Sea

Capítulo Único


Suas madeixas negras, caídas para um tom azul escuro levemente ondulados, balançavam graciosamente conforme a brisa refrescante passava pela face jovem que tomava a forma de uma garota. Mantinha a mão espalmada posta a frente, aguardando o primeiro toque. Lá estava Sea. Ansiosa.

Com uma delicadeza sutil, encheu-se de alegria. As gotas seguintes da garoa passageira deixavam-na eufórica.

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Inspirou e deu um passo à frente, observando a vista do topo. A brisa gélida dispersava a sensação de angústia. Sentia-se quase completa, como se a chuva fosse parcialmente o complemento que lhe faltava para seguir em frente.

Como uma criança curiosa, pendeu a cabeça para o lado e questionou-se sobre o limbo verde musgo abaixo de seus pés descalços, perguntando-se como foram parar ali. Depois, voltou-se para a direita, contemplando a água escorrendo entre as pedras e encontrando-se ao seu lar, finalizando-se.

Desejava esperançosa alcançar o seu lugar, assim como a queda d’água da cascata ao se encontrar com a lagoa, da mesma forma como as abelhas e o seu doce néctar. Uma lacuna em seu peito clamava por algo, pois sentia-se exaurida pelo desespero de sua alma amargurada e esse breve vazio estava para ser preenchido.

Baixou os olhos, espreitando-se na beirada da rocha, analisando a paisagem. Não era uma queda alta, era um salto. Pensando nisso, respirou fundo e fechou os olhos castanhos cintilantes, levando as mãos manchadas de terra entrelaçadas ao peito, deixando transparecer um sorriso travesso no canto dos lábios. Como numa prece, recitou seus desejos e objetivos;

“Estou voltando, desculpe adiar tantas vezes. Retornarei de minha longa jornada, mãe.”

Recuou um passo, preparando-se o retorno. Com uma breve olhada por cima dos ombros, avistou uma andorinha acomodando-se em seu ninho. Novamente, sorriu entusiasmada e saltou,mergulhando.

Sentia sua alma encher-se de alegria, a suavidade da água ao seu redor formava um abraço acolhedor. Sea finalmente regressara ao seu lar, nos braços de sua amada mãe. Deleitando-se ao reencontro, entregando-se para quem tanto clamou.

Não se desfez, apenas se reagrupou. Reformando-se à sua antiga forma, contatando-se na densidade da água que movia-se ao seu encontro. E antes de render-se por completo, considerou brevemente a resposta de sua mãe.

Aos prantos, correu ao seu alcance, murmurando o que tanto desejara comunicar enquanto seguia entre as pessoas a contra gosto de quem tanto a guiava;

“Eu sei, mãe. Você alertou-me do quão cruel poderia ser a humanidade. Mas sabe, eu só queria tentar. E embora tenha sido rejeitada, ou abandonada, adorei cada segundo. Confesso que, quando a chuva vinha, sentia meu peito pesar ao ouvir seu chamado. Então voltei para você numa rapidez tão demasiada, que mal pude deixar um agrado.”

Sea, absorta, somente pôde perceber o que havia deixado após tempos reinstalada. Assim como ela precisava da chuva para sentir-se vívida e por inteira, as pessoas a quem tanto admirava, necessitavam do amor e da esperança, os quais ela tentara semear durante sua breve aventura.

“Mamãe, quando crescer, quero ser como você. Um chuvisco de felicidade na vida das pessoas.”

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.