurou que com poderosas armas e canhões ele facilmente seria derrotado.

– Aquele ali era eu. Quis dar um aviso ao seu rei.

– Era o Senhor? Nossa... Era enorme. Todos tremeram de medo, até mesmo o Simun, porém este apenas eu vi a reação. – sorriu, ao pensar no rosto assustado do rei – Nessa época ele cogitava aparecer para os senhores... Depois desistiu.

Naquele dia, Simun estava a planejar algumas estratégias de ofensivas. Quando, como um grande terremoto, sentiu o chão do seu castelo balançar. Andy estava ao seu lado, e pela janela do aposento onde estavam, viram a asa do grande Dragão passar perto da torre. Na mesma hora, desistiu de reunir-se com os guardiões.

– Como é? Sente-se aqui. – Zeenon sentou-se no divã, e fez um sinal para eles o acompanharem.

– Por que acha que ele nunca quis se reunir com o Senhor e o Mestre Heimdall? Ele sente medo! Usa o exército como um escudo. Quando rolaram os primeiros rumores sobre as invasões, foi uma informação vazada. Queria manter segredo para agir debaixo dos panos.

– Certa vez eu o encontrei na Floresta próxima à Vistorius. Tudo o que fez foi pegar o seu cavalo e fugir, sem dizer uma palavra.

– Simun é apenas um covarde. – disse Loki, debochado.

Andy começou a sentir-se mais confortável ali. Os dois não pareciam mais grandes ameaças. Recebiam-no bem e, agora, conversavam tranquilamente, apesar das ameaças – o rapaz estava certo do que queria fazer. Agiria em prol deles, mesmo sem saber do que o futuro lhe reservava. Como disse antes, não tinha nada a perder mesmo.

– Ele anda saindo durante a noite... Mais especificamente em noites de lua cheia. Deve ser para fazer os rituais...

Ficava em seu quarto, nos fundos do castelo e, pela janela, sempre via as vezes um homem sair com sua capa negra e um livro vermelho estampado. Após alguns dias de observação conseguiu ver o rosto: era Simun, escondido, quase irreconhecível; camuflava-se de tal jeito que quase nenhum súdito o reconhecia. Ia tranquilamente para a West Forest.

– Loki, eu estava maquinando algumas coisas antes de você chegar, mas acho que eu mudarei um pouco os meus planos. – Ele olhou para Andy e ordenou – Leve-o até a toca e você Loki tente descobrir qual é o “Grande Projeto”.

– Sim, senhor. – responderam, uníssono.

– Temo que esteja tentando usar um feitiço oculto, se usado em grande potencial pode causar um bom estrago.

Presumindo qual feitiço era, o feiticeiro, com seu olhar impassível de sempre, afirmou:

– Impossível. O único livro que contém esse feitiço está aqui. Na sessão norte da sua biblioteca...

– Não, Loki. Havia outro exemplar... Eu o perdi certa vez. – respondeu, arrependimento pairava em sua voz.

– Qual é? – disse Andy, intrigado.

– O mais poderoso magia já criado por um humano...Hakai. Por nunca conseguirem manipular a magia dos guardiões, que possuem aura, da energia do cosmos, eles sempre tentaram fazer suas próprias magias e feitiço, com elementos da natureza. “Maho”, substratos do mundo humano. Possuem uma quantidade mínima de magia, eles a manipulam.

Loki explicava aquilo com muita autoridade na voz, pesquisava muito sobre os feiticeiros.

– Ah... Já ouvi falar sobre isso. Eles usam-na como fonte de magia, não é?

– Sim, em seus rituais eles criam novos feitiços, com Maho, e a usam para ativá-los. Como é uma quantidade pequena, são feitiços pífios perto de nós, os quais temos a aura em nosso corpo.

– O que tem o Hakai? – perguntou Andy, ainda curioso.

– Em um certo ritual, eles criaram o Hakai, concebido através de magia de Maho. Parecia simples, porém descobriu-se que esse pode ser aperfeiçoado no mesmo ritual, usando a energia da lua cheia. Armazenando estas energias em um receptáculo e depois é só.... Ativar.

Andy olhou-os, sem entender muito bem a explicação. Não sabia quase nada de magia humana, achava tudo muito complicado. Até viu alguns rituais em pilhas de papeis na caverna de Simun, mas continuava ignorante em relaçao a isso.

Vendo a confusão no olhar do rapaz, Zeenon brincou,

– Dá para ver que entendeu tudo. – sorriu.

– Vou simplificar: toda noite ele deveria fazer o mesmo ritual para conceber o feitiço, porém, na verdade, está a armazenar energia tanto da lua, quanto da maho utilizada. Combinados, criam um feitiço poderoso. Demora um pouco para fazer. Ela tem um grande poder destrutivo, por isso o senhor Zeenon escondeu o livro com os passos do ritual aqui.

Andy levantou as sobrancelhas, agora compreendendo o processo.

– Ah, sim!

– Porém, eu falhei no outro exemplar.

Assim que descobriu a criação daquela magia, Zeenon correu atrás dos exemplares e conseguiu os dois. Entretanto, perdeu um deles em uma viagem. Acredita até que fora roubado.

– Como era esse exemplar, Senhor? – indagou Andy.

– Uma capa vermelha, ornamentos dourados nas bordas. No meio da capa tinha um olho com íris negra.

– Ah! O livro que ele levava parecia assim – Lembrou-se da capa do livro, companheiro de Simun em todos os “passeios noturnos”.

– Como será que ele conseguiu isso? – Zeenon levantou-se, preocupado – Vocês devem agir rápido, se possível, consigam esse livro.

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– Sim, Senhor. – Os dois levantaram-se, balançando a cabeça afirmativos.

– Loki pegue algum armamento na câmara subterrânea e equipe o Andy. Aquelas que não precisam de muito uso de magia.

– Tudo bem, Mestre. – Loki virou-se para Andy – Vamos, devemos nos apressar.

Os dois curvaram-se fazendo honras ao rei e saíram rápidos como um raio, para executarem as ordens do rei.

Zeenon nunca pensou na possibilidade do Simun querer usar esta magia, mas agora estava tudo claro. “Aumentar o potencial da melhor magia humana, durante a lua cheia. Perfeito.” pensava. A Lua cheia, sempre linda e exibida no céu noturno, também possuía seus mistérios. Tanto humanos quanto os guardiões conseguiam aumentar a sua magia durante a sua curta estada no céu, pois o disco lunar está completo, há maior luminosidade e, portanto, mais quantidade de sua energia é enviada para a Terra. Durante o perigeu, época em que o astro lunar está bem próximo à Terra, as quantidades de energia enviadas são ainda mais intensas.

Todos os pensamentos do rei voltaram-se para Heimdall, poderia ser perigoso para ele. Seguiu para a escadaria do castelo, um pouco transtornado, imaginando os tamanhos estragos que a magia poderia causar.“Hakai” não chegava muito perto de “Invocação das Sombras”, mas poderia ser de boa ajuda para Simun.

Quando chegou ao seu quarto, viu Mark e Link sentados em sua cama cor violeta, cochichando um com o outro, sentiu a falta de Freyr. O rei andou até os garotos e sentou-se na cama,

– As roupas ficaram boas?

– Ele ainda está experimentando, mas as primeiras couberam perfeitamente.

A porta do “quarto armário” abriu-se lentamente, Freyr saiu de lá um pouco envergonhado, dizendo:

– Isso é um pijama, não é?

Olhava o seu corpo, coberto por uma blusa justa de algodão, manga longa e um short até os joelhos, deixando um pouco das suas pernas a mostra. As roupas tinham um tom creme, combinando com a cor da pele do garoto.

– Adorei! Ficou muito bem em você!

Mark abriu um sorriso satisfeito, sabia que tinha escolhido as roupas perfeitamente.

– Lindo demais... – sussurrou o rei, olhou-o de cima a baixo, admirando o corpo do garoto.

Mark e Link puseram-se a rir das palavras de Zeenon, deixando Freyr mais vermelho do que um tomate. O jovem se encolheu, pensando estar tão ridículo a ponto de fazê-los rir.

– Ficou feio, não é? – murmurou.

– Não, Freyr... É que meu pai parece babar aqui...

– O que? Não, não, só achei lindo. Está muito bonito, Freyr. – balançou a cabeça, como se estivesse se desculpando por causar embaraço ao jovem.

– Ah sim..Vou experimentar a outra... – voltou-se ao compartimento, para vestir outro traje.

Link encostou a cabeça no ombro do pai e ainda rindo, disse:

– Não quero saber o que acontecerá ao Freyr hoje à noite. – disse, divertindo-se.

– Coitadinho...– completou Mark.

– Psiu! Calem-se.

De repente, Zeenon sentiu a poderosa aura de Heimdall aproximar-se do castelo. Agora, Zeenon podia sentir a aura do seu irmão bem mais do que antes, quando estava cego pelo ódio. Realmente eles estavam mais próximos, bem perto de uma união genuína, sem manchas.

Freyr apareceu trajando uma nova roupa, agora era um pijama longo de seda branca. Ele encolheu o corpo e aqueceu os seus braços.

– Esse não é muito bom para o Frio.

– Mas o outro não deixava suas pernas descobertas? – indagou Mark, coçando o queixo.

– Não sinto muito frio nas pernas... Não sei por que.

– É bom para usar em estações mais frescas. Seda é um tecido muito delicado. – Zeenon levantou-se, pronto para ir receber o seu irmão.

Uma batidinha fraca surgiu detrás da porta, provavelmente era uma das criadas.

– Pode entrar. – disse o dono do quarto.

Siffy entrou, discreta.

– Mestre, o Senhor Heimdall está o esperando na sala.

– Tudo bem, Siffy. Já desço.

A moça saiu e Freyr perguntou-se como conseguiam distingui-las. O rei foi logo depois, estava ansioso para contar as novidades a Heimdall

Assim que Zeenon saiu, o jovem, e curioso, perguntou aos garotos:

– Como ele consegue distinguir cada uma delas? São idênticas...

– Freyr.... Não percebeu que cada uma tem um broche decorado com uma pedra? – Disse Link, deitando-se de bruços na cama.

– Sim...

– Então... A pedra da Siffy é azul, da Brumma é Vermelha, da Hell é roxa e da Frigg é Rosa. Meu pai as presenteou quando elas se ofereceram para serem suas criadas.

– Vou tentar me lembrar disso.

E, então voltou ao quarto armário, para fazer a última troca de roupa.

Sentado no sofá negro da grande sala de estar do castelo, esperando pacientemente a chegada de Zeenon, Heimdall sentia certo aperto no peito, como se algo ruim estivesse para acontecer. Sua intuição não era falha, sempre conseguia captar vibrações estranhas. Veio até o castelo de Zeenon para saber se havia alguma novidade e também, dizer a ele o quanto estava ansioso. Não era normal ficar assim durante batalhas, sempre preservava a tranquilidade, porém aquilo era urgente demais. Ouviu alguns protestos por sair sozinho, entretanto precisava ir. Saiu do Endymion, deixando os súditos sobre a proteção de uma forte barreira mágica, Hikari, a qual os protegeria de qualquer tipo de ataque de magia dentro do reino da luz. Sabia o quanto eles eram obedientes, então não sairiam dali.

Finalmente, o irmão chegou e cumprimentou-o com um beijo na testa. Zeenon sentou ao seu lado, apertando as duas mãos do rei da luz. Pode sentir que o guardião da luz não estava muito bem, a aparência calma de sempre, parecia aflita. E a aura emanava inquietação.

– Tenho algumas coisas importantes para te passar, meu irmão.

– Você descobriu mais alguma coisa? – Disse Heimdall, afoito.

– Andy quis se voltar para o nosso lado. Descobriu que os orfanatos foram desapropriados para abrigar novos soldados.

– Soube disso hoje, infelizmente. – baixou as pálpebras, triste – como estava ocupado nos planos e questões do reino... Não tive tempo de ir à cidade.

– O que houve às crianças? – indagou Zeenon.

– Estão sob a proteção de anciões da cidade. – afirmou, categórico.

– Pois... Ele revelou onde fica a toca de Simun. E... Parece que Simun está tentando usar o “Hakai”. Andy falou algumas coisas sobre saídas à lua cheia e o livro que continha a magia...

– Mas... Como pode? A “Hakai” se usada em grande potencial... – Sua voz tinha um tom assustado. Aquilo era mais ousado do que podia imaginar.

Heimdall começou a entender a sua aflição. Talvez, previsse isso.

– Sim... Pode ser um pouco perigosa, como já foi usada em guerras entre reinos dessa região, antes de eu pegar os livros.

– Alertei às minhas criaturas para ficarem apenas na nossa região, pois coloquei a Hikari sobre todo o perímetro do reino, o encantamento dela é inabalável. Somente se eles me desobedecerem... Mas é muito difícil.

– A Hikari é eficiente. Fez bem. Nem eu consegui passá-la.

Zeenon segurou a cabeça de Heimdall usando ambas as mãos e olhou fundo em suas esferas prateadas, deveria protegê-lo a todo custo. Era um dever que tinha que cumprir.

– Sua magia de luz é vulnerável a humanos, sua fraqueza. Você fez suas manobras com cautela, tudo para não machucá-los. Mas eles insistem em te ferir, em te ver fraco. Por todo esse tempo fiquei quieto, para não causar grandes estragos a eles, por causa do teu amor, Heimdall. Agora, eu não posso ficar parado. Para acabar logo com isso e não prejudicar os súditos eu penso em...

– Matá-lo. Não é? – baixou os olhos.

– Provavelmente, sim. Esse tempo de calmaria se foi.. Já chega. Ele agiu por debaixo dos panos e eu fui idiota por não perceber logo. Quero fazer isso antes mesmo dele ter tempo de agir. – soltou o rosto de Heimdall e agarrou suas mãos novamente.

– E se for tarde demais? – murmurou, sem esconder a aflição que sentia.

– Como assim? Está com medo, meu irmão?

– Não podíamos agir antes... Não sabíamos quais eram os verdadeiros planos dele, agora sabemos que é muito mais do nosso território. Ele é humano, mas é bem esperto. Não sinto algo bom vindo dessa situação... – pôs a mão no peito, sentia-se sufocado.

Forte, e com a aura bastante estável, Heimdall poderia muito bem derrotar Simun em uma primeira investida. Entretanto, seus sentimentos pelos humanos eram muito intensos, não conseguiria fazer um “massacre”. Zeenon não entendia o medo do seu irmão.

– Que isso...Você é o guardião da luz. Sua magia, assim como a minha, é muito mais poderosa do que qualquer exército humano. Você sabe disso. – o rei sombrio acariciou o rosto do rei, tentando aliviá-lo. Não tinha sentido ele ter algum tipo de medo. – Só estou agindo assim para acabar logo com tudo isso e parar essa tua angústia em relação às criaturas de luz, que são bem vulneráveis a eles.

– É contra meus princípios machucá-los. Devo apenas protegê-los. – disse, quase entre lágrimas.

Heimdall seguia seu ideal até o fim. Alguns humanos queriam a todo custo o seu poder, mas ele sabia que diversas almas o amavam e respeitavam como seu próprio rei.

– Eu sei... Estou tentando seguir tua lógica, mas nunca vou conseguir.

Poderia ajuda-lo e tentaria não causar muitos danos aos humanos, porém nunca os amaria como Heimdall.

Ainda rodeado de aflição, o rei da luz baixou a cabeça e agarrou a mão de Zeenon, apertando-a. Tentava pensar positivamente, seu irmão estava ali consigo, nada de ruim poderia acontecer, era o que queria acreditar. Tinha o amor dele novamente, o recomeço de uma relação manchada pelo ódio. Algumas lágrimas rolaram pelo rosto e não entendeu o porquê de tanto medo. Pendeu a cabeça para o lado, sentindo fortes vertigens. Heimdall começou a arfar e arqueou o corpo, pondo a mão em seu peito, a dor era forte demais.

Zeenon percebeu a dor do irmão, e o acudiu, segurando-o em seus braços. A aura dele enfraquecia, cada vez mais.

– Heimdall, Heimdall! Levante! – gritou, tentando reanimá-lo.

Os brilhos dos seus cabelos prateados esmoreceram subitamente. As auras divergentes, quase se apagaram. Os gêmeos escolhidos agora se mantinham unidos.

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Na West Forest, Loki e Andy estavam sobre o dorso da grande pantera negra Ying, uma grande companheira de batalhas. Habilidosa, ela atravessava a floresta de pinheiros cobertos pela neve. Andy indicava as coordenadas e eles seguiam rumo uma grande montanha, próxima a floresta. Sem muitas dificuldades, a pantera subiu a montanha, até que encontraram o ponto da caverna.

Loki desceu e analisou o lugar.

– Você disse que era na floresta. – Encarou-o, desconfiado.

– Mas essa montanha é próxima, então vale. Dá-me um pouco de confiança. – Ele deu de ombros, encarando os olhos dourados do feiticeiro.

– Então, onde é o lugar?

– Ali – apontou uma abertura à sua frente.

– Tudo bem. Ying levante-se e fique de guarda.

No mesmo instante a pantera ficou de pé, atenta ao seu serviço. Os olhos vermelhos da criatura, assim que se depararam com Andy, afoguearam-se. Ela mostrou as presas por alguns instantes para o rapaz, não gostava nem um pouco de sua presença ali. Andy, lentamente, afastou-se para perto de Loki, medroso.

– Por que ela é assim? Não fiz nada de errado. – Seus olhos negros encaravam a fera que revidava com suas presas.

– Criaturas das trevas não gostam de humanos. Ying com certeza não quer ficar por aqui. Ela só deixou você subir porque eu pedi. Ao contrário das criaturas de luz, que sempre estão perto desses humanos desgraçados. – passou a mão em seus cabelos tirando os flocos de neve.

– Não fale assim.... Vamos logo! – disse, afobado.

Andy puxou o braço de Loki, mas o belo homem de cabelos de fogo se conteve.

– É melhor eu ir sozinho, Andy.

– Como você vai entrar lá? Tem várias portas com trancas enormes. Você não vai conseguir.

Andy sabia que o feiticeiro era poderoso, mas pensava que Simun pusera algum tipo de magia por ali.

– Você acha que não?

Desafiador, Loki deixou escapar um sorriso malicioso e apertou os olhos. Possuía táticas e usaria todas elas, se possível.

– Quero só ver isso. – cruzou os braços.

Foram em direção à caverna e andaram por um longo corredor iluminado por tochas, até que Andy avistou uma porta de madeira coberta de correntes e cadeados.

– Você vai arrombar? – virou-se para ele, curioso.

– Não. ­– disse, seco.

Loki chegou-se mais perto da porta, e passou a mão por suas correntes. Concentrando-se, tentou visualizar o ambiente por trás dela. Poucos segundo depois, ele abriu os olhos, suspirou e disse,

– Nada... Mas... – cerrou os olhos, pensando estar enganado.

– Como você fez isso? – indagou, intrigado.

– Minhas sombras conseguem ultrapassar qualquer coisa. Uma magia concedida a mim pelo senhor Zeenon. Chama-se “Kage’sin”. Minhas sombras absorvem tudo e depois me transmitem informações... – disse, orgulhoso por merecer a confiança do seu mestre.

– Então foi assim que você conseguiu invadir o castelo? – Agora ele sabia o método usado pelo belo feiticeiro.

– Eu entrava e me escondia, então conseguia que minhas sombras rondassem tudo por lá. – Ele olhou novamente para a porta e pensou por alguns instantes. – Talvez devêssemos entrar...

Ondas sonoras intensas invadiram o ambiente, um forte estrondo vinha do lado de fora da caverna, parecia que haviam instalado várias bombas ali e estourando-as todas ao mesmo tempo. Andy e Loki sentiram a montanha tremer levemente, assustando-os.

– O que foi isso? Será que tem armadilhas aqui? – disse Andy, tremendo.

O ex-soldado real olhava para todos os lados, tentava disfarçar, mas estava com medo.

– Isso veio de longe. – Loki sentiu as vibrações de magia no ambiente, vinha de algum ponto das florestas.

Loki virou-se e correu de volta para a entrada da caverna. Andy seguiu atrás dele morrendo de medo por ficar sozinho e desprotegido naquele local. Quando o alcançou, o feiticeiro estava estático olhando para a direção norte. Não muito longe dali, via-se uma enorme nuvem de poeira sobre o local.

– O que será aquilo ali... Será que o...

– Simun! Desgraçado! – a voz do ruivo soou com um rosnado.

Loki chutou a neve sobre os seus pés, era tarde demais. O outro o observava, logo entendeu o que havia acontecido, não adiantava mais se irritar. O feiticeiro correu até a Ying, a qual estava agitada com o barulho, ele subiu no dorso da pantera e gritou,

– Vamos Andy, preciso contatar o Senhor Zeenon! Rápido!!

Sem pensar em mais nada, Andy correu e subiu na grande pantera e, esta correu, rápida, descendo montanha. Enquanto cortavam a floresta, Loki pensou em ir pelas proximidades do reino de luz, queria saber a situação por lá. Ordenou Ying e logo a pantera cortou o caminho pela floresta do norte. Não conseguiram ver muita coisa, já que não podiam ficar às vistas, porém o ruivo pode constatar a gravidade da situação. Passaram próximo a um grande campo, e instalaram-se entre arbustos. As criaturas amontoadas e caídas sobre a neve, em uma situação desesperadora. Estavam cercadas de soldados e, no meio destes, Simun – triunfante. Todos estavam extremamente quietos a observarem o seu rei.

Ele levantou as mãos e, Loki sentiu as vibrações de magia por perto, não muito fortes, mas previu que Simun preparava-se para usar algum feitiço. Andy ficou quieto, sem dizer uma única palavra. Observava o homem que o traiu, com rancor, sentia uma vontade enorme de espanca-lo até a morte. Controlou-se para não estragar a observação.

De repente, o feiticeiro viu dois soldados cochicharem um com o outro e viraram-se para trás. Rápidos, jogaram-se de volta para o caminho do castelo. Loki nada podia fazer no momento, diria tudo a seu mestre e talvez até poderiam agir em conjunto a alguns feiticeiros de Inshtarheim, se estes aceitassem proteger as criaturas de luz.

Não tinha nenhum medo de tudo aquilo, sabia o quanto eram fortes...Inabaláveis.

Tinha absoluta certeza que a situação logo estaria resolvida.