Serena encontrou um poço no meio daquela mata, após três horas à procura de amparo. Usou-o para acabar com sua sede. Localizou uma casa vazia de madeira numa enorme árvore, subiu-a e refugiou-se nela, mesmo tendo plena certeza de que morava alguém ali.

Vasculhou cada centímetro do lugar. Conseguiu encontrar alimentos e assim, comeu. Fazia tempo que não vinha nada até sua boca que não fosse suor, lágrimas, poeira e sangue.

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– Está saciada? – a jovem tomou um susto ao ouvir a voz e voltou-se para trás, para ver quem era.

– Perdoe-me! Eu estava com fome e... – sentiu-se intimidada, porque havia se deparado com um homem usando máscara de leão subindo as escadas na árvore.

– Sei o que aconteceu. Não precisa explicar-se. Afinal, fiz esta casa justamente por ti...

– Micael?! – reconheceu o olhar, a voz e o vestuário. Aproximou-se e ele retirou a máscara.

– Certamente... A hora chegará...

– A hora de que?

– Do sacrifício... Sou mortal, assim como tu.

– Mas... Momentos atrás...

– Sim, também estava na forma mortal. Do contrário, não poderias me ver... Tens conhecimento disto: O pecado afasta de mim. Mas, como agora sou homem como tu, é naturam que me vejas.

– Se és mortal, por que ainda tens virtudes de Deus?

– Sou completamente homem e completamente Deus nesta ocasião. Uso minhas aptidões em momentos oportunos... Por exemplo, sarar as feridas de teu corpo, para mim, era oportuno.

A menina permanecia encabulada depois do que aconteceu. Não que estivesse com remorso de ter se arrependido, mas agora ela sabia que não era merecedora de tudo o que Micael fazia e faz por ela.

– Amada, por que não me ouviste acerca da ordem que te dei na masmorra? – ele chamou sua atenção, retirando-a dos devaneios.

– Mas... Mas eu saí do calabouço, da forma que tu pediste...

– Sim. Contudo, agiste por impulso para com o guarda do castelo de Lucian. Não era minha vontade. Não era esta a missão a qual me referi. Não quero que você saia agredindo a todos que tomam atitudes errôneas. Até porque, tu também o fazes e eu te perdoo.

– Desculpe-me, senhor... Só sirvo para gastar teu tempo...

– Não fale desta maneira. Peço-te para guardar as minhas leis... Nas leis, te mando amar o próximo como a ti mesma... Como poderás fazê-lo sem amor próprio? Podes não ser nada para o mundo, mas para mim, vales a vida de teu criador... – ainda assim, Serena não compreendia essa história de martírio, imaginava que fossem simplórias metáforas. – A tua missão será falar de mim para todo aquele que precisar ou quiser ouvir, para que seja salvo dentro de ti.

– Salvo dentro de mim?

– És minha escolhida, Serena... Quando eu voltar, quero que estejas à minha espera.

– Já vais embora?!

– Não, querida, ainda não. Contudo, hei de morrer...

– Por que falas tanto de morte?

– Porque é para isto que vim. Acompanhe-me, tenho coisas para te mostrar. – pegou-a pela mão e a levou para uma porta que ali havia, estava repleta de presentes. – Vamos, peça algum.

– Por que tenho que pedir se tu sabes qual eu gostaria de ganhar?

– Pela mesma razão pela qual não apareci sem tu teres me chamado... Tenho muitas bênçãos para ti, basta me pedir.

– Simplesmente pedir?

– Simplesmente pedir.

– Certo... Hm... Eu quero aquele. – apontou para uma embalagem azul.

– Aquele não.

– Oras, por que não? Disseste para pedir qual me agradasse!

– Sim, mas não é daquele que tu precisas e nem é aquele que quero te dar.

– Então... Podes dar-me o que tu desejas dar-me?

– Sabe... Gosto quando tu me perguntas assim... – a deidade pegou uma pequena caixinha e abriu. Tinha uma aliança dentro. – Queres casar comigo? – ajoelhou-se.

Não havia presente melhor do que esse... Ia além de tudo o que Serena conseguia imaginar... Ela estava sem reação, mas depois e segundos surpresa, finalmente sorriu e abraçou-o, dizendo que sim. Micael colocou-a no dedo anelar da mão direita.

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– Ah... Não mereço... Todavia, obrigada... É muito bonita.

– Bonita, porém não tanto quanto a pessoa que está com ela. – aparentava feliz enquanto segurava sua mão. – Sabes que te amo, não sabes? – ergueu-se do chão e foi chegando mais perto. A garota sentia-se um pouco intimidada, por causa disso, andava para trás. Até que suas costas tocaram a parede da casa e não ter mais como se apartar.

– Sim... – ela fitava o peitoral de seu amo, porque estava demasiadamente vexada para olhar em seus olhos.

– No entanto, não sabes o tamanho do meu amor. Estou ardendo de paixão por ti... Induz-me a querer a tua presença... Instiga-me...– acariciou o pescoço da moça. Havia apenas dois centímetros de distância entre as bocas.

A donzela ficava cada vez mais acanhada com tudo aquilo, contudo, o rapaz não se agradava dessa timidez. Por esta razão, deu-lhe outro abraço e pediu para que não saísse da casa.

– Senhor... Eu terei que ficar presa aqui para sempre?

– Não estás presa... Podes sair à hora que quiser... Apenas te dei uma ordem. Tem a oportunidade de segui-la ou não.

– Eu gostaria de ver as tuas obras lá fora... Devem ser coisas formidáveis! E também devem ser muitas, contando o tempo em que fiquei detida... – praticamente sussurrava.

– Terás conhecimento daquilo que eu fizer. Necessitas ver para crer?

– Não, senhor. Tua palavra me basta.

– Alegra-me saber disto. Eu a levarei até o vilarejo quando for a hora certa. Tem roupas novas para ti bem em cima da cama, caso queira trocá-las.

– Está bem... Tome cuidado. – Micael estava contente pela preocupação de sua noiva com sua atual mortalidade. Beijou-lhe a mão e saiu dali.

Na mente da princesa: horas parada, após trocar as vestes, olhando para a porta, aguardando seu amado chegar. Todavia, foram apenas minutos. Estava ansiosa e cansada da espera. Resolveu sair dali e ir atrás dele. O que ele estaria fazendo para que demorasse tanto? Será que estava... Traindo-a com outra?

Aparentemente, Serena sempre abria ema brecha para falhas quando permitia que sua mente se afastasse das coisas espiritualmente edificantes.

Na floresta, tomou o máximo de cuidado para não fazer barulhos altos e não chamar a atenção. Depois de muito andar, chegou até o vilarejo. Tentava tomar cuidado para que nenhum dos guardas a visse. Estava no meio de um dos centros comerciais mais movimentados da região. Seria uma tarefa difícil encontrar um específico homem no meio de tantos outros... Ao menos, foi o que ela pensou. No maior aglomerado de gente, deparou-se com Micael acima de uma rocha, pregando para o povo que por ali passava. Alguns ignoravam, entretanto, a maioria o louvava e ouvia o que tinha a dizer. O próprio mencionara que sua amada seria a responsável por guiar os habitantes quando fosse embora daquele recinto.

A jovem teve a sua alma tomada por um sentimento angustiante... Além de ter duvidado de seu enamorado, ela novamente o desobedecera. E não sabia a razão de persistir em seus erros... Queria voltar para casa... Mas não poderia agir como se nada tivesse acontecido... Resolveu continuar observando as obras do simples homem.

Quando a hora em que as vendas foram encerradas, a maioria saiu. Poucos foram os que permaneceram com Micael para ouvir os sermões sobre amor e santificação dos adeptos de Lucian. Nesse meio de tempo, o rapaz fora conversar com um dos vendedores de cavalos que permaneceu com seu estabelecimento aberto:

– Acabo de conseguir vestimentas novas para a minha amada e não quero que ela suje-as e nem que se canse vindo até aqui. Quais alazões tu possuis?

– Hã? O que disseste?! És meu Deus, faço questão de que leve a nossa melhor carruagem de alazões sem que seja necessário pagar! Peço-te que perdoe todos os pecados que cometi... Não, não quero comprar teu perdão. Dei uma lembrança e fiz um pedido, respectivamente! – o homem tentava não confundir-se nas palavras, mas o entusiasmo de receber o criador deixava-o nervoso e acabava tropeçando em cada vírgula.

Enquanto isso, lá fora, Serena estava sentada atrás de um muro, com as mãos cobrindo sua face. Levantou-se, desejando sair dali imediatamente.

– Não é tu aquela feiticeira e ladra que todo o reino procura? – era um anjo caído, usando armadura que havia encontrado-a.

– Já disse que não sou feiticeira!

– Mas és ladra, certamente. Precisa vir comigo, senhorita.

– Eu não quero!

– Não perguntei se queres ou não! Precisas vir comigo! Serás castigada por seus delitos! Temos um governo justo!

– Não posso ir contigo, irei me casar!

– Achas mesmo que isso é desculpa? Nem que Draco abençoasse esta união eu permitiria que isso se tornasse um empecilho para julgar-te.

– Acontece que o meu noivo é o rei!

– És noiva de Draco?...

– Não, do verdadeiro rei! Sou noiva de Micael!

– É muita soberba da tua parte pensar que Micael iria querer alguém como tu! Só podes estar louca! Cometestes transgressões e crimes! Não és íntegra para receber misericórdia, tampouco amor! És impura, ignóbil, desprezível, abjeta! Fazes parte da corja da população! Considera mesmo que ele vá te perdoar? Renda-se de uma vez! É a coisa mais sábia a se fazer! Pare de inventar desculpas e assuma teus erros! Isto acabará com o teu sofrimento e não trará vergonha a Micael!

Serena concordava com tudo aquilo...

Retornemos ao estábulo... A deidade estava negociando com o vendedor para agradar sua futura esposa quando um de seus seguidores apareceu às pressas, dando-lhe um aviso:

– Senhor, senhor! Uma mulher está sendo presa e acho que é tua prometida!

O rapaz arregalou os olhos e saiu ligeiramente para poder ver o que ocorria. Verdadeiramente, era Serena quem estava sendo levada pelos demônios.

Muitos que antes ouviam os sermões da potestade agora satirizavam e escarneciam entre si “Não era esta a dama que viria nos guiar e nos afastar do mal?”.

Micael foi correndo até ela e os guardas pararam de empurrá-la, pelo respeito que aquele homem impunha:

– Por que saíste do lugar que te falei? – questionou de modo apreensivo.

– Demoraste... Então... Pensei que tivesse me atraiçoado... – respondeu sem coragem de elevar o rosto.

– Sabes que odeio adultério! Por que eu faria uma coisa dessas? Eu te amo! Sou apaixonado apenas por ti e por mais nenhuma! Para mim, és como um lírio no meio dos espinhos! Não acreditas em mim? Venha comigo, eu te perdoo se tu tomares teus atos em reconsideração!

– Já basta! Não sou benemérita de tua ajuda! Não a quero! Não consigo sequer dar um passo sem pecar! Saia de perto de mim para que não se contamine!

– Quem colocou isto em tua cabeça, querida? Eu te aceito, não interessa o que tu fizeste!

– Estou farta de viver dependendo de ti para tudo! Não quero mais viver! Deixe-me!

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– Não irás desta maneira! És meu tesouro! Sou atraído por ti, não podes fugir de mim! Nada consegue desunir-me de ti! Meu coração está abrasado! – a cada segundo, ele ficava mais preocupado.

– Encontrarás alguém melhor. – Serena tirou o anel de seu dedo e o entregou de volta a quem o dera. Foi levada pelos guardas sem mais relutar...