Perdida em Crepúsculo

Bom dia... Renée?


Trailer

"Como eu ia saber que meu amor era um delírio?
Alguém me disse como remendar um coração partido há tanto tempo.
No amor todos nós caímos, mas essa queda é mais difícil.
O que eu devo fazer com este coração?
Estou tão perdida no paraíso,
Se eu abrir meus olhos
Posso ver a tempestade,
Eu posso ver o céu,
Posso ver as luzes piscando na escuridão...
Todos os meus medos se foram esta noite,
Deixe-me ficar perdida no paraíso."

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Lost In Paradise – Rihanna

~*~

Eu estava de malas prontas, levava tudo o que precisaria durante o tempo em que estivesse fora, era esquisito viajar de uma forma tão inesperada, mesmo sabendo que, de alguma espantosa maneira, tudo já estava devidamente planejado. Eu sabia que iria para longe, ninguém me disse, mas eu sabia.

Estranho.

Estive sentada no sofá da sala, parada, fitando os costumeiros quadros que habitavam a parede marrom escuro, pudera ouvir meus pais enquanto conversavam no outro cômodo, mas não me lembrava de uma única palavra que disseram. Pareceu se passar bastante tempo até que meu pai surgiu à minha frente e sorriu de forma contida.

– Pronta para irmos?

Assenti e me levantei para segui-lo.

O ambiente agora era completamente diferente, eu continuava sentada e em silêncio, desta vez em uma das poltronas do grande avião que me levaria embora. A despedida havia sido demorada e regada à lágrimas de minha mãe que fora conosco até o aeroporto. Perguntei-me porque ela e meu pai permitiam que eu partisse, porque simplesmente não me davam ordem para ficar, mas logo vi que não podiam. Não havia porque, apenas não podiam, como se o destino fosse aquele e fosse irrevogável. Eu não estava achando nada natural e não queria ir, mas além de parecer não ter escolha eu havia perdido a voz; as palavras que saíam de minha boca não eram as que eu gostaria de dizer, era como se eu tivesse pedido por aquilo e não tivesse como voltar atrás, como mudar o que acontecia. Eu me recordava de, em algum ponto desta estranha ilusão, ter desejado a mudança que acontecia, mas era um pensamento tão remoto que mal podia dar crédito a ele.

O Boeing avançava suavemente por entre as nuvens e tive a impressão de não passarem de algodão. Meu cérebro funcionava a mil, era como se minha falta de palavras fosse compensada pelo dobro de pensamentos, eu estava em estado de alerta, não era como se alguma informação fugisse de mim, eu apenas tinha dificuldade para encontrar o sentido que esperava.

Sabia que havia outro indivíduo em toda essa história, uma garota, alguém que aparentemente ficaria em meu lugar. Alguém que eu conhecia, mas não desse sonho e sim de muito antes. Eu não conseguia lembrar seu nome, mas o fato dela me ser familiar não trazia qualquer normalidade à cena.

Tornei a analisar as conversas de meus pais e a palavra ‘troca’ surgiu mais de uma vez. Uma pessoa em meu lugar... Mas, por quê? Novamente eu estava perdendo alguma coisa: onde estava o significado naquele amontoado de fatos sem nexo?

Continuávamos avançando uniformemente pelo céu claro, não eram somente as nuvens que o deixavam assim, o sol lançava seus raios por todo redor, dando à paisagem um ar mágico de conto-de-fadas. Foi observando esse cenário que devaneei até o sono profundo.

Eu sabia que estava acordada, mas me recusava a abrir os olhos, pois a claridade de onde eu estava me perturbava mesmo com eles ainda fechados. Eu me sentia esquisita e meus pensamentos estavam confusos. Estávamos no inverno, porque havia tanta luz esta manhã? Inevitavelmente o sonho estranho que tive veio à minha mente, lembrei-me de cada parte incomum e de que no final eu havia dormido no avião. Aviões. Havia sido um sonho, com certeza, porque nas raras ocasiões em que eu voara não gostara nada da sensação e era difícil que me convencessem a fazê-lo de graça.

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Apertei meus olhos ainda desconfortável com o brilho e os abri em seguida. Não foi difícil identificar que eu não estava em meu quarto, a luz que eu reconheci vindo da grande janela à frente me possibilitava ver cada detalhe e pude confirmar jamais ter estado ali. Era um quarto pequeno e bagunçado. Um móvel compacto com um laptop em cima e uma pequena estante abarrotada de livros tomavam conta da parede leste, o lugar era todo azul, até mesmo o teto, eu me senti novamente perto do céu, só faltavam as nuvens de algodão... Ao menos o piso era de taco marrom, mas ele também não fugia da desarrumação, o cesto de roupas ao canto esquerdo estava tão cheio que algumas peças caíam ao chão. Mais perto, ao lado da cama, o criado-mudo servia de abrigo para um abajur de renda branca – que eu logo elegi como a peça mais bonita do local – e para alguns vinis de bandas que eu não conhecia.

Levantei-me tentando entender o que fazia ali, puxei pela memória e com alguma dificuldade me lembrei da festa de Henrique. Será que eu estava na casa dele? Eu nunca dormira na casa de um garoto, meus pais iriam me matar!

Neste instante pude claramente identificar o som de vozes abafadas, vindas de algum canto da casa, na ponta dos pés fui até a porta e a abri silenciosamente, um cheiro forte invadiu minhas narinas.

Eu estava no final de um diminuto corredor, havia mais duas portas, mas estavam fechadas me impossibilitando visualizar seu interior; na outra extremidade havia uma dependência que percebi ser a sala. Tornei a refletir, aquela não era a casa de Henrique, além disso, eu tinha a impressão de que o dia da festa havia ficado há muito para trás, e também eu usava um de meus pijamas, o de tecido salmão e renda branca – o que eu tinha com rendas brancas? – o que significava que eu tinha voltado para casa.

– Você não vai acordar a garota? Logo estaremos de saída e o caminho para o aeroporto é sempre movimentado – uma voz masculina indagou e apesar das palavras não demonstrava urgência, mas sim calma, como quando temos de puxar a orelha de alguém que amamos e procuramos fazê-lo com carinho.

– Hmmm, acho que ainda não Phil, vou deixá-la dormir mais alguns minutos e tentar achar uma forma de lhe dizer que terá de se mudar quando mal acaba de chegar – havia certa repreensão na voz da mulher que respondeu, procurei associá-la a alguém que conhecesse, mas foi inútil.

Comecei a convergir para onde podia ouvi-los conversando enquanto apurava a audição.

– Eu sei que você não quer ser responsável por isto, mas sabe que temos de ir e que infelizmente estamos com o orçamento apertado, seria loucura adicionar uma pessoa a essa viagem; ela ficará melhor se estiver com ele, terá uma casa confortável, enquanto estivermos na estrada isto é algo que não poderei proporcionar a vocês.

Um longo suspiro foi tudo o que houve de volta.

Cheguei à sala e percebi que as vozes vinham da cozinha. Havia uma suspeita totalmente insana crescendo em minha mente enquanto eu observava ao redor... Perto da cozinha havia um balcão branco, o telefone ficava em cima, a lareira de pedra cor de bronze ficava entre a entrada dos dois cômodos, provavelmente de forma que pudesse oferecer calor a ambos os lugares. No teto havia grandes vigas escuras de madeira. Eu podia jurar conhecer aquele lugar, mas não por já ter estado ali antes. Há poucos metros, no outro aposento eu ainda podia ouvir o homem e a mulher conversando e fiquei parada enquanto começava a entender o que estava presenciando.

– A sua facilidade para dizer tais coisas é somente porque nunca foi obrigado a ir para lá, você não sabe como Forks é melancólica, eu detestava aquela cidade e não gosto da ideia de mandar alguém para um lugar a que eu mesma não faria questão de voltar.

– Tudo bem, tudo bem, não discordo de você, mas por mais que essa cidade seja assim tão horrível como diz, ainda assim Renée é melhor do que a deixarmos aqui sozinha em uma casa que nem mesmo é dela.

Minha boca se abriu em espanto enquanto o palpite que tinha se mostrava real como eu jamais pensara ser possível, as coisas se encaixavam, mas era tão inverossímil que evidentemente eu mal podia acreditar.

Aqueles nomes... Eu pessoalmente não conhecia nenhum Phil, muito menos alguma Renée, eram nomes incomuns para mim a não ser pelo fato de se tratarem de dois personagens de Meyer e era realmente muita coincidência que eu agora estivesse em um lugar idêntico ao que Bella descrevia como sua própria casa.

Independente da explicação eu respirei fundo e segui devagar para o próximo aposento, minhas mãos suavam frio ao passo que eu me perguntava quem iria encontrar do outro lado da parede.

O tilintar distinto de talheres sendo depositados em um prato me fez parar.

– Vou começar a colocar a bagagem no carro, já passa das dez horas da manhã, acorde-a ou sairemos atrasados para o voo. – Ouvi os passos indo a outra direção, soltei um suspiro baixo e fechei meus olhos. O que eu tinha de fazer, tinha de fazer agora, duvidava que com o passar do tempo conseguisse juntar mais coragem então tornei a abrir meus olhos e caminhei decidida para o portal.

Uma mulher de cabelo louro claro estava à beira da bancada e preparava algo no fogão elétrico – o mesmo cheiro começou a encher o ar e agora que estava perto pude identificar sendo ovos e bacon frito. Ela era baixa e sua pele, apesar de também ser clara, estava queimada pelo sol. Vestia regata bege e calça jeans.

Tive apenas mais um segundo para correr o olhar pela cozinha antes dela se virar e me deixar ver seu rosto, dei um passo involuntário para trás, mas contive o espanto e o grito de pavor que se formou em minha garganta.

– Oh, que susto. Você já acordou – ela procurou sorrir, mas eu conseguia ver nitidamente que estava pouco confortável. – Me desculpe, não ouvi você entrar, dormiu bem?

Seus olhos azuis eram muito bonitos, ela tinha rugas de expressão, mas ao todo sua face era jovem e agradável. A face de Renée, mãe de Isabella Swan, eu não tinha dúvidas. Meu pai, o que eu bebi naquela festa?

Ela ainda me olhava e lembrei que me fizera uma pergunta. Como havia sido a minha noite? Eu sequer me lembrava dela!

– É... Foi boa. Quero dizer, sim, eu dormi bem, obrigada – gaguejei. Estava perplexa, vasculhava meus pensamentos tentando encontrar a resposta para eu agora fantasiar tão nitidamente. Será que ainda estava sonhando?

Renée riu.

– Bom, fico feliz – mas ela ainda só demonstrava nervosismo. Colocou um prato à mesa e se virou de volta para o fogão retirando os ovos e o bacon da gordura e depositando-os no prato.

Enquanto isso meu cérebro trabalhava como uma locomotiva e eu sabia que era a adrenalina, a qual eu não podia conter. Porque eu não me lembrava da noite anterior, o que tinha acontecido?

Renée desligou o fogo, foi até a geladeira, serviu um pouco de suco em um copo e colocou algumas panquecas de uma grande travessa também no prato, em seguida tornou a me olhar e a sorrir.

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– Venha querida, seu café está pronto. – Apontou para a cadeira à frente indicando que eu me sentasse.

Achei melhor obedecer, a última coisa que eu tinha era fome, mas temi que se continuasse em pé e de estômago vazio tivesse mais chances de desmaiar, eu sabia de alguma maneira ruim que não estava sonhando. Resolvi começar pelo suco, era de laranja e estava gostoso. Renée se sentou na cadeira ao lado da minha e achei melhor não ficar só na bebida, peguei o garfo e espetei um pedaço de ovo, estava bom, bem temperado. Continuei a comer tentando calar os milhares de perguntas que ousavam escapar por meus lábios, apenas não toquei no bacon e esperei que ela não notasse.

– Então Aneliese – começou após alguns minutos de silêncio – acho que você já sabe como é o trabalho do Phil... Ás vezes ele tem de fazer sacrifícios para melhorar nossa vida e há alguns dias ele soube de uma oferta de emprego na Flórida. Bem, o fato é que há cerca de dois dias ele recebeu a ordem de ir para lá se quiser ter chance de fechar contrato e isto significa que ele e eu teremos de partir imediatamente.

Ela se calou por um instante e eu finalmente consegui lhe olhar, séria. Será que era pegadinha? Uma brincadeira de mau gosto? Alguém descobrira minha paixão pela saga e decidira me colocar em um reality show?

– Liese, querida, quero te pedir desculpas, sei que é muito inapropriado, mas a viagem será longa e provavelmente cheia de imprevistos, não poderemos levá-la. – Me olhou envergonhada, esperando alguma réplica minha.

– Eu entendo – foi o melhor que consegui dizer.

Ela sorriu.

– Bem, mas é claro que isto não é tudo, sei que deve estar preocupada, mas não há razão para ficar. – Ela olhava fixo para a toalha laranja de mesa e brincava nervosamente com um dos girassóis no bordado – só agora havia me dado conta que a casa tinha um ar alegre como o sol. Renée tornou a me encarar: – Já deixamos tudo arranjado para você. – Apesar de parecer uma boa notícia ela não conseguiu expressar a emoção que queria.

Parei para analisar o que se passava, não tive dificuldade para perceber que a pessoa de quem eles falaram mais cedo era eu, eles tinham seus compromissos e eu não fazia parte deles. Mas o que é que eu estava pensando? Eu não fazia parte de nada aqui, porque estava me sentindo embaraçada quando eram obviamente eles que me deviam uma resposta? Não estava mais com fome, havia me cansado desta sandice!

Levantei e cruzei os braços, encarando-a de cima, eu em geral não era muito eficaz em meter medo nas pessoas, mas neste caso procurei me esforçar, de qualquer forma eu não estava com humor para brincadeiras.

– Está bem, qual é o jogo? Seja o que for não quero participar.

– Jogo? Como assim querida, do que você está falando? – Ela riu nervosamente e me olhou atordoada.

Eu ia vociferar, ia protestar, mas algo em seus olhos me impediu. Não parecia haver maldade neles, não pareceu que ela estava rindo de mim, esta mulher que se chamava Renée e que por alguma coincidência cruel do destino se assemelhava demais com a mãe de Bella poderia ser mesmo quem alegava? Aquilo era real? Mas não podia ser!

Tentei me recompor.

– Me desculpe, eu só... Importa-se se eu voltar para o quarto? Acho que preciso ficar sozinha um pouco.

Ela respirou fundo e assentiu.

– Claro, faça isto, você tem esse direito.

Agradeci e me retirei a passos rápidos. Tranquei a porta e me sentei na cama, respirando fundo várias vezes, quando consegui juntar algum equilíbrio olhei à volta, procurando. Não vi meu celular no criado-mudo então procurei debaixo do travesseiro que era o segundo local onde costumava deixá-lo e por sorte ele estava lá. Parecia extraordinariamente comum, a tela exibia a imagem de sempre e os números da agenda continuavam os mesmos. Selecionei o telefone das únicas pessoas com quem eu queria falar no momento, mas a ligação para minha casa não pôde ser completada e levei só meio segundo para me dar conta de que meu plano de telefonia não incluía ligações internacionais.

– Claro, porque eu não imaginava que fosse vir parar na casa de um personagem de livro, do outro lado do oceano! – Bufei e joguei o aparelho na cama, irritada. Senti-me terrivelmente sozinha e não havia muito que pudesse fazer quanto a isto.