Let Us Burn

E: Libertatem


— O que houve com a elfa que viajava com eles? O anão e o elfo silvestre voltaram para seus lares, o homem ganhou um cargo no reino de Argorn...

— Aragorn — o elfo corrigiu.

— Isso, Aragorn. O outro elfo, Tenebrae, voltou para o seu reino... E a elfa?

— Ela ficou para proteger seus amigos e família — a voz rouca de Legolas, entregando a idade mesmo que a aparência estivesse intacta há milênios, pronunciou as palavras na língua dos Hiberianos.

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— Mas os elfos não podem voltar? — O garotinho perguntou, curioso. Ele sorriu para o pequeno homem e concordou com a cabeça.

— Os Tenebrae possuíam tradições diferentes. Eterna será a morte, que na verdade, é outra vida.

— Queria ter conhecido esses elfos. Achei essa história mais interessante que a Guerra do Anel. — O garoto ao seu lado deu de ombros.

Legolas apenas sorriu, mais uma vez, admirando a inocência da criança. Os dois estavam apoiados em uma árvore, observando o rio que corria ao longe enquanto o Sol lhe beijava. Agora que os homens haviam praticamente triplicado enquanto todas as outras raças partiam para Valinor, Legolas realizava alguns feitios antes dele mesmo ir.

— Senhor Legolas... O rei Ethir não vai voltar? — A voz aguda tornou a perguntar.

— O tempo do rei Ethir aqui em Hiberia já se esgotou, meu caro. Ele cumpriu o seu dever como qualquer outro rei, deixando um legado importante para vocês, homens.

— Meu pai não está honrando bem esse legado — o pequeno fez uma careta. — Ele queria mudar o nome de Hiberia para a tradução literal dos homens, Espa, eu acho.

— Espanha — Legolas corrigiu-o outra vez. — Quando você for rei, vai poder voltar ao normal, se quiser — o elfo silvestre assegurou e um sorriso decorou o rosto do menino.

O silêncio pairou entre os dois e Legolas apenas encarou aquele pedaço de Hiberia uma última vez. Depois de anos, havia conseguido finalmente chegar àquele país e suas visitas eram frequentes enquanto Ethir ainda era vivo. Após a sua morte, determinada pelo cansaço, as viagens até o território se tornaram raras. E agora estava ali, deixando um pouco de história para o futuro rei da Hiberia, agora reinada por homens, uma vez que todos os elfos Tenebrae haviam deixado o país após a morte do adorado rei.

— Legolas, está na hora! — A voz de Gimli anunciou ao longe e o elfo virou o corpo para o anão, que um dia fora ruivo, grisalho.

— O vejo em breve, príncipe Eddard — despediu-se, não deixando de familiarizar-se com o nome.

(...)

Valinor. Aquela terra era definitivamente a mais bela que Legolas havia visto em todos os milênios de sua vida.

— Pelas barbas de Gandalf — era o que Gimli repetia desde que havia pisado ali. Era o primeiro anão que pisava naquela terra élfica, o que havia surpreendido muitos elfos que passavam por eles.

As águas eram tão claras quanto o céu; o verde do chão e das árvores era do tom mais vivo possível e os elfos que eram visíveis pareciam mais exuberantes do que eram na Terra-Média. Caminhando sem um rumo determinado, Legolas e Gimli atravessavam vários campos, sabendo que deveriam chegar ao Senhores dos Valar. Estavam um pouco atordoados demais, mas felizes, como se anos tivessem sido ejetados de suas costas.

— Atrasado mais uma vez — a voz de Thranduil causou um impacto grande em Legolas. Gimli, indiferente, fez o cumprimento de costume e continuou admirando o lugar, sem se importar com o olhar um pouco torto do antigo rei da Floresta das Trevas.

E Legolas cumprimentou o pai.

— O que o anão faz aqui? — Thranduil perguntou, mesmo após o cumprimento. Os dois encararam o anão, já longe, saudando outros elfos que o olhavam curioso. Legolas abriu a boca para responder mas fora interrompido:

— O que ele não faria aqui? — Ouviu uma voz doce que encheu seu coração com calor e felicidade. Seus olhos arderam como se tivesse acabado de lavá-los com álcool. E o sorriso de sua mãe era o mais bonito que já vira até aquele momento.

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Não cumprimentou como os elfos normalmente fariam, e sim, se entregou ao abraço da elfa de cabelos cumpridos e dourados. Ela retribuiu o gesto com tanta leveza que Legolas desejou ter ido para Valinor há eras.

— Você está lindo — ela sussurrou quando se afastaram. — E bem mais alto que antes — riu para o filho, sentindo a mesma ponta de felicidade que ele. Thranduil, ao lado, sorriu internamente com o reencontro. O rei frio estava incrivelmente feliz com a situação: os Greenleaf estavam juntos novamente.

Legolas mal continha a felicidade. Não sabia o que era estar completo há anos, desde que perdera o último laço íntimo que tivera desde a morte da mãe e a partida do pai. Agora, estava com os dois novamente, mesmo que enfrentando problemas guardados dentro de si. Tudo passaria.

— Legolas! — O elfo ouviu de longe a voz do velho anão. Ele estava rodeado por vários outros elfos conhecidos, conversando e rindo.

— Estarei de volta logo — disse aos pais e saiu na direção do amigo. Após alguns minutos, chegou até ele, encontrando antigos amigos que haviam partido para Valinor bem antes. Trocaram algumas palavras, mas o que chamou a atenção de Legolas brilhava ao longe.

Um castelo com bandeiras negras, embora extremamente calorosas, atraía seu olhar de uma forma até estranha. Ele deixou todos para trás, correndo até o monumento. Gimli gritou alguma coisa mas ele não conseguira ouvir, apenas seguiu reto, passando por algumas pedras e muita terra.

Ao chegar no portão de ferro, o elfo que usava um elmo e parecia proteger o castlo, liberou a passagem para Legolas quase sem olhar na face.

— É um prazer recebê-lo, senhor Greenleaf. Estiveram esperando por você — a voz mecânica dissera.

— Estiveram? — O elfo silvestre perguntou baixo, mas seguiu sem esperar resposta. Atravessou uma grande ponte, chegando finalmente à entrada principal.

Dic nobis mos satus ad populum mane proelia — ouviu uma voz extremamente conhecida ecoar. Caminhou na direção dela, encontrando um Ethir completamente sujo com um outro elfo. O desconhecido saiu da sala em que se encontravam, deixando os dois sozinhos. — Bem na hora, silvestris. Os torneios já vão começar, aposto que não vai derrubar os nossos arqueiros.

Mas Legolas não soube o que dizer. Estava apenas maravilhado com o fato de que estava ali, com Ethir, quando há pouco estivera no lugar que fora seu lar por milênios. O elfo Tenebrae, por sua vez, fez o cumprimento de costume para o loiro, que apenas retribuiu.

— É bom ver você também — disse, por fim.

— Me fale mais desse torneio! — Gimli apareceu atrás de Legolas, surpreendendo Ethir. — Esses elfos não conseguirão abater um anão em mil anos!

— Meu velho amigo! É bom ver você por aqui — Ethir disse, sorrindo.

— Espero que esse velho não tenha um duplo sentido — Gimli murmurou, referindo-se à barba branca que decorava o rosto.

Ethir apenas riu em resposta e explicou sobre o torneio anual que faziam entre os elfos. Sem mortes, apenas esporte — o que desapontou muito Gimli — e com muita comida. Era como se tivessem se visto um dia antes e nenhum ano tivesse se passado desde a última vez em que se viram, pouco antes de Ethir viajar para Valinor. O Tenebrae fez questão de perguntar sobre o seu lar, parecendo ficar chateado com o domínio dos homens, mas no fundo sabia que a Hiberia estaria em boas mãos.

— Ela está esperando por você, lá em cima — Ethir disse após alguns minutos em que ficaram em silêncio. Sabia que Legolas estava inquieto porque queria vê-la, acima de tudo. Havia chegado até ali só por causa dela! Sem nem pensar, correu sala afora para a escadaria espiral que levava ao andar superior do castelo. Passou por vários elfos nos corredores, como se já soubesse para onde deveria ir.

E foi numa última porta, entreaberta, que ele sentiu a brisa do mar que ficava do lado oposto esquentar o rosto. Ele conhecia aquele calor, ele sabia onde estava. Abriu a porta, se vendo em uma varanda larga. À frente estava ela, com os cabelos negros voando com o vento, assim como o longo vestido escuro.

— Você demorou. — Sua voz estava mais suave que da última vez, transmitia mais segurança e paz. — Cada dia sem sua presença estúpida me queimava mais que aquela floresta — suspirou, se virando para ele, finalmente.

Legolas perdeu o ar por alguns segundos antes de ir em direção a Wren. Diferente da última vez, ela estava limpa, parecia ter ficado mais jovem e os traços estavam mais delicados.

Ele levantou a mão em sua direção, acariciando a face da elfa como se ela fosse de vidro. Desenhou todo o seu rosto, dos olhos aos lábios, sentindo uma sensação estranha no fundo do estômago. Segurou o rosto de Wren, aproximando-o mais do seu.

— Da última vez que fez isso explodimos em chamas — ela riu pelo nariz, recordando-se da Floresta dos Alces.

— E quem nos garante que não iremos explodir novamente? — Ele murmurou antes de selar os lábios, fundindo-se num beijo que estava perdido no meio de cinzas dissipadas pelo vento.

E explodiram, internamente, nas mais puras chamas que poderiam existir em todo o mundo. Valinor era o paraíso onde, ao longe, Sinos do Encanto voavam.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.