Capítulo 69

Príncipe Syaoran

A Inglaterra estava infestada, americanos surgiam de todos os lados no Ibérico e travavam lutas intensas com os soldados do Rei Espanhol, a França estava no meio de uma crise sucessória, onde o herdeiro estava perdido e possivelmente morto, a Rainha era mantida cativa fora de seu território e dois países lutavam por sua mão, para se tornarem reis. O Império Japonês tomara todos os territórios chineses no extremo sul, entre o Arquipélago e parte dos portos da Rússia, onde também havia uma crise sucessória, sem os príncipes e com o castelo em ruínas e um usurpador tomando todas as vilas e assaltando todas as cidades. Syao respirou fundo. Esse era o mundo onde vivia, o mundo onde seria Imperador e onde, até agora, seu único problema fora encontrar uma esposa que amasse e com quem poderia dividir uma vida. Precisava escolher, tinha de ser agora, antes que a guerra começasse. Seu pai andava ocupado, conversando com os conselheiros e tomando decisões arriscadas. Concordou com ajudar a Inglaterra, caso eles dividissem o antídoto da Peste e ainda não cobrassem impostos pelas travessias comerciais pelo mar. Era um ótimo acordo, desde que a Inglaterra vencesse a luta contra os americanos. O Imperador ainda tinha esperanças de manter tudo em paz, iria ajudar a Península Ibérica, já que todos dispunham de grande mão de obra, desde que o Ibérico instalasse empresas na China para produzirem para a população, e que todo o lucro fosse retido pelo governo para ser entregue apenas 40% aos espanhóis. Eles aceitaram sem pensar, estavam morrendo aos poucos e tinham na Corte mais monarcas que seria aconselhável ter. Também foram montados esquadrões de busca para identificar e resgatar o Príncipe Louis, da França, e a procura começara há dois dias apenas. E agora era preciso decidir sua esposa, casar-se com alguém que lhe ajudasse a manter a paz, como o pai desejava. Suspirou. Já sabia qual decisão tomar, mas mesmo assim... era como se sentisse mais medo que o normal. Estava completamente inseguro, talvez se enganasse. E se tudo fosse um grande erro? Não amava nenhuma das selecionadas e duvidava que um dia fosse capaz de se apaixonar de verdade. Mas não era nisso que necessitava pensar, e sim no que era melhor ao país, ao seu Império.

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— Chame a senhorita Meiying, por favor. – pediu, tentando não exibir seu medo na voz, e o criado foi apressadamente chamar a garota. Syaoran sabia que, dentre todas, era a mais talentosa, tinha crescido num universo asiático bem parecido com o dele, e mesmo que ainda não dominasse o chinês, Syaoran se sentia muito melhor falando japonês à espanhol ou francês. Quando ela apareceu, prendeu a respiração, implorando para que realmente fosse a decisão correta.

— Mandou-me chamar, senhor? – ela se curvou graciosamente, exibindo as roupas costumeiras, um tecido fino e vermelho, as faixas prendendo os braços e a cintura, o cabelo negro preso em um coque clássico. Ela se parecia com uma chinesa, por exceção dos olhos grandes demais.

— Sim, mandei. – concordou, e notou que estava dizendo algo estúpido e pouco formal – Por favor, sente-se comigo para um chá. – e indicou a mesa a frente, onde o bule de chá soltava sua fumaça. Ela aceitou cortês e sentou-se sobre os joelhos, dobrando as mangas no colo. Esperou. – Pode servir.

E como se apertasse um botão em suas costas, Mei ergueu os braços com leveza, apanhou o bule com ambas as mãos, e serviu ambas as xícaras com cuidado para não encher demais. Depois colocou a peça de porcelana de volta na mesa e ergueu os olhos para ele. Syao sabia que foram muito bem ensinadas, todas elas, e que iriam esperar por ele para finalmente beber o chá. Ele não gostava de chá quente, por algum motivo, e pensou em esperar que esfriasse. Mas não seria justo com Mei que ela esperasse também. Então pegou a xícara e a levou a boca, bebericando rapidamente e logo repousando o objeto. Sorriu-lhe.

E ela bebeu também.

— Meiying, você veio do Japão. Desconectou-se de toda a sua família e amigos para servir na China, do outro lado do mar, entre as concorrentes de um príncipe que não conhecia e que muito bem poderia lhe dar arrependimentos.

— Não vejo deste modo, senhor. Creio que foi uma decisão arriscada, mas correta. E de nada me causa arrependimentos. – ela era delicada e bem esperta com as palavras, notou.

— Peço perdão por ter sido tão ausente. Mas nada que fizesse parecia me ligar a vocês. Fui criado neste castelo desde bebê e as únicas pessoas que vejam são meus criados e meus parentes. As pessoas se curvam para mim e não conversam comigo, sobre nenhum assunto. A verdade é que mesmo dentro de uma Corte tão movimentada e cheia de pessoas, eu nunca pude realmente desenvolver minha comunicação. E até hoje tenho receio quanto a isso. Alguém que me ajudou muito foi meu amigo de infância, Isao.

Ela o olhava, interessada. Syao gostava de ter a atenção de alguém voltada para ele, era diferente. Como se o que dizia tivesse alguma importância.

— Foi uma infância muito difícil – ela concordou, com um sorriso de pena. Syao gostou.

— Mas foi preciso, cresci em intelecto, enquanto perdia a fala. – e então riu, algo raro. – Mei você será a minha esposa.

Ela arregalou os olhos, incrédula, tentando compreender como e por quê. Syao mesmo também queria saber como e por quê, mas agora parecia uma boa decisão, ela era gentil e entendia sua dificuldade, e aceitava-a com pena. Esperou que ela esboçassem alguma reação além do silêncio, mas permaneceu assim. Até que ele percebesse que talvez Mei não quisesse ser sua esposa. Talvez o achasse um covarde por gostar que alguém sentisse dó de si mesmo, ou estivesse apaixonada por outro. Isso o desesperou.

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— Não foi uma escolha minha, a política pede isso. Temos alianças com todos os países, mas encobrindo os russos, enfrentamos desavenças com o Japão, e agora precisamos de uma nova aliança, uma que demonstre que realmente queremos a paz. Por isso me casarei com a garota que veio do Japão, você.

Ela assentiu, abaixando a cabeça. Talvez começando a chorar.

— Foi decidido pelo conselho do Imperador, então não há o que discutir. – tomou uma postura mais rígida e formal. – Terá cinco dias para comunicar sua família, preparar sua roupa e então iremos até o Tempo da Primavera, onde casaremos em sete dias.

— Casar em sete?

— A festa dura sete dias, é claro – dirigiu-lhe um olhar neutro, e talvez tão frio que a fez encolher os ombros e voltar a abaixar a cabeça. Por que era sempre assim? Por que não conseguia mudar? – Pode se retirar.

Ela levantou e o abandonou. Syao serviu-se mais um pouco de chá e suspirou. Por favor, que tudo mude com o tempo. Não queria viver eternamente desconfortável ao lado de sua esposa.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.