Três.

4. Transformers!


— Olá, querida! – Claire exclamou ao abrir a porta da casa. – Desculpe o atraso, eu não sabia que roupa vestir.

E pelo visto, ainda não sabe, não é mesmo?, pensei, vendo que a garota usava uma saia curta demais, uma blusa justa demais e uma sandália... Feia demais.

— Ah, sem problemas! – respondi. Por favor, Claire, troque de roupa.

— Tudo bem, então vamos lá! – ela exclamou. Oh.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Vamos. – murmurei.

— Me conte, piranha, você gostou de Josh?

— Ah, claro. Ele é simpático. – respondi, sem conseguir conter um suspiro.

— Simpático, lindo e gostoso – ela comentou, rindo. Meu Deus, mulher! Tem certeza de que o cara é seu irmão? – E está olhando para você agora.

—Como é que é? – questionei, olhando para o carro discretamente. Claire tinha razão, Josh estava me encarando, com um sorriso estampado no rosto. Sorri largamente para ele.

— Safada – murmurou Claire, me fazendo rir. Ela abriu a porta da frente e eu dei graças a Deus por poder sentar atrás. Mordi a língua quando percebi que Josh e encararia pelo espelho retrovisor o caminho inteiro.

— Claire, não tenho nada para fazer em casa, – ele comentou. – acho que vou ficar no shopping com vocês.

— Ah, não vai não! – ela resmungou. – Programa de garotas.

— Eu posso chamar o Mark... – Josh murmurou, sorrindo maliciosamente.

— Bem vindo ao programa de garotas, querido Josh – Claire murmurou, sorrindo da mesma forma para o irmão. Passar uma tarde no shopping com Josh? Oh. Não!

— Quem é Mark? – perguntei, na intenção de lembrar aos dois de que eu ainda estava ali.

— Meu amigo de infância pelo qual Claire é apaixonada – Josh respondeu, dando de ombros e eu ri no instante em que Claire deu um soco no irmão.

— Não é bem assim! – ela exclamou. – Vamos, ligue para ele!

— Quando chegarmos ao shopping eu ligo, não vou parar agora. Então, Aurora – sim, ele estava me encarando pelo espelho. – quantos anos você tem?

— Dezessete. – respondi, me sentindo um... bebê. – E você?

— Vinte e um. – ele alargou o sorriso e eu me perdi por um instante o encarando, também pelo espelho.

— Ei, eu ainda estou aqui! – Claire exclamou, sorrindo acidamente.

— Quantas peças de roupa ela já experimentou mesmo? – Josh me perguntou, entediado.

— Já perdi a conta. – respondi, da mesma forma. Digamos que o passeio no shopping não estava saindo da forma que eu esperava. Estávamos há uma hora e meia sentados na mesma loja vendo Claire experimentar duas mil trezentas e vinte duas peças de roupa.

— Quer dar uma volta? – Josh questionou e eu analisei seu rosto. Pela primeira vez, não parecia sacana. Só... Cansado.

— E deixar Claire sozinha aqui? – indaguei.

Ele suspirou, vendo que eu tinha razão, e tirou o celular do bolso.

— Oba, Mark está chegando! – ele exclamou, feliz. – Agora posso vazar daqui! – ele se levantou em um pulo e eu ri. – Claire, o Mark já está vindo. Vai te encontrar aqui e eu estou indo dar uma volta. – ele murmurou contra a cortina do provador.

— Leve a Aurora com você! – Claire gritou. Josh me encarou e sorriu, arqueando a sobrancelha, e eu amaldiçoei até a sétima geração da minha... Amiga.

— Vamos ao cinema? – Josh questionou, enquanto pegava minha mão, entrelaçando nossos dedos. Prendi a respiração por um momento, pensando no que aquele louco estava fazendo.

— Josh... ? – questionei, balançando nossas mãos.

— Não reclame, só aproveite – ele murmurou, sorrindo de forma tão fofa que seus olhos se fecharam. Não pude evitar, sorri também.

— Está bem. Cinema. – concordei.

Josh foi comprar pipoca e eu fiquei encostada em uma mesa, o esperando. Como a fila da pipoca estava grande, eu resolvi me distrair analisando as pessoas que passavam em minha frente.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Estava dando certo, até que uma garota um tanto conhecida passou por mim. Cabelos loiros e cacheados, gordinha... Merda, merda, merda!

— Aurora? – Becky questionou, parando em minha frente.

— Oi. – murmurei.

— Ajudando sua mãe com a organização da casa, hein? – ela questionou, sorrindo ironicamente.

— Ah, sim! Claro! Minha mãe resolveu vir compras algumas coisas para decorar o apartamento! – menti, envergonhada.

— Entendo... Comprando decorações na fila do cinema? Super inovador. E aposto que esse garoto que vem vindo em sua direção com dois potes de pipoca é seu irmão mais velho, certo?

Abri a boca para me explicar, mas Rebecca me cortou.

— Até mais, Aurora – ela murmurou e sai andando. Senti vontade de correr atrás dela e de me enfiar em um buraco. Não necessariamente nessa ordem.

— O que aquela baleia queria com você? – Josh questionou, rudemente.

— Ei, não fale assim dela! – protestei. – Ela é minha amiga também. A conheci hoje de manhã.

— Sua amiga? Veja bem, Aurora. Você deve escolher melhor as pessoas com as quais vai se relacionar aqui, ou vai acabar pintada como idiota. Bem, vamos.

Suspirei e fiquei calada. Não gostei da forma que Josh falara de Becky, mas o que eu poderia fazer? Não a conhecia, logo, não poderia defendê-la.

Iríamos assistir Transformers, e eu estava ansiosa. Adorava esse tipo de filme. Comecei a estranhar a situação quando Josh procurou duas poltronas no canto mais vazio da sala, mas não disse nada. Sentamo-nos, ajeitamos os potes de pipoca e copos de refri e... Bem... no instante seguinte, Josh esticava seu braço por trás de mim, apoiando a mão em minha cintura. Senti vontade de berrar a todos que um cara gato estava me abraçando no cinema, mas me contive apenas em sorrir.

O tempo foi passando e eu pude perceber que Josh encarava mais a mim do que ao filme. No ponto do filme em que Sam compra seu carro novo, Josh começou a mexer em meu cabelo, soltando meu coque. Em seguida, ele começou a passar a mão por minha orelha, minha bochecha, meu queixo, meus lábios. Eu apenas prendia a respiração e me dedicava fortemente a encarar o filme, sem olha-lo. Josh então pesou um pouco a mão em meu rosto, obrigando-me a olhar para ele. Ele alternava o olhar, encarando ora meus olhos, ora minha boca. Eu sentia o calor de sua respiração mais próximo de mim conforme ele ia encurtando a distância entre nós. Senti sua mão esquerda posicionar-se em minha nuca enquanto a direita ainda passeava por meu rosto. Percebi quando ele entreabriu os lábios e fechou os olhos, e fiz o mesmo. Senti quando Josh encostou levemente seus lábios nos meus. Senti quando sua língua pediu passagem, querendo aprofundar o beijo, e cedi. Senti sua língua massageando a minha, mas... Peraí. Vamos rever isso aí, Josh. Porque é que não estou sentindo nada? Na verdade, consigo sentir sua língua tocando a minha, mas só. Cadê a emoção do beijo? Cadê aquele friozinho na barriga? Aquela vontade de subir a mão até seus cabelos? Arrisco abrir os olhos rapidamente e preciso me segurar para não rir. Merda, Aurora, você está ficando louca? Um deus grego está te beijando e você quer rir? Tento me concentrar em Josh, sentindo a gravidade da situação. Levo minha mão até seus cabelos, concentro-me no beijo, mas... Nada. Não adianta. Não sinto nada. Abro os olhos até que percebo que Josh vai abrir os seus. Fecho os olhos imediatamente e sorrio.

— Linda. – ele murmura em meu pescoço, e eu apenas seguro sua mão, virando-me para frente, repentinamente interessada no filme. Merda!

— Olá! – Claire exclama, sentada em uma mesa, e eu percebo que ela está acompanhada por um rapaz alto, moreno e magro, parecidíssimo com algum jogador qualquer de basquete. – Venham se sentar conosco!

Josh ainda segura minha mão e eu sinto vontade de quebrar os dedos dele.

— Este é Mark – ele me diz, apontando para o garoto, e eu sorrio. Ele faz o mesmo. – E essa é Aurora, de quem te falei.

— Prazer, Aurora – Mark me diz.

— O prazer é meu! – respondo, educadamente. Sabe, prazer maior seria estar em casa, no meu quarto, enfiada embaixo da minha cama!

— Onde é que vocês estavam? – Claire indaga, sorrindo.

— No cinema. – Josh responde, rindo. Tenho vontade de morrer. Ou de mata-lo.

— Aposto que não sabem me contar absolutamente nada do filme. – Mark comenta, rindo. EI!

— Falando em filme, poderíamos ir todos lá pra casa, né? Poderíamos ver um filme e comer pizza, o que vocês acham? – Claire questiona.

— Oh, obrigada pelo convite, mas eu preciso ir embora. Já está tarde. – respondo.

— Mas o que é isso, Aurora! Você vai dormir comigo hoje! – Claire me diz, repentinamente séria.

— Não acho que meu pai vá deixar. Ainda mais sabendo que são só vocês dois. – comentei, apontando para ela e Josh. Ele já havia me contado que os dois moravam sozinhos.

— As mentiras existem para isso, meu amor! Vamos dizer que meu irmão vai dormir fora e você não quer me deixar sozinha – ela explicou, dando de ombros. Não parecia uma ideia tão ruim. Além do mais, eu queria beijar Josh outra vez. Queria tirar a dúvida. Ele é que não sabia beijar ou eu é que estava ficando louca?

— Está bem. Vamos lá.

Combinamos que Josh nos deixaria de carro na pracinha, e dali eu e Claire seguiríamos a pé para minha casa. Josh me deu um selinho antes de entrar no carro, fazendo Claire urrar a meu lado.

— Pai, mãe, cheguei! – gritei ao abrir a porta do apartamento.

— Oi, filha! Passe-me a salada – meu pai gritou da cozinha, fazendo-me rir.

— Vem, vamos – murmurei para Claire, fazendo sinal para que me seguisse.

— Oh, quem é sua amiga? – minha mãe questionou assim que entramos na cozinha.

— Esta é Claire, a garota que eu conheci ontem – expliquei, sorrindo. – Claire, esses são minha mãe, Sophie; meu pai, George e minha irmã, Lucy. – expliquei, apontando cada um respectivamente.

— Prazer em conhece-los – Claire disse, sorrindo. Agradeci aos céus pelo fato de que ela conseguia ser simpática e não sorrir ironicamente em frente a meus pais.

— O prazer é nosso, querida – minha mãe respondeu.

— Então, tia Sophie, tio George, gostaria de lhes fazer um pedido. Queria que Aurora dormisse em minha casa hoje.

— Mas e seus pais? – meu pai questionou, arqueando a sobrancelha. Merda! – Gostaria de conhecê-los.

— Ah. – Claire fechou a cara e nem eu mesma entendi por que. – Somos só eu e meu irmão. Meus pais faleceram há alguns anos.

Oh. Porra, pai!

— Sinto muito, querida – minha mãe murmurou, estendendo a mão para tocar o braço de Claire. Senti-me mal por ela.

— Ah, entendo. Meus sentimentos. – meu pai murmurou e Claire apenas assentiu. – Mas, e seu irmão? Ele não vai dormir com você?

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Meu Deus, pai, dá um tempo!

— Não, senhor. – Claire respondeu. – Justamente por isso quero a companhia de Aurora, meu irmão vai dormir fora.

— Bom, nesse caso... Vá, minha filha. – meu pai respondeu, sorrindo. - Mas antes, gostaria de dar uma palavrinha com você, minha filha.

Ih, fodeu.

— Tudo bem. – respondi. – Lucy, faça-me um favor. Leve Claire até meu quarto e espera lá com ela.

Minha irmã assentiu e pegou Claire, que sorria, pela mão. Devo confessar que senti um frio na barriga. Que diabos meu pai queria falar comigo?

— Minha filha, tenho uma única pergunta para te fazer. – meu pai disse assim que ficamos sozinhos na cozinha. – Onde é que sua amiga perdeu o restante da roupa dela?

Não pude segurar a gargalhada.