Ah, Como Eu Amava Anna

Capítulo Único


Ah, como eu amava Anna...

Anna sempre fora uma menina peculiar. Já era crescida, deixara de ser criança há muito tempo, mas mantinha uma pureza única e imaculada, como água cristalina que se recusava a turvar contra as impurezas do mundo. Anna era bondosa e gentil, com um coração incapaz de guardar rancor.

Anna tinha olhos grandes, brilhantes e redondos, sempre arregalados, como que quisessem absorver o mundo inteiro em cada detalhe, sem deixar nada passar. E mesmo com olhos tão atentos, Anna conseguia, de alguma forma, ver apenas as belezas do mundo. Os olhos de Anna só viam bondade nas pessoas.

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Ah, como eu amava Anna...

Anna tinha dedos delicados, finos e longos, capazes de dedilhar o piano com maestria da mesma forma que trançavam os cabelos das crianças com toda a delicadeza. Seus lábios rosados eram moldura do sorriso mais brilhante que meus olhos já viram. Deles ressoava uma voz tão doce, tão suave, incapaz de dizer algo que machucasse, a voz melodiosa que só sabia dizer bondades.

Quando Anna chegava com seu sorriso iluminado, meu coração florescia. Palpitava, leve e contínuo, como que tentasse criar asas e voar para fora de meu peito. Provavelmente voaria ao encontro de Anna, se aconchegaria em seu abraço quente e nunca mais sairia de lá.

Ah, como eu amava Anna...

Em uma semana, Anna ia se casar. Seu noivo era bonito, e uma boa pessoa. Tenho certeza de que ele a amava, também. Como alguém poderia não amar Anna?

Mas não como eu. Eu a amava tanto, tanto. A amava antes, a amava mais, e sempre amaria. Como poderia eu permitir que aqueles lindos olhos redondos se dedicassem a observar um outro homem? Como poderia deixar aqueles dedos tão elegantes e suaves se empenharem em tocar um outro rosto? E como poderia permitir que seus lábios, lindos e imaculados, dessem seu brilhante sorriso para outro alguém? Que estes lábios rosados e puros beijassem lábios de alguém que jamais a amaria tanto quanto eu?

Ah, como eu amava Anna...

E é por isso, porque eu a amava, que eu não podia permitir. É por isso que tive que chamá-la para aquele beco. É porque eu a amava, que eu tirei a sua vida.

Anna era tão linda. Ela estava linda naquela noite, também. Ela sempre estava linda. Seus olhos tão belos estavam arregalados, mais do que o normal. Anna, incapaz de ver o mal nas pessoas, olhava para as minhas mãos cobertas com o seu próprio sangue. Aquele era o olhar de quem via o mal pela primeira vez.

Seus lábios tão lindos e delicados me perguntavam, “por que?”. Eu toquei seu rosto, o sangue manchando a bochecha suave, e lhe expliquei por que. Porque eu a amava. Por isso. Eu não podia permitir.

Ah, como eu amava Anna...

É a minha vez de encontrar Anna num lugar melhor. Um lugar que a merece. Este mundo, duro e cruel e sujo, nunca fora lugar pra minha linda e doce Anna. Eu a salvei deste mundo terrível, e agora ela está onde deve estar. E eu a encontrarei, para que tudo seja como deveria ter sido.

Eu não queria que tivesse sido desse jeito. Mas foi a única maneira. Tudo vai ficar bem agora.

Ah, como eu amava Anna...

E eu sempre, sempre irei amar.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.