Detenção

Desastre Anunciado


–Detenção?! – exclamou Mavis chocada enquanto tirava os últimos livros de seu armário.

–Pode por favor ao menos tentar evitar que todos falem sobre isso? – retrucou Elsa em um tom duro, com os olhos focados nas coisas em seu próprio armário, a mão tremendo e apertando a porta com força; espiou os lados temerosa de que a notícia se espalhasse, mas o frenesi pelo último dia de aula era grande demais para que alguém ligasse para a conversa das duas. Mesmo que fossem a Princesa de Gelo e a Vampira.

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O Diretor havia sido bem claro quando disse que aquilo não poderia se espalhar; o sucesso dependia de os alunos desconhecerem a tradição e, assim sendo, nunca se prepararem para ela.

–Desculpa amiga – disse a outra em um tom solidário – é que eu apenas fiquei sabe... surpresa.

–Não é a única. – admitiu a loira com um suspiro derrotado, se encostando aos armários e olhando para os olhos enormes cheios de maquiagem da outra – Não sei onde estava com a cabeça quando aceitei isso.

–Onde sempre está Elsinha: ser um exemplo de garota, deixar seus pais orgulhosos, elevar sua existência acima dos reles mortais...

–Mavis...

–Só brincando. Mas sério, você devia parar de se cobrar por tudo e fazer as coisas de modo mais relaxado. Tanta perfeição devia cansar em algum momento.

–Você sabe que pra mim não é esforço algum.

–Ok amiga, mas se a coisa apertar não hesite e me chame; eu conheço algumas das criançonas que você vai ter que bancar a babá, são baderneiros, mas são gente boa.

–Não vejo como baderneiros e gente boa podem ser encaixados de modo coerente na mesma frase, mas não preocupe; tenho certeza que posso perfeitamente dar conta de alguns casos perdidos.

Mavis se despediu com uma piscadela e atrás de Jonathan para passarem o último dia de aula juntos; desde que ela cismara em fazer Elsa ir no Baile de Primavera junto com o melhor amigo dela e a garota acabara mandando a irmã no lugar, a gótica parecia ter desistido das tentativas de fazer a amiga provar do sabor viciante de um cara mais velho.

Elsa pretendia ir para casa tranquilamente conversar com seus pais e pedir alguns conselhos aproveitando que Anna ia sair com as amigas para celebrar o fim do ano letivo, mas foi abordada na saída por ninguém menos que Hans Westergard.

Filho caçula de um amigo da família, ele desde sempre parecia agir como se ele e Elsa fossem uma espécie de casal. Pela lógica seria uma união lucrativa para ambas as famílias, mas a atitude dele a irritava; com uns charmoso, com outros doce, com outros ainda severo ou sarcástico.

Duas caras não era o suficiente para defini-lo.

–Já indo embora Elsa? – perguntou ele com seu sorriso de príncipe que faz com que as outras meninas se derretam.

–Sim – respondeu ela na defensiva – tenho assuntos a tratar com meus pais.

–Estava pensando em sair, ir naquela sorveteria que você adora.

–Obrigada, mas eu não tenho tempo livre. – ela amaldiçoava o dia em que a irmã contara para ele aquela informação; todas as vezes que fora no lugar desde então dera de cara com Hans.

Anna, como boa parte das meninas, tinha uma queda por ele - alto, bonito, atlético, de boa família, notas impecáveis, capitão do time de natação, cheio de gracejos... - eles quase começaram a sair uma vez, mas ela atormentara tanto a menor que o relacionamento acabou não indo pra frente, para seu alívio.

Mas por conta disso ela voltara a ser seu alvo e o garoto não dava indícios de que ia desistir.

–Então vamos sair semana que vem, eu soube que em dentro de duas vocês vão viajar. – insistiu ele.

–Durante as próximas semanas estarei ocupada. – murmurou com um gosto amargo na boa; ele riu.

–Não esperaria nada menos de você, já organizou toda sua agenda! Alguma coisa na escola?

–Algumas coisas sim. – desconversou, desesperada tentando achar o carro. Era nesses momentos que se odiava por não ter feito aula de direção e ser incapaz de ir e voltar sozinha da escola.

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–Talvez eu passe por aqui um dia então. – disse ele, dando pouca escolha a loira. Naquele momento, visualizou seu carro.

–Sim claro, tenho que ir, boas férias Hans! – disse ela saindo em disparada; não conseguia ser mal educada com as pessoas e isso sempre dificultava sua vida.

Se era um dos preços a pagar para se tornar a filha ideal Elsa o aceitava, mas alguns eram mais difíceis de se lidar que outros.

Quando chegou tirou o uniforme e foi tomar um banho relaxante. Fora informada de que seus pais chegariam tarde naquele dia então durante o caminho falou com sua mãe pelo celular mesmo.

E sim, era verdade: todo ano, antes de entrarem no terceiro, o melhor aluno do segundo passava duas semanas aconselhando os mais problemáticos colegas, aqueles com as maiores quantidades de detenções - uma forma de mostrar um bom exemplo e ainda treinar esse aluno para ser conselheiro dos novatos no ano seguinte.

Seus pais aparentemente haviam passado pela experiência sem problemas e inclusive realmente ajudaram seus colegas, mas os tempos eram outros; ela faria seu melhor, mas duvidava sinceramente que fosse surtir algum efeito em alunos que em sua opinião só serviam para ocupar espaço.

O fim de semana passou lento e ao mesmo tempo rápido demais; Mavis tentou sem sucesso arrastá-la para uma festa com ela e Jonathan (não bastasse aguentar barulho, ainda teria que segurar vela?), sua prima Rapunzel dormiu lá, o que na prática quis dizer que ela e Anna passaram as madrugadas rindo e correndo como crianças, Hans ligou diversas vezes, ela não atendeu e nem retornou.

E para seu completo pânico, segunda-feira chegou.

Depois de se arrumar e checar seu reflexo bem asseado no espelho, ela foi para o colégio quando todos os outros provavelmente acordariam na hora do almoço.

Todos menos ela e os recordistas de detenções do segundo ano.

A escola deserta era um lugar reconfortante; sem a correria e a multidão abarrotada nos armários, ela pode deixar suas coisas com tranquilidade – era um alívio que pudesse continuar mantendo seus pertences guardados durante esses dias, seria estressante ficar levando e trazendo tudo que preparara para se distrair.

Sentada na sala separada para eles, inicialmente não notou quando os primeiros alunos chegaram, mas quando deu por si lá estavam eles: Soluço, um herdeiro genial e conhecido por divagar em todas as aulas e mesmo assim tirar boas notas, sua namorada Astrid, estrela das líderes de torcida, capitã do time feminino de vôlei e a prova viva de que “girl power” existia, o melhor amigos deles Melequento, outro herdeiro rico com uma tendência gigante a causar brigas e depois fugir e Hiro Hamada o prodígio dois anos adiantado – genialidade de mais de 16, comportamento de menos de 14.

Enquanto se perguntava quais seriam os verdadeiros nomes de Soluço e Melequento, outros dois que colocavam a prova sua capacidade de lidar com apelidos chegaram: os gêmeos Cabeçadura e Cabeçaquente. Apesar de serem um garoto e uma garota, ela não sabia qual nome se referia a quem, pois ambos eram igualmente teimosos e de pavio curto.

Por baixo da mesa, ela apertou a barra de seu blazer nervosa. Devia ter assuntado quem seriam os possíveis candidatos a encrenqueiros do ano para se preparar. Mavis sem dúvidas saberia lhe dizer os nomes - não sabia lidar com nenhuma das pessoas naquela sala, todos representavam tipos de comportamento que ela desprezava, então sempre fizera o possível para ficar longe deles.

Basicamente, não tinha como ficar pior.

–Opa! Se não é a Princesa de Gelo? – disse uma voz masculina e zombeteira atrás de si.

Ela não precisava se virar para saber a quem ela pertencia - pois era a mesma voz de seus pesadelos - mas mesmo assim o fez: alto, esguio, com desconcertantes olhos de um azul tão claro que só não eram mais impressionantes que seu cabelo quase branco... seu desafeto desde a infância, Jack Frost.

Aquilo seria mais que pior... seria um desastre.