Capítulo único

Estou tão cansado de estar aqui

Reprimido por todos os meus medos infantis

E se você tiver que ir, eu desejo que você vá logo

Pois sua presença ainda permanece aqui

E isso não vai me deixar em paz

Pois o sol encontrava-se alto no céu e eu poderia simplesmente prever que estava a ficar sozinho mais uma vez. Esquecia-me com a mesma facilidade que respirava de que ele não voltaria.

Triste, não? Irônico em demasia... Não conto dois meses de nossa despedida, desde que nossos trajectos deixaram de ser os mesmos e assim como ele surgiu, também sumiu.

Tacteio o bolso a buscar algo, uma lembrança. Oh, meu celular... Ele nunca aparecia nas fotos, típico de um fantasma... mas esta era muito bacana por ter ao menos pegado-o de surpresa. Não estava como para sair, ele talvez não tenha notado o quão Hayama estava bobo com meu celular à mão, sem parar de tirar fotos. Sorrio com as memórias e vejo que seu livro que sempre estava a carregar também saíra.

Que chegasse de bobeiras, e deveria estar a casa, ou pelo mais a caminho. Era hora já dada, e precisava sair do prédio pois não desejava ficar trancado.

Paro distraído frente a passadeira e olho a foto mais uma vez. Como sinto saudades daqueles olhos vazios, não, eram expressivos o bastante e somente a mim.

Mas então tomaram-me...

Eu não notei quando tiraram-me o celular, e agora o ultimo resquício que tinha de Mayuzumi foi-se.

Você costumava me cativar pela sua luz ressonante

Agora eu estou limitado pela vida que você deixou para trás

Seu rosto assombra meus únicos sonhos agradáveis

Sua voz expulsou toda a sanidade em mim...

XMayuXAkaX

Da liberdade era isso que eu poderia esperar: mais uma gaiola que me cercava... e quando eu finalmente pensei que estaria livre, vi que tudo não passara de uma ilusão.

Nunca deixei de ser fraco, mas nunca quis mostrar minhas limitações... o mundo não é para os fracos, mas o que posso fazer se nem ao menos existo para ter uma força?

Sinto que sua ultima lembrança minha se foi, e que em breve esse mundo não terá mais sentido, tampouco minha presença para si, se é que ela foi, agora se foi.

Sempre estive ao seu lado, e ao ver-lhe o celular roubado, nada pude fazer para evitar. Sentei-me à calçada, rindo pelo quão patéticos conseguíamos ser.

— Não precisa chorar... foi apenas um celular, você pode comprar um outro.

Ele não me ouviu, mas já estava acostumado a isto, a esta frustração.

E enquanto todos atravessavam a rua, ele olhava para o nada, e pude ver enquanto as lágrimas escorriam em seu rosto.

"— Eu perdi muito mais que um celular... eu perdi o ultimo indício de que ele uma vez esteve comigo."

Disse como para si mesmo, e então estendi-lhe minha mão, tentando tocá-lo, mas ele não sentiu...

Ele me ouviu? Não... não são os mortos que não falam, são os vivos que não nos escutam.

Quando finalmente pude dizer-lhe que sempre estaria consigo, fui levado para longe, deixando para trás uma promessa que nunca seria cumprida...

"Me perdoe, o "sempre" talvez não seja "para sempre"... mas por você, eu sempre estarei aqui..."

Eu tentei tanto dizer a mim mesmo que você se foi

Mas embora você ainda esteja comigo

Eu tenho estado sozinho todo esse tempo...