Fiéis Infiéis

Capítulo 20: Revelações


Eu estava ensandecida, queria estapear a cara daquele mentiroso, e então ele vem me dizer que a culpa é minha? Como ele pôde ser tão ousado?

— Isso mesmo! Você teve a ideia de sabotar o casamento! Você disse que nossa relação dependia disso. Me deixou desesperado! Agora não venha me culpar, pois a culpa é toda sua!

— Não tente virar a mesa, Anderson! Desde o começo foi por você. Eu nunca pensei em ter um casamento aberto, mas achei que se relacionar com outra mulher faria você feliz! Não tem direito de me culpar!

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— Eu nunca pedi por isso! Por casamento aberto, por planos mirabolantes. Por sua causa eu fiquei um dia inteiro lavando lençóis em um motel barato, e quase fui preso! Estou cansado de ouvir a tudo calado, você sempre mandando e desmandando! Você não está certa em tudo!

— Quem é você pra falar sobre aguentar as coisas? Pois eu sei que você fuma escondido e nunca reclamei — vomitei as palavras como se fosse impossível contê-las dentro de mim.

— O quê?

— Acha que aquelas balas de hortelã me impediriam de sentir o cheiro fedido do cigarro? E tem mais, eu nunca parei de fumar maconha!

— É? E eu odeio aquelas malditas saladas que você faz — ele quase gaguejou, mas estava nervoso demais para isso. Minhas saladas sempre foram deliciosas!

— E eu fingi orgasmos durante nossos dois primeiros anos de casamento, porque você só me fez gozar depois do nosso segundo aniversário — aquilo foi cruel, mas ele mereceu.

— E você fica igual a uma vagabunda quando usa aquela calça de couro horrível!

Ele passou dos limites. Eu adorava a calça de couro vinho, acentuava minhas curvas e ainda me deixava mais magra. Diante daquilo, não consegui responder, nem mesmo raciocinar me pareceu possível, eu era pura cólera, e só havia um jeito de dar vazão à raiva que transbordava de mim.

Olhei para o lado e apanhei a primeira coisa que avistei: um vaso de porcelana. Atirei-o em direção a Anderson com toda a força. Ele desviou por pouco, e o objeto bateu na parede, se fragmentando em cacos cortantes.

— VOCÊ FICOU LOUCA! PARA COM...

Antes que Anderson concluísse a frase, outro vaso voou em sua direção, depois um cinzeiro, um copo que estava ao lado do sofá, até que não sobrasse um só objeto capaz de ferir inteiro na sala.

— Filho da puta! — gritei, cada palavra cheia de ódio.

Subi as escadas correndo, sentido o suor brotar de todos os poros. Meus cabelos estavam eriçados, como se eu tivesse atravessado um tornado. Já no quarto, tirei uma mala e comecei a pegar minhas roupas, da forma mais aleatória possível, e enfiá-las na mala sem nenhum cuidado. Não demorou para que Anderson viesse atrás de mim, mas eu não queria ouvi-lo.

— Adelaide, espera aí! Vamos conversar, não pode simplesmente ir embora.

— Não tenho nada pra conversar. Pode ir atrás da vagabundinha e pedir de joelhos pra ela voltar. Eu indo embora.

— Não faz isso, amor!

— Amor o cacete! Não me chama de amor! Quem ama não engana, Anderson.

— Eu só fiz isso por nós! Por que é tão difícil assim de entender?

— Não precisa fazer mais nada por nós. Vai atrás da ninfetinha, lamber os pés dela, pra ver se te aceita.

Quando a mala encheu, fechei-a de qualquer jeito, deixando alguns pedaços de roupa para fora e avancei até a porta. Anderson parou no meu caminho, fitando meu rosto com os olhos cálidos; parecia um cachorrinho tristonho, pidão. Mas eu não podia me deixar levar por aquele olhar. Se me sensibilizasse e o perdoasse, jamais teria seu respeito novamente. Eu precisava me manter firme, e se aquele fosse um fim, seria um fim.

— Sai da frente — exigi, sem gritar. Estava um pouco mais calma, depois de extravasar bastante.

— Adelaide — disse ele, com um semblante choroso —, não faça isso com a gente!

— Foi você que fez isso com a gente, agora me deixa passar ou eu passo por cima.

Anderson abriu caminho, mas, assim que eu passei, pôs-se a me seguir. Desci as escadas pisando duro, sem olhar para trás; apesar de mais calma, eu ainda tinha o sangue quente, e já segurava as lágrimas há tempo demais. Fui até a porta, ouvindo os passos dele bem próximos. Girei a maçaneta, e vacilei ao ouvir meu nome.

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— Adelaide, espere.

Virei-me para ele, sem dizer palavra, aguardando para saber que tentativa inútil Anderson pretendia perpetrar.

— Isso não está certo. Não pode sair de casa. Por favor, fique; deixa que eu saio. Pelo menos até você se acalmar.

— Ficar aqui? — indaguei, pensando sobre aquilo.

— Isso.

— E ter que limpar essa bagunça? — concluí.

— Não foi isso que eu quis...

— Vá se foder, Anderson!

Dito isso, mostrei o dedo médio a ele, com os olhos salgados das lágrimas que já se represavam e que não tardariam a cair. Bati a porta sem esperar pela sua reação, e fui direto para o carro.

Eu ainda não sabia o que faria, mas talvez meu casamento tivesse chegado, definitivamente, ao fim. E eu estava apavorada.