Blood Royal

Capítulo 20


MINHA CABEÇA ESTAVA APOIADA contra o ombro de Lori enquanto esperávamos que Kaya começasse seu pronunciamento. Eu estava em meu quarto quando Tessa chegara com o aviso de que todas estávamos sendo convocadas ao Salão das Mulheres. E agora que já estávamos lá, ansiosas, mal podia imaginar o que estava por vir.

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— Peço desculpas por deixá-las esperando — disse a rainha, adentrando rapidamente o salão. — Por favor, não se levantem. Bem, estamos todas aqui? Certo.

Nos aprumamos em nossos lugares e agucei meus ouvidos para não perder nenhuma palavra. Observei que Kaya captava cada ação nossa, certificando-se de que estávamos agindo da maneira como nos era exigido.

— O que tenho a comunicar a vocês é muito simples — começou a rainha America. — Amanhã meus familiares chegarão ao palácio, eles irão passar alguns dias conosco. Eles desejam conhecê-las também, portanto, quero deixá-las cientes de que nos dias que se sucederem deverão encontrar com eles pelos corredores.

Todas nós assentimos, indicando que havíamos compreendido muito bem tudo o que ela havia dito.

— A noite teremos um jantar especial por conta disso, todas vocês estão convidadas a participar. Kaya irá lhes dar maiores detalhes a respeito. — A rainha indicou que Kaya podia falar.

— Teremos uma pequena comemoração para receber a família da rainha America, vocês estarão presentes para recebê-los, e logo depois poderão ir a seus quartos para se prepararem. O jantar será servido no Grande Salão, no mesmo horário. Como já estão habituadas a isso, creio eu que não terão problemas — seus olhos nos avaliaram. — Por ora é apenas isso, estejam preparadas amanhã.

Fomos deixadas por elas e relanceei os olhos na direção de Lori.

— Conhece a família da rainha? — perguntei.

— Só pela televisão ou pelas revistas — ela encolheu os ombros. — Sei que o pai dela morreu quando ela ainda estava na Seleção, e que tem um irmão que nunca aparece junto com os demais.

Olhei na direção das portas escancaradas por onde Kaya e a rainha haviam saído e suspirei.

— Também gostaria de ver a minha família — murmurei.

***

— Eu não posso usar esse vestido de novo? — perguntei, segurando um modelito cor de salmão.

Leah balançou a cabeça rapidamente, enquanto tentava consertar uma parte do vestido que haviam preparado para eu usar naquela manhã.

— Leah, podemos fazer o seguinte — avancei. — Conserte esse vestido e eu o uso a noite, agora pela manhã usarei este aqui mesmo.

— Mas senhorita...

Ergui um dedo e ela se calou.

— Eu não ligo de repetir o vestido, mas nós não temos a manhã inteira. Eu preciso descer e me juntar as outras, deixe esse trabalho maravilhoso para ser usado a noite — convoquei Cali para me ajudar, e sorri para uma Leah frustrada. — E isso é uma ordem.

Tessa soltou meus cabelos e o jogou por cima dos meus ombros. O busto tomara que caia ajustou-se perfeitamente como da última vez; Cali deslizou uma pulseira pelo meu pulso, e colocou os brincos na palma da minha mão.

Estava na hora.

Coloquei os brincos enquanto ainda avançava pelo corredor, sentindo meu estômago vazio começar a protestar. Deslizei os dedos por entre meus cabelos e respirei fundo. Desci as escadas tomando cuidado para não tropeçar na saia do vestido, e avistei a maioria das garotas já aguardando no hall de entrada.

Reparei que Kaya as havia organizado em uma fileira, e tentando evitar que fosse colocada em um lugar indesejado, aproveitei que a mesma se encontrava distraída e me enfiei ao lado de Lori.

— Você demorou — comentou ela.

— Pequenos imprevistos.

Rowena foi a última das Selecionadas a se juntar a fileira. Assim que se acomodou a família real surgiu. Todos parecendo felizes, e trazendo no rosto sorrisos empolgados. Nicholas caminhava ao lado de pai, e as semelhanças entre ambos eram enormes vistas de perto. Inclinei-me no meu lugar e observei as outras, como já era de se esperar, toda atenção estava depositada neles.

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— Bom dia, senhoritas — disse Nicholas.

— Bom dia, Majestade. — Seguiu-se um coro de dezessete vozes.

— Eles já estão chegando — adiantou-se o rei. — Pelas informações que recebemos estavam a poucos minutos do palácio.

A rainha apertou brevemente o braço do marido e lançou-lhe um sorriso adorável. Eu conseguia enxergar em seus rostos o quão apaixonados eram um pelo outro, e consequentemente me recordei da conversa que havia tido com Nicholas na noite em que ajudei o soldado Duncan. Eu sabia que, se fosse o caso, a rainha America não hesitaria em salvar o rei Maxon.

Olhei na direção de Nicholas e não demorou muito até que seus olhos esbarrassem com os meus. Ele sorriu, e pelo menos eu tive a certeza de que aquele gesto era para mim. Sorri de volta e virei-me rapidamente quando os guardas abriram as portas.

Num gesto involuntário todas nós nos curvamos em nossos lugares, e o primeiro rosto que avistamos era tão parecido com o da rainha que ouviu-se um suspiro coletivo. May Singer caminhou graciosamente para próximo da irmã e a envolveu num abraço terno e demorado. Seus longos cabelos ruivos ondulavam por suas costas, havia se tornado uma mulher alta e esguia, e trazia consigo uma jovialidade contagiante. Em seguida, vieram o irmão mais novo e a mãe.

Seguio-os com os olhos, e observei que apesar do rosto sério ao entrar, Magda Singer sorriu ao abraçar a filha. O caçula parecia meio sem jeito, e cumprimentou o rei e Nicholas com apertos de mão firmes.

— Fizeram uma boa viagem? — perguntou a rainha.

— Seria exagero dizer que melhor impossível? — indagou de volta sua mãe.

— E quanto a Kenna?

— Não pôde vir, estava com uns problemas em casa — respondeu May, e virou-se na nossa direção. — Olá, meninas!

Era difícil olhar para a rainha e toda sua família, e imaginar que um dia eles haviam sido Cinco. Eu tinha plena consciência de que o salto que haviam dado era enorme, de todo modo, também sabia que eles mereciam estar onde estavam. A maneira como nos trataram, e a forma como a hora seguinte se sucedeu provou ainda mais isso.

Durante o café a conversa seguiu-se empolgada. Nicholas conversava com o tio, Gerad, e o rei Maxon ouvia a mãe da rainha com bastante atenção.

— Elas parecem tão unidas, não é? — comentou Lori, indicando a rainha e a irmã.

Observei-as enquanto conversavam e concordei com um aceno de cabeça.

— Sei bem como é isso — comentei.

Pensei em meus irmãos, e em como eles me faziam falta. Mesmo Mike, com seu jeito mais centrado, ainda possuía um traço de humor único que me fazia adorá-lo ainda mais. Com Theo não haviam palavras que pudessem descrever o quanto eu lhe era grata. Ele havia me posto naquele caminho, ele havia me mostrado uma direção.

— Sente falta dos seus irmãos, não é? — indagou Lori.

Balancei a cabeça.

— Sinto falta de todos, na verdade — confessei. — É tão estranho, porque quando eu estava lá, eu não tinha noção do tamanho da importância deles para mim.

Lori sorriu.

— Estou com saudades da minha mãe — falou. — É sério, Alexia, você precisa conhecê-la algum dia.

— Eu irei.

***

A noite não houveram imprevistos. Minhas criadas conseguiram terminar de me preparar a tempo, e felizmente Leah havia sido fantástica no conserto do vestido. O tecido verde escuro parecia perfeito para aquela noite, a cintura alta prendeu-se a minha, e a saia volumosa cobria meus sapatos. A parte do busto possuía alguns brilhos, e aquilo foi o suficiente para que Cali pedisse que eu usasse a tiara.

— Impecável — comentou, após prender o objeto frágil e brilhante nos meus cabelos.

Olhei-me no imenso espelho e respirei fundo. Eu parecia brilhar com todas aquelas jóias, o contraste das cores era fantástico e acabei por me recordar da época em que jamais me passara pela cabeça me vestir daquela maneira.

A mesma Alexia, uma vida diferente”, pensei.

Fiquei feliz por não ter que seguir até o Grande Salão sozinha. Mesmo não tendo encontrado Lori pelos corredores, Miranda me fez companhia.

— Empolgada? — perguntou ela.

— Não sei muito o que esperar, mas acho que pode ser uma boa noite.

Ela concordou com um aceno de cabeça e nós atravessamos o hall. A decoração no Grande Salão havia sido feita diferente. Inúmeras mesinhas redondas haviam sido espalhadas, de modo que poderíamos escolher com quem desejávamos nos sentar; um mesa especial havia sido colocada ao fundo e ali era onde a rainha se encontrava com a família. Uma música suave tocava ao fundo e os garçons circulavam pelas mesas oferecendo petiscos e champagne.

Varri o lugar com os olhos e encontrei Lori acenando discretamente para mim. Me aproximei rapidamente e me sentei ao seu lado, Miranda também fez o mesmo.

— Perdi alguma coisa? — perguntei.

— Não mesmo — ela respondeu. — Aliás, estava esperando você chegar para que pudéssemos... comentar sobre essa comemoração.

Lori me olhou ansiosa e me esforcei para não rir. Inclinei-me no meu lugar e falei:

— Pois bem, fale.

Ela olhou na direção da mesa da rainha e em seguida encarou Miranda e eu.

— Tudo bem, mas isso fica apenas entre nós, certo? — concordamos, Lori suspirou. — Repararam no quanto o irmão da rainha é... charmoso?

Miranda riu, e rapidamente cobriu a boca com a mão para abafar o barulho. Não me contive e a acompanhei. Eu havia conhecido uma Miranda séria, que na maior parte do tempo aparecia de cara fechada, mas com o tempo, de algum modo, ela passara a ser mais legal comigo. Sorria para mim quando nos esbarrávamos e quando queria, sentava-se com Lori e eu no Salão das Mulheres. Havíamos estabelecido um vínculo de convivência sem precisar de muitas palavras, e aquilo na linguagem popular era o que se considerava “colega”.

— O irmão da rainha, Lori? — indaguei.

Ela deu de ombros.

— O que é? Olhar não arranca pedaço — e baixando a voz para um sussurro ela continuou. — E também nós nunca sabemos quando podemos ir embora. Somos dezessete, de trinta e cinco! As coisas estão um pouco paradas agora, mas é só uma questão de tempo até esse número tornar a cair. Fora que não vai demorar muito e a Elite precisará ser formada.

— É verdade — concordou Miranda. — Minha mãe me escreveu esses dias, e pelo o que me contou a vida das Selecionadas que foram eliminadas não está ruim. Algumas delas já encontraram seus noivos.

— Sério? — questionei. — Assim, tão depressa?

Miranda me lançou um olhar como se eu fosse uma criança inocente.

— O país inteiro está nos acompanhando, estamos em evidência no momento. Assim como existem pessoas que torcem por nós, também existem aquelas que nos querem fora. Muitos homens importantes também acompanham a Seleção, certamente ficam interessados em nós, mesmo sabendo que estamos aqui por ele — ela indicou Nicholas com a cabeça. — Quando uma de nós é eliminada, já existem inúmeros pretendentes disponíveis.

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Pensei no que ela havia acabado de falar e a lembrança de Sebastian me veio à cabeça. Estremeci só de cogitar a possibilidade de encontrá-lo de novo, e a ideia de poder ser pedida em casamento por ele era mais repugnante ainda.

— Se eu fosse embora, primeiramente dedicaria um bom tempo para mim mesma, e só depois pensaria em me casar — falei.

Lori concordou.

— E se eu viesse a encontrar um homem que me atraísse muito, ele teria que ser muito charmoso — divagou. — Como o irmão da rainha.

Nos entreolhamos e caímos na risada novamente.

O jantar foi, assim como todos os outros, um sucesso. A comida estava fantástica, nós pudemos nos divertir um pouco, e até mesmo Kaya — que aparecera rapidamente —, parecia relaxada. Ao passo que terminamos de comer, a família da rainha parecia empenhada em nos conhecer. Magda aproximou-se de um grupo de garotas e começou a conversar com elas, May aproximou-se de um outro grupo e fez o mesmo. O único que permaneceu destacado e envolto numa conversa com Nicholas foi Gerad.

— Por que ele não vem nos conhecer? — indagou Lori, observando-o. — Somos tão legais.

Franzi o cenho para ela.

— Precisa se controlar — avisei. — Esqueceu do motivo pelo qual estamos aqui?

Lori me encarou, com os olhos semicerrados ela avaliou meu rosto.

— Você gosta dele — apontou. — Mas não mais do jeito que era quando isso tudo começou.

— Do que está falando? — contrapus.

Miranda olhou de uma para outra.

— Logo no começo você não se importava muito em estar aqui ou não, se tivesse sido mandada embora nem teria ligado. Mas a muito tempo eu tenho reparado, Alexia. A forma como você o olha, o jeito que fica quando ele aparece... E também me lembro de como ficou mal quando Brittany disse que o havia beijado — senti minha boca seca, mas Lori estava sorrindo. — Você gosta dele de verdade.

Eu não respondi, mas se ela já havia percebido então estava mais do que na cara.

— Acho que eu deveria ter contado para você, não fui sincera... — comecei.

Ela ergueu a mão, me interrompendo.

— Eu te entendo, e eu jamais ficaria com raiva de você — Lori segurou minha mão. — De todas as pessoas que conheci até então, você foi a que desempenhou um papel mais que importante. Compartilhei muitas coisas com você, e em troca recebi sua lealdade. Eu não tenho nada a te cobrar.

Mesmo sob todas aquelas palavras eu me senti culpada. Uma parte minha gritava que eu deveria ter contado, mas a outra me dizia para não tocar mais no assunto. E foi isso que eu fiz.

Eu me encontrava de pé perto de uma das janelas quando May aproximou-se de mim. Seus cabelos estavam jogados sobre os ombros, e ela sorriu de maneira amigável quando parou ao meu lado.

— Eles sempre conseguem fazer o melhor, não é? — comentou, indicando o salão.

— Tudo isso para mim sempre vai ser uma grande surpresa.

Ela riu.

— Espere até ver a festa de Halloween — piscou.

O Halloween era uma tradição do nosso país bem antes de naufragarmos em dívidas, mas desde que o rei Maxon havia assumido o trono aquela parte da nossa história retornara para nós. Costumávamos comemorar em Columbia, e a festa geralmente ocorria no meio da Praça. Mas imaginar como ela deveria ser ali no palácio para muito mais fantástico.

— Soube do que fez por um dos guardas — May comentou, virando-se para me encarar. — Foi uma grande atitude.

Eu a encarei também, havia um traço de divertimento e ansiedade em seus olhos.

— Eu teria feito aquilo por qualquer um que estivesse caído no meio de um ataque...

— Você sentiu medo? — perguntou ela, mal esperando eu terminar a frase.

— Sim — respondi, tentando disfarçar minha confusão.

— Sabe, nem todas as pessoas sabem disso, mas ser uma boa líder é algo que vem no sangue. Veja minha irmã — ela virou-se na direção da rainha. — America nunca quis ser parte da realeza, mas quando Maxon a escolheu e ela tornou-se rainha, comandou com tanta maestria que chegou a surpreender a si própria. Algumas pessoas simplesmente nasceram para isso, elas apenas... não sabem. — May deu um gole em seu champagne. — A propósito, adorei a tiara.

Ela afastou-se antes que eu pudesse agradecer, e eu a segui com os olhos até vê-la se aproximar de outra Selecionada. Olhei na direção de Nicholas e encontrei seus olhos, ele sorriu para mim e ousou me lançar uma leve piscadela. Observei a rainha e o rei a um canto, figuras tão importantes e ao mesmo tempo tão inspiradoras. Passei meu olhar pelas garotas e pensei a respeito das palavras de May.

Virei-me na direção da janela e encarei meu próprio reflexo. A tiara, como sempre, lembrava a uma coroa. As possibilidades abriam-se diante de mim, eu só precisava me agarrar a elas. A questão era: Eu gostava de Nicholas o suficiente para me casar com ele e auxiliá-lo no que fosse preciso?

Senti sua mão em meu ombro e virei-me encarando seu rosto sorridente. A certeza estava ali, manifestando-se dentro de mim pronta para ser gritada. Eu sabia a resposta para aquela pergunta.

Era sim.