Capítulo 15

[NARRAÇÃO: Felipe]

Joguei meu notebook de qualquer jeito na cama e saí correndo do quarto. Quando meu pai grita, coisa boa não é.

Atravessei o imenso corredor das cabines. Meu pai não estava mais por perto. Desci as escadas com o coração acelerado e percebi que as pessoas ao meu redor não estavam tão aflitas quanto eu.

Exceto quando cheguei ao salão principal.

Havia um cara falando espanhol, e tentava acalmar os passageiros. Ele tinha o bigode muito cheio e usava um sombreiro maior que seu próprio corpo. Minha coluna doía. Estava ofegante. Apoiei-me no corrimão da grande escada e avistei meu pai, há alguns metros de distância. Meus olhos lacrimejavam. Não sei o que deu em mim.

Uma idosa, sentada numa cadeira de rodas, gritava loucamente:

– É coisa ruim! É o coisa ruim! Cuidado! Cuidado!

E ao seu redor, três pessoas faziam - desesperadamente - com que ela se calasse. Será que a lenda é verdadeira? Tudo bem que os idosos podem ter alucinações (não só eles, mas qualquer um), mas o que levaria alguém a chamar outra pessoa de Coisa Ruim?

O papai olhou para o lado e me viu. Veio correndo até mim. Percebi que também estava com lágrimas nos olhos e ia dizer alguma coisa, mas desistiu. Perguntei o que estava havendo, mas ele apenas agarrou um de meus braços e me levou de volta ao quarto.

A mamãe já tinha terminado de dar banho na Aurora e assim que nos viu, indagou:

– O que aconteceu lá fora? Acho que ouvi você gritar, Augusto.

– Não é nada, amor... fique tranquila... - respondeu meu pai.

Fiquei ainda mais frustrado. Por que estava todo mundo agindo tão estranho? Por que o meu pai não quis contar?

Foi tanta correria que nem percebi que a chuva havia se cessado. Coloquei meu notebook para carregar. Ele ligou automaticamente e vi que havia uma mensagem do Henrique no Skype.

HenriqueSilva: Pelo amor dos santos, Felipe! Leia essa matéria! Deixarei o link logo abaixo. Por favor, leia mesmo!!!

Coincidência demais. O link me levou para uma página criada recentemente, sobre o Cruzeiro das Sombras.

O que mais me assustou é que havia uma foto de um homem igualzinho ao mexicano de bigode cheio que estava no salão.

E as notícias não eram das melhores.