Tempos modernos

Harry – Deixar ir (V)


I look through the windows of this love
Even though we boarded them up

Decidir deixar ir foi a coisa mais difícil que ele já fez.

As vezes ele pensava se em algum momento seria realmente capaz de fazer isso. Deixar ir... Deixar tudo ir. Leva algum tempo, no seu caso, bastante tempo. Viu casos em que o processo durou apenas alguns meses e viu outros casos em que durou muitos e muitos anos.

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Em alguns momentos, achava-se patético. Tantos sofrimentos maiores no mundo e como ele ousava sofrer tanto por algum tão... Tão simples e comum quanto um amor? Mas na verdade, não havia nada de simples e comum no que eles tiveram. Foi um daqueles raros encontros que tinha tanto potencial, Harry sabia que se as condições fossem outras, se o tempo fosse outro, eles teriam sido perfeitos. Essa realização era um dos motivos de doer tanto, ficar tão inconformado por algo tão certo não ter se realizado.

Deixar ir era angustiante. Era ter momentos e alegria e leveza e outros de pura agonia. Era gargalhar até o estomago doer e chorar até não haver mais lágrimas. Era saber que dificilmente haveria um “nós” novamente, era se perguntar por que o amor não foi suficiente, porque você não foi suficiente.

Deixar ir era lembrar os momentos bons. Era olhar o céu claro da manhã e lembrar dos olhos dela, era passar na frente do museu e lembrar do desastrado, porém incrível, primeiro encontro. Era vê-la em seus sonhos e acordar sozinho pela manhã. Era receber uma simples mensagem de aniversário e sentir o seu coração palpitar, era olhar suas redes sociais e se arrepender amargamente depois, era não receber uma simples mensagem no aniversário seguinte e sentir seu coração afundar.

E então, deixar ir é acordar um dia se sentido melhor. É se sentir mais leve a cada dia. É ainda pensar nos bons momentos, mas sem aquela dor agoniante no peito. É olhar para o céu da manhã e não enxergar os olhos de ninguém em especial.

Deixar ir foi a melhor coisa que ele já fez.

— Se você pudesse voltar no tempo, sabendo como tudo terminar, você ainda a teria conhecido? — Myranda perguntou um dia enquanto dos dois bebiam em um bar.

Ele considerou a questão por alguns instantes.

— Sim. Eu faria tudo de novo.

Uma pequena parte... Muito pequena, ainda considerava que, em algum momento mais propício, em circunstâncias mais favoráveis, caso o destino decidisse, eles poderiam se reencontrar e ficar juntos. Contudo, Harry não mais vivia em função disso, na verdade, a maior parte dele sabia que aquilo era, provavelmente, uma grande ilusão que tinha sido criada para diminuir a dor da perda.

Ele deixou ir aquela ilusão e decidiu confiar do que quer que o futuro aguardasse para ele.

Aquilo, presumia, era o significado de seguir em frente.

And what once was ours
Is no one's now

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.