Detenção
Desastre Anunciado
–Detenção?! – exclamou Mavis chocada enquanto tirava os últimos livros de seu armário.
–Pode por favor ao menos tentar evitar que todos falem sobre isso? – retrucou Elsa em um tom duro, com os olhos focados nas coisas em seu próprio armário, a mão tremendo e apertando a porta com força; espiou os lados temerosa de que a notícia se espalhasse, mas o frenesi pelo último dia de aula era grande demais para que alguém ligasse para a conversa das duas. Mesmo que fossem a Princesa de Gelo e a Vampira.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!O Diretor havia sido bem claro quando disse que aquilo não poderia se espalhar; o sucesso dependia de os alunos desconhecerem a tradição e, assim sendo, nunca se prepararem para ela.
–Desculpa amiga – disse a outra em um tom solidário – é que eu apenas fiquei sabe... surpresa.
–Não é a única. – admitiu a loira com um suspiro derrotado, se encostando aos armários e olhando para os olhos enormes cheios de maquiagem da outra – Não sei onde estava com a cabeça quando aceitei isso.
–Onde sempre está Elsinha: ser um exemplo de garota, deixar seus pais orgulhosos, elevar sua existência acima dos reles mortais...
–Mavis...
–Só brincando. Mas sério, você devia parar de se cobrar por tudo e fazer as coisas de modo mais relaxado. Tanta perfeição devia cansar em algum momento.
–Você sabe que pra mim não é esforço algum.
–Ok amiga, mas se a coisa apertar não hesite e me chame; eu conheço algumas das criançonas que você vai ter que bancar a babá, são baderneiros, mas são gente boa.
–Não vejo como baderneiros e gente boa podem ser encaixados de modo coerente na mesma frase, mas não preocupe; tenho certeza que posso perfeitamente dar conta de alguns casos perdidos.
Mavis se despediu com uma piscadela e atrás de Jonathan para passarem o último dia de aula juntos; desde que ela cismara em fazer Elsa ir no Baile de Primavera junto com o melhor amigo dela e a garota acabara mandando a irmã no lugar, a gótica parecia ter desistido das tentativas de fazer a amiga provar do sabor viciante de um cara mais velho.
Elsa pretendia ir para casa tranquilamente conversar com seus pais e pedir alguns conselhos aproveitando que Anna ia sair com as amigas para celebrar o fim do ano letivo, mas foi abordada na saída por ninguém menos que Hans Westergard.
Filho caçula de um amigo da família, ele desde sempre parecia agir como se ele e Elsa fossem uma espécie de casal. Pela lógica seria uma união lucrativa para ambas as famílias, mas a atitude dele a irritava; com uns charmoso, com outros doce, com outros ainda severo ou sarcástico.
Duas caras não era o suficiente para defini-lo.
–Já indo embora Elsa? – perguntou ele com seu sorriso de príncipe que faz com que as outras meninas se derretam.
–Sim – respondeu ela na defensiva – tenho assuntos a tratar com meus pais.
–Estava pensando em sair, ir naquela sorveteria que você adora.
–Obrigada, mas eu não tenho tempo livre. – ela amaldiçoava o dia em que a irmã contara para ele aquela informação; todas as vezes que fora no lugar desde então dera de cara com Hans.
Anna, como boa parte das meninas, tinha uma queda por ele - alto, bonito, atlético, de boa família, notas impecáveis, capitão do time de natação, cheio de gracejos... - eles quase começaram a sair uma vez, mas ela atormentara tanto a menor que o relacionamento acabou não indo pra frente, para seu alívio.
Mas por conta disso ela voltara a ser seu alvo e o garoto não dava indícios de que ia desistir.
–Então vamos sair semana que vem, eu soube que em dentro de duas vocês vão viajar. – insistiu ele.
–Durante as próximas semanas estarei ocupada. – murmurou com um gosto amargo na boa; ele riu.
–Não esperaria nada menos de você, já organizou toda sua agenda! Alguma coisa na escola?
–Algumas coisas sim. – desconversou, desesperada tentando achar o carro. Era nesses momentos que se odiava por não ter feito aula de direção e ser incapaz de ir e voltar sozinha da escola.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!–Talvez eu passe por aqui um dia então. – disse ele, dando pouca escolha a loira. Naquele momento, visualizou seu carro.
–Sim claro, tenho que ir, boas férias Hans! – disse ela saindo em disparada; não conseguia ser mal educada com as pessoas e isso sempre dificultava sua vida.
Se era um dos preços a pagar para se tornar a filha ideal Elsa o aceitava, mas alguns eram mais difíceis de se lidar que outros.
Quando chegou tirou o uniforme e foi tomar um banho relaxante. Fora informada de que seus pais chegariam tarde naquele dia então durante o caminho falou com sua mãe pelo celular mesmo.
E sim, era verdade: todo ano, antes de entrarem no terceiro, o melhor aluno do segundo passava duas semanas aconselhando os mais problemáticos colegas, aqueles com as maiores quantidades de detenções - uma forma de mostrar um bom exemplo e ainda treinar esse aluno para ser conselheiro dos novatos no ano seguinte.
Seus pais aparentemente haviam passado pela experiência sem problemas e inclusive realmente ajudaram seus colegas, mas os tempos eram outros; ela faria seu melhor, mas duvidava sinceramente que fosse surtir algum efeito em alunos que em sua opinião só serviam para ocupar espaço.
O fim de semana passou lento e ao mesmo tempo rápido demais; Mavis tentou sem sucesso arrastá-la para uma festa com ela e Jonathan (não bastasse aguentar barulho, ainda teria que segurar vela?), sua prima Rapunzel dormiu lá, o que na prática quis dizer que ela e Anna passaram as madrugadas rindo e correndo como crianças, Hans ligou diversas vezes, ela não atendeu e nem retornou.
E para seu completo pânico, segunda-feira chegou.
Depois de se arrumar e checar seu reflexo bem asseado no espelho, ela foi para o colégio quando todos os outros provavelmente acordariam na hora do almoço.
Todos menos ela e os recordistas de detenções do segundo ano.
A escola deserta era um lugar reconfortante; sem a correria e a multidão abarrotada nos armários, ela pode deixar suas coisas com tranquilidade – era um alívio que pudesse continuar mantendo seus pertences guardados durante esses dias, seria estressante ficar levando e trazendo tudo que preparara para se distrair.
Sentada na sala separada para eles, inicialmente não notou quando os primeiros alunos chegaram, mas quando deu por si lá estavam eles: Soluço, um herdeiro genial e conhecido por divagar em todas as aulas e mesmo assim tirar boas notas, sua namorada Astrid, estrela das líderes de torcida, capitã do time feminino de vôlei e a prova viva de que “girl power” existia, o melhor amigos deles Melequento, outro herdeiro rico com uma tendência gigante a causar brigas e depois fugir e Hiro Hamada o prodígio dois anos adiantado – genialidade de mais de 16, comportamento de menos de 14.
Enquanto se perguntava quais seriam os verdadeiros nomes de Soluço e Melequento, outros dois que colocavam a prova sua capacidade de lidar com apelidos chegaram: os gêmeos Cabeçadura e Cabeçaquente. Apesar de serem um garoto e uma garota, ela não sabia qual nome se referia a quem, pois ambos eram igualmente teimosos e de pavio curto.
Por baixo da mesa, ela apertou a barra de seu blazer nervosa. Devia ter assuntado quem seriam os possíveis candidatos a encrenqueiros do ano para se preparar. Mavis sem dúvidas saberia lhe dizer os nomes - não sabia lidar com nenhuma das pessoas naquela sala, todos representavam tipos de comportamento que ela desprezava, então sempre fizera o possível para ficar longe deles.
Basicamente, não tinha como ficar pior.
–Opa! Se não é a Princesa de Gelo? – disse uma voz masculina e zombeteira atrás de si.
Ela não precisava se virar para saber a quem ela pertencia - pois era a mesma voz de seus pesadelos - mas mesmo assim o fez: alto, esguio, com desconcertantes olhos de um azul tão claro que só não eram mais impressionantes que seu cabelo quase branco... seu desafeto desde a infância, Jack Frost.
Aquilo seria mais que pior... seria um desastre.
Fale com o autor