—O que você quer? — Eu perguntei impaciente, com Alexis pronta para atacar, ao lado do meu corpo.

— O que você acha que eu quero? — Ele bufou. — Guerra, dã.

— Não estou a fim de lutar, Ares. — Suspirei cansada, mas ainda em posição de espera.

— Uma pena, soube que você é uma ótima lutadora. – Ele sorriu com escárnio. – Mas não me contaram que você é covarde, ao contrário.

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— Te contaram que eu não caio em provocações? E que eu tenho um QI medianamente elevado?- Eu rolei os olhos.

— Me contaram que você é petulante e sarcástica, isso é verdade. – Ele começou a caminhar lentamente, me cercando.

— Te contaram que eu tenho um ego grande? Ambos temos, não?

— Você sabe por que eu ajudei a construir seu brinquedo? — Ele perguntou enquanto caminhava ao meu redor, me analisando. — Alexis, o nome, certo?

— Não vejo motivos. — Murmurei nervosa e ereta, sentindo as órbitas vazias pegando fogo de Ares analisando cada pedaço de mim, me julgando.

— Porque eu nunca vi uma lutadora tão feroz e ágil. E eu esperava que você se tornasse uma de minhas sacerdotisas, queria que ensinasse aos meus filhos seus movimentos, sua rapidez.

— Não vai acontecer. Além do mais, que mortal você conhece que venera o deus da guerra? — Eu ergui uma sobrancelha.

— Garota, não me provoque. — O fogo onde seus globos oculares deviam estar arderam selvagens para mim.

— Estou apenas sendo realista. — Empinei o nariz.

— Como você tem coragem? — Ele parou a minha frente, virando a cabeça, como se estivesse intrigado.

— De que?

— De usar tanto sarcasmo com um deus. De enfrentar o deus da guerra.

—Não é coragem.

— O que é então?

— É isso que emana de você, me irrita. Você me faz usar sarcasmo o tempo inteiro.

— E você adora isso. — Ele chegou perto, estreitando os olhos por trás dos óculos de sol. — Adora ser sarcástica. Se sente poderosa por isso, forte.

— Diga. O que você quer de mim? Algo que esteja dentro da minha sanidade. Servir a você não se encaixa nesse grupo.

— Atrevida. — Ele balbuciou. — Eu quero o raio.

— Eu disse algo que seja sano.

— Para a sua própria sanidade, é melhor me dar o raio. Eu levo para o meu pai.

— Não, obrigada. Eu mesma levo.

— Vai demorar muito. — Ele insistiu, pegando no raio na minha mão.

—Não. — Eu puxei.

— Me dê. — Ele sacou uma espada pingando veneno e apontou para o meu pescoço, puxando o raio. — Sangue de Hidra. — Ele acenou com a cabeça para a espada. — Muito venenoso.

— Vara mágica. — Eu coloquei Alexis em seu pescoço também, indicando com a cabeça. — Muito maneira. — disse cheia de escárnio e abaixei, saindo da armadilha de Ares e girei para trás, tendo algum espaço para tomar um ar.

Ares grunhiu e atacou. Sua espada fez um corte certeiro em meu braço, teria me matado se eu não tivesse pulado para o lado. O corte começou a fervilhar, o veneno da Hidra corroia minha pele, lenta, mas dolorosamente.

— Em poucos minutos seu braço já se foi. — Ele riu. — Vai me entregar o raio agora?

— Você não vai deixar meu pai muito feliz, você sabe. — Eu resmunguei e lancei Alexis como lança.

A lança atingiu o ombro de Ares. Ele gemeu, levantou a mão e arrancou a lança dali, como se fosse flecha de plástico de criança. A perfuração com sangue dourado rapidamente se fechou.

— Você não pode vencer de mim, eu sou o deus da guerra. — Ele olhou com raiva para mim e depois para o meu machucado. Quanto mais seu sorriso malicioso aumentava, mais meu machucado doía. Comecei a gritar desesperada, meu braço estava com um buraco que ficava cada vez mais fundo.

— Desgraçado. — Gritei, caindo ajoelhada no chão.

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— Vai ser mais fácil do que eu pensava, talvez você não seja tão durona quanto dizem. — Ele chegou perto do meu corpo ajoelhado e apontou sua enorme espada para o meu peito. Uma gota de veneno caiu na minha coxa, me fazendo gritar loucamente com o ardor.

— Ares. — Uma voz grossa e aveludada chamou firme e irritado atrás de Ares. — Solte já essa espada.

A expressão de Ares a principio foi de medo e surpresa, mas quando ele se virou seu sorriso estava puro escárnio.

— Maninho. — Ele riu. — Desculpe, tudo bem se eu machucar sua mortal? — Ele sorriu mais ainda e sacudiu a lança acima das minhas pernas, fazendo mais veneno cair na minha pele. Meu grito dessa vez foi estridente.

— Aghata... — Apolo olhou para mim com compaixão, sua expressão ficava mais dolorida quando eu gritava.

— Você não pode interferir, Apolo. Saia daqui, ou se você quiser, assista sua mortal sofrer. – Ele apontou a espada para o meu peito.

Mas eu fui mais esperta. Enquanto ele conversava com Apolo, com um enorme esforço levantei o raio e apontei para ele.

Ele apontou a espada para mim. Assim que ele viu o raio na minha mão arregalou os olhos.

— Você não faria. — Ele começou a recuar.

— Faria sim, eu não gosto de você. — Murmurei com raiva e lancei um raio nele. Seu corpo voou para o outro lado do telhado.

Deixei meu tronco cair no chão, eu estava exausta por causa do veneno, desistindo de lutar.

— Aghata, calma. Isso vai passar. — Apolo se ajoelhou ao meu lado.

— Apolo, você não pode ajudar. Ainda estamos em batalha.

— Não diretamente, mas eu tenho uma ideia. — Ele se levantou, ergueu a cabeça e gritou para os céus. — Clio, Tália, Erato, Melpômene, Terpsícore, Polímnia, Urânia e Euterpe, venham.

— Você está chamando as Musas? — Eu perguntei incrédula.

— Sim, elas podem me ajudar aqui.

De repente oito lindas jovens apareceram à minha frente. A primeira estava coroada de louros, tendo na mão direita uma trombeta e na esquerda um livro intitulado \"Tucídide\". Que eu identifiquei como Clio, a musa da história.

A segunda estava coroada de flores, tocando uma flauta. Euterpe, a musa da poesia lírica. A terceira era Tália, a musa da comédia. Ela tinha uma máscara cômica de teatro na mão, que estava me dando medo, e uma coroa como a de Hera na cabeça.

Todas elas tinham seus símbolos nas mãos. Sorriam simpáticas para mim. Elas eram tão incrivelmente lindas que pareciam irreais.

— Oh, querida. — Uma delas com um véu e toda a roupa branca se ajoelhou ao meu lado, passando a mão em meu cabelo maternalmente. Sua expressão era de preocupação, mas ainda se via que ela era pensativa. Polímnia, a musa dos hinos. — O que aconteceu com você?

— Foi ele. — Uma mulher com o cabelo preto como o céu, um lindo e longo vestido azul-celeste e uma coroa de estrelas apontou para o corpo de Ares no outro lado. — Eu o odeio.

— Urânia, você é a musa da astronomia, você só o odeia porque colocaram o nome romano dele em um planeta, o seu preferido. — A voz desta musa era incrível, quando ela falava as palavras dançavam no ar. Literalmente. Em sua cabeça havia uma coroa de grinaldas, uma lira pousava ao seu lado.

— E você não o acha exatamente gracioso, Terpsícore. – Tália rolou os olhos com o sorriso constante no rosto. — Como você diz, ele não tem o dom da dança. — Ela disse imitando sua irmã dançando.

— Meninas! — Apolo as chamou, elas se calaram na hora. Eu sabia que ele era o regente das musas, mas não imaginava que ele tinha tanto comando. — Preciso que vocês ajudem aqui. Eu mesmo ajudaria, mas não posso interferir diretamente.

— Pode mandar, chefia. — Tália sorriu. Novidade!

— É esse o problema. — Ele apontou para o meu braço verde.

— Ah, meu Apolo! — Melpômene, a musa da tragédia, fez sua clava voar sobre a minha cabeça de tão sobressaltada que ficou quando viu meu machucado. — Oh, meu bem, nós vamos sarar isso, tudo bem? — Ela passou a mão no meu cabelo e sorria toda preocupada para mim.

— Não, eu ajudo. — Uma musa de ar majestoso e com uma coroa de ouro se agachou ao meu lado.

Eu sabia quem era ela. Calíope, a musa da eloqüência. Só que eu não gostava dela, ela tivera um caso com Apolo. Mas isso era imperceptível perto dela, a simpatia emanava dela. Ela tinha mesmo carisma.

Sua mão sobrevoou o meu machucado e ele logo começou a cicatrizar. Ela era incrível.

— Agora se levante. — Melpômene ordenou.

Assim que eu me levantei, elas fizeram mesura. O que eu achei bem estranho.

— Ponha um sorriso nesse lindo rosto, minha deusa. — Tália encostou os dedos nos cantos da minha boca. Involuntariamente eu sorri. — Pronto, agora sim.

— Acho que já acabamos aqui. — Polímnia disse. — Adeus, meu deus. — Elas fizeram mesura a Apolo. — E adeus, minha deusa. — E fizeram a mim.

— Er... Obrigada, senhoritas, por me curarem. — Eu agradeci sem jeito pela mesura.

— De nada. — Elas disseram e puf. Cada uma desapareceu do seu jeito.

— Apolo, o que foi aquilo da mesura e ‘minha deusa’? — Eu me virei para ele com um olhar acusatório e assustado.

— Ah... Aquilo? Não foi nada. — Ele pareceu fugir do assunto.

— Me diga. — Disse firme.

— Eu contei a elas sobre meus planos, bom... Nossos planos. — Ele disse envergonhado.

Nossa, surtei por dentro nessa hora. Mas eu não tive muito tempo. Pois recebi uma pontada nas costas que me fez voar.

— AHAHA. — Ouvi a risada de Ares.

Uma lança estava presa entre minhas costelas, só quando percebi que estava suspensa no minúsculo ‘muro’ entre o telhado e a morte é que comecei a sentir a dor da fisgada. Meus pés não conseguiam encontrar o equilíbrio. Eu estava na beira.

— Ares! — Apolo gritou morrendo de raiva, mas algo o impedia de interferir na luta. As leis antigas.

— Sinto muito. — Ele pegou o raio no chão e apontou para mim. — Na verdade, não sinto não. — Ele riu mais ainda e um clarão tomou conta do telhado.

As ultimas coisas que senti foram: um choque, o vento batendo em meu rosto, a sensação de queda livre e aquele alarme na minha mente. Morte.