New Feelings

Capítulo 19 - A Coroação de Gardar


No dia seguinte, dormimos mais do que deveríamos, e quase nos atrasamos para a coroação. O cortejo já ia longe quando alcançamos, ficamos atrás de todos, exceto Magnor e Clarisse, que eram os últimos, devido à dificuldade do primeiro em andar. O oitavo príncipe parecia extremamente cansado, mas determinado. Quando nos avistou, sorriu gentilmente, ao que retribuímos.

Reparei nas outras pessoas que caminhavam junto a nós. Todas provavelmente usando as roupas mais bonitas que tinham. Nesse momento, agradeci mentalmente pelas criadas do castelo terem me dado vestidos novos, eu não trouxera muitos, e eles eram simples, afinal, se eu achasse necessário, poderia fazer um vestido de gelo, mas fui aconselhada a não expor muito a minha magia, então acabei por aceitar a ajuda das criadas. Escolhi um vestido azul marinho solto, que me desse mobilidade e não me apertasse. Era modesto, mas com certeza melhor do que os meus.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Hans vestia um traje parecido com o que usara na minha coroação. Mas haviam algumas diferenças visíveis, como a cor, verde água. Ele parecia desconfortável.

– Algum problema? – questionei-o.

– É essa roupa, ela é desconfortável, parece uma fantasia.

– Não exagera, você está muito bem!

– Como se você fosse dizer se eu estivesse mal.

– Ora, eu diria!

– Sei... – ironizou.

– Você é muito convencido.

– E você é muito teimosa.

– Ah, então é pra listar os defeitos? – coloquei uma mão na cintura.

– Foi você que começou – rimos baixinho e ficamos em silêncio.

Olhei para os lados e reparei em como a cidade estava decorada para a coroação. Bandeirolas com a efígie de Gardar e tecidos e fitas verdes e azuis enfeitando as ruas e casas, parecia até exagerado, mas Hans disse-me que estava praticamente igual à decoração feita para a minha coroação. Eu gostaria de ter observado melhor no dia, mas quando saí do castelo, estava muito assustada e nervosa para prestar atenção nisso.

Após o que pareceram horas, chegamos à Igreja em que seria realizada a coroação. Sentamos nos primeiros bancos, próximos aos outros membros da família real. Gardar chegou alguns minutos depois, ao som de trompetes. O bispo fez a cerimônia e proclamou:

– Rei Gardar das Ilhas do Sul.

– Rei Gardar das Ilhas do Sul! – repetiram.

Depois disso vinha a melhor parte: o baile. Todos voltaram para o castelo, foram até o salão e deram início à comemoração. Enquanto alguns saudavam os novos governantes, outros dançavam ou comiam e bebiam. A antiga rainha estava ali também, mas a cara fechada, intimidadora e nem um pouco convidativa fazia os convidados manterem o máximo de distância possível dela.

Enquanto Hans saíra para buscar uma bebida, eu me atrevi a olhar o que os irmãos dele faziam. Gardar, obviamente, estava feliz e orgulhoso ao lado da esposa, sendo cumprimentado por nobres; Triwar estava conversando com as pessoas como se não houvessem normas de conduta e restrições; Henktris exibia-se para governantes e generais, falando sobre sua coragem e disciplina militar; Vegard fofocava e falava mal de tudo e todos; Forseti bebia champanhe enquanto Thrud tentava persuadi-lo a dançar com ela; Kelsig estava sozinho num canto, encostado numa coluna e olhando com o que parecia ser raiva para Gardar; Patrick tentava conquistar moças contando suas terríveis piadas; Magnor estava alegre e sorridente fingindo lamentar estar com a perna machucada e não poder dançar; Wilheim estava bêbado e discutindo com a mulher; Royd gritava com um coitado que derramara champanhe em sua roupa; Styr olhava de esguelha para os presentes e sorria sinistramente, e Yran dançava com Dagny no meio do salão.

– Voltei – Hans apareceu com duas taças de champanhe, mas eu imediatamente recusei.

– Leve-as de volta.

– Por quê? O que houve?

Apenas apontei discretamente para Wilheim que estava bêbado e Royd que estava a ponto de surrar o homem que derramara a sua bebida nas vestes dele.

– Ah, mas é completamente diferente...

– Não quero saber. Nada de bebida.

Hans ficou um pouco desapontado, então resolvi convidá-lo para dançar, na esperança de que isso o animasse. Ele sorriu achando graça.

– Acha que pode me acompanhar? – provocou.

– Eu ia perguntar o mesmo de você.

– Pelo que ouvi falar, você não sabe dançar.

– Há muita diferença entre não querer dançar e não saber. Eu apenas não estava a fim de passar vergonha na frente de todo mundo dançando com o Duque de Weselton.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Então se eu tivesse a convidado, aceitaria?

– Talvez... – respondi levemente corada, olhando para baixo.

Por um momento, achei que Hans tivera uma recaída e pensara no que poderia ter sido se tivéssemos dançado juntos no dia da minha coroação. Em como poderia ter me seduzido, conquistado o trono e me matado. Mas quando olhei em seus olhos, vi apenas uma expressão leve de melancolia misturada com carinho.

– Me pergunto como seria se eu apenas tivesse tomado decisões diferentes... Mas não me arrependo mais, sabe? Porque não sei se sequer conheceria você se eu não decidisse ir à Arendelle, ainda que para executar um plano diabólico.

– Há males que vem para o bem – eu disse com um leve sorriso. - Se você não tivesse pedido Anna em casamento, eu não teria descontrolado meus poderes e fugido, mas também nunca teria experimentado a liberdade.

Com sorrisos nos rostos e olhares carinhosos, nos deixamos levar pela música e dançar tão natural e fluidamente que parecia que tínhamos ensaiado. Eu realmente não era nenhuma pé-de-valsa, mas não me saí nada mal. Quando a música acabou e todos pararam a dança, Gardar pediu a atenção a todos e começou a discursar:

– Há mais de quarenta anos, Freyr Westerguard, meu pai e antecessor, foi coroado rei das Ilhas do Sul após a precoce morte de seu irmão mais velho, Klaudius – ao ele pronunciar esse nome, a rainha emérita Brunnehilde balançou a cabeça, como se afastando uma triste lembrança. – Durante o seu reinado, muitos territórios foram conquistados, As Ilhas do Sul tornaram-se um país rico e próspero. Ele deu alento aos pobres, melhorou a situação de vida de muitas famílias, construiu hospitais e escolas, foi um ótimo governante, militar e pai – todos ali sabiam que aquela era uma mentira deslavada. – Agora, eu, como seu filho mais velho, continuo seu legado, e prometo ser-vos tão bom quanto ou até mesmo melhor que ele!

O salão explodiu em aplausos. Perguntava-me se aquelas pessoas eram falsas ou iludidas. Durante seu discurso, Gardar não fez nada além de enrolar e depois afirmar que seria igual a ou pior que o pai, que até onde eu sabia, não fora apenas um bom governante, e sim um tirano cruel e com sede de poder. Nem ele próprio acreditava nas suas palavras, mas não conteve o sorriso orgulhoso ao receber tantos aplausos e elogios. Muito me intrigava o que ele e a mulher viram um no outro, mas ficou claro que eles eram dois gananciosos e interesseiros. Eu apenas rezava para que ele ficasse ali, quieto no seu reino, e não viesse nos perturbar. Gardar não parecia má pessoa, mas eu não colocaria minha mão no fogo pela sua integridade. E além do mais, se até Hans enganara a todos sem levantar suspeitas, o que me garantia que o irmão mais velho não poderia fazer o mesmo?

Olhei ao redor. Nenhum dos príncipes parecia muito feliz ou satisfeito, pelo contrário, alguns estavam visivelmente irritados, incluindo Hans, que após o discurso, decidiu ir embora da festa, e eu, sem poder contrariar, deixei o salão com ele.

______________