Prometidas

ARCO I: bebedeira


Konoha, outubro de 2007

Tsunade já estava com a guarda permanente das crianças há alguns meses. Desde junho, quando o processo foi finalmente finalizado.

Esse tempo foi mais do que o suficiente para ela perceber que isso de "criar mini pessoas" é tão difícil quanto gerenciar uma cidade inteira. Imagine fazer os dois ao mesmo tempo! Felizmente ela tinha ajuda de creches e de Shizune que aos poucos ia se tornando uma grande amiga da nova família.

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Para aliviar o estresse do trabalho e de casa, Tsunade adotou o hábito de levar as três menininhas para uma caminhada aos domingos, deixando Shizune no comando do gabinete.

Seu lugar preferido para os passeios era uma clareira silenciosa onde só se era possível chegar tomando a trilha do bosque da cidade. Ela as deixava brincando enquanto aproveitava algumas latinhas de cerveja na paz que só uma tarde de domingo poderia proporcionar. Tsunade sabia que devia parar de beber mas, com a dupla jornada de trabalho, encontrava-se dividida entre o amor que descobriu na maternidade e o amor que já sentia por sua cerveja. No fim, decidiu abraçar os dois amores.

Certo domingo de sol, as quatro estavam na clareira como de costume: Tsunade acomodada numa cadeira de praia, que trazia sempre consigo, enquanto Sakura, Hinata e Ino (como foram identificadas nas estranhas etiquetas) se divertiam a uma distância segura. Era como um parque particular delas.

Ino, que das três era a mais ativa, estava correndo de um lado para o outro caçando insetos: sua atividade favorita. Ela tinha cabelos loiros na altura dos ombros (que Tsunade mantinha sempre presos num rabo de cavalo para não embolar) e olhos azuis. Apesar de animada, Ino era facilmente irritável e muito birrenta. Foi preciso pulso firme para fazê-la obedecer às regras da nova casa.

Hinata, a mais tímida e quietinha, tinha acabado de se assustar com um besouro recolhido pela irmã, então começou a chorar. Por ser a mais dengosa, foi a primeira a se apegar à nova mãe. Hinata tinha os cabelos negros bem curtos, na altura da orelha, e olhos acinzentados que lhe davam a impressão de estar sempre chorosa.

Enquanto isso, Sakura estava mais afastada do grupo encarando uma muda de planta qualquer que balançava com o vento. Tsunade sempre se preocupou mais com a adaptação de Sakura, já que a menina mal falava com ela.

Como a polícia arquivou o caso depois de quase um ano sem respostas ou pistas, o processo de adoção foi aprovado e concluído. O que parecia ser motivo de felicidade para todos os adultos envolvidos (e até mesmo para Ino e Hinata), para Sakura, era apenas confuso. Ela se sentia uma intrusa, uma estranha no ninho.

Todos na creche tinham pais e mães. Alguns tinham dois pais, alguns duas mães, alguns tinham apenas um dos dois, mas mesmo assim eles tinham algo que era real. Eles se lembravam de seus aniversários, de seus brinquedos de bebê e todos tinham fotos de seu nascimento. Ela não.

Fora que ninguém tinha cabelo cor de rosa. Os garotos faziam piadas e puxavam o seu cabelo e ela revidava com violência, o que não era bem recebido pelas cuidadoras da creche, é claro, que a consideravam problemática.

Durante todo o tempo que passava na creche, Sakura estava zangada e querendo ir para casa. No entanto, não se sentia satisfeita na casa da Tsunade.

Ela queria a sua verdadeira casa.

"Mas onde fica isso?" ela se perguntava sempre que cogitava fugir do novo lar.

Sakura não sabia onde havia morado antes de ir parar naquele orfanato. Para falar a verdade, ela não se lembrava de nada que fosse anterior ao dia que fora encontrada nos limites da cidade junto de Ino e Hinata.

Essa resistência de adaptação durou até esse dia de domingo na clareira, quando um acontecimento determinou o destino de todas elas.

— Vamos explorar! – gritou Ino para quem quisesse ouvir.

— Não tem o que explorar aqui, sua burra. – respondeu Sakura.

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— Tem sim. Podemos achar tudo no bosque. – ela se aproximou e baixou o tom de voz como se para confidenciar algo – Até fadas.

Hinata apareceu logo atrás dela.

— Não podemos ir lá. – falou baixinho.

— Tá com medo, nenenzinha? – Ino provocou.

— Não sou uma nenenzinha... – Hinata parecia querer chorar.

— Para com isso, Ino! – gritou a outra.

— E se a gente brincar de esconder? Mas não é de bater! – avisou Hinata fazendo biquinho – Eu não gosto quando é de bater...

— Não saiam de vista, hein. – Tsunade avisou de prontidão - Vou ficar aqui hidratando o corpo e vocês podem pegar seus copinhos de água aqui na bolsa quando sentirem sede.

— Vamos! – Ino voltou a se animar.

— Mas eu não quero. – reclamou Sakura. Ela não gostava de brincar com as irmãs, pois considerava Ino muito mandona e Hinata muito chorona.

— Então você conta. – Ino propôs como se isso não se enquadrasse em fazer parte da brincadeira.

Sakura não queria discutir, então bufou alto e caminhou em direção a Tsunade (que era sempre o ponto inicial de qualquer brincadeira de pique) e fechou os olhos. De braços cruzados em descontentamento, começou a contar.

— Não é de bater hein. – Hinata lembrou antes de sair correndo para se esconder.

A menina berrava os números que, depois do vinte, viraram uma confusão aleatória variando de oito mil para "infinito" e depois para cem. Tsunade pôs a mão na cabecinha rosada.

— Querida, preciso falar no telefone e aqui o sinal é ruim. Eu não vou muito longe, ok? Já volto.

Sakura assentiu com a cabeça, mas manteve os olhos fechados para não roubar no jogo. Quando decidiu que já estava há muito tempo contando, abriu os olhos e se viu completamente sozinha.

— Lá vou eu! – gritou o mais alto que pode e saiu correndo em direção a uma pedreira próxima, tendo certeza de que Ino estaria ali e que ficaria muito zangada por ter sido achada tão facilmente. Infelizmente sua intuição estava errada, então continuou procurando pela clareira.

Poucos segundos depois, sentiu um pingo de água no meu ombro e virou o rosto para o céu. Ele estava ficando cinza, o que significava chuva, então a menina se apressou no intuito de encontrar logo as irmãs.

Ao passar próxima da entrada do bosque, sentiu um arrepio. Chegou a se perguntar se a loira seria idiota o bastante para tentar se esconder ali. Um grito fino e assustador ecoou de dentro do bosque, e, ao mesmo tempo, um relâmpago clareou todo o céu. Logo em seguida veio o trovão e o chuvisco ganhou mais força.

Sakura estava assustada com a sequência de acontecimentos, então ficou paralisada olhando para dentro do bosque escuro devido à falta de luz direta. Um segundo grito, dessa vez mais longo, a fez voltar a si.

— Hinata! - gritou quando reconheceu a voz.

Sakura entrou em desespero e correu em direção ao meio da clareira para chamar Tsunade. Foi nesse momento que outro relâmpago a assustou e ela perdeu o equilíbrio, caindo no chão de terra molhada e encharcando-se de lama.

Estava prestes a começar a chorar quando sentiu que alguém lhe puxava para ficar de pé.

— Sakura! - Tsunade gritou - O que aconteceu? Onde estão suas irmãs?

— Vem rápido! – a pequena estava quase sem fôlego - A Hinata entrou no bosque!

— Fique aqui. – a mulher pôs a filha sentada na cadeira de praia e correu sem medo para dentro do bosque, esgueirando-se entre árvores e arbustos. A chuva continuava apertando.

— Mãe! – alguém chamou. A voz vinha do outro lado da clareira.

— Ino! – Sakura respondeu e saiu correndo na direção do rio, de onde achou que a voz vinha e ela estava certa: Ino estava no meio do rio. A água batia com força em seu corpo que só não era levado embora porque a loirinha estava agarrada a uma pedra gigantesca.

— Me ajuda! - pediu quase em súplica.

Sakura estava nervosa e tentava pensar em algo, mas tudo que fez foi começar a chorar. Nesse momento, Tsunade surgiu com Hinata no colo. As duas estavam bem.

— Ino está presa! – a rosada apontou em direção ao rio enquanto secava as lágrimas que se misturavam com os pingos de chuva.

Sem pensar duas vezes, Tsunade largou Hinata e mandou que as duas se afastassem antes de se jogar no rio.

— Mamãe! - a loirinha chamou e acabou engolindo água, o que a fez tossir muito e tirar uma das mãos da segurança de sua pedra.

Sakura e Hinata só sabiam chorar com as mãos unidas. Apesar de não compreenderem a morte, compreendiam a perda. Naquele momento, chegaram a pensar que ficariam sozinhas de novo.

Tsunade já estava sem fôlego quando conseguiu pôr a cabeça para fora da água e respirar. Olhou para sua filha e percebeu que ela não aguentaria se segurar por muito tempo. Ela sabia que tinha de chegar lá logo!

Nadou contra a correnteza com toda a força que tinha, mas aquilo não parecia ser o suficiente.

"Se não tivesse bebido, será que teria mais forças?" ela se perguntou, mas logo em seguida mandou o pensamento para longe. Estava determina a não desistir por nada nesse mundo.

Com todo o impulso causado pela adrenalina, forçou os braços e as pernas a continuarem a nadar. Foi nesse momento que sentiu como se o rio não estivesse mais contra ela, mas sim a seu favor. Em pouco tempo, sentiu a pedra em suas mãos.

Sakura e Hinata observavam enquanto sua mãe e irmã saíam da água. A chuva começou a diminuir e Hinata foi encontra-las num abraço caloroso que não durou muito tempo, pois Tsunade caiu de joelhos na margem do rio. Estava exausta, tremendo muito e com a respiração totalmente irregular. O mesmo servia para Ino. Sakura continuava mais distante, talvez chocada demais com tudo que aconteceu, mas viu quando Tsunade ergueu os olhos e esticou uma das mãos em sua direção.

A menininha correspondeu ao chamado e, pela primeira vez, abraçou a mãe adotiva.

Quando já tinha idade o suficiente para entender melhor toda a situação que passou, prometeu a si mesma que se esforçaria para proteger e amar a nova família.