Ajeito a alça da mochila nos ombros e passo a mão mais uma vez pelo rabo de cavalo bem apertado em minha cabeça. O ônibus demora, e minha impaciência quase me convence a ir a pé, no entanto, sou inteligente o suficiente para saber que não chegaria antes do entardecer, e não é o que eu quero.

Suspiro aliviada quando o ônibus para diante de mim, sou a única garota no ponto, a única com uma mochila nas costas e grandes óculos de sol, pelo menos. As paisagens passam rapidamente pelo vidro da janela e eu me pego repetindo as imagens recentes em minha cabeça, a mulher, eu havia matado aquela mulher e por algum motivo sua família também estava morta.

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–Lamentável, não é mesmo? – Pergunta uma senhorinha sentada ao meu lado no ônibus.

Eu pisco algumas vezes confusa enquanto sigo seu olhar para a pequenina televisão lá a frente que tem como manchete: “Família encontrada morta em SP”

Controlo minha respiração para não me tornar frenética, meu sistema nervoso parece apitar em um claro sinal de “CORRA”, mas eu o ignoro, pelo contrário, tento parecer indiferente aquela situação.

–É realmente uma pena. –Murmuro.

A senhora entorta sua boca de um jeito estranho como se estivesse irritada.

–Pobres pessoas, o que teriam feito de tão ruim para ter um fim tão trágico como este?

Eu dou de ombros.

–A vida não é justa com ninguém.

O ônibus para abruptamente fazendo meu corpo ser lançado para frente com velocidade, por pouco não atinjo o banco a minha frente, no entanto, a senhora ao meu lado não compartilhou da mesma sorte. Em sua testa um corte de porte médio escorria sangue, o mesmo pingando por sua roupa de cor clara e florida.

–A senhora está bem? – Pergunto preocupada.

A mesma não me responde, apenas retira um lenço de sua bolsa e o coloca sobre o corte.

–A senhora está bem? Quer ir a um hospital? – Insisto.

Um pigarreio grosso desvia minha atenção para a porta de entrada do ônibus, um homem vestido completamente de branco tem as mãos à frente do corpo, em uma posição indefesa, um sorriso lente se forma em sua face quando ele percebe que todos os passageiros o encaram. Um arrepio desce por minha espinha e eu saco a arma que escondia no cós da calça, a mulher distraída ao meu lado mal nota esse pequeno detalhe.

–Estou procurando pela Dona Josefina e pela Agatha, elas estão aqui?

A voz de homem de branco me parece gelada, firme e animada, ele passa seus olhos por todos os passageiros e eu me abaixo um pouco na cadeira tentando não ser notada, é quando a mulher ao meu lado se levanta.

–Para onde está indo? –Pergunto.

O lenço que a mesma segurava cai no banco em que antes estava sentada, ela arruma sua bolsa no ombro e começa a caminhar.

–Muito bem Dona Josefina. –Elogia o homem de branco quando vê a senhora se aproximando dele.

–ÁGATHA! – Ouço o grito de uma mulher ao fundo do ônibus.

Neste mesmo instante uma garotinha de não mais que dez anos passa caminhando p

Por mim com os olhos vidrados para frente, se aproximando do homem de branco.

A mulher que estava gritando se levanta correndo.

–Filha! – Ela chama.

A garotinha continua andando até parar ao lado da senhora que estava sentada ao meu lado.

–Ela não é mais sua filha. –Responde o homem de branco enquanto passa a mão no cabelo da garotinha.

–Saia de perto da minha filha! – Grita a mulher correndo em sua direção.

Um barulho alto de vidros quebrados é ouvido instantes depois, a mulher fora arremessada pela janela do ônibus, sem ser tocada, aquele é meu estopim, eu levanto rapidamente mirando a arma no homem e puxando o gatilho sem hesitar, as pessoas do ônibus começam a gritar e desesperadas quebram as janelas procurando uma forma de sair, eu atiro até minhas balas acabarem.

–Só tem isso Rose? –Pergunta o homem de branco.

Eu paro.

–Quem é você? Como sabe meu nome? – Questiono.

O homem mantém seu sorriso.

–Sua irmã e você são muito parecidas.

Eu largo a arma e corro em sua direção, mas quando chego perto ele desaparece, como em um truque de mágica ou uma mínima piscada de olhos.

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–Procurando por mim?

Sua voz soa atrás de mim, muito próximo, eu saco uma faca escondida em minha bota e me viro.

–Quem é você? –Pergunto

–Não está surpresa? –Pergunta ele. – Normalmente ficam surpresos com meus truques.

–Seus truques fajutos não me surpreendem. – Essa era uma tremenda mentira.

Sua expressão continua a mesma e me sinto irritada por sua falta de emoção.

–Se me der licença, tenho coisas melhores a fazer.

–Você não vai a lugar algum. – Digo com os dentes trincados.

Ele sorri enquanto balança a cabeça negativamente.

–Você nunca aprende, vive regredindo. – Ele murmura. –Eu disse a seu pai, você nunca seria uma verdadeira invocadora, você não serve para isso.

Meu coração se afunda enquanto aquelas palavras são proferidas por ele.

– Meu pai?

Ele tinha acertado em cheio no meu ponto fraco, os sentimentos, ele estava certo – me dou conta tarde demais- todos estavam certos, Dimitri, Raquel, Tasha, eu era incapaz de ser uma assassina a sangue frio por causa de meus sentimentos, ontem mesmo eu havia matado uma pessoa sem querer, e tal coisa quase acabou comigo.

–Deixe as pessoas. –Murmuro. –São inocentes.

Me sentia tão pequena e inferior aquele ser maligno que me dei por vencida alguns milésimos de segundos, eu não havia nascido para aquilo, eu não havia nascido para uma vida de emoções a flor da pele, mas eu não deixaria que pessoas inocentes morressem por isso.

–Preciso delas.

–Para que? –Pergunto.

–É como uma cadeia viciosa, meu doce Rosemarie.

–Não sou seu doce. – Retruco.

–Eu preciso de vida. –O homem diz. –E essas pessoas podem me ajudar a ter o que eu quero.

–Como assim? Irá beber o sangue delas como um vampiro? – Ironizo.

Seu sorriso aumenta enquanto responde.

–Irei sugar suas energias.

Eu me sobressalto.

–Um Súcubo? – Pergunto.

Àquela altura eu não desacreditava de mais nada.

–Não querida, sou um tipo diferente de pessoa, sugo a vida delas para me manter vivo, não tenho relações sexuais com eles.

–Quem é você? – Pergunto novamente.

–Vamos garotas. –Ele chama a mulher e a garotinha que a seguem.

–Não. – Eu murmuro segurando o braço da garotinha.

A garotinha não me encara, mais para de andar, o homem de branco me encara passivo.

–Solte o braço dela.

Eu nego com a cabeça.

–Só irei pedir mais uma vez.

Eu nego com a cabeça.

–Não vou soltar o braço dela. –Respondo.

A próxima coisa que sinto é um forte chute em minhas costelas, o homem de branco desapareceu e atrás de mim me desfere alguns fortes golpes, eu caio, no entanto, trago a menina junto a mim, me recuso a largar seu braço.

–Solte! – Ele fala próximo a mim.

Meu corpo dói muito, quero permanecer no chão, mas se fizer isso essas duas pessoas irão morrer, e eu não quero mais mortes, chega de mortes.

–Eu não vou soltar! – Grito.

Nesse instante o corpo do homem é jogado para trás, como uma forte brisa o jogando com velocidade e raiva para fora do Ônibus agora vazio.

Meu coração acelera enquanto eu me levanto, a garotinha ao meu lado está chorando, ela não parece se lembrar de nada.

–Corra! – Eu digo para ela que segue minhas instruções e sai do ônibus com a senhora que antes falava comigo em seu alcanço.

Caminhando mais a frente eu vejo sangue, e em seguida o corpo morto do motorista, desvio meus olhos.

– Como fez isso? – Ouço a voz agora surpresa do homem.

Quase sorrio com sua surpresa, não respondo e me viro para encara-lo.

–Não devia ter entrado em meu caminho. – Sibila ele.

O homem se prepara para o ataque como uma cobra mortífera, eu me posiciono para defender, até alguém atrapalhar meus pensamentos.

–Não encoste um dedo nela.

Meu coração palpita mais rapidamente ao escutar tal voz, é Dimitri.