Intercâmbio

Capítulo 9


Algumas semanas se passaram e o dia da festa à fantasia tinha chegado. Nico resolveu dar a festa na véspera do Halloween, numa sexta-feira.

Estava nervosa, pois iria me apresentar, mas era um nervosismo bom. Eu sentia saudade de dançar e estava feliz que hoje poderia me divertir. Eu já havia ensaiado bastante no meu quarto, nas minhas horas vagas, e minha coreografia estava realmente boa. Eu ia arrasar.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Lá para cinco da tarde tomei meu banho e comecei a me arrumar. Todos da casa também estavam se preparando para a grande noite. A festa começaria às oito e levaria a madrugada toda. Nico estava animado.

Achei melhor fazer minha maquiagem primeiro. Não foi difícil, já estava acostumada a fazer essas maquiagens artísticas no meu rosto. E também minha professora de dança, na época, me ensinou como deixar meu lindos olhos castanhos destacados.

Os olhos tinham que ser bem carregados e pesados. Primeiro passei uma sombra clara para dar luminosidade. Então com um delineador preto fiz um traço fino na pálpebra a partir do centro dos olhos na diagonal, depois puxei outro traço reto e firme na parte de baixo dos olhos. Na boca só passei um batom nude, pois o que se destacava mesmo era o olhar.

Eu adorava essa maquiagem, ela deixava minha pele morena bem mais bonita. Não mexi no cabelo, apenas o deixei soltou. Então enfim vesti a roupa.

Uma saia longa e preta quase transparente. Na parte de cima um tope, também da cor preta, que cobria todo o seio e prendia no pescoço. Nas duas peças haviam pedras e franjas que serviam para fazer os barulhos necessários enquanto eu me movimentasse.

Por último coloquei os acessórios. Uma pulseira linda, que era embutida com um anel, e uma tiara que prendi no cabelo. A pedra dela ficou no meio da minha testa. Era brilhante, dando um toque a mais no meu rosto e na maquiagem que tinha acabado de fazer.

Sorri para o espelho me achando belíssima. Não era sempre que eu me produzia assim, mas quando o fazia, me sentia muito atraente.

Peguei a bolsa que levaria comigo e coloquei o véu preto e transparente lá dentro, uma das peças mais importantes da roupa do ventre. Abri o guarda-roupa e tirei o sobretudo preto que Lacey tinha me emprestado. Além de estar frio, eu não sairia com a barriga de fora para todo mundo ver.

Quando desci, encontrei com Enzo na sala. Ele estava sentado no sofá de forma confortável, assistindo algo na televisão.

Ele estava fantasiado de pirata. Não era o Capitão Jack Sparrow, ele não usava dreads. Além da fantasia de pirata, Enzo só amarrou um lenço vermelho, dobrado, na testa e estava com um tapa olho. O chapéu estava no sofá, ao seu lado.

Ele me viu se aproximando e quando enfim olhou para o meu rosto, sua boca quase se abriu de surpresa. Era a primeira vez que ele estava me vendo com tanta maquiagem na cara, com certeza estava achando estranho.

— Sua irmã ainda não desceu? - perguntei para quebrar o gelo e me sentei ao lado dele no sofá. Percebi que ele tinha passado lápis preto nos olhos.

Ele parou de me olhar. Dei graças a Deus que estava usando o sobretudo por cima da fantasia. Eu morreria de vergonha se ele me visse daquele jeito antes da apresentação.

— Até parece que você não conhece ela - disse ele, mudando de canal aleatoriamente.

Nós não estávamos melhores amigos, mas depois do que tinha acontecido, Enzo não me tratava como antes. É verdade que não puxava assunto, mas também não ignorava quando eu perguntava alguma coisa.

— Preparados? - perguntou Nico de repente, descendo as escadas.

Ele estava elegante. Se não fosse pela máscara branca que cobria uma parte do rosto dele, eu não diria que ele estivesse fantasiado. Mas por alguma razão aquela máscara me lembrava o personagem do filme O Fantasma da Ópera.

— Pode descer amor! - gritou ele, já no fim da escada.

Lacey então desceu. Mas ela não era Lacey, ela era Cleópatra. E estava divina. Usava um vestido branco com acessórios grandes em toda parte do corpo, sem contar a peruca preta que usava na cabeça, substituindo seus cabelos longos. A maquiagem era bem semelhante a minha.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Então... Como estou? - perguntou animada, desfilando pela sala.

Enzo fingiu não ver e voltou sua atenção para televisão. Nico batia palmas exageradas.

— Você está maravilhosa, Cleópatra - disse sorrindo. Ela riu.

— And you? Deixa eu ver sua roupa - Lacey se aproximou de mim para tentar ver minha minha fantasia, mas não deixei.

Percebi que Enzo agora olhava para mim também.

— Não. Só na hora da apresentação.

Lacey ficou chateada, mas depois entendeu. Ela olhou para o noivo e pediu para que ele amarrasse o cabelo comprido.

Eu não queria que ninguém me visse pronta antes da hora. Nico tinha me dito que eu abriria a festa. Que me apresentaria logo no início para quebrar o gelo e as pessoas se animarem.

O bar nem parecia o mesmo lugar onde eu trabalha todos os dias da semana. Havia enfeites em todos os lugares. Caveiras, teias de aranhas, abóboras e morcegos. As cadeiras e mesas estavam nos cantos, deixando o centro para o pessoal poder dançar a vontade. Não tinha muita gente ainda, as pessoas deviam estar chegando.

Subi para a gerência para me preparar. Coloquei a música para tocar no celular e poder ensaiar mais uma vez. Enquanto fazia os movimentos, com as mãos e quadris e me virava para seguir a coreografia, deparei com Enzo. Parado na frente da porta, me observando.

— Enzo? - parei, com vergonha.

— Desculpa - ele disse gaguejando.

Enzo não sabia se saía da sala, se ficava, ou se olhava para o meu corpo, que agora estava exposto, sem o sobretudo.

— Eu não quis te... Interromper. Só vim pegar isso.

Ele procurou por algo, em cima de uma cadeira, coberta por bolsas, e saiu rapidamente.

Não pude deixar de abrir um sorriso. Ele ficou nervoso por me ver assim. Aquilo me deixou animada, por alguma razão.

***

A hora chegou. Nico já tinha anunciado que eu me apresentaria. Me preparei e prendi o véu na cabeça, de forma que só meus olhos pudessem aparecer. Respirei fundo, a adrenalina estava vindo com tudo.

A música Azez Alaya de Tony Mouzayek começou a tocar e eu entrei naquele pequeno palco, onde um dia Lacey se apresentou.

Entrei mexendo os quadris e vi as pessoas me assistindo. Mas ainda não tinha identificado nenhum rosto conhecido. Eu precisava focar na coreografia para não errar.

Soltei a parte que cobria meu rosto com a mão direita, mas continuei escondendo meus cabelos longos com o véu. Então girei, girei e soltei o véu, levantei as mãos, ainda o segurando e continuei girando. Ninguém podia ver meu rosto, pois o véu girava junto comigo.

Então finalmente abaixei o véu e segurei atrás das minhas costas, dançando e jogando o cabelo para o lado, na sintonia da música.

Abaixei o véu de vez e concentrei os movimentos nos meus quadris. As pessoas começavam a se manifestar. Gritavam e batiam palmas.

Levantei a mão esquerda segurando o véu e mexi só uma parte do quadril, enquanto movia o corpo para frente.

Enquanto eu dançava o que me foi ensinado, começava a notar as pessoas... Lacey estava radiante e pulava, batendo palmas. Nico estava ao seu lado e parecia chocado com o que eu conseguia fazer. Então eu vi ele. Enzo me olhava com certo desejo. Eu fingia não perceber que ele me encarava, e mexia ainda mais os quadris para ele ver do que eu era capaz. Estava adorando me achar para ele. Não podia negar.

Joguei o véu de lado e sorri, jogando o cabelo junto com o som da música e mexendo toda parte do meu corpo que era possível.

Terminei a dança com o aplausos de todos e agradeci, fazendo uma reverência. Nico subiu ao palco.

— O que foi isso Garota! - disse ele segurando o microfone. - Vocês gostaram? - todos gritaram sim. - Então é a vez de vocês. Se divirtam, pessoal!

Desci do palco abraçada com o Nico, que não cansava de me elogiar.

Girl, o que foi isso? - perguntou Lacey, depois que veio ao meu encontro. - Você precisa me ensinar esse movimentos. Your hips don't lie— brincou ela, usando uma das músicas da Shakira.

— Foi fantástico, Giselle - disse Nico.

— Obrigada por deixar eu me apresentar Nico.

— Tá brincando! Quando você quiser!

Todos me cumprimentavam e diziam que adoraram a dança. Fui para atrás do balcão e me abaixei para pegar o colar com a placa que estava com o meu nome. Os funcionários tinham que usar para que pudéssemos ser identificados na multidão.

Quando levantei, já com a placa no pescoço, encontrei Enzo me olhando. Ele não disse nada e logo um cliente chamou sua atenção e ele voltou a trabalhar.

Dei a volta e saí de trás do balcão para encontrar Clayton. Ele estava engraçado. Estava com o cabelo pintado de verde e jogado para trás. A boca pintada de vermelho. Ele era o coringa. Ou pelo menos estava tentando parecer.

— Vocês brasileiras sabem como deixar um homem louco. Aquilo? Isso sim é sexy - ele sorriu e depois ficou sério. - Só não fala para Hilary...

— Que você me disse isso - completei a frase para ele. - É eu sei. Então vocês estão namorando?

— Eu tô tentando - ele olhou para o lado, se distraindo com algo. - Deixa eu ir ali, que tem uma gata pedindo bebida.

Clayton pegou uma bandeja cheia de copos com álcool e saiu depressa.

— Ele não muda mesmo - disse sozinha.

— Parece que gostaram da sua dança - disse Enzo e eu me virei para encará-lo.

— E você gostou? - perguntei, pensando se ele teria coragem de responder aquela pergunta.

Enzo não sorriu, mas se seus olhos pudessem, teriam. Ele voltou a jogar a bebida nos copos.

— Com licença - ouvi a voz de um homem e me virei.

— Pois não, deseja alguma coisa? - perguntei, olhando para o rosto do homem.

— Sim. Saber seu nome.

Sorri, reparando na fantasia dele. Um vampiro. Estava todo de preto, com um sobretudo de golas longas e para cima. Havia uma gota de sangue desenhada no canto da sua boca e seus olhos eram vermelhos, lentes é claro. Usava gel no cabelo escuro. Ele era bem pálido e não achei que aquilo fosse maquiagem.

Ele queria saber meu nome. Mostrei a placa no meu pescoço.

— Giselle - ele leu meu nome. - Uau. Você foi demais lá em cima. Sério!

— Ah, obrigada. E você quem é?

— Um vampiro. Não desses que brilham. Dos que queimam, posso te garantir.

Eu quase ri.

— Isso ficou bem claro - ele não tinha entendido a minha pergunta. - Mas me referia ao seu nome.

— Ah, me desculpe. É só que fico um pouco besta quando estou conversando com uma mulher bonita.

Ouvi Enzo bufar e rir ao mesmo tempo. Então ele estava prestando atenção na minha conversa.

— Meu nome é Adam.

— Bom Adam, foi um prazer conhecer você, mas eu preciso trabalhar.

Virei para pegar a bandeja que Enzo tinha acabado de preparar. Ele não olhava para mim.

— Claro - respondeu ele. - Mas antes você podia me passar seu número... Talvez?

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Quem sabe mais tarde - sorri e saí com a bandeja na mão.

***

A noite estava muito divertida, todos estavam adorando a festa. Eu não estava cansada, mesmo já se passando das duas da manhã.

Fui até o balcão com a bandeja já vazia.

— Não está com frio com essa roupa? - perguntou Enzo, fingindo não se importar de fato. Eu estava achando aquilo engraçado.

— Não. Está calor aqui. Você não acha?

Ele não respondeu.

— Você viu o cara que estava aqui? - perguntei. - Um vestido de vampiro....

— Você quer dizer o gay.

— O quê? - não acreditei que ele disse isso.

— Vai me dizer que você não percebeu?

— Não. Eu não percebi. E não sabia que você entendia desse assunto.

Enzo não se ofendeu, como eu achei que fosse. Ele apenas fingiu que eu não tinha dito nada.

Não sabia o que ele queria. Por que estava dizendo que o cara era gay, sendo que ele viu ele pedindo meu telefone?

Não pensei mais nisso, só peguei a bandeja cheia e fui fazer meu trabalho.

— Giselle? - alguém me chamou, e quando me virei vi que era Lacey. Me aproximei dela.

— Oi!

— Se lembra do Ricky? Trabalha comigo na rádio.

Depois que ela me disse eu me lembrei. Ricky, o parceiro dela na rádio. Ele estava fantasiado de policial.

— Sim. Como vai?

— Bem, obrigada. E você dança muito bem.

— Obrigada - sorri, tímida.

— Estava convidando Ricky para almoçar lá em casa um dia desses. Quero preparar algo bem apetitoso.

— Apetitoso é comigo mesmo - Ricky riu.

— Eu acho uma boa ideia - respondi.

— Posso levar um amigo? - perguntou ele para Lacey. - Ele está dividindo o A.P comigo.

— Claro, no problem.

Ofereci bebida para eles e depois voltei ao meu trabalho. O resto da noite eu só fiz isso. E a festa chegou no final lá para às quatro da manhã.

Todos os funcionários estavam acabados. A sorte era que Nico resolveu não abrir o bar no dia seguinte. Uma folga para descansarmos, afinal merecíamos.

Nico contou todo o dinheiro rendido da noite e ficou feliz por ter dado tudo certo. Ele distribuiu nossa parte por ter contribuído e depois fomos para a casa. Eu precisava mesmo de uma boa noite, ou melhor, manhã, de sono.