Projeto Eligio.
Capítulo 8.
Cidade I-8 – 02h34min 16/04/2631
– Deveria estar bêbado três copos atrás. – O homem no balcão disse enchendo o copo de Derik pela quadragésima terceira vez. – É um novo recorde aqui.
Derik levantou o copo como se comemorasse, então bebeu todo seu liquido cor caramelo avermelhado, a bebida desceu quente pela sua garganta esquentando o pulmão fazendo os olhos e nariz arder.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Ele usava uma capa cinza escura de algodão com capuz, estava suja. A capa o impedia de enxergar seus lados, mas também impedia que alguém o identificasse.
Ele não costumava beber, então após esvaziar mais um copo fez uma careta, para sua surpresa ouviu uma risada feminina ao seu lado esquerdo.
– Para um encapuzado, bebe bem devagar. – A voz delicada e feminina soou brincalhona.
– Não quero nenhum serviço. – Derik respondeu de cabeça baixa, provavelmente era uma mulher da noite, dava prazer em troca de pouco cobre.
– Ótimo. – Ela respondeu e algo na sua voz indicava que Derik estava errado. – Sou eu quem quer o serviço de qualquer forma.
Derik sorriu passando a língua pelos lábios.
– Não sou este tipo de homem.
– Se olhasse para meu rosto veria que eu não sou esse tipo de mulher, – A voz dela se aproximou rapidamente e Derik virou o rosto para a direita mantendo-se no anonimato. – Eligio.
Ela sussurrou as palavras na orelha coberta de Derik, ele se virou e a beijou, os lábios se tocaram e ela foi forçada a se calar.
Derik enfiou a mão no bolso jogando algumas moedas e notas contra o balcão, então saiu andando com a mulher, segurando seus lábios contra os dela, andando a tropeços enquanto ela o seguia meio contrariada. Ele a conduziu por três metros até a porta lateral e a soltou batendo-a contra a parede.
– Como sabe?
– Calma, só quero saber como foi que se livrou do Wastron, porque ele persegue vocês, se você tem contato...
– Cala a boca! – Derik disse olhando para os lados, soltou ela vendo que a mulher não iria a lugar nenhum. Então fechou a porta do bar e olhou para ela novamente. – Quem é você?
– Uma amiga, acredite...
– Não sou do tipo que junta amigos. – Derik respondeu ainda girando nos calcanhares olhando de um lado para o outro, estavam no beco de um bar que ficava no térreo de um prédio de cinco andares.
Ele agarrou a mulher pela cintura e olhou para cima.
– O que...
E foi tudo que ela conseguiu dizer antes dos dois subirem entre o vão das escadas de emergência e a parede do outro lado, os dois giraram no ar com Derik conduzindo o movimento e quando os pés dele encostaram no chão os da mulher se encontravam retraídos, ela choramingava assustada e os olhos estavam fechados.
– Pode abrir os olhos. – Ele disse olhando para o rosto dela iluminado pela lua, fora daquele ambiente inebriante do bar ele pode ver que era uma mulher bela, com seus vinte e sete ou trinta anos e cabelos lisos até os ombros, terninho preto com uma camisa lilás, lábios delicados e brilhantes, os olhos eram grandes e as sobrancelhas desenhadas de uma forma que fazia os olhos ganharem ainda mais atenção, seu nariz era delicado e pequeno. – E colocar os pés no chão.
Ela se agarrava em volta do peitoral de Derik espremendo os braços em volta dele e o rosto se separando lentamente do peito direito, abaixou os pés então finalmente se soltou levando uma das mãos na cabeça, o rosto estava com uma expressão de susto.
Derik permaneceu em silêncio enquanto a mulher vasculhava o local, ele fazia o mesmo, mas ela girava e andava olhando os arredores enquanto ele apenas olhava tudo sem sair do lugar.
Era um topo de prédio comum, saída de exaustores, sujeira, despejo de cadeiras e mesas quebradas e uma porta para a escada de acesso.
– Quer me falar quem é você?
– Vai me falar como se livrou de Wastron?
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!– Como sabe de Wastron? – Derik perguntou, ela cruzou os braços olhando para ele e sorriu arqueando as sobrancelhas. Derik via nela algo que, não sabia porquê, mas gostava.
Salazar olhou para trás quando Anur parou de andar e olhou para trás também.
– Viu algo?
– Passamos dele. – Salazar disse fechando os olhos tentando se concentrar, o som que ouvia era um apito da fábrica ao lado das chaminés jogando a branca fumaça para o céu, se perguntou o que mais ouvia, podia ouvir pessoas andando de um lado para o outro, conversando longe deles, podia ouvir um gato arranhando as costas de um sofá velho onde um mendigo dormia, ele sabia que o mendigo dormia e não estava morto por que podia ouvir sua respiração, mas o que ele queria ouvir... O que precisava ouvir não era dito por ninguém.
– O que está tentando fazer?
A voz de Anur soou como um sino badalando dentro de sua cabeça, Salazar tremeu sem perder a concentração, estava tentando localizar Derik, só precisava de uma única palavra, precisava que Derik dissesse uma única palavra e se ele estivesse por perto Salazar saberia onde.
– Vamos lá Derik, diga algo.
– Vamos mulher, me diga logo seu nome, ou terei que descobrir a força?
Derik deu um passo à frente e a mulher se agarrou contra sua bolsa de lado olhando para ele com um olhar de ameaça, pela primeira vez, como se ele fosse uma ameaça à segurança dela.
– Eu tenho spray...
Derik levantou um dedo bocejando por longos segundos, ela se calou olhando para ele sem entender, então ele sumiu e com um pequeno vendaval a mulher se desequilibrou rodopiando enquanto sua bolsa era arrancada de suas mãos e Derik a soltava.
A bolsa caiu no chão e ele segurava uma carteira de couro negro com desenhos lilás nas bordas, abriu e olhou os documentos.
– O que você quer? – Ele perguntou devolvendo a carteira para Angelina e se distanciando.
– Uma boa história! – Ela respondeu juntando as coisas da bolsa no chão e agarrando a carteira. – Só isso.
– Não vai ter essa história aqui.
– Eu, sozinha, consegui rastrear você, porque acha que não vou conseguir rastrear os outros, descobrir o que está acontecendo e conseguir minha história?
– Porque você é só uma mulher. – Ele disse sério, então percebeu que ela se ofendeu e apressou-se em corrigir-se. – Não mulher, mulher fraca, mas mulher, uma mulher sem nenhuma habilidade como nós... Já chega... – Ele disse se virando e ela bateu o pé com fúria desembestando a falar.
– Chega para quem? Eu ainda não consegui o que eu quero e se você me der as costas eu vou falar pro Wastron de novo e vou fazer minha história do meu jeito.
Derik parou de andar e olhou de viés para ela sem se virar completamente para Angelina.
– Foi você?
– Você não me deu outra opção...
– O padre está com problemas, e a culpa é sua, tudo porque queria uma história! – Ele se virou nervoso apontando para ela.
– A culpa é sua por não querer aparecer...
– E ter minha cabeça separada do pescoço? Obrigado prefiro ficar escondido. – Derik respondeu com cinismo nas palavras, Angelina não pareceu se importar.
Os dois se olharam por uns instantes.
– E então – Ela disparou. – Vai me dar o que quero?
– E o que diabos você quer, mulher?
Derik nunca conseguiu descobrir o que uma mulher queria, e com Angelina não era diferente, ela era um enigma completo, indecifrável e misteriosa, disposta a tudo por um furo no jornal.
– Que me conte tudo! – Ela argumentou com um sorriso e olhos confiantes. – Desde quando foram selecionados até a montanha e a traição, porque traíram os quatro e que fim levou Centinel, o que estão fazendo agora, cadê os outros...
– Muitas perguntas. – Derik respondeu desviando o olhar de Angelina para trás dela, para algo se movendo longe ainda. – Mas uma delas vai ser respondida em instantes!
Ela se virou percebendo que a atenção de Derik não era mais ela, quando o fez viu duas sombras saltando de um prédio para o outro como macacos e de repente “pousando” no telhado do lado oposto ao que estavam Derik e Angelina.
– Santo pai! – Ela disse abismada.
– Não, esse é outro! – Anur respondeu sem empatia alguma e no mesmo instante Derik lhe lançou um olhar de reprovação.
Os três Eligios se encararam por alguns instantes sem nenhum afeto ou gesto de carinho, nenhum tipo de comprimento pelo reencontro.
– Quem é a dama? – Salazar perguntou para Derik olhando para o Eligio através da mulher.
– Angelina Massom, jornalista investigativa e redatora do jornal de Rochandelly! – Angelina respondeu olhando para Salazar com um fascínio singular. – É mais alto do que dizem.
– Está longe de Rochandelly. – Anur retrucou antes que uma conversação tivesse início. – Porque está aqui?
– Por mim. – Derik respondeu, de repente se sentindo no dever de proteger a colunista. – Ela vai escrever sobre os Eligios.
Salazar olhou para Derik com espanto, Anur repetiu a operação.
Angelina cruzou os braços e se virou para Derik com um sorriso lindo de quem consegue o que quer, mas ainda não está satisfeita com o que conseguiu.
– Eu vou é? – Perguntou em um tom quase melancólico.
– Derik. – Salazar disse por fim com uma expressão rustica como se seu rosto fosse feito no mais puro mármore, estava totalmente sem expressões. – Uma palavrinha, pode ser?
Salazar chamou Anur com os dedos, ele Anur e Derik foram para uma ponta do prédio, Angelina ficou na outra.
– O que está fazendo?
– O que acho certo. – Derik respondeu dando de ombros.
– Eu não falei para sair dando entrevistas.
– Se você ainda não percebeu nós não somos mais um time, você não é mais o líder. – Derik olhou para Anur que ainda se subordinava a Salazar, tal como fora no começo. – Ele pode até te seguir e fazer o que você fala como um bom cachorrinho adestrado Salazar, mas eu não. Não estamos mais a serviço.
– Derik. – Salazar disse monocórdico. – Preciso de você comigo.
– E o que isso tem a ver com você surgir, anos depois, disposto a ser líder uma vez mais e simplesmente ignorar que algumas pessoas conseguem seguir com a vida normal?
– Normal? – Anur riu olhando para Angelina.
Salazar colocou a mão no ombro de Derik e olhou-o nos olhos.
– Não quero mandar em ninguém, só quero terminar o que começamos! E preciso de você, do Anur, Alanor...
– E ela. – Derik completou a frase sem citar o nome, não era Angelina a quem ele se referia, sabia que não era algo confortável para nenhum dos dois. – O que você quer fazer?
– Encontrar o Quinto, acabar com isso de uma vez por todas.
– Aprisionado na montanha...
– Varremos a montanha. – Anur respondeu antes de Salazar querendo se sentir útil. – Não tem nada vivo lá dentro.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!– E a jornalista? – Derik perguntou balançando a cabeça para o lado, lá na outra ponta Angelina levantou a mão em um aceno.
– Matamos ela... – Anur começou.
– Não. – Derik completou de forma a ideia morrer antes mesmo de estar completa.
– Solte-a e vamos embora, o que ela pode fazer? – Salazar questionou.
Então Angelina começou a avançar.
– Ela está vindo. – Anur disse.
– Eu tenho um plano, – Derik disse olhando para Salazar. – ela pode limpar nossa imagem com o povo.
– Oi, não pude deixar de notar que o assunto chegou na minha pessoa...
– Desculpe, alguém lhe chamou senhorita Massom? – Salazar perguntou sendo rude de forma educada.
– Eu sou uma jornalista, não preciso que me chamem! – Ela respondeu sem perder a pose, Anur atrás dela soltou uma risadinha e Salazar lançou um severo olhar a ele, depois olhou para Angelina. – Como pode saber...
– Leitura labial! – Ela respondeu de forma simples. – Vou dizer minhas condições, eu vou com vocês nessa aventura! No final eu faço o que o lindinho ali quer e limpo a barra de vocês com o povo, mas vou querer minha história! Vai ser primeira página...
– Você não vai ir com a gente! – Salazar respondeu convicto.
Silêncio por alguns segundos. Anur foi o primeiro a quebrar o silêncio, ele sorriu gargalhando baixinho.
– Acha que é lugar para mulher onde a gente tá indo? – Ele perguntou cínico. – As únicas mulheres que conseguiriam nos acompanhar estão mortas, acha que vai ser diferente?
– Elas não estão mortas Anur. – Derik corrigiu-o. – Falei com ela há pouco mais de dois anos...
– Vamos acabar logo com isso! – Salazar olhou para a mulher ponderando suas opções, não poderia desafiar Derik mas não concordava com a ideia de Anur embora esta fosse a mais correta a ser tomada embora não a mais justa. – Por hora a jornalista fica. Desde que ela saiba onde está se metendo, e que será presa e executada por alta traição caso sejamos apanhados, e que pode morrer a qualquer momento.
Derik esboçava um sorriso, o qual tentava conter.
– Eu sei de todos os riscos, Eligio.
– Não me chame mais assim! – Salazar a alertou.
Anur estava de bico, então perguntou com a voz zangada e decepcionada.
– E agora, vamos pra onde?
– Atrás de Alanor. – Foi a resposta de Salazar que contemplava o céu coberto por fios de fumaça das chaminés formando nuvens que cobriam o azul.
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