Capítulo 16

Savannah

“A mulher sem as fraquezas do coração próprias do sexo não é uma mulher perfeita” – Júlio Diniz

Teatro Mágico – É Ela

O baile começaria logo. Savannah observou a fileira de meninas já preparadas. As inglesas ostentavam as cores brancas e azuis em seus vestidos, em sinal de sua nacionalidade. As francesas esbanjavam vermelho, azul e branco. As russas graciosas em seus verdes e creme. Chinesas com amarelo vivo, ou laranja claro. Japonesas com rosa e prateado. E, claro, Savannah, com a camisa social branca de botões, a saia esvoaçante preta e a gravata vermelha, os cabelos presos por uma faixa, deixando os cachos todos para cima, balançando enquanto movia-se impaciente. As sapatilhas vermelhas que usava eram macias, mas nem toda a maciez do mundo poderiam tirar o tormento de ficar quinze minutos parada no mesmo lugar.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

A suas costas, a vizinha de quarto conversava com outra garota sobre os vestidos.

– Você é muito corajosa por usar uma saia. – elogiou a garota quando olhou para Savannah. Pelas cores que ela usava, Savannah a identificou como uma russa.

– Eu acho que o verde não realça a sua cor, talvez roxo, ficaria lindo. Mas é um pouco brega usar um tomara que caia com laço, não acha? – sorriu.

A russa sorriu, forçadamente, e virou-se para outra garota. Savannah deu de ombros, enquanto voltava a observar o fluxo da fila. “Disseram que nós poderíamos descer em breve”. Os guardas estavam posicionados nas escadas, as armas em mãos, embora fossem meramente brinquedos. A Península Ibérica tinha tanta tecnologia que era banal o uso de armas de fogo, com toda a segurança do castelo. Além disso, não havia livros, apenas aparelhos eletrônicos, ela havia ganhado seu próprio computador portátil para bolso quando chegou, onde havia todas as anotações das aulas e dos livros da biblioteca. Poderia ler qualquer um quando quisesse, ou então tirar fotos e conversar com as outras selecionadas.

Normalmente as pessoas faziam isso. Para ela quando conversava com alguém. Savannah nunca entendeu o motivo. Lá no começo da fila, finalmente a Madame Serafina permitiu que a primeira garota avançasse escada abaixo, em direção ao Salão do Baile.

– Senhorita Chelsie Allen, da Inglaterra. – anunciou um dos guardas armados, e enquanto a garota descia, os convidados olharam-na, admirando sua beleza. No final das escadas, o príncipe Guilherme esperava. Pegou a mão de Chelsie e beijou-a suavemente, deixando a menina se misturar com os demais no salão. – Senhorita Elwyn Vogue, da França.

A fila começou a diminuir, e a cada nova menina que descia, era um passo para frente. Quando finalmente chegou sua vez. O guarda falou alto seu nome completo e a impulsionou para frente. Achou isso um pouco equivocado, afinal ela poderia cair da escada, mas não falou nada, pois tinha de sorrir, como madame Serafina a prometeu fazer.

– Senhorita Savannah Desrocheri, da Inglaterra.

– É Desrochers. – corrigiu o guarda, entretanto ele a ignorou. Continuou descendo até chegar ao pé da escada, onde o príncipe a recebeu com um sorriso. Ele pegou sua mão e beijou de leve. Enquanto se levantava, Savannah viu algo que um príncipe realmente não deveria ter. – Vossa Alteza, tem uma mancha de pasta de dente da sua camisa. Tudo bem, eu tiro para você – segurou-o e colocou o dedo na boca, molhando-o com saliva e esfregando a mancha até que desaparecesse. – Prontinho.

– Obrigado – Guilherme riu e a mandou para o resto das outras selecionadas.

Quando alcançou-as, Savannah não compreendeu porque estavam sorrindo para ela. Talvez porque fossem gentis.

– Você é única, Savannah. – uma delas riu, e virou as costas, desaparecendo na multidão.

– Acho que isso é bom. – deu de ombros, avançando pelos convidados e encontrando finalmente a prometida mesa de doces. A Madame Serafina disse que haveria pelo menos cem iguarias. E realmente, ela não havia mentido.

Encheu-se de caramelo, enquanto observava os convidados, todos movimentando-se levemente, enquanto a música continuava calma e serena. O Rei ria em seu trono, com alguns amigos íntimos e o príncipe tirava algumas selecionadas para dançar. Mas tudo parecia... Monótono demais. As pessoas não pareciam estar se divertindo de verdade, isso a deixava preocupada, afinal porquê uma festa se não há diversão? Todos sabiam que o Rei da Península Ibérica era conhecido pela extravagância, e com certeza ele não iria querer que seus convidados morressem de tédio. Sentiu alguém tocando-lhe o braço e virou-se. Era o primo do príncipe, que conhecera no primeiro dia. Ele estava com Guilherme quando as recebeu. Gustavo abriu um sorriso, ele era muito gentil e algumas garotas falaram que preferiam-no em vez de Guilherme. “Mas no final estamos todas aqui pelo príncipe e não o primo dele”.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Me daria a honra? – ele se inclinou.

– Ah, eu não sei dançar. – respondeu.

– Não tem problema. – Gustavo segurou sua mão direita. – Eu te ensino.

Puxou-a pela multidão de convidados. Savannah apenas tropeçou e seguiu-o, até o centro do salão de baile, onde Guilherme dançava com uma das selecionadas da França. Ele olhou Gustavo e torceu a boca para o primo, que devolveu a ele uma língua. Ambos riram e Gustavo se aproximou de seu corpo, colocando a mão atrás de suas costas e segurando ainda sua mão direita.

– Tem certeza que vai ficar tão perto assim? – perguntou – Eu posso pisar no seu pé.

– Com tanta graciosidade, eu nem perceberia. – ele piscou, e conduziu-a para os lados, movendo os pés com facilidade, enquanto Savannah sentia-se quase grudada ao chão. Ela realmente não tinha jeito para aquilo. Quando ele já a havia girado pela quinta vez, a música terminou e Gustavo a jogou para frente, em direção a Guilherme, que se despedia da francesa. Trombou com o príncipe e riu. – Boa sorte, Gui, ela já está pronta para dançar.

Guilherme acenou ao primo e envolveu-a pela cintura com ambas as mãos. Seu rosto próximo a fez pensar que ele tinha uma barba muito grande para a idade.

– Obrigado por limpar a mancha da minha camisa. – ele sussurrou.

– Vossa Graça, eu devo dizer que essa música está me enjoando. E eu não consigo mais ficar com isso. – ergueu as pernas e jogou longe as sapatilhas, para debaixo de uma das mesas de comida. Tocando o mármore gelado com os pés nus, Savannah sentiu a energia subindo pelo corpo. – Podemos trocar o disco?

– Claro – Guilherme ergueu as sobrancelhas – Você sugere o quê?

– Algo mais... Jovem. Algo que nos faço dançar de verdade. Não essa coisa de velho. Esse violino está quase me fazendo chorar.

Guilherme soltou uma gargalhada grave.

– Eu estava pensando a mesma coisa. Vou falar com o DJ. Fique aqui, gracinha. – e deixou-a, desaparecendo por entre os convidados. Savannah olhou ao redor e encontrou Aemi, a chinesa que havia dividido o carro com ela para chegar até o castelo. Correu até ela, desviando de casais abraçados ou homens segurando taças de vinho e champanhe.

– Tire os saltos, Aemi. – ordenou, enquanto apontava os próprios pés. – Nós vamos dançar de verdade.

– Mas...

– Apenas tire! – e deixou-a, correndo até Chelsie. – Tire agora mesmo essas botas ridículas! O príncipe vai colocar uma música de verdade. – a inglesa abriu um sorriso e se livrou das botas rapidamente. Em quase dois minutos, ela já havia encontrado todas as selecionadas e estavam descalças. Enquanto corria de um lado para o outro, não notou quando trombou pela segunda vez com o príncipe. – E então?

– A música vai mudar em três... Dois... – sua voz foi abafada pelo grave de um contrabaixo, enquanto a bateria inundava o salão Isso! Era isso que ela chamava de festa. Deu um salto alto, enquanto se lembrava de como dançava loucamente em casa, junto com mamãe e Elijah, o padrasto. Guilherme tirou o terno e a gravata, enquanto a segurava pelas mãos e a rodava no centro do salão. Aos poucos, as selecionadas também entravam na dança improvisada e Gustavo puxou uma de suas irmãs para dançar também. Guilherme a soltou e chamou mais amigos, ela conseguiu convencer quatro moças convidadas e de idades próximas para dançar também, e as selecionadas cada uma trazia mais e mais pessoas para a dança, até que o próprio Rei levantou-se de seu trono e adentrou o baile, jogando fora seu terno e sua gravata, como o filho fizera e esbanjando juventude (algo incrível para alguém da idade dele, Savannah pensou).

Fomos invadidos por ingleses!

Ouviu o grito na multidão, enquanto perdia-se entre as pessoas, sentindo cotovelos e ombros empurrando-a, e ela mesmo empurrava a todos. Ah, como era bom sentir-se em casa.