Capítulo 63

Um Rei Sem Reino

“A batalha da vida só tem duas faces: ou vencer ou fugir, porque para os vencidos não há piedade” – Albino Forjaz de Sampaio

Deslizou até o final do corredor, batendo suavemente duas vezes na porta, antes de abri-la. Dominique não havia saído do quarto já fazia dois dias e estava começando a preocupá-lo mais que o necessário. Como um Rei, Adam tinha de cuidar de seus afazeres reais. Mas quais eram eles, sendo que não tinha um reino, um trono e nem coroa? Seu pai fizera algo impensável, e ele fizera algo ainda mais impensável. Suspirou. Não queria acordá-la, também não queria que ela estivesse dormindo. Em uma esperança quase banal, ele espiou para dentro do quarto, encontrando apenas o silêncio e a cama, onde ela adormecida sussurrava sonhos. Sorriu. Vê-la assim era bonito, quase romântico, porém ele sabia que aquele sono constante tratava-se apenas de um reflexo do seu cérebro para que não sofresse mais do que já sofria. O tratamento pós-traumático era lento e pelo que sabia, Dominique já havia sentido ele na pele.

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As demais selecionadas estavam no castelo, em quartos diferentes, longes umas das outras. O Rei da Península não se importou em hospedar mais algumas lindas jovens, porém Adam sabia que não poderia abusar mais de sua generosidade. Elas iriam se recuperar e seria enviadas de volta a suas casas, com uma carta e um pedido de desculpas, mais a quantia em dinheiro dos estragos que as meninas sofreram, psicológicos ou materiais. Voltou a fechar a porta com suavidade, sem erguer ruídos, mas por algum motivo, a voz lá dentro o chamou.

– Adam?

Estremeceu. Havia se esquecido de como era doce ouvi-la. Ou melhor, ainda se lembrava, mas guardara bem fundo no coração, para não se esquecer, e acabou guardando fundo demais. Voltou a abrir a porta, apenas para encontrá-la com a cabeça erguida, os braços ao lado do corpo, magra e pálida. Entrou e fechou a porta atrás de si, caminhando em direção a cama. Hesitou um pouco, mas acabou se sentado ao seu lado.

– Sim?

– Oi. – sorriu, um sorriso confuso, quase doloroso. Adam não pôde sustentá-lo.

– Você acordou. – comentou, como se não fosse óbvio.

– Sim, acordei. Há quatro horas atrás. – Dominique mostrou a língua e tentou se sentar, de repente a cabeça girou e ela perdeu o foco. Adam ajudou-a, segurando seus ombros, até encostar as costas no travesseiro. – Você... Veio me ver?

– Ah, sim. Eu pensei que poderia estar acordada, mas a vi de olhos fechados.

– Eu estava fingindo. – ela ruborizou levemente. – Onde estamos?

– Em um castelo, na Espanha. A Península irá nos abrigar enquanto estivermos... Em Guerra. Os americanos invadiram a Inglaterra, mas a China se aliou a mim e mandarei um exército para conter os invasores. – explicou, cuidadosamente. – Até onde você lembra?

– Não muito. Mas estávamos em um jardim, de noite. E você tocava violão. – ela divagou, talvez imaginando a cena. Adam enrijeceu. Tanta coisa acontecera que até esquecera-se dos eventos que os levaram a finalmente... Trocarem as cartas. Era claro, a noite que ela o encontrara no jardim de inverno do palácio, quando ele a confundiu com um dos guardas de seu pai. Sentiu a ponta dos dedos formigarem. Queria poder tocar para ela novamente.

– Você esqueceu de praticamente todas as coisas ruins, então. – ele sorriu. – Isso é bom.

Dominique devolveu seu sorriso, porém fracamente. Mordeu os lábios. Havia fantasiado aquela cena várias vezes, e finalmente ela acordara. Tinha tantas coisas a dizer, tantos pedidos a fazer... Inclusive, uma confissão. Poderia mostrar as cartas para Dominique depois, poderia lhe contar como o mundo estava em caos e como ele quase perdera seu reino inteiro. Porém não era isso que faria agora. Cada coisa em seu tempo, e agora era o tempo de se inclinar, curvar e selar os lábios de Dominique com os seus próprios.

Ela colocou a mão quente em frente ao seu rosto, impedindo-o de prosseguir.

– Príncipe Adam?

Abriu os olhos, atônito.

– Sim? – voltou a se sentar, os ombros encolhidos, o rosto vermelho. Não sabia para onde correr, e não voltaria a olhar para ela tão cedo.

– O que o senhor está pensando em fazer?

– Nada. – mentiu. Mas é claro! Ela só se lembrava do começo de sua amizade. Não se lembrava das inúmeras cartas, das juras de salvamento, do modo como ele havia ficado horas e horas relendo suas letras tão caprichadas... Como havia se deixado levar? Dominique pensava que eles só se conheciam há dois dias. Não há dois meses.

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Respirou fundo, contornando a situação e abrindo um sorriso largo. Talvez exagerado.

– Eu só passei um pouco mal. Estou com dificuldade em respirar, nada demais. – disse e então voltou seus olhos para ela. Dominique estava avermelhada como uma rosa, delicada, com traços finos e... É melhor parar de olhar tanto para ela, pensou. – Já vou. Preciso tomar conta de alguns tratados e... Espero que melhore. Aguarderei sua presença no jantar.

– Pode contar com minha presença, meu príncipe. – ela sorriu.

– Rei. – falou, caminhando em direção a porta. – Agora sou um rei.