A aula de segunda não podia ser mais parada. Alice parecia ser a única que não estava de mal com Alex. E ele nem sabia o porquê disso.

No fim da aula, disse para Liz ir sozinha para casa e foi atrás de Jules. Tinha seu plano todo na cabeça: Segunda ele tinha treino, por isso não iria pra casa, então provavelmente estava se arrumando. Iria embosca-lo ali e pedir uma explicação coerente.

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Encontrou ele em frente de seu armário – Bingo! - guardando seus livros e pegando as roupas de educação física.

– Jules. - Alex chamou. - Qual foi daquela ceninha sexta? Você não precisava ter feito aquilo.

Alex mordeu o lábio, segurando tudo o que queria dizer. Precisava ser paciente, pois não queria magoar Jules, afinal ele deve ter tido um motivo pra agir daquela forma. E era isso que precisava descobrir.

Respirou fundo.

– Olha, eu só quero entender o porquê da sua atitude...

– Alex – Jules o interrompeu- eu não quero falar sobre isso, tá bom? A única coisa que você precisa saber é que o Colin e eu não nos damos bem. E se você quiser ser meu amigo, terá que se afastar dele. – Fechou o armário e começou a virar para ir embora. Alex o segurou de leve pela camiseta, não deixaria a situação como estava.

– Eu não vou me afastar dele! Ele é uma ótima pessoa, como você. Mas eu quero saber o que está acontecendo de verdade!

– Alex, não insista. Eu preciso ir - ele tentou se soltar.

– PARA DE ME ENROLAR! - gritou Alex, fazendo Jules o olhar assustado. - Se você não confia em mim o suficiente pra contar, fale claramente. Não fique me evitando. E Colin só falara daquilo porque eu insisti, então... - a voz do garoto falhou e algo molhado escorreu pelas suas bochechas.

“Ah, droga. Por que estou chorando? Que idiota.”

– Então - Alex tentou continuar apesar do bolo que se formara em sua garganta. – Não desconte nos meus amigos e só confie um pouco mais em mim.

Dissera a ultima parte tão baixinho que Jules mal conseguira ouvir direito.

Alex não conseguia olhar para os olhos cinzentos do outro, que provavelmente estavam o encarando. Era vergonhoso demais chorar na frente dele e ainda mais por um motivo tão bobo! Queria sair correndo. Então, sentiu um perfume amadeirado o envolver e braços abraçarem seu corpo. Jules o abraçara!

– Eu realmente quero te contar, mas é uma parte da minha vida tão obscura... Não tenho coragem pra contar isso para ninguém. Além do que, tenho medo... - o garoto suspirou e completou em seguida - tenho medo de perder sua amizade, Alex.

Alex ficou um momento em silencio e depois fez a coisa mais "máscula" que já fizera em toda a sua vida: abriu o berreiro.

As lágrimas começaram a escorrer com mais força e os soluços balançavam o garoto. Jules não se afastou até os soluços - leia-se quase convulsões - parassem completamente.

– Bom - disse Jules ao se soltar de Alex - agora estou um pouco atrasado.

Ele riu e Alex começou a se dar conta da situação. Sua vergonha atingiu níveis nunca alcançados pela humanidade

– Nos falamos mais tarde. E sobre o Colin...- fez uma pequena pausa - eu peço desculpas. Foi errado da minha parte fazer aquilo.

Com isso, despediu-se e foi para o treino.

Alex ficou parado por um tempo e depois foi para o banheiro. Jogou um pouco de água em sua face; uma tentativa de evitar que ele entrasse em combustão.

Talvez o moreno estivesse distraído demais em seu caminho para o banheiro para perceber um garoto loiro encostado nas sombras do armário, que ouvira toda a discussão.

...***...****....***...***...***...***...***...***...

Na manhã seguinte, Alex acordou motivado: Iria conversar com Colin. O único problema era que teria que chegar a escola para isso e seu despertador não tocou. Quando acordou, faltavam 20 pra aula começar.

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– MERDA - Praguejou Alex, enquanto corria e comia uma torrada ao mesmo tempo.

Chegou na estação a tempo de pegar o ultimo trem, que estava tão lotado que teve de se espremer entre as axilas fedidas de dois caras peludos. Correu para a escola tão rápido que seus pés deviam ter virado gelatina, quando avistou o portão da escola. Trancado.

Se quisesse chegar nas primeiras aulas, sua única opção seria escalar. Alex xingou alguns nomes piores que merda enquanto jogava sua mochila pra dentro do pátio. Subiu sem jeito pelo portão e pulou, pousando de quatro e ralando seu pulso. Juntou sua mochila e se apoiou no portão, cansado pela corrida e por ter tido que escalar o portão de ferro de quase 2 metros. Gotas de suor brilhavam na sua testa. O portão rangeu e se mexeu um pouco com o peso, abrindo o suficiente para que uma pessoa do tamanho de Alex pudesse passar. A tranca estava com defeito e o garoto não percebera.

– Sério?

A aula já havia começado e quando chegou recebeu o olhar irritado da professora de química. Sorriu sem graça e sentou-se em seu lugar, murmurando um pedido de desculpas. Com sorte, aquela velha não o chamaria para conversar após a aula.

Jules e Alice o olharam com interrogações no olhar.

– Meu despertador resolveu dormir mais 20 min e não tocou - sussurrou baixinho pros dois. Talvez não baixinho o suficiente, já que a professora virou-se em sua direção.

– Sr. Alexander, o senhor parece interessado em contribuir para a aula. Gostaria de falar a resposta da questão que está no quadro?- seu olhar para o garoto era ácido.

Alex se sobressaltou e virou lentamente para o quadro. As palavras escritas eram como grego para ele. O suor de antes, já seco em sua testa, voltou frio.

– Hm, eu acho que é....- ele olhou ao redor, na esperança de algum colega soprar a resposta, mas ninguém queria ser repreendido pela professora. "Droga, mais isso agora." Se preparou para bronca que receberia.

– E-eu n....

– A resposta é a letra C, professora. - falou uma voz, interrompendo Alex.

– Está certo, Sr. Jules, mas da próxima vez só responda se for chamado. - falou a professora de química, visivelmente irritada.

Alex olhou para o garoto ao seu lado. Seu coração palpitava e a sua mente ecoava pensamentos do tipo: "ele me protegeu". Falou um obrigado silencioso que Jules retribuo com um sorriso. O estomago de Alex pareceu dobrar-se ao meio, enquanto um leve rubor surgia em suas bochechas. “Urgh, por que tão adorável?”

...***....****....***...***...***...***

A aula acabou. Durante os intervalos, Colin evitara falar com ele o máximo possível. Agora era sua chance e....

– Senhor Alexander Miller, por favor compareça a sala dos professores. - a voz no alto falante soou ácida como a da professora de química.

–Ótimo - murmurou Alex.

Foi à sala o mais rápido que conseguia andar sem chamar a atenção dos monitores. Bateu de leve na porta e entrou.

A sala dos professores era como um escritório bagunçado. Haviam várias escrivaninhas, separadas por divisórias para cada professor ter sua "privacidade". Na maioria das mesas, havia uma bagunça de papeis e livros, com anotações do que seriam as próximas aulas. Na parede, haviam quadros de horário e datas das próximas provas, além de uma estante caindo aos pedaços com livros empoeirados.

A professora de química estava sentada na mesa dela de modo superior, e quando viu Alex, o chamou.

– Puxe uma cadeira e sente-se, Alexander.

Falou e falou, chamou-lhe a atenção e pediu para explicar o motivo do atraso. Depois do interrogatório e de mais algumas broncas, ela o liberou.

O corredor estava vazio. Os alunos haviam ido para casa ou para seus clubes. Alex olhou no relógio. Era possível que Colin já tivesse ido para casa. Correu para a sala. Estava cansado de correr, mesmo assim não queria desistir do que decidira fazer.

Quando abriu a porta, suas mãos tremiam de nervosismo. E se ele não estivesse ali? E se nunca mais conversassem? Mas o universo parecia, pela primeira vez naquele dia, ao seu favor, pois um garoto de cabelos loiros bagunçados ainda estava na sala.

Estava da mesma forma de como se conheceram, sentado em seu lugar com os fones e um olhar distraído. As mãos de Alex tremiam de nervosismo. Estava com medo de tudo dar errado. Mesmo assim, se aproximou da mesa, e da mesma forma que fizera dias antes, tirou de Colin um dos fones.

– Colin.

– Alex - ele respondeu, sem desviar o olhar do que seja lá ele estava olhando.

– Por que você está assim comigo?

– Pelo obvio motivo de seu namorado não querer que eu fale com você - Colin falou com ironia. Talvez seja porque Alex não o conhecesse direito, mas vê-lo assim era estranho. Até parecia que estava com ciúmes.

– Namorado? O Jules não é meu namorado. - Alex falou com a voz esgaçada.

O outro levantou a sobrancelha e murmurou algo tão baixo que o moreno só entendeu as palavras: "parecia" e "ontem".

O loiro suspirou forte diante da interrogação de brotava em cima da cabeça de Alex. Esfregou os cabelos com a mão, bagunçando um pouco mais o cabelo naturalmente bagunçado.

– Eu ouvi a sua conversa ontem... Com o Jules.

"Eu vi você saindo da sala e pensei que era a hora certa pra me desculpar. Não tinha motivo para eu te tratar daquele jeito. Fui atrás de você e acabei ouvindo tudo."

– Se ouviu tudo, por que você ainda está me tratando desse jeito? - Alex perguntou. Entretanto sua mente surtava com a possibilidade de Colin tê-lo visto chorando. Já bastava Jules ter presenciado a cena.

– Eu... Me desculpe. Não era a intenção. Só não sabia como te encarar depois daquilo. - ele respirou fundo. - Alex, me desculpe por ter feito você brigar com Jules, eu...

– Para. A culpa não foi sua. Eu que insisti pra você contar, eu que provoquei tudo isso.

– Não, a culpa foi minha. Eu tinha visto ele no corredor e quis provocá-lo um pouco e....

– Mesmo assim, eu pedi pra você e se não tivesse pedido...

– Mesmo assim.... - Alex soltou um ruído de frustração.

– Cala a boca, Colin- o loiro riu.

– Ok, até porque se continuarmos com isso, irá anoitecer e ainda não teremos terminado.

– Verdade – Alex sorriu. - Então faremos assim: Não insisto mais nesse segredo e não discutiremos sobre de quem é a culpa.

– Fechado.

– Mas...- Colin franziu a testa.

– O que foi?

– Você tem que ter uma punição por ter me ignorado todos esses dias...

– Punição?

– Exato - o loiro sentiu um arrepio ao ver o sorriso perverso que brotava nos lábios de Alex. - Você sabia que faço parte do clube de artes?

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– Fala que você está brincando. - falou um Colin, completamente corado devido a situação.

Estavam os dois na sala do clube, junto com os veteranos. A maior parte do clube de artes eram composto por garotas do 3º ano, com os únicos garotos sendo Alex, James e Peter.

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James era do segundo ano e tinha uma personalidade preguiçosa, mas era o melhor desenhista do clube. Ao contrário de Peter, seu amigo de infância, que era péssimo em desenho, mas era aquele que mais se esforçava para melhorar.

Mas o motivo de Colin estar corado? O clube no momento estava estudando a forma do corpo humano e seus modos de representação. E Colin seria o modelo.

"Se fosse só isso tudo bem" pensou Colin “mas elas querem que eu tire a camisa e faça uma pode sensual."

– Não dá, não consigo. Impossível - o loiro falava para as veteranas, enquanto Alex e James riam lá atrás. Peter estava junto com as veteranas e a cada recusa emitia um ruído de insatisfação.

Depois de uns 3 minutos de insistência, Colin desistiu, para a felicidade de todos os presentes. Subiu em um pequeno palco e tirou seu moletom e camisa, ficando cada vez mais vermelho a cada segundo que passava.

Todos os outros se sentaram em seus lugares e pegaram o grafite para começar a desenhar.

– Bom, faça um pose sensual. - disse Hannah, a presidente do clube.

– Ah, mas eu não sei fazer nenhuma...

– Então só fique parado em pé - interrompeu Peter, ansioso para começar.

– NÃO! - gritou Alex. Percebendo o olhar assustado dos outros, limpou a garganta. - Quero dizer, parado em pé é muito normal, podemos fazer até sem um modelo.

– E o que você sugere? - uma menina loira do seu lado perguntou, parecia impaciente e sua face estava um pouco corada devido ao belo modelo.

– Bom, como ele não sabe posar sensualmente, por que não ditamos algumas poses pra ele? Tipo, uma vez cada um?

Colin lançou lhe um olhar penetrante que dizia claramente: "Você poderia ter ficado quieto". Alex o olhou tão intensamente quanto, enquanto sorria perversamente. "Ai não teria tanta graça, querido Colin"

– Não é uma má ideia - argumentou James, que parecia querer ir embora dali o mais rápido possível para que pudesse dormir.

– Bom, se todos concordam, não vejo porquê não aceitar a sugestão. - disse a presidente. - E já que você deu a ideia, pode começar, Alex.

– Claro – o garoto falou, tão maliciosamente quanto um vilão de desenho animado.

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Uma hora e várias posições constrangedoras depois, Colin esperava Alex no corredor. Já havia vestido suas roupas e seu rosto estava alguns tons menos vermelho. Acho que nunca tinha passei por algo tão vergonhoso, pensava o garoto.

A porta se abriu e era possível ouvir as garotas rindo e conversando animadas. Os desenhos ficaram maravilhosos e tudo isso graça ao modelo. Alex acenou para elas e fechou a porta atrás de si.

–Vamos?

Começaram a caminhar em direção a saída.

– As garotas agradeceram sua ajuda. Você se saiu muito bem como modelo.

– Ah, claro. Até porque bons modelos sempre ficam vermelhos e tão envergonhados que mal conseguem falar.

Alex riu

– Tirando isso, você foi bem. Fez as poses direitinho e nem notou quando eu tirei umas fotos...

Ele mostrou a tela do celular onde mostrava um Colin na posição mais constrangedora que havia feito aquele dia.

–Tive o maior trabalho para pegar seus melhores ângulos enquanto rabiscava no cavalete. - O rosto do loiro queimou.

– Apaga isso - disse e tentou pegar o celular das mãos de Alex, que desviou habilmente.

– Não. Estou pensando em pôr de plano de fundo. O que acha? - gritou enquanto fugia.

– ALEX!

Colin correu atrás dele – ele passara dos portões do colégio- desviando das pessoas que caminhavam por ali. Após uma pequena perseguição, conseguiu o encurralar numa parede e o segurou contra a mesma. Alex soltou um exclamação de surpresa e se descuidou de um momento.

O moreno bloqueou a tela no segundo em que seu celular lhe foi tomado. Colin fez uma careta.

– Qual sua senha?

– Não vou te falar.

– Alex...

– Colin...

Colin revirou os olhos.

– Sério?

– Sério - respondeu o moreno e pegou o celular da mão dele.

Ou pelo menos tentou. Colin desviou e começou a digitar números aleatórios, fazendo que o aparelho vibrasse com as tentativas erradas. Alex entrou em pânico.

– NÃO FAZ ISSO!

– Hum? Não te ouvi.

– PARA! EU APAGO, JURO

– Jura mesmo?

– JURO. DEVOLVE. - Alex arranco o celular das mãos do loiro

Infelizmente para ele, era tarde demais. Na tela brilhava a frase "Celular inativo por 1 hora”

– Colin...

– Alex...- Colin respondeu sorrindo de maneira angelical que o faria ser inocentado de qualquer crime que tivesse cometido. O moreno soltou um grunhido de raiva.

– Você jurou. É melhor não quebrar a promessa...

– Não irei. Mas eu posso enviar para quem eu quiser antes de apagar... - Alex riu diabolicamente.

– Isso não vale. - Colin franziu o cenho.

– Todavia, como sou uma pessoa caridosa e elevada, posso mudar de ideia com uma condição. - Alex falou de uma maneira irritantemente formal.

– Qual?

– Seu número.

Colin pensou por um momento. "Meu número? Número do que?"

– Número do celular? - Alex revirou os olhos

– Sim, mané. Vou mandar mensagens toda hora – Alex falava sério, necessitava de alguém para conversar; Alice era uma inútil que só respondia depois de algumas horas e ele não teve de coragem de pedir o número de Jules.

– Tudo bem. - O loiro disse - Só não fique passando trote de madrugada.

– Não prometo nada - cantarolou Alex, enquanto digitava o número que o loiro ditava.

Colin e Alex então ficaram conversando tudo o que não conseguiram nos dias que não se falaram. Riram até o estomago doer e o assunto Jules foi esquecido, por um momento.

Faltava pouco para chegarem à Estação, quando Colin resolveu reviver o assunto.

– Não imaginava que você chorasse fácil, Alex.

– Ah, então você viu...- o moreno mordeu o lábio inferior. Odiava que o vissem chorando.

– E depois eu que sou o sentimental. - Zombou Colin

– Ah, para. Aposto que esses dias que não nos falamos você ficou escrevendo poemas sobre o quão difícil é ficar sem mim.

– Como você adivinhou?

Colin riu e Alex acompanhou a risada rouca do outro. Era bom rir assim novamente, Alex pensou.

– Ei, ainda não está muito tarde. Quer passar lá em casa? – Falou Colin.