Gerard saia do carro que o levara até o quartel, quando avistou um pelotão enfileirado. Estranhou, já que não havia programado nenhum exercício para aquele dia.

Ele se encaminhou para lá, quando seu ajudante de ordens veio na sua direção.

– Capitão! Que bom que chegou. O sargento vai acabar com ele.

– Acabar com quem Hans?

– Com um dos soldados recém-chegados. Ele disse que o soldado havia sido negligente no caso do roubo do trem. Mas o rapaz não pertencia ao pelotão do trem. Eles haviam chegado à França dois dias depois do roubo. E o soldado respondeu que não tinha nada a ver com isso. Ai o sargento enlouqueceu. Mandou prender o rapaz por desacato e vai açoitá-lo.

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– O que?! Temos que impedir isso.

– Venha, senhor.

Gerard e Hans abriram caminho em torno do pelotão e, para a surpresa do inglês, Von Gorthel estava junto de um homem de branco.

O sargento Kroll chicoteava sem piedade um soldado preso por grilhões em um poste e as costas dele estavam em tiras numa massa sangrenta. Aparentemente, o rapaz estava desmaiado.

– Senhor! – Gerard encaminhou-se para o comandante. – Precisa parar com isso. O sargento vai matá-lo.

– Ah, Vaan Sucher! – o homem estava gostando daquilo, Gerard percebeu enojado. – O Sargento já está acabando.

Gerard olhou para o homem de branco, identificando o Dr. Ravensach, um médico que costumava fazer experiências com soldados para torná-los perfeitos.

– Qual foi o castigo do soldado?

– Vinte chicotadas. – respondeu Von Gorthel sem tirar os olhos do espetáculo dantesco.

Gerard viu que os soldados contavam as chicotadas e eles estavam em quinze. Ele se afastou do comandante e se aproximou do sargento. Era visível a satisfação do alemão ao fazer o seu serviço sujo.

Quando os soldados chegaram a vinte, Kroll levantou o chicote mais uma vez para bater no rapaz, Gerard esquecendo a prudência, lançou-se contra o sargento e segurou-lhe a mão.

– Já chega! Acabou.

Kroll tentou soltar-lhe a mão, mas do aperto do outro era férreo.

– Largue de mim, Vaan Sucher.

– Capitão! Sargento!– Von Gorthel chamou a atenção dos dois.

Os dois soldados viraram-se para seu comandante. Mas Kroll ainda teve tempo de sussurrar para Gerard:

– Um dia, você ainda sentirá meu talento entre os ombros, herr Hauptmann.

– Retorne aos seus afazeres, sargento. Já terminamos por aqui.

Kroll bateu continência e se afastou. Von Gorthel olhou para seu subordinado.

– Você é um bom soldado, Vaan Sucher, mas precisa a ser menos condescendente.

– Condescendente, Senhor?

– Sim. O seu inimigo não terá misericórdia de você.

Gerard fitou Von Gorthel como se quisesse saber mais do que ele falava.

– Obrigado pelo conselho, senhor.

– Não foi um conselho. Foi um aviso. – ele já se virava para ir embora, mas voltou-se.

– Você volta para o Comando comigo?

– Não. Eu ainda tenho algumas vistorias para fazer.

– Certo. Passe em minha sala quando voltar. Tenho uma incumbência para você.

– Do que se trata senhor?

– Uma correspondência para o Cel. Kauffmann.

– Uma correspondência, senhor? Não seria melhor mandar pelo sistema de mensagens?

– Não! Trata-se de uma comunicação extremamente confidencial. Só confio em você para realizar essa tarefa, Vaan Sucher.

– Bem, nesse caso agradeço a deferência senhor.

– Muito bem. Aguardo-o quando voltar.

Os dois trocaram continências e Von Gorthel se afastou. Ele tinha um sorriso satisfeito no rosto.

– Hans, solte-o e leve para a enfermaria, rápido. - Gerard acenou para seu ajudante.

– Sim, senhor. - o rapaz pegou nos braços do pobre soldado e enquanto outro soldado pegava-o pelos pés. Terceiro correu na frente para alertar as enfermeiras.

Gerard viu o grupo se distanciando e jurou que haveria de dar fim no sadismo do sargento.

***

– Não gosto disso, Gerard. E se for uma armadilha? – o casal conversava numa das galerias da Igreja próxima ao orfanato e a moça tinha a cabeça apoiada no ombro do rapaz.

– Não se preocupe, minha amada. – Gerard acariciou os cabelos dela. – Von Gorthel não tem motivos para desconfiar de quem eu sou na verdade. Provavelmente ele só quer me afastar de Paris por algum motivo.

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– Eu não sei. Hanna me disse que ele nunca enfrenta seus inimigos de frente. Sempre lançando mão de subterfúgios.

– Se isso lhe deixa mais tranquila, eu estarei armado. E sou muito bem treinado. Nada dará errado. – estava sorrindo quando a afastou dele e a beijou ternamente.

Mesmo assim, Lucille não estava tranquila. É como se ela se sentisse com uma [1]espada de Dâmocles sobre a cabeça.

***

O carro parou abruptamente fazendo com que Gerard levantasse a cabeça dos papéis que estudava.

– O que aconteceu, soldado?

O soldado que dirigia o carro virou-se para ele com uma arma em punho.

– Por favor, Capitão. Saia do carro.

O outro soldado já segurava a porta do passageiro para Gerard sair. Sem outra alternativa, o inglês fez o que mandaram.

Estavam num ponto deserto da estrada, longe de qualquer habitação. "Da próxima vez, vou acreditar na intuição de Lucille", pensou ele. Gerard avaliou a situação. Eram soldados jovens, mesmo armados, não seria problema para ele.

– Bem, acredito que seja perda de tempo perguntar quem mandou vocês fazerem isso, mas antes da minha execução, eu gostaria de saber por que. – Gerard encostou-se displicentemente no carro como se nada o preocupasse.

Uma pena que ele não tivesse tido tempo de verificar o que estava no envelope. Talvez não tivesse correspondência nenhuma para Kauffmann.

– O senhor não abriu o envelope, capitão.

– Claro que não! – ele fingiu indignação. – Era uma correspondência confidencial.

– Pois devia tê-lo feito. Assim saberia por que está morrendo.

– É... A lealdade nem sempre nos proporciona louros.

Gerard desencostou-se do carro, se aproximando dos soldados.

– Mas sabem de uma coisa? Eu não vou morrer hoje.

Dizendo isso, ele jogou-se sobre o soldado que segurava a arma e fez ele disparar contra o outro soldado. Torceu o braço dele fazendo-o largar a arma. O soldado conseguiu se soltar e os dois trocaram socos. O soldado derrubou Gerard no chão tentando estrangulá-lo. Mas Gerard conseguiu livrar suas pernas e empurrou o soldado com elas. Respirando com dificuldade, o inglês levantou-se e quando o soldado lançou-se novamente sobre ele, Gerard agarrou o pescoço dele com o braço, torcendo-o sem piedade.

Ofegante, Gerard apoiou-se no carro e respirou tentando ordenar as ideias. Pegou o envelope sobre o banco e o abriu. Como esperava a folha de papel estava em branco. Não havia correspondência nenhuma. Mas, Von Gorthel não sabia que ele era um espião aliado. Disso tinha certeza. Então só haveria motivo para que ele quisesse matá-lo: Lucille.

Rapidamente o inglês pegou os corpos levando-os para o lado da estrada. Se alguém os visse, atribuiria a uma emboscada da resistência. Entrou no carro e saiu em disparada em direção à Paris. Que Deus ajudasse Von Gorthel se ele tocasse em um fio de cabelo de Lucille.