Regresso

Intrusa


Avaliou-se mais uma vez no espelho notando-se um pouco pálida. Apertou levemente as bochechas que instantaneamente adquiriram um tom rosado. Respirou fundo pensando que finalmente estava pronta.

Saiu do quarto encostando a porta levemente e dirigiu-se a escada. Desceu devagar respirando profundamente a cada passo para não deixar seus pensamentos negativos atingirem-na. Pode escutar risadas abafadas masculinas. Caminhou pelo corredor parando na porta da sala onde podia ver os dois homens da casa.

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Yoko estava sentado em uma poltrona que ficava de costas a porta onde ela se encontrava. Bebia provavelmente wisk, em um copo de vidro, enquanto Sasuke estava sentado na outra poltrona com o copo já vazio depositado ao lado. Ambos riam de algo falado anteriormente. Observou quando ele passou uma das mãos pelos cabelos negros ainda molhados pelo banho recente, deixando-os mais bagunçados do que eram.

Finalmente deu um passo a frente se mostrando aos homens.

- Boa noite. – Sorriu tímida sentindo o clima ficar tenso no local.

- Boa noite Sakura. – Sasuke retribui ao comprimento olhando para Yoko em seguida.

- Sakura querida senta-se. – Yoko mostrou o sofá com a mão esquerda.

- Obrigada.

Sentou-se no sofá tentando não demonstrar-se ansiosa. Colocou ambas as mãos em cima das coxas sentindo o tecido áspero da calça jeans que usava.

- O que achou da casa? – Yoko mostrava-se simpático apesar do olhar triste.

- Oh, achei linda. Fez um ótimo trabalho, apesar de sempre ter achado a casa maravilhosa. Os jardins estão mais lindos do que lembrava, fiquei admirada com as cores. – Sakura sorria feliz falando o que estava em seu coração.

- Que bom que gostou. É claro que não poderia fazer isso sozinho. Sasuke me ajudou com a casa e Chyo cuida das plantas, então tudo fica mais fácil e tranqüilo.

A tristeza que antes havia no seu olhar havia sumido, pelo menos naquele instante.

- Olá garotos. – Chyo acabara de chegar à sala sorrindo animada. – O jantar está pronto e esperando por vocês.

- que ótimo, pois estou morto de fome. – Sasuke levantou e abraçou Chyo amigavelmente.

Sakura observou o sorriso do pai alargando-se. Sentiu que eles eram uma família e que ela era a intrusa. Seu coração apertou-se ao peito fazendo-a se sentir triste e sozinha. Seguiu os três pelo corredor admirando a cumplicidade e a amizade adquirida entre eles. Talvez um dia pudesse juntar-se a eles e sorrir sem sentir-se enganada por si mesma.

Entraram na cozinha onde se via a mesa posta. Esperou que todos se sentassem para que pudesse ver em qual local deveria ficar. Mas antes que pudesse ver, sentiu o braço acolhedor de Chyo em seus ombros.

- Sente-se aqui querida.

O sorriso da mulher transmitia paz ao espírito de Sakura.

- Obrigada. – Falou enquanto sentava-se na cadeira ao lado de Sasuke.

Chyo sentou do outro lado e Yoko ficou na ponta, como o verdadeiro dono da casa deveria fazer.

Sasuke foi o primeiro a se servir não esperando os demais.

- Ei garoto, primeiro as damas! – Chyo repreendia Sasuke como se tivesse dez anos.

- Oh desculpe Chyo, mas estou morto de fome. – Sorriu de canto fazendo a mulher o encarar com os olhos cerrados.

- Não adianta Uchiha. Esse seu sorriso funciona com a maioria das mulheres, mas como pode perceber não sou como a maioria. Então tire esse sorrisinho de pegador charmoso e se desculpe com a Sakura!

- Oh esta bem Chyo. Definitivamente você é muito mandona. Como o Sr Roko lhe agüenta?

- Não mude de assunto menino! Estou esperando.

Sasuke encarou a rosada e sorriu maliciosamente.

- Aposto como ela não se importa com isso.

- Sasuke Uchiha! – Chyo estava se zangando de verdade com o moreno e Sakura não agüentaria ver uma discussão por sua culpa.

- Oh Chyo, não se preocupe. Esta tudo bem, prometo.

A garota sorria para a senhora. Depois observou o pai que estava com uma das sobrancelhas erguidas e os olhos levemente arregalados.

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- Acho que isso termina com a breve discussão. – Yoko falou enquanto observava Sasuke.

- Sim. –Chyo respondeu encarando o moreno. – Mas iremos conversar em breve Sasuke.

A rosada sentiu um tremor passar pelo seu corpo ao ver o moreno a encarando descaradamente. O seu objetivo não era causar brigas e inimizades, muito pelo contrario, mas estava difícil conversar e convencer as pessoas daquela casa.

Quando pensou em se servir notou que seu prato não estava mais diante de si. Estranhou mas logo suas duvidas cessaram ao ver a senhora colocando diante de si um prato cheio. Suspirou com a quantidade de comida, pois com certeza não conseguiria comer tudo aquilo.

- Ah obrigada Chyo. Mas...

- Nada de, mas senhorita. – A senhora olhou para Yoko. – Observe só esta menina Yoko.

O homem levantou o olhar pousando na rosada que ficou vermelha de vergonha.

- Não vê? Sua filha esta magra e pálida. Parece um papel. Como consegue não ver isso?

Yoko suspirou e baixou o olhar para o prato voltando a comer silenciosamente.

- Estou bem Chyo. Sempre fui assim. – Na verdade Sakura era assim desde que foi embora com a mãe. Não estava doente, mas acostumara-se a se alimentar pouco devido aos horários rígidos do internato. Fora que o tempo que tinha livre para visitar a mãe geralmente ficava na escola, pois era raro a mãe lhe dar o concedimento para poder sair do local. Então aprendera a depender pouco dos outros e se habituou à vida diferente e triste que levava.

- Certo Sakura. Agora coma como uma boa menina. – Chyo sorriu para Sakura o que fez a rosada sentir um calor no peito.

Todos comiam em silencio apesar da vontade que tinham de conversar. Sakura era acostumada a não se pronunciar durante as refeições já que era assim no internato, mas tinha vontade de perguntar tantas coisas ao pai. Todas as vezes que tomava coragem e o olhava sentia-o longe, como se somente o seu corpo estivesse ali. Então seu corpo perdia toda a coragem que juntara anteriormente.

Finalmente todos estavam satisfeitos e Sakura percebeu que mal tocara na comida. Ficou com medo da repreensão de Chyo, mas infelizmente não conseguia colocar nem mais um grão na boca. Olhou para a mulher vendo-a encará-la, apenas fez um gesto que saberia que a mulher entenderia. Em resposta viu-a piscar duas vezes e sorrir.

Yoko levantou-se e Sasuke o imitou. Ambos saíram sem olhar para trás, apesar de ter notado Sasuke a encará-la pelo canto dos olhos enquanto jantavam.

Levantou e ajudou Chyo a arrumar a cozinha apesar dos protestos da mesma.

- Você é persistente menina.

- Sou sim.

Ambas sorriram.

- Sabe acho que você fará bem a Yoko. Ele precisa muito de você.

A rosada olhou a mulher sem entender.

- Ele esta ficando velho Saki, e as pessoas não duram para sempre. Sei disso, estou velha também. – Sorriu. – Yoko é um homem ótimo querida, nunca duvide disso. Não sei ao certo o que aconteceu entre vocês, mas te digo uma coisa, ele lhe perdoará se você souber perdoa-lo também.

Ambas ficaram pensativas depois daquelas palavras. Sakura já perdoara o pai, apesar de tudo, só não entendia o porquê dele não perdoa-la também. Suspirou cansada enquanto terminava de secar a louça que Chyo lavava.

- Saki, melhor ir descansar. Você deve estar exausta.

- Sim, obrigada.

- Irei embora agora também. Meu marido deve estar me esperando.

- Sim claro.

Sorriram.

- Provavelmente Yoko e Sasuke estão no escritório. Geralmente eles vão para lá após o jantar. Poderia me fazer um favor?

- Oh claro.

- Poderia avisá-los que já fui?

- Sim. Pode deixar.

- Ótimo. – A mulher secou as mãos no pano e abraçou a rosada. – Pense no que lhe falei. – Deu um beijo na testa de Sakura. – Boa noite querida.

- Boa noite Chyo e obrigada novamente.

A senhora sorriu e saiu deixando a rosada pensativa para trás.

Observava o homem mais velho sentado na cadeira em frente à escrivaninha fazendo anotações enquanto lia alguns documentos. Deveria estar concentrado na sua parte do trabalho, mas o que Chyo disse no jantar deixou-o absorto. O que afinal a garota havia passado para ficar deste jeito? Olhou novamente para Yoko e viu que ele também não estava conseguindo se concentrar apesar de se esforçar para tal.

- Yoko. – Resolveu chamar o amigo que, para ele, era como um pai. – Acho que não estamos em condições de trabalhar hoje. Você deve estar cansado e confuso pela surpresa de hoje.

O homem olhou-o nos olhos e assentiu. Sasuke viu as sombras embaixo dos olhos dele e não pode deixar de sentir raiva de Sakura, por estar atormentado a vida do outro novamente.

- Você pode ir para cama Sasuke. Deve estar cansado também.

- Passei o dia passeando com a Sakura, mas não me sinto cansado. – Olhou para o mais velho e sorriu. – Irei trabalhar amanhã. Acho que ela pode se virar sozinha desde que não saia de perto da casa.

- Certo, concordo com você. – Yoko suspirou e passou as mãos na parte superior das coxas, esfregando-as. – Acho que terei que conversar com ela Sasuke. Só não sei por onde começar e...

- Não fique preocupado com isso Yoko. Pelo menos não agora. Você precisa primeiro se acostumar com ela por perto. Depois pensa no que fazer e dizer.

- Sim você esta certo. Mas ela é minha filhinha Sasuke, apesar de tudo. Só que olho para ela e vejo Dara, e sentimentos ruins vêm à tona. Lembro de tudo o que elas me fizeram passar após irem embora. O abandono, não só de Dara, mas também de Sakura. Isso ainda dói em mim.

O moreno levantou-se e foi ate Yoko pousando as mãos sobre os ombros deste.

- Ei, estarei aqui para lhe ajudar caso precise. – Sasuke sorriu para o mais velho. – Você é como um pai para mim. Nunca se esqueça disso.

- Obrigado Sasuke, você sempre foi um bom garoto. -Yoko deu umas palmadas carinhosamente nas mãos de Sasuke. – Os seus pais teriam orgulho do que você se tornou, pode ter certeza disso.

Baixou a cabeça fechando os olhos para relembrar de sua família.

- Sim, creio que sim. Apesar de não ser um grande empresário agrícola como meu pai fora, acho que eles sentiriam orgulho de mim.

Sorriu tímido olhando Yoko a sua frente.

- Não importa que você não seguiu os passos de seu pai Sasuke. O que importa é que você tornou-se um grande homem. Pilota um avião e já tem o seu negocio, alem de tocar as plantações de seu pai.

O homem sorriu abertamente para o garoto. Levantou e o abraçou ainda sorrindo quando escutaram o barulho da porta que os fez separarem-se.

- Oh desculpe eu não queria incomodar. – Sakura estava com a cabeça levemente abaixada. – Chyo pediu para lhes avisar que já fora embora.

- Obrigado, Sakura. – Yoko a encarava firmemente.

- Bom, acho que já irei me retirar. – Sakura levantou a cabeça para olhar o pai. – Boa noite aos dois.

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Sasuke viu a rosada sair quase correndo da sala sem esperar pela resposta cortes de boa noite. Olhou o senhor ao seu lado e viu-o de olhos fechados com a mão no peito. Quando este os abriu para encará-lo pode observar a tristeza presente.

- Vamos para a cama, amanhã é um novo dia.

Foi tudo o que conseguiu dizer ao mais velho.